Relatório Técnico Seminário Internacional 10 Anos de Transgênicos no Brasil: Um Balanço Crítico



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Transcrição:

Relatório Técico Semiário Iteracioal 10 Aos de Trasgêicos o Brasil: Um Balaço Crítico

Relatório Técico Semiário Iteracioal 10 Aos de Trasgêicos o Brasil: Um Balaço Crítico Curitiba, dezembro 2013. Fote: Semiário de 10 aos de Trasgêicos o país Autora: Jaa Farias, 2013

Elaboração: Katya Isaguirre-Torres Naiara Adreoli Bittecourt Tchea Ferades Maso Projeto Gráfico: Saulo Kozel Teixeira Diagramação e Editoração: SK Editora Ltda. Impressão: Gráfica Tiragem: 1.000 Realização: Terra de Direitos 2013 - Terra de Direitos Rua Des. Ermelio de Leão, 15 coj. 72 Cetro 80410 230 Curitiba, PR Brasil Foe: 41 3232-4660 www.terradedireitos.org.br

Sumário 1. Itrodução 01 2. Metodologia do Semiário: Mesas e Grupos de Trabalho 01 3. Represetação das etidades e atores sociais 01 3.1 Distribuição de participates por orgaização e âmbito de atuação 01 3.2 Distribuição por participates iteracioais 01 3.3 Distribuição por critério de gêero 01 3.4 Frequêcia de participates por dia 01 4. Abordages das mesas 01 4.1 Trasgêese a agricultura brasileira: dez aos depois 01 4.2 Os trasgêicos a geopolítica global 01 4.3 A tecologia trasgêica: perigos, retrocessos e alterativas 01 4.4 Novas tecologias e ovas agedas do capital 01 5. Resultados 01 5.1 Propostas por GTS 01 Grupo 1: Legislação e icidêcia sobre os processos de tomada de decisão acerca dos trasgêicos: o caso da CTNBio Brasil. 01 Grupo 2: Os trasgêicos e agrotóxicos: estratégias de cotrole da cadeia agroalimetar e seus impactos sobre os territórios, debate da PNAPO (Política Nacioal de Agroecologia e Produção Orgâica). 01 Grupo 3: Experiêcias de resistêcia: moitorameto da cotamiação, áreas livres de trasgêicos, defesa das semetes crioulas, ecofemiismo e outras iiciativas locais. Apresetação de experiêcias. 01 Grupo 4: Estratégias de icidêcia e istrumetos iteracioais: Protocolo da Cartagea, OIT 169, TIRFAA, etre outros. 01 Grupo 5: Direito Humao à Alimetação Saudável e Culturalmete Adequada, cosumo e rotulagem. 01 5.2 Ecamihametos 01 Agradecimetos 01 Aexos 01 Carta Política 01 Programação 01 5

Itrodução Oplatio e comércio de Orgaismos Geeticamete Modificados (OGMs), implemetado o país desde o fial da década de 90, vieram sedo legalizados por meio de um cojuto de ações que merecem ser reavaliadas para o fim de verificar em que medida seu igresso promove alterações o espaço rural e como o cultivo de trasgêicos impacta a saúde humaa, o meio ambiete e a autoomia dos agricultores, agricultoras, povos e comuidades tradicioais. Esse foi o objetivo geral que orteou a proposta do Semiário Iteracioal, realizado em Curitiba os dias 21 a 24 de outubro de 2013. O cotexto acioal e iteracioal abrage os avaços do capitalismo agrário, que ecessariamete traz a ecessidade do desevolvimeto de culturas trasgêicas equato um dos mecaismos de apropriação da agrobiodiversidade, cuja fialidade é a de beeficiar o iteresse de grades empresas multiacioais em detrimeto da liberdade de produzir e de viver dos agricultores excluídos ou parcialmete icluídos o padrão da agricultura modera. Para repesar o padrão acioal da agricultura acioal e resgatar a historicidade evolta essa discussão é preciso relembrar o marco iicial do igresso dos OGMS o fial da década de 90, ocasião essa em que a Comissão Técica Nacioal de Biosseguraça (CTNBio) autorizou o platio comercial da soja Roudup Ready (RR), tolerate ao herbicida glifosato, que teve, posteriormete, sua comercialização suspesa por meio de decisão da Justiça Federal de Brasília. Etretato, é apeas após a publicação da Medida Provisória de º 113 pelo Presidete Luís Iácio Lula da Silva, que autorizou a comercialização de uma grade safra da soja trasgêica ilegal desse ao, é que se criou o precedete de liberação desses cultivos o Brasil, fialmete covertida a Lei º. 10.688, de 13 de juho de 2003, que autoriza formalmete o platio trasgêico. Nesse período os impactos desta tecologia ultrapassaram o âmbito da produtividade devido aos excedetes agrícolas, mas costruíram todo o arcabouço ecoômico e social o ceário do campo brasileiro, gerado icalculáveis riscos e daos tato aos agricultores o âmbito rural, como aos cosumidores o âmbito urbao. O modelo altamete tecificado da agricultura covecioal apostava os OGMS como um fator de dimiuição dos riscos aturais ao qual o setor agrícola se ecotra viculado. Sua proposta, que de iício se estruturava em toro do sloga de maior eficiêcia a preservação do meio ambiete, com o tempo se apresetou altamete cotraditória pelo desequilíbrio ecossistêmico que a itrodução desses cultivos causa, demadado a utilização de quatidades aida maiores de agroquímicos as lavouras. Além disso, o desevolvimeto de OGMS por meio do sistema de patetes favorece o crescimeto da depedêcia dos agricultores e agricultoras aos sistemas ligados ao modelo 6 Relatório Técico l Semiário Iteracioal 10 Aos de Trasgêicos o Brasil: Um Balaço Crítico

