Resposta Brasileira à Crise Financeira Externa Yoshiaki Nakano Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vergas 15 de Setembro de 2008
Resposta brasileira à crise financeira exterma I. Será que a crise financeira iniciada nos Estados Unidos, por contágio, vai novamente desencadear uma crise de balanço de pagamentos? II. Depois de 25 anos de semi-estagnação o Brasil voltou a crescer nos últimos quatro anos, com crescimento baseado no mercado interno e recuperação de investimentos em resposta a deslocamentos de expectativas de longo prazo. Será que estamos constituindo um novo modelo de crescimento para o novo contexto global póscrise?
Crise financeira internacional A atual crise financeira iniciada com o fim da bolha imobiliária nos Estados Unidos tornou-se sistêmica e já é considerada o estouro da maior bolha de crédito da história. Está provocando um gigantesca contração de crédito e elevação da taxa real de juros internacional que já chegou ao Brasil com queda generalizada no preços dos ativos financeiros. A crise será duradoura com desdobramentos ainda imprevisíveis. Vai desencadear recessão na Europa, Japão e nos Estados Unidos que poderá ser prolongada e deslocar o pólo de crescimento da economia mundial para China e Leste da Ásia. Representará o fim de um longo ciclo de crescimento centrado nos Estados Unidos e alavancado pela forte expansão de crédito. É provável que a era de superabundância de liquidez e baixa taxa real de juros de longo prazo dos últimos 15/20 anos tenha chegado ao fim.
Riscos de Crise de Balanço de Pagamentos 1998 2008 Taxa de câmbio Déficit nas transações correntes Apreciada e regime fixo Apreciada, regime administrado com banda aleatória móvel. 3,5% do PIB 2,51 % do PIB (Jan- Jun 2008) Dívida externa 28,6% do PIB 18,3% do PIB Reservas cambiais/m2 0, 25 0,35 Reservas/Dívida de curto prazo Serviço da dívida externa/exportações 0,5 326,5 126,5% 22,5%
Riscos de Crise de Balanço de Pagamentos 1998 2008 Déficit público 7,9% do PIB 2,2% do PIB Política fiscal Exposição das empresas privadas em dólar Financiamento via mercado de capitais Expansionista, com dívida pública crescente 28,8% do exigível total em 12/2000 9,5% do exigível total em 12/2000 Expansionista, com dívida pública decrescente 9,7% do exigível total em 12/2006 29,3% do exigível total em 12/2006 Risco-Brasil - EMBI 1200 em 12/1998 220 em 12/2007
Riscos de Crise de Balanço de Ciclo Preço de Commodities Pagamentos 1998 2008 Pico em 1997, em declínio Pico em Julho, em declínio, mas nível muito mais elevado Exportações 6,1% do PIB 12,2% do PIB Inflação Medo de explosão com desvalorização do real Em declínio e sob controle PIB do Brasil % 0,0% 5,4% PIB Mundial Crescimento rápido Desaceleração Vulnerabilidade Externa do Brasil Extremamente elevada Baixa
TAXA REAL DE CAMBIO (2000 = 100) E SALDO EM TRANSAÇOES CORRENTES (% PIB) 225 10,0 200 8,0 175 6,0 150 4,0 125 2,0 100 0,0 75-2,0 50-4,0 25-6,0 0 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 1T 08 2T -8,0 Taxa real de cambio IPC EUA E IPC FGV Transações correntes / PIB
Saldo de Transações Correntes % PIB 3 2 1 0-1 -2-3 -4-5 1993-0,2-0,3 1994 1995 1996-2,4-2,8-3,5-4,0-4,3 1997 1998 1999 2000 2001 2002-3,8-4,2-1,5 0,8 1,8 2003 2004 2005 2006 2007 1,6 1,3 0,1 2008-2,5
Dívida Externa % PIB 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 41,2 45,1 42,5 40,8 36,6 33,2 28,6 21,3 18,6 18,3 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
1998.01 1998.08 1999.03 1999.10 2000.05 2000.12 2001.07 2002.02 2002.09 2003.04 2003.11 2004.06 2005.01 2005.08 2006.03 2006.10 2007.05 2007.12 2008.07 Reservas Internacionais % M2 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0
12 Necessidade de Financiamento do Setor Público (% PIB)* 10 10,0 9,4 8 7,9 6 4,5 4,8 4 2 3,3 2,3 2,8 2,9 2,2 0 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 * Conceito Nominal com Desvalorização Cambial
1998.01 1998.09 1999.05 2000.01 2000.09 2001.05 2002.01 2002.09 2003.05 2004.01 2004.09 2005.05 2006.01 2006.09 2007.05 2008.01 Dívida Total Setor Público - Líquida % PIB 60 55 50 45 40 35 30
CRB Spot Index (1967=100) (monthly close) January 1947 - August 2008 Com m odity Research Bureau Index Value 550 500 450 400 350 300 250 200 150 100 1947 1951 1955 1959 1963 1967 1971 1975 1979 1983 1987 1991 1995 1999 2003 2007 50
Exportações (FOB) % PIB 16 14 12 10 8 6 6,1 8,2 8,5 10,5 12,0 14,5 13,2 13,4 12,9 12,2 4 2 0 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Conclusões A probabilidade de uma crise de balanço de pagamentos no curto prazo, com parada súbita de fluxo de capitais, é pequena. Se déficit nas transações correntes persistir e preços das commodities continuar caindo, existe grande probabilidade de crise no médio prazo. Se depreciação cambial persistir suficientemente e reverter o déficit nas transações correntes, o crescimento econômico poderá se sustentar por longo prazo, se for acompanhado de mudanças e for adotada uma seqüência consistente de medidas de política fiscal e monetária. Mas com a depreciação do real, o Banco Central poderá elevar ainda mais a taxa de juros e bloquear o crescimento.
