Boletim Económico. Número 6 / 2015 3,5E 7,5E



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Boletim Económico 30 Número 6 / 2015 6E E 3,5E 6E E E 80 100% 53% E 6E 7,5E

Índice Evolução económica e monetária Apreciação global 3 1 Conjuntura externa 7 2 Evolução financeira 13 3 Atividade económica 18 4 Preços e custos 23 5 Moeda e crédito 28 6 Evolução orçamental 34 Caixas 1 Evolução recente e perspetivas para os preços das matérias primas não petrolíferas 36 2 Condições de liquidez e operações de política monetária no período de 22 de abril a 21 de julho de 2015 38 3 A utilidade dos dados relativos às transações liquidadas no TARGET2 para a análise do mercado monetário pelo prazo overnight sem garantia 43 4 Publicação dos saldos no TARGET 49 5 Pesos do comércio revistos para as taxas de câmbio efetivas do euro refletem a crescente importância das economias dos mercados emergentes 52 6 Medida da margem disponível para a área do euro com base em inquéritos 56 7 Evolução recente dos preços dos produtos alimentares na área do euro 60 8 Recomendações específicas de cada país relativas às políticas orçamentais, no âmbito do Semestre Europeu de 2015 63 Estatísticas E1 BCE Boletim Económico, Número 6 / 2015 Índice 2

Evolução económica e monetária Apreciação global Uma revisão dos dados recentes, novas projeções macroeconómicas elaboradas por especialistas do BCE e uma avaliação intermédia das recentes flutuações de mercado apontam para a continuação da recuperação económica, se bem que ligeiramente mais fraca na área do euro, e para uma subida mais lenta das taxas de inflação, em comparação com expectativas anteriores. A alteração das perspetivas deve se, em larga medida, a desenvolvimentos externos. Embora se esteja a expandir gradualmente, a economia mundial continua numa trajetória irregular. Por um lado, a atividade económica nas economias avançadas está a ser sustentada por preços do petróleo reduzidos, pela continuação de condições de financiamento acomodatícias, pelo ritmo mais lento da consolidação orçamental e pela melhoria dos mercados de trabalho. Por outro lado, as perspetivas deterioraram se nas economias de mercados emergentes, num contexto de maior incerteza, visto que impedimentos estruturais e desequilíbrios macroeconómicos estão a restringir o crescimento em alguns países, enquanto outros se estão a ajustar à redução dos preços das matérias primas e condições de financiamento externo menos favoráveis. Em paralelo, as pressões inflacionistas foram limitadas pela queda dos preços das matérias primas. Surgiram também novos riscos em sentido descendente para as perspetivas de crescimento e inflação, em resultado do recente aumento da volatilidade nos mercados financeiros. Ocorreram dois episódios significativos de tensões acrescidas durante o verão. O primeiro esteve associado à evolução na Grécia no final de junho e início de julho e teve, em geral, um impacto relativamente comedido nos mercados financeiros. O segundo episódio ocorreu na segunda metade de agosto e esteve relacionado com a evolução na China. Este episódio teve um impacto significativo nos mercados acionistas e cambiais, bem como nas perceções do risco. Em termos gerais, as taxas de rendibilidade nominais das obrigações de dívida pública de longo prazo da área do euro diminuíram ligeiramente entre o início de junho e o início de setembro. Os preços das ações na área do euro desceram de forma acentuada, especialmente no contexto das perdas no mercado de ações chinês na segunda metade de agosto e do aumento relacionado com a incerteza mundial. Neste contexto de aumento da aversão ao risco e de enfraquecimento nos mercados emergentes, a taxa de câmbio efetiva do euro apreciou se recentemente de forma significativa. O PIB real da área do euro cresceu no segundo trimestre de 2015, embora a um ritmo ligeiramente mais lento do que no primeiro trimestre. O ritmo de crescimento no segundo trimestre foi um pouco mais lento do que o esperado. A moderação do crescimento deveu se em parte à procura interna mais fraca do que o esperado e foi generalizada aos vários países. Os indicadores de inquéritos BCE Boletim Económico, Número 6 / 2015 Evolução económica e monetária 3

mais recentes sugerem que o ritmo de crescimento do PIB real na segunda metade de 2015 será idêntico ao registado no segundo trimestre. Numa perspetiva a mais longo prazo, prevê se a continuação da recuperação na área do euro, embora a um ritmo ligeiramente mais fraco do que anteriormente previsto. Isto reflete, em particular, o abrandamento nas economias de mercado emergentes, influenciando o crescimento mundial e, bem assim, a procura de exportações da área do euro. A procura interna deverá continuar a ser apoiada pelas medidas de política monetária do BCE e pelo seu impacto favorável sobre as condições de financiamento, bem como pelos progressos alcançados com a consolidação orçamental e as reformas estruturais. Além disso, preços do petróleo mais baixos deverão impulsionar o rendimento disponível real das famílias e a rendibilidade empresarial, dando um apoio adicional ao consumo privado e ao investimento. Ao mesmo tempo, é provável que os necessários ajustamentos de balanço em vários setores e o fraco ritmo de implementação de reformas estruturais enfraqueçam a recuperação da atividade. De acordo com as projeções macroeconómicas de setembro de 2015 para a área do euro elaboradas por especialistas do BCE 1, o PIB real anual deverá aumentar 1.4% em 2015, 1.7% em 2016 e 1.8% em 2017. Em comparação com as projeções macroeconómicas de junho de 2015 elaboradas pelos especialistas do Eurosistema, as perspetivas para o crescimento do PIB real foram revistas em baixa, principalmente em consequência da menor procura externa devido ao fraco crescimento nos mercados emergentes. Na avaliação do Conselho do BCE, os riscos para as perspetivas de atividade económica permaneceram em sentido descendente, refletindo em particular as maiores incertezas relacionadas com a conjuntura externa. Concretamente, a atual evolução das economias dos mercados emergentes podem potencialmente afetar negativamente o crescimento mundial, através do comércio e de efeitos na confiança. Após uma tendência ascendente no início do presente ano, a inflação medida pelo IHPC na área do euro estabilizou recentemente em taxas baixas positivas. Segundo a estimativa provisória do Eurostat, a inflação homóloga medida pelo IHPC manteve se em 0.2% em agosto pelo terceiro mês consecutivo. Embora os preços baixos dos produtos energéticos tenham atenuado a inflação, isso foi compensado por maiores subidas dos preços dos produtos industriais alimentares e não energéticos. Indicadores recentes confirmam um fortalecimento gradual da inflação subjacente. O IHPC excluindo produtos alimentares e produtos energéticos terá aumentado de um mínimo de 0.6% no início do ano para 1.0% em agosto. Com base nas informações disponíveis, as taxas de inflação homóloga medidas pelo IHPC deverão manter se muito reduzidas no curto prazo, refletindo principalmente a recente evolução dos preços dos produtos energéticos. Nos finais de 2015, porém, a inflação global deverá aumentar, devido também aos efeitos de base associados à queda dos preços do petróleo nos finais de 2014. Prevê se que as taxas de inflação recuperem de novo ao longo de 2016 e 2017, apoiadas pela esperada recuperação económica, pela transmissão 1 Ver o artigo intitulado Projeções macroeconómicas de setembro de 2015 para a área do euro, elaboradas por especialistas do BCE, publicado no sítio do BCE em 3 de setembro de 2015. BCE Boletim Económico, Número 6 / 2015 Evolução económica e monetária 4

