UM DIÁLOGO SOBRE CIDADANIA E A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA EUDAÇÃO INCLUSIVA. INTRODUÇÃO: Patrícia Celis Murillio UNESP- Araraquara. Eixo temático: Política Educacional Inclusiva Palavras-chave: Cidadania, Inclusão, Políticas de Educação. O desenvolvimento histórico da sociedade referente à questão do deficiente preconizou, em um passado não muito distante, uma severa exclusão dos anormais em que o direito a vida de pessoas com deficiência só passou a ser reconhecido e aceito mediante novos paradigmas sociais ancorados em pressupostos religiosos. Assim, após uma longa história de segregação social, a idade média possibilita direito à vida aos deficientes, mas, os mesmos viveriam apartados do convívio social e excluídos de todo o processo educacional e cultural. Neste caminho histórico, as lutas de classes ampliaram para todos os membros de uma sociedade os direitos civis que legitimam a condição de cidadão. Os avanços e a implementação de novas políticas públicas concede a educação escolar para todas as crianças sejam elas deficientes ou não (FOUCAULT, 1995; MARSHAL, 1967). Assim, vamos encontrar um processo de inclusão escolar que acompanha suas conquistas a partir das lutas de classes, meio a movimentos organizados que ampliaram, de maneira universal, o direito a educação e o direito à diferença. Será fácil observar que o movimento pela cidadania, a partir do final do séc. XIX, também perpassou as lutas pelos direitos de uma inserção e convívio social da pessoa com deficiência. A cidadania descreve os direitos e obrigações associados à participação em uma unidade social e notavelmente à nacionalidade, portanto, deve ser comum a todos os membros, embora, a questão de quem vem a ser membro social de fato faz parte da turbulenta história da cidadania (DAHRENDORF, 1992.). Para Carvalho (2002) é importante refletir sobre a Cidadania seu significado, sua evolução histórica e suas perspectivas. A cidadania vem imersa de um sentido social e
nacional e desponta no seu histórico conflitos gerados pelas desigualdades, uma luta de classes que visa transformar a qualidade dos conflitos. OBJETIVOS: Nesta pesquisa de revisão bibliográfica intencionamos contextualizar a trajetória histórica da pessoa com deficiência e o alcance da sua cidadania, por meio dos direitos constitucionalmente estabelecidos, para uma sociedade inclusiva. Buscou-se problematizar a questão da inclusão, da pessoa com deficiência, e seus conflitos geradores, ao longo da história, que está posto por uma concepção dialética entre os conceitos de normalidade x anormalidade. METODOLOGIA: Trata-se de uma pesquisa teórica onde realizamos uma revisão bibliográfica selecionando textos convergentes ao tema. Todo referencial teórico aqui apresentado apontou caminhos de intersecção entre a luta social, pela cidadania de todos os indivíduos sociais, e a trajetória histórica da deficiência e seus conflitos sociais gerados pelas contradições que se dão entre a criança normal e a criança com algum tipo de anormalidade orgânica, psíquica ou mental. Diante deste cenário nos foi possível contextualizar em que medida o ideário da educação Inclusiva foi ao longo da sua trajetória histórica modificando o imaginário da segregação e exclusão social das pessoas tomadas como anormais. RESULTADOS: Da Exclusão a Inclusão escolar da pessoa com Deficiência. A educação especial surge junto a um modelo médico e clínico e o seu atendimento educacional foi considerado por um viés terapêutico até meados dos anos 90 do séc. XX. As terapias motoras como fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional, ocuparam grande parte das demandas da primeira infância e, portanto, a educação vinculada à medicina perdeu o seu foco acadêmico para voltar-se para um enfoque terapêutico (GLAT & MASCARENHAS 2005). A institucionalização das escolas especiais se deu na década de 1970 e tinha a preocupação de garantir escolas para alunos com deficiência. As décadas de 70 e 80, do século XX, não apresentaram avanços no sistema de ensino especial, mas a década de 80 impulsionou discussões sobre os direitos sociais marcando um novo movimento que era a filosofia da integração e normalização, o que prediz educação para todos os alunos,
preferencialmente no ensino regular, sendo que o modelo de integração vigente até os dias atuais prepara alunos oriundos do ensino especial para o ensino regular (JANUSSI, 2012). As propostas dos anos 80 culminam nos anos 90, do século XX, com a educação inclusiva, o que implica em uma nova postura da escola regular, discutindo projetos políticos pedagógicos, atualização curricular, métodos e técnicas avaliativas, estratégias e práticas pedagógicas voltadas para os diferentes tipos de deficiência. DISCUSSÃO: A visibilidade da Educação Especial vem a acontecer mediante a esta série de acontecimentos sociais que vieram a culminar com a constituição de 1988, proclamando a Educação como um direito de todos e dever do Estado. Em 1990, o Brasil concorda com um sistema de educação inclusivo, com a Declaração de Educação Mundial de Educação para Todos, na conferencia mundial da UNESCO, realizado na Tailândia. Esta nova ideologia é reafirmada com a Declaração de Salamanca na ação na área das Necessidades Educativas Especiais, UNESCO 1994 (JANUSSI, 2012). Desde então, o país instalou um processo de transformação, no sistema educacional brasileiro, que teve como desdobramento mudanças na legislação e na elaboração das diretrizes nacionais para a educação, todas elas norteadas pela ideia da educação inclusiva. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB 9394/96, os Parâmetros Curriculares Nacionais - Adaptações Curriculares: estratégias para a educação de alunos com necessidades educacionais especiais, em 1998, e as Diretrizes para a Educação Especial na Educação Básica, em 2001, entre outras. O governo chamou para si a incumbência de formular referencias curriculares capazes de consolidar a concepção de educação básica como um processo contínuo. A reforma curricular é uma peça chave fundamental para a mudança de eixo das políticas de igualdade voltadas para todos. A educação como direito humano se impõe também como direito a diferença o que demanda profundas transformações no conjunto dos padrões de relacionamento da sociedade. A relação da educação formal, com a pessoa com deficiência, ao longo dos séculos, XX e XI, estabeleceu fronteiras entre o sujeito cognitivo e o seu corpo biológico e social, apartando a deficiência do processo de escolarização de aprendizagem e desenvolvimento (FOUCAULT, 1979). O conceito amplo de educação inclusiva, dado pela Declaração Mundial sobre Educação para Todos, UNESCO 1990, e pela Declaração de Salamanca 1994, pode ser compreendida
como um princípio ou orientação geral para fortalecer a educação e a aprendizagem ao longo da vida para todos com igualdade de oportunidades (JANUSSI, 2012). O lugar da pessoa com deficiência na educação condiz não somente a uma prática pedagógica desatualizada, mas está imersa por uma questão histórica e conceitual que traduz uma percepção reducionista dos aspectos da deficiência, por meio de um modelo biomédico. Portanto, temos a necessidade de refletir não apenas o paradigma médico, mas também o paradigma do corpo social, o que vem a colocar a educação inclusiva fora da compreensão reducionista dada pelo corpo biológico. CONCLUSÃO : Cidadania e Educação inclusiva Analisamos todos os dados encontrados e associando-os a psicologia-histórico-cultural, em conformidade com Vygotski (2012), podemos concluir que a deficiência não está em si especificamente, mas, está na forma como a sociedade a significa. Assim, o novo modelo de Cidadania seria a promoção da igualdade, a promoção de um cidadão que participe da própria lógica da ação estatal e que encontre novas formas de participação nas decisões e novas formas de promoção. Portanto, a apropriação cultural da criança com algum tipo de deficiência precisa ser cuidadosamente compreendida tendo em mente que o desenvolvimento infantil está intimamente atrelado as aquisições culturais que são mediadas pelos instrumentos historicamente e culturalmente estabelecidos e por um mestre, em um processo de ensino e aprendizagem. A busca de uma escola inclusiva implica necessariamente em adaptarmos todo o conhecimento sistematizado já existente para que pessoas em condições físicas, mentais e sociais diferenciadas possam se apropriar dos diferentes tipos de conhecimentos produzidos socialmente e culturalmente para o uso de todos (VYGOTSKI, 2012). BIBLIIOGRAFIAS BRASIL, Ministério da Educação. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Secretaria de Educação Especial-MEC; SEESP, 2001. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/diretrizes.pdf.... Caderno de Educação Especial. A alfabetização de crianças com deficiência; uma proposta inclusiva. Brasília: MEC-SEB, 2012. Disponível em: http://pacto.mec.gov.br/images/pdf/formacao/educacao_especial_miolo.pdf.... LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 9 ed. Brasília, 2014. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf,
... Portal de Ajudas Técnicas para Educação: Equipamento e material pedagógico para educação, capacitações recreação da pessoa com deficiência física: Recursos pedagógicos adaptados. Brasília. MEC: SEESP, 2012. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/ajudas_tec.pdf. CARVALHO, J.M. Cidadania no Brasil: O longo caminho. São Paulo, Civilização Brasileira, 2001. DAHRENDORF, R. O Conflito Social Moderno: Um ensaio sobre a política de liberdade. Rio de Janeiro, Zahar, 1992. DECLARAÇÃO DE SALAMANCA: Disponível: em: px?fileticket=7fr0eprpiy4%3d&tabid=304&mid=1656. FOUCAULT, M. História da Loucura. Tradução Jose Teixeira Coelho Neto. 4 ed. São Paulo: Perspectiva, 1995. GLAT. R; MASCARENHAS. E.F. Da Educação Segregada a Educação Inclusiva: Uma breve reflexão sobre os paradigmas educacionais no contexto da Educação Especial Brasileira. Revista Inclusão, MEC/SEESP, n.1. 2005. JANUSSI, G.M. A Educação do Deficiente no Brasil: Dos primórdios ao início do séc. XXI. 3ª. ed. Campinas. SP: Autores Associados, 2012. MARSHALL, T.H. Cidadania, Classe Social e Status. Rio de Janeiro, Zahar, 1967. NOBRE, M. Participação e Deliberação: Teoria democrática e experiências institucionais no Brasil contemporâneo. In (org): SCHATTTAN, V. e NOBRE, M. Participação e Deliberação na Teoria Democrática: Uma introdução. São Paulo: ed. 34, 2004. SANTOS, W.G. Cidadania e Justiça. Rio de Janeiro, Ed Campus, 1979. SILVA. A. P. Corpo Inclusão/Exclusão e Formação de Professores: Defesa de Doutorado, Rio de Janeiro, UFRJ, 2012, p. 1-250, 2012. VYGOTSKI, L. S. Obras Escogídas Tomo III. Madri, Visor, 1995...Obras Escogídas - Tomo V 2.ed. Madri, Ant. Machado Libros. 2012.