de agricultura idustrial/covecioal pautado o agroegócio. No campo da saúde humaa, o aumeto dos casos de cotamiação por agroquímicos e a maior icidêcia de doeças supostamete causadas pelo cosumo de trasgêicos causam icerteza a produtores e cosumidores sem que até o mometo teham sido produzidos estudos voltados a garatir padrões míimos de seguraça para a saúde da população. Neste paorama, urge a ecessidade do debate, da articulação, da troca de experiêcias e resistêcias que abrajam desde os pesquisadores do tema, os campoeses, os povos e as comuidades tradicioais, os cosumidores, os técicos, as orgaizações da sociedade civil. Essa aálise deve ocorrer em âmbito local, regioal e pricipalmete iteracioal, dada a iterdepedêcia do mercado global e a ofesiva das empresas trasacioais a violação de direitos humaos. Assim, etre os dias 21 e 24 de outubro deste ao, cerca de cem pessoas, itegrates de movimetos e orgaizações sociais, políticas, de pesquisa e istituições públicas reuiram-se em Curitiba, Paraá, para avaliar os impactos sociais, ambietais, ecoômicos dos trasgêicos e do pacote tecológico advido com a Revolução Verde. O ecotro, orgaizado pela Terra de Direitos, teve como parceiros o GEA/NEAD/MDA, a Fudação Heirich Böll, a AS-PTA (Agricultura Familiar e Agroecologia), o Cetro de Agricultura Alterativa do Norte de Mias (CAA/NM), Via Campesia, a ANA (Articulação Nacioal de Agroecologia), a Red por Ua America Latia Libre de Trasgéicos RALLT, a Plataforma Dhesca Brasil/Relatoria de Direitos Humao à Terra, Território e Alimetação, e cotou com apoio da CONAB, MDA e a Secretaria da Agricultura Familiar, e resultou em um cojuto de propostas de ações cojutas e o fortalecimeto da articulação etre as orgaizações, movimetos sociais e pesquisadores, a fim de ão apeas questioar o modelo de agricultura posto, como propor alterativas viáveis e sustetáveis de produção agrícola. Participaram do semiário aproximadamete sesseta orgaizações e istituições de diversos estados brasileiros, do Chile, do Equador, da Argetia, do Paraguai, do Uruguai, do México, das Filipias, da Fraça e dos Estados Uidos, que eriqueceram as discussões e fometaram a articulação de resistêcia global uma sociedade verdadeiramete cosmopolita. Os participates iteracioais cotavam com experiêcias, pesquisas e atuações direcioadas em seus países e foram selecioados como pote para a iteracioalização da discussão, que ultrapassam os limites froteiriços. Cabe ressaltar que a questão evolvedo os OGMS é um tema complexo, que exige a troca de cohecimetos de especialistas de diferetes áreas, além do relato das experiêcias e saberes que são viveciados pelos sujeitos do campo, ou seja, agricultores idividuais ou orgaizados em grupos, movimetos sociais e comuidades tradicioais. Por isso, a metodologia de desevolvimeto do Semiário foi pesada de modo iterdiscipliar, com o objetivo de fometar o diálogo etre os diferetes atores sociais e promovedo a aproximação etre especialistas da área acadêmica e represetates do Estado, da sociedade civil e dos movimetos sociais. Capitulo 7

Metodologia do Semiário: Mesas e grupos de trabalho Osemiário, como já ressaltado, almejou a realização de um balaço crítico sobre os dez aos de liberação dos trasgêicos o Brasil, de forma a cotextualizar o processo brasileiro a geopolítica global. Objetivos que foram cumpridos através do debate de três eixos cetrais: Aálise dos impactos dos cultivos trasgêicos sobre a saúde, o ambiete e a soberaia alimetar e as implicações da utilização desta tecologia em âmbito global, acioal e territorial. Avaliação dos impactos sociais e ambietais que esses 10 aos de itrodução dos OGMS o Brasil acarretam para a agricultura familiar em termos de direitos ao livre uso da biodiversidade, o acesso à iformações, e o direito de produzir e de executar seu projeto de vida o campo (autoomia social). Costrução de estratégias de icidêcia em ível acioal e iteracioal para potecializar ações e iiciativas. Para cumprir tais objetivos, foram realizados os três dias do eveto 5 (cico) mesas de discussão. As mesas de discussão tiveram um(a) ou mais coordeadores(as), que se ecarregaram de itroduzir a temática cetral da discussão e estabelecer a metodologia das falas de cada covidado e da forma de iteração dos palestrates com o público. Assim, cada mesa cocateou algumas das pricipais referêcias os temas específicos propostos, algus deles foram: Um balaço crítico dos trasgêicos o Brasil Poteciais e desafios do Direito Humao à Alimetação Adequada Os trasgêicos o dia a dia dos agricultores Os trasgêicos a mesa dos cosumidores Os trasgêicos a geopolítica global: América Latia, Europa, América do Norte e Ásia. Agrotóxicos, trasgêicos e o riscos à saúde Os mosquitos trasgêicos a América Latia Novas tecologias e ovas agedas do capital Os Grupos de Trabalho, por sua vez, objetivaram horizotalizar o debate e a troca 8 Relatório Técico l Semiário Iteracioal 10 Aos de Trasgêicos o Brasil: Um Balaço Crítico