de anteriores descidas nas taxa de câmbio do euro e pelo pressuposto de preços do petróleo ligeiramente mais elevados nos próximos anos, como refletem os mercados de futuros do petróleo. Contudo, espera se que este aumento das taxas de inflação homólogas se materialize de forma ligeiramente mais lenta do que o previsto até à data. As projeções macroeconómicas de setembro de 2015 para a área do euro elaboradas por especialistas do BCE preveem que a inflação homóloga medida pelo IHPC se situe em 0.1% em 2015, 1.1% em 2016 e 1.7% em 2017. Em comparação com as projeções macroeconómicas de junho de 2015 dos especialistas do Eurosistema, as perspetivas para a inflação medida pelo IHPC foram revistas em sentido descendente, devido, em grande medida, aos preços mais baixos do petróleo. Considerando os desenvolvimentos mais recentes nos preços do petróleo e as recentes taxas de câmbio, há riscos descendentes para as projeções de inflação de Setembro elaboradas por especialistas. As medidas de política monetária do BCE continuam a ser gradualmente transmitidas às condições de crédito e a dar suporte à dinâmica do agregado monetário largo e do crédito. As operações de refinanciamento de prazo alargado direcionadas (ORPA direcionadas) e o programa alargado de compra de ativos contribuíram para melhorias nos indicadores da moeda e do crédito. Os custos de financiamento dos bancos estabilizaram em mínimos históricos no segundo trimestre de 2015 e condições de crédito favoráveis continuaram a apoiar a retoma gradual do crescimento dos empréstimos. Acresce que as divergências entre taxas bancárias ativas nos vários países da área do euro voltaram a diminuir. Estima se que o fluxo anual global do financiamento externo a sociedades não financeiras tenha estabilizado no segundo trimestre de 2015, embora a dinâmica dos empréstimos a sociedades não financeiras se tenha mentido moderada. O crescimento mais forte do crédito às administrações públicas e a continuação da recuperação gradual dos empréstimos ao setor privado estão a impulsionar o crescimento do agregado monetário largo. O Conselho do BCE considera prematuro concluir se os recentes desenvolvimentos no mercado económico e financeiro poderão ter um impacto duradouro sobre a concretização de uma trajetória de inflação sustentável no sentido do seu objetivo de médio prazo ou se deverão ser considerados principalmente transitórios e continuará a acompanhar de perto todas as informações relevantes disponibilizadas. Com base na sua análise económica e monetária regular, e em linha com a sua orientação futura da política monetária (forward guidance), o Conselho do BCE decidiu, na sua reunião de 3 de setembro, manter inalteradas as taxas de juro diretoras do BCE e confirmou que o programa de aquisição de ações continua a decorrer de forma regular. Em termos prospetivos, o Conselho do BCE acompanhará de perto os riscos para as perspetivas de evolução dos preços no médio prazo, incidindo em particular na transmissão das suas medidas de política monetária, bem como na evolução global económica, financeira, dos preços das matérias primas e das taxas de câmbio. BCE Boletim Económico, Número 6 / 2015 Evolução económica e monetária 5

O Conselho do BCE salienta a sua disponibilidade e capacidade para agir, se necessário, recorrendo a todos os instrumentos disponíveis no âmbito do seu mandato e, em particular, relembra que o programa de compra de ativos proporciona suficiente flexibilidade em termos de ajustamento de dimensão, composição e duração do programa. Ao mesmo tempo, o Eurosistema irá implementar em pleno as suas compras de ativos no valor de 60 mil milhões por mês, que deverão decorrer até ao final de setembro de 2016 ou após essa data se necessário, e, em qualquer caso, até que o Conselho do BCE considere que um ajustamento sustentado da trajetória da inflação seja consistente com o seu objetivo de alcançar taxas de inflação abaixo, mas próximo, de 2% no médio prazo. O Conselho do BCE reitera a necessidade de implementar firmemente as suas decisões de política monetária e acompanhar de perto todas as informações relevantes recebidas, no que se refere ao seu impacto sobre as perspetivas a médio prazo para a estabilidade de preços. BCE Boletim Económico, Número 6 / 2015 Evolução económica e monetária 6

1 Conjuntura externa A economia mundial está a expandir se gradualmente, mas permanece numa trajetória irregular. Por um lado, a atividade económica nas economias avançadas está a ser sustentada por preços do petróleo reduzidos, pela continuação de condições de financiamento acomodatícias, pela diminuição da consolidação orçamental e pela melhoria dos mercados de trabalho. Por outro lado, as perspetivas deterioraram se nas economias de mercados emergentes (EME) num contexto de maior incerteza, visto que impedimentos estruturais e desequilíbrios macroeconómicos estão a restringir o crescimento em alguns países, enquanto outros se estão a ajustar à redução dos preços das matérias primas e à maior restritividade das condições de financiamento externo. Espera se que as pressões inflacionistas permaneçam limitadas após a recente queda dos preços do petróleo e a ainda ampla capacidade produtiva disponível a nível mundial. Atividade económica e comércio a nível mundial Os dados das contas nacionais e os indicadores de inquéritos apontam para um crescimento modesto e irregular da atividade económica mundial no segundo trimestre. A atividade económica manteve se sustentada nas economias avançadas, com Gráfico 1 uma retoma do crescimento nos Estados Unidos e IGC mundial compósito do produto no Reino Unido, embora este se tenha deteriorado (índice de difusão) mundial excluindo a área do euro mundial excluindo a área do euro: média de longo prazo economias de mercado emergentes economias avançadas excluindo a área do euro 60 consideravelmente no Japão após um primeiro trimestre robusto. A situação nas EME é diversificada. Por um lado, a Rússia encontra se em recessão profunda e os dados dos inquéritos apontam para uma nova quebra no Brasil. Por outro lado, o crescimento 55 recuperou na China no segundo trimestre, esperando se que se tenha mantido resiliente nos países da 50 Europa Central e de Leste não pertencentes à área do euro. Os inquéritos sugerem que a produção 45 na indústria transformadora mundial permaneceu moderada nos últimos meses, com a atividade global 40 a mostrar se mais robusta. O Índice de Gestores de Compras (IGC) mundial compósito do produto 35 excluindo a área do euro manteve se globalmente 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 inalterado em agosto em comparação com o mês Fontes: Markit e cálculos do BCE. Notas: A última observação refere-se a agosto de 2015. Economias de mercado emergentes incluem o Brasil, China, Índia e Rússia; economias avançadas incluem o Japão, Estados Unidos e Reino Unido. anterior e em linha com a média do segundo trimestre, o que indica alguma resiliência da atividade mundial (ver Gráfico 1). Numa análise prospetiva, os indicadores avançados compósitos da OCDE e o indicador do clima económico mundial do Ifo (Ifo World Economic Climate) apontam para a continuação da retoma mundial a um ritmo modesto. Os preços das matérias primas caíram recentemente, proporcionando um ímpeto adicional à procura mundial no curto prazo. Após uma retoma no BCE Boletim Económico, Número 6 / 2015 Evolução económica e monetária 7

