5. A Construção do espaço do jogo entre adulto e criança: o adulto como brinquedo Inicialmente, o que desperta o interesse na criança é o rosto humano, pois, os movimentos, as expressões faciais diferem dos objetos quanto à condição de moverse e emitir sons. Segundo Bandioli (1998, p. 215), do ponto de vista da criança, o adulto é um objeto interessante capaz de responder de maneira ativa, adaptável e contingente em relação às ações e expectativas infantis. O adulto para a criança assume o papel do primeiro brinquedo, de primeiro objeto que ela pode tentar dominar e colocar sob seu próprio controle. Se o adulto se torna o primeiro brinquedo para a criança, então as primeiras brincadeiras são constituídas por situações felizes que são compartilhadas pelo adulto e a criança.(bandioli, 1998) O jogo, nesse período, configura-se como uma organização ritual de troca expressiva, com linguagem gestual, constituída por sorrisos e vocalizações. O valor lúdico desses rituais está na construção de um sistema de expectativas recíprocas com significados compartilhados. De acordo com Bandioli (1998, p.216), o aspecto mais relevante da capacidade interativa materna parece depender da sua tendência em atribuir significado e intencionalidade à expressão infantil. Ao mesmo tempo essas ações de interação podem culminar num final dramático, por exemplo: um tombo fingido, um súbito aumento do tom de voz, cócegas etc. O adulto possui a função mediadora. A interação mãe e bebê se torna um diálogo a três, quando ela introduz um brinquedo (por exemplo: balançar um chocalho). A resposta da criança, vocalizando, deslocando sua atenção para o objeto, possibilita a ela entrar na brincadeira como parceiro. O corpo como brinquedo: da boca para a mão O mundo é algo a ser sugado Bandioli (1998) O jogo é, para a criança, uma fonte de prazer erótico que envolve todo o seu corpo, podendo envolver o corpo da mãe (no ato de alimentar-se, por exemplo). No início, a criança brinca com o seu corpo nas rotinas diárias (troca, banho, sono e alimentação) e essas situações do cotidiano se tornam prazerosas, quando ela é tocada e acariciada. Posteriormente, novas combinações corporais, junto ao esquema de sucção, são experimentadas pela criança e inseridas em esquemas lúdicos (engatinhar, arrastarse, segurar e levar à boca os objetos). O interesse da criança, da boca para a mão, sofre algumas mudanças que lhe possibilitam um melhor domínio da realidade exterior. Esta fase marca a passagem na qual o seu interesse está predominantemente nas pessoas, para ser direcionado aos objetos, enquanto ocorre o dialogo entre mãe e filho. Assim, a criança começa a prestar atenção a tudo aquilo que está ao alcance de suas mãos ou tudo aquilo que é possível fazer com suas mãos.
A descoberta do objeto Jean Renoir, com Gabrielle Renard. Pintura de Pierre Auguste Renoir. Disponível http://images.google.com.br Por volta dos 4 a 8 meses de idade o bebê começa a demonstrar atenção a tudo aquilo que está ao alcance de suas mãos ou tudo aquilo que é possível fazer com suas mãos. O jogo de curiosidade torna-se predominante e a criança vivencia as propriedades dos objetos e o efeito de suas ações sobre eles. Assim, a criança diante de um objeto não familiar procura descobrir como ele é, como funciona e o que se pode fazer com ele. Para Bandioli (1998, p. 218), A descoberta da permanência do objeto e a do uso do objeto como instrumento são aquisições que caminham no mesmo ritmo, juntamente com uma outra série de jogos que são centrais para a criança, aproximadamente no final do primeiro ano de idade: os jogos do tipo esconder e achar, que consistem em fazer desaparecer e aparecer objetos. A brincadeira de esconder e achar, nos seus aspectos cognitivos e afetivos, mostra a evolução do relacionamento da criança com o objeto. O reconhecimento do não eu, que é ao mesmo tempo realidade física, objetivamente percebida, e realidade emocional com estreita ligação entre inteligência e afetividade.