de experiêcias através das realidades cocretas de cada participate do semiário, além de fometar e articular redes de resistêcia etre os presetes. Cada Grupo de Trabalho cotou com um ou mais coordeadores, que se ecarregou de itroduzir a temática cetral da discussão e estabeleceu a metodologia das falas de cada covidado e da forma de iteração dos palestrates com o público. Formaram-se, portato, cico grupos, com as seguites temáticas a serem problematizadas: Grupo 1: Legislação e icidêcia sobre os processos de tomada de decisão acerca dos trasgêicos: o caso da CTNBio Brasil. Grupo 2: Os trasgêicos e agrotóxicos: estratégias de cotrole da cadeia agroalimetar e seus impactos sobre os territórios, debate da PNAPO (Política Nacioal de Agroecologia e Produção Orgâica). Grupo 3: Experiêcias de resistêcia: moitorameto da cotamiação, áreas livres de trasgêicos, defesa das semetes crioulas, ecofemiismo e outras iiciativas locais. Apresetação de experiêcias. Grupo 4: Estratégias de icidêcia e istrumetos iteracioais: Protocolo da Cartagea, OIT 169, TIRFAA, etre outros. Grupo 5: Direito Humao à Alimetação Saudável e Culturalmete Adequada, cosumo e rotulagem. Tais grupos tiveram como atividade a elaboração de uma sítese da discussão detro de sua área temática e o apotameto de pelo meos duas propostas cetrais que seus participates acreditaram serem relevates para serem icluídas a Carta Política do Semiário. Os coordeadores dos grupos promoveram a discussão, itroduzido o tema com a apresetação dos seus poteciais e desafios e, ao fial da discussão, reuiram as síteses para redação do texto provisório da carta política. Por fim, a Terra de Direitos produziu, em cojuto com a comissão orgaizadora do eveto, um texto prelimiar que foi eviado aos participates semaas ates da realização do Semiário. O objetivo desse material era o de propiciar um patamar de cohecimeto comum acerca do cotexto que evolve a liberação de OGMS o país para o fim de facilitar a comuicação etre os participates. Capitulo 9

Represetação das etidades e atores sociais Osemiário iteracioal de avaliação dos dez aos de regulametação o Brasil, cosoate aos objetivos supracitados, almejou o itercambio de experiêcias, debates, vivêcias, resistêcias e a reovação da formação de uma articulação ampla de orgaizações e agetes que retomem as pautas de susteto de uma ova agricultura ecológica e sustetável, com a crítica pertiete às ovas tecologias implemetadas à serviço das empresas trasacioais. Para tato, fez-se ecessário o direcioameto dos covites à orgaizações, movimetos sociais, etidades da sociedade civil, órgãos públicos e pesquisadores que historicamete trazem tal pauta como mote de suas atuações e que têm papel emblemático a edificação de alterativas viáveis. Imprescidível também viabilizar a máxima diversidade e pluralidade de agetes sociais tato em âmbito de atuação, como das respectivas áreas do saber, a fim de abarcar a iterdiscipliaridade e a complexidade que o tema exige. Assim, elaboraram-se gráficos de amostragem e idicadores que revelam dados importates sobre a composição política do eveto e de seus resultados, a seguir delimitados. 3.1 Distribuição de participates por orgaização e âmbito de atuação O semiário cotou com a preseça de 123 (ceto e vite e três) pessoas em sua itegralidade. Ou seja, o decorrer do ecotro, este úmero de participates frequetou o espaço e cotribuiu com os debates, aida que ão de forma homogêea em todos os espaços, idicado pelo gráfico de frequêcia. Destas 123 (ceto e vite e três) pessoas, 20 (vite) são militates de movimetos sociais, especialmete aqueles ligados ao campo brasileiro e viculados à Via Campesia, como o MST (Movimeto dos Trabalhadores sem Terra), o MPA (Movimeto dos Pequeos Agricultores), o MAB (Movimeto dos Atigidos por Barrages), o MMC (Movimeto de Mulheres Campoesas) e o movimeto femiista iteracioal MMM (Marcha Mudial de Mulheres). A participação dos militates de movimetos sociais combativos, atuates e de grade referêcia o ceário rural do país possibilitou o repesar da atuação prática e massiva de combate aos trasgêicos. Além de partir da experiêcia e ações de resistêcia cocretas, que partem da realidade do agricultor, de suas práticas tradicioais e culturais e da soberaia alimetar campoesa. 10 Relatório Técico l Semiário Iteracioal 10 Aos de Trasgêicos o Brasil: Um Balaço Crítico

No que refere à participação de pesquisadores, professores e represetates de uiversidades, cotou-se com a preseça de 22 (vite e duas) pessoas, cerca de 18% de participates do eveto. O diálogo é colocado como primordial e reiterado as diversas cotribuições dos participates, a disputa de saberes, de coceitos cietíficos e de pesquisas e produções acadêmicas para a cotraposição com a legitimação do discursos hegemôicos que exaltam as tecologias artificiais e a cocetração de terras e semetes. Os participates de istituições públicas e orgaizações goverametais somaramse em 17 (dezessete) pessoas, que frisaram a ecessidade de itercambiar e estreitar o diálogo com os setores públicos que se colocam de modo progressista e facilitador de políticas públicas que beeficiem à agricultura familiar, orgâica e agroecológica. De forma que é também um espaço de disputa política e viabilização de trasformações sociais. O setor com o úmero mais expressivo de participates é o de orgaizações da sociedade civil, que abrage as Orgaizações ão goverametais (ONGs), as assessorias técicas e políticas e as associações diversas. Tal setor cota com 49% de participates do semiário e revela a quatidade de agetes políticos o setor e a urgêcia e idispesabilidade de se articular tais orgaizações o fometo de ações cojutas, e que se somem cojutamete e estrategicamete, mesmo que em âmbitos locais diversos. 17% Distribuição dos participates por orgaização e âmbito de atuação 18% 51% Movimetos sociais Academia / uiversidade Istituições públicas 14% Outras orgaizações da sociedade civil (ONGs) Fote: Semiário 10 aos de trasgêicos o Brasil Elaboração: Bittecourt, 2013. 3.2 Distribuição por participates iteracioais: Houve uma itesa participação de pesquisadores e ativistas de quatro cotietes do globo, de modo que possibilitou um iteso fluxo de otícias, acúmulos e projetos em cada um dos países, além de proporcioar uma visão global e iteracioal acera do tema, esejado a percepção da especificidade local, mas de sua relação com o mercado e as relações ecoômicas e políticas o sistema mudial. Capitulo 11