Gráfico 2 Vendas a retalho (crescimento homólogo; média de 3 meses) 12 10 8 6 4 2 0-2 -4-6 economias avançadas (escala da esquerda) EME exportadoras de petróleo (escala da esquerda) EME importadoras de petróleo (escala da direita) 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Fontes: Fontes nacionais, FMI e cálculos do BCE. Notas: A última observação refere-se a junho de 2015. As economias avançadas incluem a área do euro, Japão, Estados Unidos e Reino Unido. As economias de mercado emergentes (EME) importadoras de petróleo são a China, Indonésia, Coreia, Turquia e México. As EME exportadoras de petróleo são a Rússia, Brasil, Colômbia, Chile e África do Sul. segundo trimestre, os preços do petróleo bruto Brent caíram mais de 20% no terceiro trimestre, embora, de acordo com a curva de futuros, os mercados continuem a incorporar um aumento gradual dos preços do petróleo nos próximos anos. A queda recente refletiu 30 principalmente a evolução da oferta. O mercado do petróleo continua a ser excedentário, com a OPEP a 27 produzir acima do respetivo objetivo e a produção de 24 petróleo de xisto a revelar se mais resiliente do que 21 o esperado. Além do mais, o mercado parece estar a 18 incorporar lentamente as perspetivas de uma maior 15 oferta do Irão. Porém, a moderação da procura, em 12 particular nas EME, desempenhou igualmente um 9 papel relevante. Tal está também em linha com fatores 6 subjacentes a descidas dos preços de outras matérias primas no decorrer do ano passado, por exemplo, 3 os preços dos metais caíram significativamente, o que poderá também ter refletido o crescimento menos dinâmico nas EME (ver também a Caixa 1). Em termos globais, é de prever que a queda dos preços do petróleo desde meados do ano passado beneficie a procura por parte dos países importadores de petróleo, compensando o impacto sobre as economias exportadoras de petróleo. Visto que os preços do petróleo têm vindo a cair desde o pico observado em 2014, a inflação global nas economias avançadas diminuiu, impulsionando assim os rendimentos disponíveis líquidos. O crescimento das vendas a retalho aumentou nas economias avançadas e nas EME importadoras de petróleo face a um ano atrás, tendo descido acentuadamente nos principais países exportadores de petróleo (ver Gráfico 2). As políticas monetárias permanecem acomodatícias e estão a contribuir para condições financeiras favoráveis a nível mundial. Os mercados continuam a incorporar um primeiro aumento das taxas de juro nos Estados Unidos nos próximos seis meses. No Japão, as taxas de política deverão manter se reduzidas ao longo dos próximos dois anos. As tendências desinflacionistas originaram uma nova redução da restritividade da política monetária na China, Índia e várias outras EME (na sua maioria, importadoras de petróleo) nos últimos meses, enquanto a Rússia continuou a normalizar as taxas de juro após o aumento acentuado aquando da turbulência financeira de dezembro do ano passado. Entre as principais EME, apenas no Brasil se observou uma continuação do aumento das taxas de política, visto que as pressões inflacionistas permanecem elevadas num contexto de aumentos substanciais dos preços administrados, um comportamento da fixação de preços rígido e uma nova depreciação da moeda. Desde 11 de agosto 2015, o banco central da China reformou o modo de fixação diária da taxa de câmbio no sentido de dar uma maior margem de manobra às forças de mercado, o que resultou numa depreciação de 3% do renminbi face ao dólar dos Estados Unidos na semana após essa decisão. Nos dois últimos meses, as taxas de rendibilidade das obrigações de dívida pública de longo prazo nas economias avançadas estabilizaram se globalmente após o aumento acentuado observado em maio e no BCE Boletim Económico, Número 6 / 2015 Evolução económica e monetária 8

