CONCEITOS DE ALIMENTAÇÃO AO LONGO DA VIDA DE CÃES E GATOS Prof. Roberto de Andrade Bordin DMV, M.Sc. Setor de Nutrição e Metabolismo Animal Medicina Veterinária Universidade Anhembi Morumbi São Paulo, Brasil. O correto conhecimento das fases de vida do animal ajuda a determinar, de maneira lógica, o manejo alimentar aplicado a estas fases; visando um ótimo estado de saúde e qualidade de vida. Neste módulo abordaremos de maneira objetiva os principais conceitos relacionados à nutrição de cães e gatos durante seu ciclo de vida em suas diferentes fases. 1. Relações alimentares para cães e gatos: Consumo de alimentos em cães e gatos: A base do consumo alimentar é genética, onde os animais, de certa forma atribuem conceitos de ingestão dos alimentos com base em seus antepassados e o período de domesticação. Em tempos atrás os animais ingeriam alimentos de uma forma incerta, por visto a quantidade também era irregular, muito diferente dos atuais manejos e formas alimentares. Cães e gatos apresentam-se como carnívoros, porém com hábitos e formas alimentares muitas vezes classificadas com de uma espécie onívora. Cães No passado a caça era a forma alimentar de busca de alimentos, competindo e integrando nos grupos suas fontes alimentares. Estas características, minimizadas, ainda se encontram presentes em seu fundo de genes atuais. Ingerir alimentos de forma rápida também é uma característica herdada, sendo esta característica observada atualmente na implantação de manejo alimentar para estes animais, pois problemas digestórios estão envolvidos a esta voracidade alimentar. Em manejos alimentares de grupo a competição é evidenciada, este fato pode ser desenvolvido pelo processo de hierarquia social. Tal efeito pode reduzir a ingestão de alimentos por parte dos animais mais dominados neste grupo. Outro ponto a ser discutido é o número de vezes que estes cães são alimentados. Com no passado a ingestão era voraz em função do tempo de jejum exposto, após este período de caça e obtenção de alimentos, os cães eram capazes de saciar a fome por um período relativamente longo apenas
com uma refeição. Este fato intensificava a competição. Porém, nos tempos atuais, manejar alimentos, de acordo com a necessidade diária do animal, em várias vezes ao dia e subdividindo esta oferta e necessidade, aparece como uma forma de oferta de alimentos mais adequada e redutora dos impactos negativos referentes aos períodos de jejum alimentar. Gatos Alguns fatos arqueológicos revelam que o gato doméstico é descendente direto de felinos menores e não de felinos maiores e grandes caçadores. Este fato revela que os atuais felinos apresentam a necessidade de se alimentar por um número maior de vezes diárias. De forma solitária estes animais apresentam uma pequena ingestão de alimentos por vários momentos durante o dia (24 horas). A quantidade ingerida é adaptada pelo manejo alimentar proposto pelo proprietário e a adaptação observada pelo animal. Os tipos de alimentos a serem fornecidos para cães e gatos podem ser; caseiros ou industriais, podendo ser o segundo, o mais cômodo e seguro, variando estas características pela credibilidade da indústria processadora desta ração. Alguns pontos são importantes para escolha do alimento a ser fornecido aos animais: Conteúdo dos nutrientes Sabor e aceitação pelo animal (forma e odor) Relação digestória satisfatória Oferta nutricional (energia e nutrientes) Digestibilidade da dieta Efeitos sobre o desenvolvimento atual e futuro deste animal Um grande número de fatores pode influenciar as necessidades energéticas dos animais. O estado fisiológico (crescimento, adulto, gestação e animais idosos), que estes animais passam durante sua vida pode ser considerado um dos fatores mais importantes para se determinar esta quantidade de alimento. A relação de volume de alimento encontrada nos rótulos, de uma forma geral, é calculada da seguinte maneira: Necessidade do animal kcal/dia Energia do alimento kcal/kg Necessidade/oferta de energia (kcal/dia)/ (kcal/kg) = kg/dia
Não esquecer que a necessidade do animal é dada por seu estado fisiológico, que pode apresentar fatores de correção conforme o estado fisiológico. 2. Alimentação por fases da vida do animal: Neonatos Cães e gatos: A fase imediatamente após o nascimento até o desmame é a fase de definição do restante da vida do animal, erros alimentares podem influenciar no crescimento e desenvolvimento durante toda vida do animal. As primeiras 48 horas, pós parto, são horas de adaptação intensa dos filhotes e das fêmeas. Um ambiente adequado tanto para fêmeas e crias será necessário para dinamizar esta adaptação. Fatores nutricionais são importantes para estes animais. Neste período é fundamental que a fêmea ofereça o alimento inicial colostro, que tem como função alimentar e imunizar de forma passiva os filhotes. Após 48 horas, este leite perde sua capacidade de imunizar e apenas desenvolve sua função de alimento. Nas primeiras semanas de vida, os filhotes devem se alimentar pó volta de 3-6 vezes/dia. A ingestão intensa de leite materno ajuda a evitar enfermidades e minimizar problemas do desenvolvimento inicial. Não esquecer que nestas semanas a oferta de calor suplementar é fundamental. Em média após a 5 semana de vida destes filhotes, o leite materno já não é mais suficiente, devendo optar pela introdução de uma alimentação suplementar. Existem vários alimentos industriais disponíveis para filhotes que podem contribuir para esta complementação inicial até o desmame. A forma de ofertar este alimento deve seguir as orientações do fabricante. Condições básicas desta oferta: Umidificar estes alimentos água morna facilitar mastigação Ofertar por no máximo 30 minutos Não adicionar leite de vaca Período médio de desmame 45 dias de idade.