Compareceram 11 (oze) pessoas de diversos países da América Latia, como Argetia, Uruguai, Paraguai, México, Equador e Chile. Como o eveto ocorreu o Brasil, excetua-se da cotagem os brasileiros, que eram maioria absoluta o eveto. Da América Norte participou uma pesquisadora dos Estados Uidos. Da Ásia uma ativista e pesquisadora do TWN as Filipias e da Europa participaram dois pesquisadores fraceses, uma itegrate dos Ceifadores Volutários e outro membro do parlameto europeu. Além dos países citados ocorreram participações de pesquisadores dos Estados Uidos e das Filipias. Vale citar aida a cotribuição do pesquisador Aroud Apoteker, viculado ao parlameto europeu e de membros do grupo Faucheurs Volotaires (Ceifadores volutários), movimeto da sociedade civil fracesa que é atuate a discussão dos trasgêicos em seu país. Distribuição por participates iteracioais Europa 2 Ásia 1 América do Norte 1 América Latia 11 0 2 4 6 8 10 12 Fote: Semiário 10 aos de trasgêicos o Brasil Elaboração: Bittecourt, 2013. 3.3 Distribuição por critério de gêero No que cocere à distribuição de participates por gêero masculio ou femiio, percebeu-se um equilíbrio em termos quatitativos, represetado um avaço o campo de costrução de igualdade. O mesmo ocorreu etre as facilitadoras de mesas de discussão, aida que este aspecto o úmero do cotigete masculio teha predomiado, mostrado algus idicadores de desigualdade como a participação os espaços públicos de fala e de maior poder, visível também pelas autoridades presetes, em sua maioria homes. Outro poto que deve ser colocado é que se observou uma dicotomia aida presete de acúmulo e proximidade com determiadas áreas do saber, percebidas pela participação os grupos de trabalho e as iterveções as pleárias durate as mesas de discussão. A exemplo está o grade úmero de mulheres que frequetaram o grupo de trabalho úmero 5, de temática Direito Humao à Alimetação Saudável e Culturalmete Adequada e o reduzido úmero de mulheres os grupos de trabalho 1 e 2, que tratavam de questões técicas, legais e legislativas. Tais fatos represetam aida uma atribuição marcate de 12 Relatório Técico l Semiário Iteracioal 10 Aos de Trasgêicos o Brasil: Um Balaço Crítico

papéis sociais defiidos e de atribuições marcadas etre os sexos, barreira que deve ser rompida com o avaço das discussões e das práticas dos movimetos femiistas que lutam pela igualdade de gêero. Neste setido, foi fator primordial ao eveto a preseça dos movimetos femiistas MMC (Movimeto das Mulheres Campoesas) e da MMM (Marcha Mudial de Mulheres) que trouxeram temas como o ecofemiismo e a importâcia das mulheres a costrução da agroecologia e outras formas de resistêcia. Distribuição dos participates por critério de gêero 48% 52% Mulheres Homes Fote: Semiário 10 aos de trasgêicos o Brasil Elaboração: Bittecourt, 2013. 3.4 Frequêcia de participates por dia O semiário apresetou uma costâcia estável de úmero de participates todos os dias, coformes os espaços de discussão, como se verifica o gráfico abaixo. Apeas o último dia, devido aos retoros dos participates a seus muicípios, costatou-se uma queda a participação do público. Distribuição por participates iteracioais 80 76 79 55 21 de outubro (abertura) 22 de outubro 23 de outubro 24 de outubro Fote: Semiário 10 aos de trasgêicos o Brasil Elaboração: Bittecourt, 2013. Capitulo 13