início de junho. Não obstante esta correção, as taxas ainda se encontram próximo dos níveis reduzidos observados no final de 2014, sendo que os prémios de prazo permanecem reduzidos. As taxas de rendibilidade das obrigações nas EME seguiram relativamente de perto as das economias avançadas. Porém, as entradas de carteira agregadas do setor privado nas EME enfraqueceram ligeiramente, enquanto uma nova depreciação da moeda em alguns países deverá ter aumentado os custos do financiamento em dólares. Além do mais, as perdas recentes e a volatilidade nos mercados bolsistas chineses estão a conduzir a uma maior incerteza. Caso persista, poderá acabar por resultar numa maior restritividade das condições financeiras, particularmente no caso das EME vulneráveis. Numa análise prospetiva, o crescimento mundial deverá ser impulsionado por uma retoma sustentada nas economias avançadas. À medida que os fatores adversos à desalavancagem do setor privado e à consolidação orçamental se desvanecem gradualmente, espera se que a retoma nas economias avançadas ganhe dinamismo. Os preços do petróleo reduzidos, a continuação de condições de financiamento acomodatícias, a melhoria dos mercados de trabalho e da confiança deverão suportar uma melhoria das perspetivas. Nos Estados Unidos, o crescimento será sustentado por um reforço da despesa das famílias na sequência do impulso proporcionado aos rendimentos reais pela redução dos preços do petróleo, pela continuação do fortalecimento dos mercados de trabalho e da habitação, pela moderação da restritividade orçamental e pela menor correção dos balanços das famílias. Porém, a anterior apreciação da taxa de câmbio efetiva do dólar dos Estados Unidos atenuará o crescimento das exportações no curto prazo, enquanto a descida dos preços do petróleo pesará sobre o investimento no setor energético. No Japão, o crescimento deverá retornar no segundo semestre, à medida que as famílias beneficiam do aumento dos rendimentos reais proporcionado pela redução dos preços do petróleo, e as exportações beneficiam da melhoria da procura externa e da anterior depreciação do iene do Japão. No Reino Unido, o crescimento deverá continuar a expandir se a um ritmo relativamente robusto. Embora se espere que os esforços de consolidação orçamental atenuem o crescimento, a redução dos preços dos produtos energéticos e a aceleração do crescimento salarial deverão sustentar os rendimentos disponíveis reais e o consumo privado. A retoma da procura e a menor restritividade das condições de crédito deverão também impulsionar o investimento empresarial. Em contraste, as perspetivas de médio prazo para as EME são diversificadas num contexto de maior incerteza. O crescimento de várias EME de grande dimensão abrandou acentuadamente nos últimos quatro anos e deverá permanecer moderado no médio prazo. Em alguns países, o crescimento potencial abrandou devido a impedimentos estruturais e desequilíbrios macroeconómicos. Outras EME estão a ajustar se a preços das matérias primas mais reduzidos, à maior incerteza política e a condições de financiamento externo mais restritivas. Na China, o crescimento recuperou no segundo trimestre. As recentes reduções das taxas de política, o estímulo orçamental modesto das administrações centrais e os esforços no sentido de reduzir as restrições sobre as finanças das administrações locais deverão sustentar a procura. Porém, a recente queda nos mercados bolsistas agravou a incerteza quanto às perspetivas. Além do mais, a liderança política BCE Boletim Económico, Número 6 / 2015 Evolução económica e monetária 9

Gráfico 3 Comércio mundial de bens (variações trimestrais em cadeia (%); escala da esquerda: contributos em pontos percentuais; escala da direita: índice de difusão) 7.5 5.0 2.5 0.0-2.5-5.0-7.5-10.0-12.5-15.0 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 chinesa colocou uma ênfase cada vez maior sobre o combate às fragilidades financeiras e aos desequilíbrios macroeconómicos, o que deverá resultar no abrandamento do ritmo de expansão no médio prazo. O desempenho dos países da Europa Central e de Leste não pertencentes à área do euro tem sido robusto, beneficiando do fortalecimento da procura interna visto que se espera que a melhoria da dinâmica do mercado de trabalho e a recente descida dos preços do petróleo suportem o consumo das famílias. Por sua vez, as perspetivas relativamente ao Brasil deterioraram se, dado que se prevê que a maior restritividade monetária e orçamental trave o investimento e a atividade. Além disso, estrangulamentos do lado da oferta e a necessidade de corrigir desequilíbrios económicos substanciais e a inflação elevada estão a prejudicar o crescimento de médio prazo. A Rússia também se encontra em plena recessão profunda. Não obstante alguma atenuação das condições de financiamento desde a viragem do ano, os custos de financiamento mantêm se elevados. A incerteza permanece elevada e a confiança das empresas é fraca, enquanto se prevê que as menores receitas do petróleo resultem numa queda acentuada da despesa pública. As quedas acentuadas das importações em algumas EME de grande dimensão resultaram numa moderação do comércio mundial no primeiro semestre de 2015. As importações mundiais (excluindo a área do euro) com base em dados das contas nacionais caíram 0.2% no primeiro trimestre, e os dados disponíveis apontam para a continuação do enfraquecimento no segundo trimestre. De facto, os dados sobre o comércio de mercadorias a nível mundial do CPB Netherlands Bureau for Economic Policy Analysis mostram uma descida trimestral em cadeia das importações mundiais de 0.9% no segundo trimestre. Enquanto as importações das economias avançadas e dos países da Europa Central e de Leste foram resilientes durante 2015, descidas acentuadas em algumas das principais EME impulsionaram o agregado mundial. No primeiro trimestre, as importações caíram na Rússia, devido 65 à redução da procura interna e à depreciação da 60 taxa de câmbio. As importações da China também se 55 apresentaram fracas no primeiro semestre, refletindo igualmente a moderação da procura interna. No curto 50 prazo, espera se que o comércio mundial recupere 45 muito gradualmente. Paralelamente, os indicadores 40 de inquéritos apontam para um crescimento do 35 comércio mundial bastante moderado. Em particular, o IGC mundial para as novas encomendas de 30 exportações caiu em julho (ver Gráfico 3). Em termos 25 prospetivos, dado que se espera que as perspetivas 20 para as importações de EME permanecerão moderadas, o comércio mundial deverá manter se modesto e as importações mundiais não deverão crescer a um maior ritmo do que o PIB mundial. IGC mundial para as novas encomendas de exportações (escala da direita) IGC mundial excluindo a indústria transformadora da área do euro (escala da direita) média do comércio mundial de 1991-2007 (escala da esquerda) comércio mundial (escala da esquerda) Fontes: Markit, CPB e cálculos do BCE. Nota: A última observação refere-se a agosto de 2015 para o IGC e a junho de 2015 para o comércio mundial. BCE Boletim Económico, Número 6 / 2015 Evolução económica e monetária 10