Essa figura é um recorte da Tela Os jogos Infantis de Pieter Brueghel. Observe as brincadeiras principalmente aquelas que envolvem o esconder e achar. Assim, nessa fase, a criança vai adquirindo um conhecimento suficiente dos objetos usuais, para integrá-los às atividades cotidianas. A partir desse conhecimento os seus esquemas de ação são transformados em atos significativos através do jogo simbólico. O jogo na creche O ambiente da creche diferencia-se do ambiente doméstico pela sua estruturação com espaços mais amplos, facilitando o jogo. A decoração e a variedade de brinquedos e materiais enriquecem a habilidade motora e as experiências das crianças.
Para Bandioli (1998 p. 223), Sugestão de Brinquedos para o espaço da creche. Disponível em http://images.google.com.br Todos esses elementos, que fazem da creche um espaço de jogo potencialmente rico e estimulante, não parecem ser suficientes, por si sós, para garantir que uma criança de zero a três anos seja capaz de desfrutá-los positivamente. O espaço da creche deverá estar organizado de acordo com a faixa etária da criança, isto é, propondo desafios cognitivos e motores que a farão avançar no desenvolvimento de suas potencialidades. Ele deve estar povoado de objetos que retratem a cultura e o meio social em que a criança está inserida. A criança pequena precisa de espaços que lhe ofereçam liberdade de movimentos, segurança e que acima de tudo possibilitem sua socialização com o mundo e com as pessoas que a rodeiam, pois, segundo Vygotsky: o ser humano cresce num ambiente social e a interação com outras pessoas é essencial ao seu desenvolvimento. (apud Oliveira, 2002, p.54) Portanto, um ambiente estimulante é aquele que se apresenta ao mesmo tempo seguro e desafiador; a criança deve sentir o prazer de pertencer a ele, identificar-se com ele e assim estabelecer relações entre os pares. O ambiente deve ser planejado de forma a satisfazer as necessidades da criança, isto é, tudo deverá estar acessível a ela, desde objetos pessoais como também os brinquedos, pois só assim o desenvolvimento ocorrerá de forma a possibilitar sua autonomia, bem como sua socialização dentro das suas especificidades. Com isso, esse espaço possibilitará ao educador compreender a maneira como a criança transpõe a sua realidade, seus anseios, suas fantasias. Para Bandioli (1998), a condução do jogo infantil é muito complexa, pois interagir de modo lúdico com as crianças requer que o adulto entre no jogo infantil como um
verdadeiro parceiro, que possibilite à criança escolher livremente os temas das brincadeiras, a distribuição dos papéis, o controle do andamento, ao mesmo tempo desenvolver um papel ativo de co- ator, criando uma cumplicidade ao brincar junto com a criança. Seguem, abaixo, algumas sugestões 1 de brinquedos que uma unidade de Educação infantil pode adquirir principalmente na faixa etária até 3 anos de idade. 03 meses - Chocalhos, mordedores, móbiles, figuras enfiadas em cordão para instalar no berço ou carrinho. 06 meses - Quadros com peças coloridas, de formas diversas, peças que correm em trilhos. 08 meses - Bolas, cubos em tecido, caixas de música com alça para puxar. 10 meses - Bonecos em tecido, animais em tecido (não pelúcia), sem detalhes que possam ser arrancados. 01 ano - Cavalinhos de pau, carrinhos de puxar e empurrar, blocos de construção simples, cadeiras de balanço e jogos de areia. 02 anos - Veículos sem pedais, que se movem pelo impulso dos pés. Roupas de fantasia, super-heróis, máscaras, maquiagem. 03 anos - Veículos com pedais, triciclos, bonecas com pés e mãos articulados, jogos de memória. 1 Fonte: livro: O direito de brincar, Editora Fundação ABRINQ-