Abordagem das mesas A s temáticas das mesas propostas o Semiário foram pesadas de forma a garatir a máxima atualidade do debate do paorama dos trasgêicos, que viabilizassem a percepção desde o agricultor e sua realidade diária de efretameto e impacto dos OGMs até o cotrole global ecoômico e a divisão iteracioal do trabalho o que cocere ao uso de tecologias agrícolas, assim como o Estado e ivestimeto das pesquisas em uiversidades e fiaciameto do poder público. Os trabalhos iiciaram com um ato em memória de Walmir Mota de Oliveira, o Keo, militate do MST/Via Campesia, morto o dia 21 de outubro de 2007 pelo ataque de uma milícia armada à serviço da empresa Sygeta, um ato que demostram a existêcia de resistêcia ao uso de trasgêicos o Brasil por trabalhadores rurais que ocuparam a estação experimetal da empresa para deuciar suas violações ambietais. A Empresa matiha experimetos ilegais com semetes trasgêicas detro da Zoa de Amortecimeto de Parque Nacioal do Iguaçu, Uidade de Coservação de proteção itegral situada a cidade de Sata Tereza do Oeste, oeste do Paraá. Após a cerimôia de abertura, realizou-se uma soleidade com as autoridades públicas Dr. José da Ecaração Leitão, Delegado Federal Substituto do Miistério do Desevolvimeto Agrário (MDA) o Estado do Paraá e Dr. Olympio de Sá Sotto Maior Neto, do Cetro de Apoio Operacioal das Promotorias de Justiça de Proteção aos Direitos Humaos do Miistério Público do Paraá CAOPJDH, que saldaram a importâcia do eveto e de sua realização o Paraá, estado emblemático pela grade ofesiva do agroegócio e da domiação das empresas trasacioais o mercado regioal. Na mesma oite, deu-se esejo à mesa iaugural, cujo objetivo pricipal era de itroduzir o debate com breve e crítico paorama o ceário dos trasgêicos e dos pacotes tecológicos o Brasil. Pricipiou a discussão a pesquisadora em biodiversidade e exassessora da Terra de Direitos, Larissa Packer, segudo a qual, o Brasil fez uma opção pelo agroegócio, em detrimeto da área de biodiversidade, sedo que a liberação dos trasgêicos o Brasil foi uma opção goverametal aliada à estratégia e iteresse da idústria. A pesquisadora apresetou aida dados que revelam o crescimeto dos OGMs desde sua liberação: 60% do território brasileiro, de 850 milhões de hectares, são ocupados por florestas; 67 milhões de hectares estão semeados, dos quais destes 37 milhões com trasgêicos. Os trasgêicos foram liberados com a Lei de Biosseguraça, publicada em 2005. A lei cosolidou a costrução, o cultivo, a produção, a maipulação, o trasporte, a trasferêcia, a importação, a exportação, o armazeameto, a pesquisa, a comercialização, o cosumo, a liberação o meio ambiete e o descarte de OGMs e seus derivados. Já em 2009 o país se torou o 2º maior em área platada, com 21,4 milhões de hectares, ficado atrás apeas dos Estados Uidos, que matêm o cultivo dos trasgêicos em 64 milhões de hectares. 14 Relatório Técico l Semiário Iteracioal 10 Aos de Trasgêicos o Brasil: Um Balaço Crítico

Na mesma seara, o Relator do Direito Humao à Terra, ao Território e à Alimetação da Plataforma DHESCA Brasil, Sérgio Sauer, fez seus apotametos acerca dos desafios do direito à alimetação adequada, vez que o tema da seguraça alimetar foi recolocado a ageda política global, sobretudo a partir de 2011, quado a população mudial chegou a cerca de 7 bilhões de pessoas. Com o crescimeto da população a preocupação com o quadro apota problemas futuros com a seguraça alimetar. Estima-se que em 2050 o plaeta atigirá 9 bilhões de pessoas e será ecessário dispor de 1 bilhão de toeladas de grãos a mais para sustetá-las. A questão alimetar, o etato, vai muito além da discussão da quatidade e ecessita ser avaliada também em termos da qualidade utricioal dos produtos que são colocados à disposição dos cosumidores. Para Sérgio Sauer, a crise dos alimetos levou ao reforço do discurso da escassez, que resulta a crescete demada por produção e coloca o agroegócio como o provedor das ecessidades humaas, como a fome. Para reforçar este discurso a mídia exerce um papel de costrução da arrativa da escassez, de um lado, e da pujaça da produção, o outro. Falácias do agroegócio que tederiam a fidar-se, visto aos dez aos de promessas ão cumpridas o que cocere à resolução dos coflitos da fome mudial. De acordo com o relator, a terra deveria ser etedida ão como um meio de produção, mas como um lugar de vida. Para ecerrar o debate da mesa iaugural, cotou-se com a preseça de Magda Zaoi, membro do Grupo de Estudos em Agrobiodiversidade do Miistério do Desevolvimeto Agrário (GEA/MDA) e professora da Uiversidade de Paris. A professora propõe que se reavaliem os critérios que legitimam a liberação dos trasgêicos, comparado o procedimeto com o ecessário questioameto dos métodos cietíficos como já ocorre em outras partes do mudo. É preciso passar por uma reovação dos paradigmas de ciêcia, como já ocorre gradativamete a Europa. Daí decorre a importâcia de articulação do semiário e do fometo aos polos acioais para a uiversalização desses temas e pesquisas críticas o país, abarcado um exteso leque de áreas iterdiscipliares (médicos, geólogos, agrôomos, sociólogos, atropólogos, etre outros) que estão hoje questioado o modelo e o paradigma de ciêcia. 4.1 Trasgêese a agricultura brasileira: dez aos depois A primeira mesa de discussões, realizada o dia 22 de outubro pela mahã, objetivava efretar um balaço crítico da itrodução do cultivo trasgêico a agricultura brasileira, com o resgate dos camihos percorridos para a legitimação da trasgeia a agricultura covecioal ao logo desses dez aos, ivestigado os processos que favoreceram sua trasição da ilegalidade à atual istitucioalização. Foram discutidos quais os pricipais desafios a serem vecidos o ceário acioal para a devida proteção da saúde humaa, do meio ambiete e do livre acesso dos agricultores à biodiversidade. O professor e pesquisador Atôio Iácio Adrioli, também Vice-Reitor da Capitulo 15