Em termos globais, as perspetivas de crescimento mundial continuam a sugerir uma retoma modesta e irregular. De acordo com as projeções macroeconómicas de setembro de 2015 elaboradas por especialistas do BCE, cuja data de fecho referente aos pressupostos financeiros e dos preços das matérias primas era 12 de agosto, o crescimento do PIP real mundial (excluindo a área do euro) deverá acelerar gradualmente de 3.2% em 2015 para 3.8% em 2016 e 4.0% em 2017. Espera se que a procura externa da área do euro se expanda de 1.4% em 2015 para 3.3% em 2016 e 4.1% em 2017. Em comparação com o exercício alargado de projeções macroeconómicas de junho de 2015, tal representa uma revisão em baixa do crescimento mundial, refletindo sobretudo as perspetivas inferiores ao esperado ao nível das EME. As revisões à procura externa da área do euro são mais significativas, dado que se considera agora que a atividade fraca nas EME tem um impacto mais substancial sobre as importações do que o que se previa anteriormente. Os riscos para as perspetivas quanto ao comércio e à atividade a nível mundial permanecem enviesados no sentido descendente. Mais especificamente, a atual evolução das EME tem o potencial para continuar a afetar negativamente o crescimento mundial através de efeitos a nível financeiro, do comércio e da confiança. Algumas EME são igualmente vulneráveis a uma mudança do sentimento mundial quanto ao risco, após um período de compressão do diferencial de risco e da volatilidade. Os riscos geopolíticos também continuam a pesar sobre as perspetivas, sendo que o aumento das tensões entre a Rússia e a Ucrânia poderá ter implicações negativas para o crescimento mundial. Evolução dos preços a nível mundial Gráfico 4 Inflação medida pelo IPC (taxas de variação homólogas (%)) 18 16 14 12 10 8 países da OCDE Brasil Rússia China Índia A inflação mundial permanece baixa, na sequência de descidas acentuadas dos preços do petróleo. A inflação homóloga dos preços no consumidor nos países da OCDE manteve se inalterada em julho, em 0.6%. Excluindo produtos alimentares e produtos energéticos, a inflação homóloga nos países da OCDE também permaneceu estável, em 1.6% (ver Gráfico 4). A inflação global manteve se globalmente inalterada, em níveis reduzidos, nas principais economias avançadas. Fora dos países da OCDE, persistem amplas pressões desinflacionistas na China e na Índia. Porém, no Brasil e na Rússia, a inflação permaneceu elevada, dado que a depreciação da moeda resultou num aumento dos preços das importações. 6 4 2 0-2 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Fontes: Fontes nacionais e OCDE. Nota: A última observação refere-se a julho de 2015. Numa análise prospetiva, espera se que a inflação mundial aumente apenas gradualmente. No curto prazo, a queda recente dos preços do petróleo e de outras matérias primas deverá atenuar ainda mais as pressões inflacionistas, mas posteriormente o contributo negativo da componente energética deverá diminuir gradualmente à medida que os BCE Boletim Económico, Número 6 / 2015 Evolução económica e monetária 11

efeitos de anteriores descidas dos preços do petróleo começarem a desvanecer. Paralelamente, a inclinação ascendente da curva dos futuros do preço do petróleo implica uma ligeira recuperação dos preços do petróleo, o que deverá aumentar o contributo dos preços dos produtos energéticos para a inflação global. Porém, espera se que a retoma lenta projetada da atividade económica mundial resulte numa redução meramente gradual da capacidade produtiva disponível, sendo que se prevê que as pressões inflacionistas sobre os salários e os custos permaneçam, no geral, moderadas. BCE Boletim Económico, Número 6 / 2015 Evolução económica e monetária 12

2 Evolução financeira As taxas de rendibilidade nominais de longo prazo das obrigações de dívida pública da área do euro diminuíram ligeiramente entre o início de junho e o início de setembro, após aumentos significativos nos meses anteriores. As referidas descidas ocorreram numa conjuntura caraterizada pelo enfraquecimento das perspetivas de crescimento da economia mundial, pela queda dos preços do petróleo e pela descida das taxas de swap indexadas à inflação. Os preços das ações também diminuíram num contexto de níveis de volatilidade mais elevados, especialmente na sequência da depreciação da moeda e de consideráveis perdas no mercado acionista na China em Agosto. A incerteza associada à evolução na Grécia, que registou um pico no final de junho e início de julho, teve um impacto ligeiramente mais forte nos mercados acionistas do que nos mercados obrigacionistas e cambiais, embora, no geral, o seu impacto financeiro tenha sido contido e temporário. A taxa de câmbio efetiva do euro registou uma apreciação acentuada entre o início de junho e 2 de setembro de 2015. Ocorreram dois episódios significativos de tensões acrescidas durante o período em análise, estando o primeiro associado à evolução na Grécia no final de junho e início de julho. Em geral, este episódio teve um impacto relativamente comedido nos mercados financeiros, o que se pode observar, por exemplo, nos diferenciais das taxas de rendibilidade das obrigações de dívida pública a 10 anos em países da área do euro com notações mais baixas face à taxa de rendibilidade alemã correspondente, que se alargaram apenas marginalmente durante o referido período e rapidamente regressaram aos níveis anteriores. No pico da turbulência, os diferenciais face às obrigações de dívida pública a 10 anos alemãs registaram um aumento máximo de 35 pontos base na maioria dos países da área do euro. A volatilidade implícita nos mercados obrigacionistas, como outras medidas de risco, apenas aumentou moderadamente e temporariamente durante este período. Contudo, a evolução na Grécia teve um impacto ligeiramente mais pronunciado nos mercados acionistas, conduzindo a aumentos da volatilidade implícita e descidas dos preços. Entre 26 de junho e 7 de julho, o índice de preços das ações Dow Jones EURO STOXX 50 caiu mais de 8%, tendo a volatilidade implícita deste índice aumentado consideravelmente. O euro enfraqueceu ligeiramente face ao dólar dos Estados Unidos durante o referido período. O segundo episódio de maior incerteza nos mercados financeiros começou em meados de agosto e esteve relacionado com a evolução na China. Este episódio, ao contrário do anterior, teve um impacto significativo nos mercados acionistas e cambiais, bem como nas perceções do risco. À depreciação do renminbi da China, que teve início em 11 de agosto, seguiu se um período de acentuadas descidas dos preços das ações chinesas e fortes aumentos da incerteza mundial. Esta evolução, associada a uma descida rápida dos preços do petróleo, foi considerada um sinal de que as perspetivas económicas mundiais estavam a enfraquecer e afetou os mercados financeiros internacionais e a volatilidade implícita. Os preços das ações na área do euro caíram cerca de 16% de 11 a 24 de agosto, enquanto as taxas de rendibilidade das obrigações de dívida pública a 10 anos da área do euro com notação AAA desceram cerca de 10 pontos BCE Boletim Económico, Número 6 / 2015 Evolução económica e monetária 13