Resposta brasileira: novo modelo de crescimento? Depois de 25 anos de semi-estagnação, o Brasil vem crescendo a taxa média de 4,5% a.a. nos últimos 4 anos e com grande chance de entrar numa trajetória sustentada. A recuperação da economia iniciada em meados de 2003 com expansão das exportações, com forte melhora nos termos de troca, desencadeou internamente a criação de um mecanismo dinâmico de geração de emprego, ampliação da folha de salário real, com aumento de produtividade e crescimento baseado na ampliação do mercado interno. Assim, os investimentos vem aumentando com significativa recuperação nos lucros das empresas e manutenção do custo unitário de trabalho.
Resposta brasileira: novo modelo de crescimento? O aumento do salário mínimo e expansão do crédito foram decisões de política que deram um forte impulso a este processo. A classe C em incorporação ao mercado de consumo representa quase 90 milhões de pessoas. Será que constituímos um novo modelo de crescimento centrado na expansão sustentada do mercado interno baseado na dinâmica do consumo de massa?
Dinâmica do novo modelo de crescimento A dinâmica de mercado de consumo de massa está baseada na constituição de um círculo virtuoso no qual a ampliação dos investimentos em capital físico se faz com a geração de novos empregos e aproximação sucessiva da fronteira tecnológica. Isto envolve aprendizagem e desenvolvimento da capacidade inovação dos empresários e qualificação dos trabalhadores para sustentar o aumento da produtividade cujos ganhos devem distribuídos para os salários. Assim, a ampliação do tamanho do mercado e ganhos de escala aumentam também os lucros que, por sua vez, realimentam os investimentos.
Alguns deslocamentos na economia brasileira que sustentam o modelo Alguns fatos estão provocando deslocamentos nas expectativas de longo prazo e na percepção dos agentes econômicos e políticos: O sucesso da estratégia de crescimento chinesa, indiana e outros países do leste da Ásia provocou um choque nos termos de troca com forte aumento do preço de alimentos, metais, aço e petróleo. O fim do consenso de Washington esta redefinindo o papel do estado no desenvolvimento. Estes deslocamentos nas expectativas de lucratividade a longo prazo, estão atraindo investimentos em setores como agronegócios, etanol, petróleo, minérios de ferro, aço, ferrovia, portos. Além disso, temos um deslocamento inesperado com a descoberta do pré-sal, com a possibilidade de implantar um grande complexo tecnológico e industrial voltado a extração do petróleo. Portanto, existem oportunidades reais para que a taxa de investimento aumente persistentemente para 25% do PIB e termos um crescimento acelerado e sustentado.
Os desafios para consolidar o modelo Para que o circulo virtuoso se perpetue é necessário: Completar e consolidar a revolução do mercado de capitais Ampliar a integração comercial ao mercado global Aperfeiçoar o regime de câmbio administrado com banda aleatória e móvel de forma a evitar a apreciação excessiva do real. Resolver a questão distributiva do pré-sal. Aumentar a poupança públicaa e Montar uma nova estrutura pública, fora da burocracia, para ter capacidade de planejamento, conhecimento tecnológico, gestão e execução de projetos de infraestrutura e novo complexo industrial do setor de petróleo.
POUPANÇA, INVESTIMENTO E TAXA REAL DE CÂMBIO 40 250 35 225 30 200 25 175 20 150 15 10 5 0-5 -10 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 T2 Transacoes correntes (% PIB) Taxa investimento p correntes (% PIB) Tx poupanca nacional (% PIB) Tx real cambio (2000 = 100) 125 100 75 50 25 0
180 CUSTO UNITÁRIO DO TRABALHO NA INDÚSTRIA MÉDIA 12 MESES DEFLATOR: INPC 160 140 120 100 80 60 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 jul/08
16 14 12 10 8 Média de Rentabilidade das Empresas 13,88 12,88 6 4,92 4 2 0 1 Período(1995-2001) R$/US$ 1,45 2 Período (2002-2004) R$/US$ 2,98 3 Período (2005-2007) R$/US$ 2,19 Elaboração: FIESP
mar/95 jun/95 set/95 dez/95 mar/96 jun/96 set/96 dez/96 mar/97 jun/97 set/97 dez/97 mar/98 jun/98 set/98 dez/98 mar/99 jun/99 set/99 dez/99 mar/00 jun/00 set/00 dez/00 mar/01 jun/01 set/01 dez/01 mar/02 jun/02 set/02 dez/02 mar/03 jun/03 set/03 dez/03 mar/04 jun/04 set/04 dez/04 mar/05 jun/05 set/05 dez/05 mar/06 jun/06 set/06 dez/06 mar/07 jun/07 set/07 dez/07 Índice de Endividamento / Taxa de Câmbio Margem Bruta Média % Efeito do Câmbio no Índice de Endividamento Médio e da Margem Bruta Média da Economia Brasileira 4,00 3,50 3,00 33 31 29 2,50 2,00 1,50 1,00 0,50 0,00 27 25 23 21 19 17 15 Elaboração: FIESP Índice de Endividamento Médio Taxa de Câmbio Margem Bruta Média
6 Crescimento do PIB (Real %) 5,7 5,4 5 4,3 4,5 4 3 2,7 3,2 3,8 2 1 0 1,3 1,1 0,0 0,3 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007