Uiversidade Federal Froteira Sul, itegrate da CTNBio e membro do GEA/MDA, retoma o questioameto da ciêcia e da educação voltada ao mercado, pois detrás de um modo produtivo há um projeto de sociedade que abarca a ideologia, em que o cohecimeto é produzido para legitimar uma ideia preexistete, vez que os estudos cotra-hegemôicos ou cotestatórios são igorados ou egados pela comuidade cietífica domiate. O pesquisador apotou ser ecessário reavaliar as promessas que foram feitas à época da itrodução de cultivos trasgêicos o país. Um dos argumetos para legitimar seu igresso foi o de aumeto da produtividade, que ão se verificou a prática. A redução dos custos de produção, um segudo argumeto, até pode ser percebida pelo seu efeito idireto (p.ex., que ocorre com a dimiuição de platas cocorretes), o etato, é preciso que se faça uma aálise que dimesioe simultaeamete a peosidade do trabalho humao empregado. A eficácia, terceiro argumeto, era cosiderada pelo feômeo da seleção atural que toraria as platas resistetes aos herbicidas. O que se observa, etretato, é que as platas que ão morrem se reproduzem, torado ecessário ova trasgeia, ou seja, a criação de ovas platas em codição de resistêcia. Por fim o argumeto da tolerâcia a isetos com a itrodução do veeo o iterior da plata a fim de que cada célula produza a toxia trouxe o desevolvimeto da própria toxia os isetos, elevado o uso dos agrotóxicos o país. Destarte, esses dez aos, o que se verificou foi a redução da produtividade, o aumeto dos custos e da depedêcia dos agricultores, a ecessidade de se aumetar a extesão da terra e o aumeto da fome (vez que os trasgêicos ão são só destiados à alimetação humaa, mas destiam-se, em sua maioria, à criação de aimais e à produção de agrocombustíveis). Na sequêcia, Asdrubal de Carvalho Jacobia, represetate da CONAB, reiterou o posicioameto de que os trasgêicos elevaram o cosumo de herbicidas em 18% quado refereciou o período aterior aos OGMs. Segudo ele, com o uso de semetes trasgêicas, aumetou-se sigificativamete o uso de agrotóxicos, fator que elevou o custo da produção. Um exemplo é o algodão, cultura com alta icidêcia de pragas e a qual hoje se percebe uma hegemoia da variedade trasgêica. Costatou-se um aumeto de 22 aplicações de veeos para 24. Das 24 aplicações, 19 são de iseticida. O úmero de produtos utilizados também aumetou, pois em relação aos herbicidas, passou-se de 9 para 16. Houve também alteração a composição dos herbicidas, provavelmete devido ao desevolvimeto de resistêcia das platas. Dos herbicidas ateriormete utilizados, apeas oito permaeceram. Para trazer a experiêcia dos trasgêicos o dia a dia dos agricultores, Aderso Muarii, itegrate do Movimeto dos Pequeos Agricultores MPA, problematizou a eorme pressão das empresas que vedem semetes e agrotóxicos para a utilização de seus produtos. Segudo o agricultor, os ecarregados de realizar as vedas são os técicos das cooperativas empresariais tradicioais e as casas agropecuárias, os quais possuem metas de veda a serem cumpridas, sem aálise e orietação adequada aos produtores rurais. Em São Miguel do Oeste, região de Sata Cataria ode predomia a agricultura familiar, o agroegócio promove campos demostrativos para apresetar as ovas tecologias para os agricultores. As empresas fretam ôibus para levar os agricultores e lhes oferecem churrasco e diversas atrações, a fim de promover seus produtos. Importate lembrar 16 Relatório Técico l Semiário Iteracioal 10 Aos de Trasgêicos o Brasil: Um Balaço Crítico

que, para a compra dessas tecologias, é dispoibilizado crédito para os agricultores. Além dos campos demostrativos, há os dias de campo, prática adotada pelas empresas, que doam semetes e produtos para o melhor agricultor utilizar, também como estratégia de marketig. Etretato, ão existem orietações sobre a espécie ou tipo de semetes, de forma que os agricultores sequer sabem que se tratam de OGMs, apeas que são resistetes. O problema é que a legislação exige que, para comercializar pelo PAA semetes (Programa de Aquisição de Alimetos), seja feita aálise da trasgeia. A questão que se coloca é que ão há resposáveis para arcar com custos, vez que os gastos são extremamete elevados. Ao fim o ôus é arcado pelos agricultores que cultivam semetes crioulas. Além disso, há ao perigo da cotamiação latete, desde a utilização de máquias coletivas até a cotamiação por fluxo gêico. Ou seja, cada vez mais os agricultores permaecem com poucas alterativas de resistêcia, se ão cultivam semetes crioulas, já ão coseguem acessar a soja ou milho covecioais o mercado, domiado pela trasgeia. Todavia, há diversas experiêcias sedo realizadas com o ituito de se cotrapor ao modelo de produção trasgêico, como as Festas da Agrobiodiversidade, ode ocorrem trocas de semetes e a circulação de uma variedade geética icalculável. João Paulo Amaral, do Istituto Brasileiro de Defesa do Cosumidor IDEC, trouxe, por fim, um depoimeto dos trasgêicos sob a perspectiva dos cosumidores. Sua abordagem tratou do histórico da regulametação dos OGMs o Brasil e dos istrumetos jurídicos propostos cotra sua aprovação comercial. Ademais, ressaltou a batalha jurídica pela aprovação da medida que tora ecessária a rotulagem dos produtos geeticamete modificados, firmada pelo Decreto de º 4680 de 2003, o qual estabelece que alimetos que coteham mais de 1% de produto trasgêico são obrigados a icluir a embalagem o símbolo do triâgulo amarelo com a letra T o iterior. Tal medida, é ameaçada pela propositura do Projeto de Lei º 4148/08, que objetiva flexibilizar a exigêcia da idetificação dos produtos que cotém trasgêicos. João Amaral retomou as atividades ecapadas esse período e os desafios que se colocam a este setor, tais como: a) a recomedação ao CTNBio para vetar a aprovação do agrotóxico 2,4-D; b) a decisão judicial da ADI proposta pelo Idec, para a rotulagem dos trasgêicos e c) proporcioar alterativas de alimetação saudável e com preço e valorização acessíveis aos cosumidores. 4.2 Os trasgêicos a geopolítica global A mesa 2, que ocorreu o dia 22 de outubro o período da tarde, objetivou realizar um balaço crítico a partir do ceário iteracioal de como os países vem efretado o tema em seus espaços locais. A discussão procurou traçar ceários da América Latia, da América do Norte e Ásia para avaliar como está o processo de liberação e (ou) o bloqueio desse cultivo os países e regiões e quais as pricipais questões que vem sedo debatidas o tocate à temas como a cotamiação geética e a autoomia dos agricultores. Ao fial, Capitulo 17