base durante este período. É provável que estas descidas também tenham sido impulsionadas pela apreciação do euro, no contexto do desvanecimento das posições de carry trade (que se encontram tipicamente encerradas nos períodos de maior incerteza), no qual o euro foi utilizado como moeda de financiamento, bem como pela diminuição das expetativas do mercado de um aumento iminente das taxas de política monetária nos Estados Unidos. Uma liquidez do mercado inferior ao habitual também resultado de fatores sazonais pode ter exacerbado as flutuações nos mercados acionistas e obrigacionistas. Em termos gerais, as taxas de rendibilidade das obrigações de dívida pública a 10 anos da área do euro com notação AAA diminuíram ligeiramente entre o início de junho e o início de setembro, para níveis muito baixos. Inicialmente, a média das taxas de rendibilidade das obrigações soberanas a 10 anos da área do euro com notação AAA voltou a aumentar de 0.93% em 4 de junho para 1.08% em 10 de junho, prosseguindo, assim, a tendência observada desde meados de abril. De seguida, permaneceu globalmente estável até meados de julho, refletindo possivelmente divulgações de dados contraditórios. Posteriormente, registou uma diminuição, situando se em torno de 0.90% no início de setembro. Os diferenciais das taxas de rendibilidade das obrigações soberanas da área do euro face à Alemanha desceram ligeiramente ao longo do período em análise, no contexto de alguma volatilidade durante os episódios de maior incerteza. No geral, a volatilidade implícita no mercado obrigacionista permaneceu estável, apesar de ter registado alguns aumentos temporários. As taxas de swap da EONIA refletiram os movimentos das taxas de rendibilidade das obrigações com notação AAA. Os swaps da EONIA registaram uma diminuição maior nos segmentos com prazos médios, tendo sido registado um ligeiro aumento nos prazos mais longos (ver Gráfico 5). Em linha com a Gráfico 5 Taxas de swap da EONIA (percentagens por ano) 3.0 swap da EONIA a 2 anos swap da EONIA a 5 anos swap da EONIA a 10 anos swap da EONIA a 30 anos Gráfico 6 Curva implícita nos contratos a prazo da EONIA (percentagens por ano) 2.5 2 de setembro de 2015 após a reunião do Conselho do BCE de 16 de julho de 2015 5 de junho de 2015 2.5 2.0 1.5 1.0 0.5 0.0 2.0 1.5 1.0 0.5 0.0-0.5 Jan. Abr. Jul. Out. Jan. Abr. Jul. 2014 2015-0.5 2015 2017 2019 2021 2023 2025 Fonte: Thomson Reuters. Nota: A última observação refere-se a 2 de setembro de 2015. Fontes: Thomson Reuters e cálculos do BCE. BCE Boletim Económico, Número 6 / 2015 Evolução económica e monetária 14

Gráfico 7 Taxas de swap reais, nominais e indexadas à inflação a 10 anos para a área do euro (percentagens por ano) 2 1 0-1 Gráfico 8 Taxas de rendibilidade das obrigações de empresas da área do euro (percentagens por ano) 2.5 2.0 1.5 1.0 0.5 Jan. swap real a 10 anos (nominal menos indexado à inflação) swap nominal a 10 anos swap indexado à inflação a 10 anos -2 Jan. Abr. Jul. Out. Jan. Abr. Jul. 2014 2015 Fontes: Thomson Reuters e cálculos do BCE. Notas: O swap real a 10 anos é calculado a partir do swap da EONIA nominal a 10 anos e do swap indexado à inflação a 10 anos. A última observação refere-se a 2 de setembro de 2015. financeiras não financeiras Abr. Jul. Out. Jan. Abr. Jul. 2014 2015 Fontes: iboxx e BCE. Nota: A última observação refere-se a 2 de setembro de 2015. evolução das taxas de rendibilidade das obrigações, as taxas implícitas nos contratos a prazo da EONIA movimentaram se em sentido descendente até ao horizonte de 8 anos ao longo do período em análise, tendo registado uma redução máxima de cerca de 20 pontos base no horizonte de 4 anos (ver Gráfico 6). A descida das taxas nominais refletiu se em taxas de swap indexadas à inflação mais baixas em julho e agosto. Uma decomposição contabilística das taxas de swap nominais da EONIA a 10 anos em taxas de swap indexadas à inflação a 10 anos e, como resíduo, taxas reais a 10 anos mostra que cerca de dois terços das flutuações das taxas de rendibilidade nominais em junho resultaram de variações da taxa real e um terço da taxa de swap indexada à inflação (ver Gráfico 7). Em julho e agosto, pelo contrário, os dois contributos relativos alteraram se consideravelmente, tendo a diminuição das taxas de rendibilidade nominais resultado exclusivamente de taxas de swap indexadas à inflação mais baixas (ver também a Secção 4 para sinais adicionais sobre a evolução das expetativas de inflação). As taxas de rendibilidade das obrigações de empresas foram resilientes face às diversas tensões nos mercados financeiros, embora tenham aumentado ligeiramente durante o período em análise. Em geral, as taxas de rendibilidade das obrigações de empresas face à média das taxas de rendibilidade das obrigações soberanas da área do euro com notação AAA deslocaram se em linha com a evolução da perceção do risco. Por conseguinte, tenderam a aumentar em resposta à incerteza associada à evolução na Grécia no final de junho e início de julho, tendo, após ter registado uma ligeira moderação, aumentado novamente na segunda metade de agosto devido ao aumento da incerteza mundial (ver Gráfico 8). As taxas de rendibilidade das obrigações de empresas subiram entre 5 e 20 pontos base entre o início de junho e o início de setembro, consoante o setor e classe de notação. Os diferenciais em classes de ativos exceto títulos do setor público adquiridos ao abrigo do programa alargado de compra de ativos obrigações com ativos subjacentes e instrumentos de dívida titularizados tiveram um comportamento globalmente semelhante. Contudo, embora os diferenciais das obrigações com ativos subjacentes tenham permanecido globalmente BCE Boletim Económico, Número 6 / 2015 Evolução económica e monetária 15

inalterados durante o período em análise, foram observados alguns aumentos nas margens de desconto para os instrumentos de dívida titularizados com menor notação. Foram registadas perdas significativas nos mercados acionistas da área do euro nos setores financeiro e não financeiro. Os preços das ações do setor financeiro e não financeiro na área do euro registaram descidas globais de 8% e 10%, respetivamente, entre o início de junho Gráfico 9 Índices de cotações de ações dos setores financeiro e não financeiro (1 de janeiro de 2014 = 100) ações financeiras da área do euro ações financeiras dos Estados Unidos ações não financeiras da área do euro ações não financeiras dos Estados Unidos 130 e o início de setembro (ver Gráfico 9). Enquanto as perdas associadas à evolução na Grécia foram recuperadas em meados de julho, os preços das ações diminuíram acentuadamente após o aumento da incerteza acerca das perspetivas mundiais na segunda metade de agosto. Ao contrário da área do euro, os preços das ações do setor financeiro e não financeiro nos Estados Unidos mantiveram se globalmente estáveis 120 entre o início de junho e meados de julho, o que comprova a origem específica à área do euro das turbulências durante o referido período. Os 110 preços das ações nos Estados Unidos registaram, de seguida, sensivelmente o dobro das perdas 100 da área do euro a partir de meados de julho, no contexto da deterioração das perspetivas para 90 Jan. Abr. Jul. Out. Jan. Abr. Jul. o crescimento mundial. A volatilidade implícita 2014 2015 no mercado acionista aumentou 8 e 10 pontos Fonte: Thomson Reuters. Notas: Com base nos índices de mercado da DataStream. A última observação refere se a 2 de setembro de 2015. percentuais na área do euro e nos Estados Unidos, respetivamente, durante o período em análise. A EONIA estabilizou entre o início de junho e o início de setembro no contexto de aumentos graduais da liquidez excedentária. Após ter diminuído gradualmente no seguimento do anúncio do programa alargado de compra de ativos, a EONIA estabilizou posteriormente, situando se, em média, em 0.12% entre o início de junho e 2 de setembro no contexto de aumentos graduais de liquidez excedentária. Estes níveis mais elevados de liquidez excedentária resultaram, em grande medida, das compras ao abrigo do programa alargado de compra de ativos e da operação de refinanciamento de prazo alargado direcionada colocada em junho. A Caixa 2 analisa mais detalhadamente as condições de liquidez e as operações de política monetária. A fixação da EURIBOR a 3 meses, após ter sido negativa pela primeira vez no final de abril, continuou a descer, situando se em 0.033% em 2 de setembro. A Caixa 3 proporciona mais informações relativas à evolução do mercado monetário pelo prazo overnight sem garantia desde 2008 através de dados relativos às transações no TARGET2, enquanto a Caixa 4 fornece uma breve descrição dos saldos do TARGET e dos fatores subjacentes à respetiva evolução. BCE Boletim Económico, Número 6 / 2015 Evolução económica e monetária 16