Crescimento: Após o desmame (45 dias em média) os animais terão que se adaptar a uma nova vida sem a mãe e a uma nova fonte alimentar apenas alimentos processados. O período de maior intensidade para o crescimento dos cães e gatos é por volta dos 7 meses iniciais de vida. Em raças grandes este intervalo pode se estender por volta dos 12 meses iniciais. Curvas de crescimento de diferentes raças de cães CASE, 2001 A intensidade de ganho de peso e desenvolvimento inicial é determinada com um incremento de 35 vezes do peso inicial ao peso adulto. O conceito alimentar nesta fase deve ser observado para que este crescimento seja definitivo e equilibrado. Dietas formuladas para crescimento são necessárias nesta fase. Associar o crescimento do organismo animal por completo ao fornecimento de alimento ajuda a desenvolver os constituintes orgânicos (ossos, órgãos...) de forma equilibrada. O crescimento acelerado de raças grandes pode favorecer o aparecimento de problemas ósseos. O fornecimento de uma dieta equilibrada em níveis nutricionais atua contra este
desenvolvimento. As necessidades energéticas de cães e gatos durante o seu crescimento podem ser observadas nas tabelas a seguir: CASE, 2001 Na prática alguns elementos alimentares devem ser observados: Dieta altamente digestível, completa e balanceada para o crescimento; Determinar um manejo alimentar controlado no fornecimento de alimentos 3 refeições diárias; Relacionar o crescimento ao tipo de alimento fornecido dieta X curva de crescimento; Raças grandes e gigantes não devem apresentar níveis suplementares de cálcio, além dos níveis da dieta ofertada; Um esquema de exercícios deve ser estipulado durante o crescimento.
Animais adultos: Atualmente a definição, de uma forma geral, de animal adulto em manutenção é todo aquele que não esteja lactando ou gestando, nem mesmo realizando trabalho intenso. Adequar uma dieta completa e balanceada com manejo alimentar onde esta na supere volumes de oferta de alimentos nem mesmo de energia, contribui para evitar problemas de saúde, por exemplo, os fatores relacionados à obesidade. No geral animais em manutenção podem apresentar uma vida restrita e condicionada, o que pode diminuir o gasto energético diário. Em média se estima que 25% dos cães e gatos sejam obesos ou até mesmo apresentem sobrepeso. Fracionar a porção diária total de alimentos em 3 refeições diárias é indicado nesta fase da vida dos animais de companhia. Várias fórmulas podem ser utilizadas para calcular esta necessidade. NEM = K x P 0.67, onde P = peso vivo do animal em kg o K = 99 inativos; 132 ativos; 160 grande atividade. NEM = 100 x P 0.88, onde P = peso vivo do animal em kg NEM = 132 x P 0.75, onde P = peso vivo do animal em kg Outro ponto fundamental neste manejo alimentar é a oferta de água fresca e a vontade para estes animais, não esquecendo que todo processo metabólico envolvido, são extremamente dependentes da hidratação adequada destes animais. Animais idosos: Com o aumento da expectativa de vida dos animais de companhia podemos definir novos padrões nutricionais e de saúde. Equilibrar a nutrição dos nossos velhinhos possibilita estes, a melhorar a sua qualidade de vida bem com reduzir possíveis problemas metabólicos que ocorrem em função da idade avançada destes animais. Tanto as diferentes raças, como tamanho e ritmo de vida podem conferir potenciais de envelhecimento específicos para cada animal. A idade que pode definir um animal geriátrico pode ser dimensionada assim:
Características de idade - definição de animais idosos Cães e gatos Peso em kg Idosos idade: Cães: 2.0 9.0 12 anos 10.0 23.0 11 anos 24.0 41.0 9 anos > 41.0 8 anos Gatos: Não determinar peso 9-12 anos Adaptado - CASE, 2001. Em conceitos clínicos, determinar na forma geral, os prejuízos orgânicos e metabólicos destes animais, não é correto. O clínico e o proprietário podem caracterizar em particular cada animal em função da sua idade, pois muitos animais idosos não apresentam as mesmas características de saúde e qualidade de vida. Algumas relações orgânicas são observadas nestes animais diminuição da constituição de tecido muscular magro, aumento da quantidade de gordura corpórea, problemas articulares variáveis, diminuição da quantidade de água corporal. Outras alterações são observadas:
Alterações em função da idade idosos: Sistema orgânico Alterações Pele Perda de elasticidade Aparecimento de tumores Pelagem branca Gastrointestinal Diminuição da capacidade e função Urinário Diminuição da capacidade e função Sensibilidade renal aumentada Problemas com a uréia circulante Muscular esquelético Fragilidade óssea Perda de tecido magro Artrose Cardiovascular Arritmias Diminuição d capacidade e função Falhas cardíacas diversas Sentidos (visão, olfato...) Diminuição da capacidade e função Desinteresse pela alimentação Cataratas Comportamento Menor disposição Mais agressivos por dores diversas Mais apáticos degenerações diversas Comportamento variado outros animais A avaliação deve ser realizada de forma individual, caso a caso para uma melhor interpretação destes animais. Alguns pontos devem ser observados para uma melhor alimentação destes animais. Tais pontos terão melhor abordagem no próximo módulo: Consultas revisões clínicas e nutricionais 2 vezes ao ano Manter uma dieta adequada e balanceada para idosos Valor protéico da dieta alta qualidade mais digestível Regular a quantidade de alimento e energia ingerida
Evitar a obesidade Atividade física associada à nutrição, ambos equilibrados Dietas terapêuticas podem ser recomendadas Gestação e lactação: As fases destinadas à reprodução de cães e gatos são fases que requerem maior atenção alimentar, pois além das fêmeas, os filhotes que estão sendo gestados ou mesmo lactentes, necessitam de uma nutrição adequada para o desenvolvimento de ambos. A fêmea necessita de uma capacidade de manutenção e desenvolvimento dos filhotes e condições alimentares e ambientais para a lactação. Os filhotes necessitam de condições para o correto desenvolvimento embrionário e após o nascimento seu crescimento. Alguns fatores básicos são recomendados durante a gestação e lactação. Durante a gestação: o Alimentos de alta digestibilidade e específico para a fase o Valores energéticos controladas até a quinta semana o No terço final da gestação pequenas porções diárias o Valorizar o conceito nutricional pela fase fisiológica o Observar ganho de peso das fêmeas 20% na média Durante a lactação: o Alimentos de alta digestibilidade e específico para a fase o Administrar quantidade e qualidade energética evitando perda de peso o Fornecer 2 vezes o valor de energia de manutenção para a fêmea evitar emagrecimento o Água limpa e a vontade sempre o Redução do consumo a partir da 3 semana de lactação Ao final da lactação os animais devem receber uma dieta que possibilite a recuperação corpórea e reprodutiva da fêmea. No período de desmame a redução alimentar é realizada para evitar a intensa e contínua produção láctea desnecessária, podendo gerar problemas com as mamas mastites.
Outro ponto a ser considerado é a perda de peso durante a lactação, fato este que não pode ser maior que 10% do peso corpóreo normal da fêmea. A complementação alimentar com cálcio nas dietas não deve ser realizada, as dietas industriais fornecidas nesta fase são completas e balanceadas, podendo esta suplementação gerar problemas fetais com inadequado desenvolvimento. 3. Exercitando conceitos descrição lógica e objetiva: Pontue seu conhecimento nutricional antes e depois da leitura e interpretação deste texto Visualize em um rótulo de ração qual a fase recomendada desta ração Em um animal de 6 quilos qual a quantidade de energia diária requerida? Use todas as fórmulas. Em função da necessidade anterior qualquer fórmula, com um alimento que oferte 3000 kcal/kg, qual quantidade de alimento deve ser ofertada para este animal. OBS - No final do quarto módulo serão relacionadas todas as bibliografias consultadas para compor este curso. Obrigado e até o próximo módulo... 01/11, não percam... Pois neste módulo vamos falar de alimentos por fases. Dúvidas mande e-mail: rbordim@anhembi.br www.nutriara.com.br