a discussão pretedeu estimular os participates a avaliar quais as particularidades e os elemetos comus que existem etre essas experiêcias e suas estratégias de efretameto. Para a avaliação do ceário latio americao a pesquisadora de Saúde Coletiva, Ambiete e Sociedade da Uiversidade Adia, Accio Ecologica, do Equador, Elizabeth Bravo, desvela o mito da produtividade da trasgeia para cosumo alimetar, pois os trasgêicos são utilizados para a criação de aves, suíos e para a produção de agrocombustíveis, sedo que apeas uma pequea parcela é destiada à alimetação humaa (50% da produção de milho e soja é destiada à criação de galihas e 25% à de porcos). O beefício de tais tecologias trasfere-se exclusivamete para as empresas que cotrolam o mercado de semetes e ultrapassam as froteiras acioais. Na América Latia há a emblematicidade de se produzir commodities para a alimetação de aimais asiáticos ou europeus, que marca a divisão iteracioal do trabalho, a exemplo do estreitameto das relações comerciais etre Brasil e Chia. A pesquisadora faz um apahado da situação dos OGMs em vários países latios e resgata experiêcias de resistêcia aos OGMs, como a luta pela defesa do milho ativo o México e a Costa Rica. Já o Equador, há a proibição costitucioal do uso de trasgêicos, e o Peru, a aprovação, em 2011, de Lei que proíbe o uso de trasgêicos o país por um período de dez aos de prazo, período esse em que serão realizados estudos sobre OGM e elaboração de regulametos e leis de biosseguraça. Miguel Lovera, ex-presidete do Serviço Nacioal de Qualidade e Saidade Vegetal e de Semetes (SENAVE) do Paraguai e Oscar Rivas, ex-miistro da Secretaria do Ambiete do Paraguai, resgataram o histórico de cocetração fudiária o Paraguai, a peree ofesiva do agroegócio e sua relação com a destituição do ex-presidete Ferado Lugo. Segudo eles, as velhas oligarquias locais latifudiárias aliharam-se às empresas trasacioais para combater as medidas tomadas durate o breve período que Ferado Lugo esteve ao poder. De acordo com Lovera, a pricipal ação do govero que desecadeou a reação dos latifudiários paraguaios, foi a atuação juto ao SENAVE para aplicar as legislações agrícolas já existetes o sistema legislativo do país, de forma a vicular a prática as medidas legislativas previstas de regulametação de agrotóxicos e trasgêicos. Tais iiciativas geraram descotetameto das oligarquias rurais porque 90% das lavouras de soja deveriam ser readequadas com as ovas medidas, tato que este foi o primeiro grupo que se maifestou pela destituição do presidete Lugo, iiciado as articulações para o golpe. Outra ação estatal foi iformar a população sobre o que era o SENAVE (Servicio Nacioal de Calidad y Saidad Vegetal y de Semillas), pois a maioria dos campoeses ão sabia sobre sua utilidade. Rivas frisou que houve uma campaha de iformação aos campoeses sobre a ecessidade de trazer suas demadas ao órgão. Segudo eles, o govero passou simplesmete respeitar a lei, afiado a ecessidade de diálogo, ispeção e iformação, atividades descumpridas os últimos madatos do Executivo paraguaio. Agora que a situação retorou ao estado pré govero progressista, as velhas codições de relacioameto etre o Estado e o agroegócio se estreitam. Lovera etão reafirma a ecessidade de reovação das práticas de resistêcia e a atuação dos movimetos sociais, que permaecem ivisibilizadas. E, além disso, para ele, a míima 18 Relatório Técico l Semiário Iteracioal 10 Aos de Trasgêicos o Brasil: Um Balaço Crítico