Gráfico 10 Variações cambiais do euro face a moedas selecionadas (percentagens) TCE-38 renmimbi da China dólar dos EUA libra esterlina franco suíço iene do Japão zlóti da Polónia coroa checa coroa sueca rublo russo lira da Turquia won sul-coreano rupia indonésia forint da Hungria coroa dinamarquesa leu romeno dólar taiwanês real do Brasil rupia indiana kuna da Croácia desde 2 de setembro de 2014 desde 2 de junho de 2015-20 -10 0 10 20 30 40 50 60 Fonte: BCE. Notas: Variações em percentagem respeitantes a 2 de setembro de 2015. A TCE-38 é a taxa de câmbio nominal efetiva do euro face às moedas de 38 dos principais parceiros comerciais da área do euro. A taxa de câmbio efetiva do euro registou uma apreciação de 4.8% entre o início de junho e 2 de setembro. Em termos bilaterais, registou uma apreciação de 2.0% face ao dólar dos Estados Unidos (ver Gráfico 10). O euro também registou uma apreciação face à libra esterlina, ao franco suíço, à coroa sueca e ao renminbi. Entretanto, a descida dos preços do petróleo e a fraca atividade económica na Rússia afetaram o rublo da Rússia, o que resultou numa apreciação do euro de 30% face a esta moeda. O euro também fortaleceu face às moedas de várias outras economias de mercado emergentes e às moedas de países exportadores de matérias primas. Pelo contrário, registou uma depreciação face ao iene do Japão e à coroa checa. A coroa dinamarquesa continuou a ser transacionada próximo da sua taxa central no MTC II. A Caixa 5 apresenta a recente atualização dos pesos do comércio utilizados nas taxas de câmbio efetivas do euro. BCE Boletim Económico, Número 6 / 2015 Evolução económica e monetária 17

3 Atividade económica A atividade económica na área do euro continuou a consolidar se gradualmente, embora a um ritmo mais lento do que anteriormente esperado. O PIB real da área do euro continuou a crescer no segundo trimestre de 2015, se bem que a um ritmo ligeiramente mais lento do que o observado no primeiro trimestre. Os indicadores mais recentes com base em inquéritos apontam para um ritmo globalmente idêntico no que respeita ao crescimento do PIB real na segunda metade do corrente ano, à semelhança do observado no segundo trimestre. Numa perspetiva a mais longo prazo, prevê se a continuação da recuperação da atividade económica. O nível baixo dos preços do petróleo irá dinamizar o rendimento disponível real, suportando dessa forma o consumo privado e a rendibilidade das empresas. Além disso, a orientação muito acomodatícia da política monetária deverá continuar a contribuir para a menor restritividade das condições de financiamento globais e melhorar o acesso ao crédito, encorajando mais investimento empresarial. Ao mesmo tempo, a tendência de crescimento deverá ser ligeiramente mais fraca do que anteriormente esperado, refletindo em particular o abrandamento nas economias emergentes, influenciando o crescimento mundial e, bem assim, a procura de exportações da área do euro. Neste contexto, as projeções macroeconómicas de setembro de 2015 para a área do euro elaboradas por especialistas do BCE prevêem perspetivas de crescimento ligeiramente mais fracas em comparação com as projeções macroeconómicas de junho de 2015 elaboradas por especialistas do Eurosistema. Gráfico 11 PIB real da área do euro e respetiva composição (variação em termos trimestrais em cadeia (%) e contributos em termos trimestrais em cadeia (%)) 2 1 0-1 -2-3 -4 PIB variação de existências consumo privado consumo público exportações líquidas formação bruta de capital fixo 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Fontes: Eurostat e cálculos do BCE. Nota: O crescimento do PIB na área do euro relativo ao segundo trimestre de 2015 corresponde à estimativa provisória do Eurostat. O PIB real da área do euro continuou a crescer no segundo trimestre de 2015, embora a um ritmo ligeiramente mais lento do que no primeiro trimestre. De acordo com a estimativa provisória do Eurostat, o PIB real subiu 0.3%, em termos trimestrais em cadeia, no segundo trimestre de 2015, face a 0.4% no primeiro trimestre (ver Gráfico 11). Este resultado a nível da evolução do crescimento ficou ligeiramente aquém do esperado nas projeções de junho de 2015 elaboradas por especialistas do Eurosistema. Embora não se encontre disponível nenhuma desagregação na data de fecho da presente edição do Boletim Económico, a informação disponível sugere que o consumo privado e o comércio líquido deram contributos positivos para o crescimento, tendo o último refletido ganhos nas quotas de mercado das exportações da área do euro, em consequência da taxa de câmbio favorável do euro. Ao contrário, o investimento e as variações de existências deverão ter dado um contributo negativo para o crescimento no segundo trimestre. Os indicadores da confiança das empresas apontam para um ritmo de crescimento semelhante no curto prazo e no segundo trimestre. Os dados dos inquéritos disponíveis até agosto sinalizam o atual BCE Boletim Económico, Número 6 / 2015 Evolução económica e monetária 18