uidade de trabalho político deve represetar os focos de resistêcias, de forma a também romper as barreiras das froteiras circuscritas acioais para trocar estratégias, uma verdadeira frete democrática latio-americaa. Chela Vásquez, pesquisadora do Pesticide Actio Network, traz o paorama dos Estados Uidos. De acordo com ela, é o pais que tem a maior quatidade de cultivos geeticamete modificados o mudo, icluido espécies resistetes a herbicidas e isetos, estas últimas cotém o gee Bacillus thurigeisis. Cultiva-se pricipalmete soja (só modificada para resistir aos herbicidas), milho (90% são geeticamete modificados) resistete a herbicidas, algus dos evetos também cotém BT e algodão (também 90% geeticamete modificado). A Mosato possui o moopólio da produção de OGMs, cotado com cerca de 70% dos evetos resistetes ao glifosato. O resultado, como os demais países, é o surgimeto de platas resistetes ao glifosato, gerado a ecessidade de ovos e mais pesados herbicidas, como o 2,4 D. A questão é que o processo se repetirá com o 2,4-D: o surgimeto de platas resistetes. Há um amplo lobby das empresas e pesquisadores para que se aprove esse herbicida, que é muito mais tóxico para platas e aimais, além de ser muito volátil, por isso a dispersão pelo ar é muito mais fácil. Os maiores prejudicados serão os pequeos agricultores, agricultores orgâicos e cosumidores. Para trazer o ceário dos trasgêicos a Europa, Araud Apoteker, pesquisador resposável pela campaha FREE OGM e itegrate do Parlameto Europeu, apota que as campahas de resistêcia a Uião Europeia começaram em 1996, embora houvessem algus focos desde os aos 90, quado começou-se a falar dos trasgêicos. A Fraça era o segudo país do mudo, depois dos EUA, em pesquisas e testes de trasgêicos, tedo muitos campos experimetais. Em 1996 foram autorizadas as primeiras exportações de sojas trasgêicas, cultivadas os EUA desde 1995. Atualmete há somete dois trasgêicos autorizados a Europa, sedo que um deles, o milho, foi aprovado em 1998. A autorização de platio dura 10 aos e deve passar por um processo de reovação da autorização após este prazo. De acordo com Apoteker, as chaces da autorização do milho trasgêico ser reovada é baixíssima. O outro OGM autorizado é a batata, mas como ão teve sucesso comercial, deixou de ser platada o cotiete. Cotudo, há mais de 50 trasgêicos autorizados para importação, que vêm da pressão de países como EUA, Brasil e Argetia que procuram mercado a Europa. Hoje os cosumidores ão aceitam o cosumo dos trasgêicos, tais produtos adetram o mercado como ração alimetar, que ão precisa ser rotulado. Há iiciativas dos ativistas para que se amplie a utilização de produtos ão trasgêicos, também rotulado os produtos para aimais. A resistêcia a Fraça se deu por diversas ações de grupos plurais, etre elas: a) os meios de forecer ao cidadão iformações simples acerca dos trasgêicos; b) métodos e materiais cietíficos críticos ao sistema dos trasgêicos; c) ações e suporte jurídico, com a implicação os pricípios de preveção e precaução; d) realizar ações de alerta à mídia; e) fometar e criar os guias aos cosumidores; f) elaborar formas de detectar e idetificar os trasgêicos; g) a valorização das ações positivas e de redes de semetes campoesas, para que os produtos orgâicos, aturais e agroecológicas sejam procurados pelo cosumidor. Capitulo 19

Por fim, Lilibeth Aruelo, pesquisadora itegrate do Third World Network das Filipias, apreseta a realidade e especificidades asiáticas. O pricipal cultivo de trasgêicos é o arroz dourado, que possui um gee da erva do arciso (Narcissus pseudoarcissus) e da bactéria erwiia (Erwiia uredovora), fazedo dessa a úica variedade existete a produzir betacaroteo, precursor da vitamia A. A tecologia foi desevolvida por uma Istituição sem fis lucrativos, Iteratioal Rice Research Istitute, com o ituito de combater a deficiêcia desta vitamia etre os filipios, que tem o arroz sua pricipal fote de calorias, todavia, essa tecologia foi, posteriormete, comprada pela Sygeta. Os estudos foram fiaciados pela Associação Bill e Melida Gates, que apoiam também outros estudos para o desevolvimeto de orgaismos geeticamete modificados para combater a fome. Outra icidêcia a Ásia é do projeto Agricultural Biotechology Support Project II (ABSP II) é fudado pela Uited States Agecy for Iteratioal Developmet através de um cosórcio público-privado, cuja atuação é voltada para países em desevolvimeto, tedo o ituito de iformar sobre as moderas tecologias da agricultura. Além do arroz dourado, há outros projetos em desevolvimeto a Ásia, a Ugada icluem pricipalmete a baaa. Em Bagladesh e a Ídia, ode ocorreram diversas mobilizações para se acabar com os testes, há moratória proibido a comercialização da berijela trasgêica. No total, há 47 evetos aprovados. Há, também, otícia de testes em mosquitos geeticamete modificados. Traz a experiêcia das Filipias, com as Zoa Livres de Trasgêicos, a qual é composta por diversas ilhas, as quais são dotadas de autoomia, podem editar leis locais (ordiaces) cotato que ão violem a Costituição. As Zoas Livres de Trasgêicos se cocetram a parte cetral das Filipias. Duas ilhas celebraram ordiaces baido a etrada de OGMs. 4.3 A tecologia trasgêica: perigos, retrocessos e alterativas Esta mesa tiha por objetivo discutir e avaliar quais efeitos da biotecologia o campo e os riscos a serem avaliados tato do aspecto social como ambietal. A abordagem também se relacioou aos riscos aos cosumidores, com o relato de experiêcias que retrataram a questão da resposabilidade pela cotamiação direta e idireta de alimetos. Por fim, a discussão abordou a bio(i)sseguraça da agricultura covecioal e os mecaismos iteracioais de proteção da biodiversidade. Adres E. Carrasco, do Laboratorio Embriologia Molecular da Facultad de Medicia UBA-CONICET da Uiversidade de Bueos Aires a Argetia, traz a abordagem o âmbito da saúde dos riscos e impactos que as tecologias de trasgêicos e agrotóxicos acarretam aos humaos. Segudo ele, todo e qualquer tipo de modificação geética é extremamete egativa para os vários campos da vida, a lógica dessa ova tecologia acarreta em diversas egatividades e falhas. 20 Relatório Técico l Semiário Iteracioal 10 Aos de Trasgêicos o Brasil: Um Balaço Crítico