crescimento moderado no curto prazo. Por exemplo, quer o Indicador de Sentimento Económico da Comissão Europeia quer o Índice de Gestores de Compras (IGC) compósito do produto melhoraram ligeiramente entre o segundo trimestre de 2015 e os primeiros dois meses do terceiro trimestre. Além disso, em julho e agosto ambos os indicadores se situaram acima dos respetivos níveis médios de longo prazo. Embora quer o Indicador de Sentimento Económico quer o IGC tenham aumentado em agosto, a confiança das empresas desceu nos setores dos bens de investimento e intermédios, refletindo em parte uma avaliação mais fraca dos níveis da carteira de encomendas de exportações num contexto de deterioração das perspetivas de crescimento mundial. Embora o comércio mundial mais lento atenue o dinamismo do crescimento da área do euro, a depreciação do euro no passado e as taxas de juro baixas deverão suportar o investimento empresarial, enquanto a evolução favorável do mercado de trabalho e os preços mais baixos dos produtos energéticos devem encorajar o consumo privado no curto prazo. A avaliação de uma recuperação económica mais lenta reflete se nas projeções macroeconómicas de setembro de 2015 para a área do euro elaboradas por especialistas do BCE 1. De acordo com as projeções, a recuperação económica na área do euro deverá expandir se de forma gradual no decurso dos próximos dois anos, embora de forma mais lenta do que anteriormente esperado, refletindo em particular o abrandamento nas economias de mercado emergentes. Segundo as expetativas, a procura Gráfico 12 interna e, em menor escala do que no passado, a PIB real da área do euro (incluindo projeções) procura externa deverão dar contributos positivos para o crescimento. As medidas de política monetária do (taxas de variação trimestrais em cadeia (%)) 1.5 1.0 0.5 0.0-0.5-1.0-1.5-2.0-2.5-3.0-3.5 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 BCE deverão continuar a suportar a atividade no curto e médio prazos, através de vários canais. As taxas de juro ativas deverão permanecer em níveis baixos históricos e a procura agregada, nomeadamente, a formação de capital fixo, deverá beneficiar de uma orientação muito acomodatícia da política monetária. Paralelamente, o fraco ritmo de implementação de reformas estruturais e os necessários ajustamentos de balanço em vários setores deverão continuar a influenciar o crescimento. De acordo com as projeções macroeconómicas de setembro de 2015 para a área do euro elaboradas por especialistas do BCE, o PIB real anual na área do euro deverá aumentar 1.4% em 2015, 1.7% em 2016 e 1.8% em 2017 (ver Gráfico 12). Fontes: Eurostat e o artigo intitulado Projeções macroeconómicas de setembro de 2015 para a área do euro elaboradas por especialistas do BCE, publicado no sítio do BCE em 3 de setembro de 2015. Notas: Dados corrigidos de dias úteis. Os intervalos mostrados em torno das projeções centrais têm por base as diferenças entre resultados observados e projeções anteriores realizadas ao longo de alguns anos. A amplitude dos intervalos é igual ao dobro do valor absoluto médio dessas diferenças. O método utilizado para calcular os intervalos, que envolve a correção de acontecimentos excecionais, encontra-se explicado no documento do BCE intitulado New procedure for constructing Eurosystem and ECB staff projection ranges, de dezembro de 2009. O crescimento do consumo privado, que tem sido o principal impulsionador do crescimento durante o último ano, recentemente deverá ter perdido algum dinamismo. Por exemplo, as vendas no comércio a retalho em conjunto com registos de automóveis novos 1 Ver Projeções macroeconómicas de setembro de 2015 para a área do euro elaboradas por especialistas do BCE (http://www.ecb.europa.eu/pub/pdf/other/ecbstaffprojections201509. pt.pdf?373c7ff1a4072123c81757486566b3f2). BCE Boletim Económico, Número 6 / 2015 Evolução económica e monetária 19

Gráfico 13 Consumo privado e confiança dos consumidores na área do euro (taxas de variação homólogas (%); corrigidas da média) 2.0 1.5 1.0 0.5 0.0-0.5-1.0-1.5-2.0-2.5-3.0 consumo privado real confiança dos consumidores de passageiros na área do euro cresceram 0.3%, em termos trimestrais em cadeia, no segundo trimestre de 2015, face a 1.3% no primeiro trimestre. Embora o consumo tenha provavelmente abrandado no segundo trimestre, o indicador da Comissão Europeia relativo à confiança dos consumidores da área do euro, que apresenta um quadro razoavelmente bom da evolução tendencial do consumo privado, situava se em agosto acima do seu nível médio de longo prazo e aponta para a continuação do dinamismo do crescimento (ver Gráfico 13). Em termos prospetivos, o crescimento do consumo privado deverá continuar a ser o principal impulsionador da retoma da atividade. O consumo privado deverá continuar a beneficiar do impacto favorável da queda dos preços dos produtos energéticos no rendimento disponível real. Posteriormente, espera se que o rendimento salarial recupere, em resultado do crescimento estável do emprego e da aceleração das remunerações nominais dos empregados. O abrandamento das condições de financiamento assim como custos de financiamento baixos, reforçado pelas medidas não convencionais do BCE, deverão continuar a suportar o consumo privado. 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Fontes: Eurostat, Comissão Europeia e cálculos do BCE. O crescimento total do investimento da área do euro deverá ter se contraído no segundo trimestre do corrente ano. No primeiro trimestre, o investimento foi suportado pela melhoria da procura, condições de financiamento favoráveis, inverno ameno e Gráfico 14 incentivos fiscais temporários em alguns países. No Produção e confiança dos investidores em bens segundo trimestre de 2015, o crescimento total do de investimento na área do euro investimento da área do euro deverá ter se contraído, (taxas de variação homólogas (%); saldo percentual líquido; índice) confiança da Comissão Europeia no setor dos bens de investimento (escala da esquerda) produção de bens de investimento do IGC (escala da direita) produção indutrial de bens de investimento (escala da esquerda) 20 70 uma vez que a dinâmica na produção industrial de bens de investimento desacelerou e a utilização da capacidade produtiva na indústria transformadora permaneceu globalmente inalterada. No que respeita ao investimento na construção, o crescimento da 10 60 produção na construção abrandou e os indicadores 0 50 de confiança permanecem em níveis associados à contração, apontando para fraco crescimento no -10 40 segundo trimestre. -20-30 -40-50 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Fontes: Eurostat, Comissão Europeia e Markit. 30 20 10 0 A retoma do investimento empresarial pode ser ligeiramente mais lenta do que anteriormente esperado, mas continua a ser um motor da recuperação. Os dados dos inquéritos para o setor dos bens de investimento sugerem uma estabilização generalizada ou um ligeiro enfraquecimento da BCE Boletim Económico, Número 6 / 2015 Evolução económica e monetária 20