BURNOUT ESTRESSE PROFISSIONAL EM MÉDICOS E ESTUDANTES DE MEDICINA O termo BURNOUT deriva do inglês, e refere-se àquilo que deixou de funcionar por falta de energia. Uma metáfora que define o indivíduo que chegou ao seu limite e por falta de energia, não tem condições de desempenho físico e mental. Burnout descreve o estresse crônico em profissionais cujas atividades exigem alto grau de contato com pessoas. (FRANÇA, 1987). A primeira publicação de científica a respeito foi em 1974, com as pesquisas de Freudenberg com profissionais da área de saúde. Recentemente vem sendo questionada a aplicação do termo burnout para outras categorias profissionais. Em países como Itália, Espanha e Brasil o burnout é considerado como doença ocupacional. Alguns termos são utilizados como sinônimo de burnout são eles: estresse laboral, estresse laboral assistencial, estresse profissional, estresse ocupacional, neurose profissional, neurose de excelência, síndrome de esgotamento profissional, síndrome do Assistente Desassistido. Na sua concepção clínica burnout se caracteriza por sinais de exaustão física, psíquica e emocional que ocorrem quando as tarefas intelectuais exigem grande qualificação intelectual, decisões importantes e de peso emocional intenso. (FRANÇA, 1987). Segundo Pereira (2002), o burnout evolui com exaustão emocional, despersonalização e redução da realização profissional. EXAUSTÃO EMOCIONAL sensação de esgotamento físico e mental, não dispor de energia para nada, estando no limite das possibilidades. DESPERSONALIZAÇÃO o indivíduo não perde a personalidade, mas essa sofre alterações, levando o profissional a ter um contato frio e impessoal com os usuários dos seus serviços, assumindo atitudes de cinismo, ironia e indiferença. REDUZIDA REALIZAÇÃO PESSOAL Insatisfação com o trabalho, sentimento de insuficiência, baixa auto-estima, desmotivação, baixa eficiência, com ímpetos de abandono do cargo. 1
Diferente do estresse que pode ter um caráter positivo o processo de burnout sempre tem caráter negativo. Estando ligado ao trabalho tem implicações individuais, social, inter-relacional e institucional. Há concordância entre pesquisadores que o burnout acomete pessoas normais, previamente sadias, em geral entusiastas e idealistas, que no contato com o mundo profissional, mudam seu modo de ser, apresentando transtornos que acabam interferindo nos níveis pessoal, social e institucional. O início da síndrome pode se dar na vida acadêmica do profissional da saúde. Segundo as pesquisas de Gil-Monte e Peiró, citado por Pereira (2002), algumas características pessoais, do trabalho e organizacional seriam desencadeadoras do burnout. CARACTERÍSTICAS PESSOAIS Profissionais com menos de 30 anos, não havendo diferença de incidência entre gêneros. Nas mulheres ocorre mais exaustão emocional, enquanto nos homens ocorre despersonalização, mais freqüentemente. Quanto mais graduado o profissional maior a chance de desenvolver burnout. As pesquisas são controversas quanto o estado civil e a presença de filhos. CARACTERÍSTICAS DE PERSONALIDADE Kobasa (1981), definiu como Hardness a personalidade que resiste ao estresse e tem menor propensão ao burnout. Evidenciando a capacidade de interpretar os agentes estressores como passíveis de controle, ou como um desafio a ser vencido, gerando desenvolvimento pessoal. Nesse tipo de personalidade encontram-se três dimensões: compromisso, controle e desafio; que implicam em envolvimento em tudo que fazem (compromisso), sentido que possuem domínio da situação (controle) e frente a situações adversas, estas são encaradas como oportunidade de aquisição de novas perspectivas, revelando disposições à mudanças (desafio). Já as pessoas que atribuem suas possibilidades aos acontecimentos da vida e eventos externos tem maior probabilidade de desenvolver burnout, essa característica denomina-se lócus de controle externo. O padrão de personalidade Tipo A de pessoas competitivas, esforçadas, impacientes, com excessiva necessidade de controle, dificuldade de tolerar frustrações e que vivem em função do tempo, tem altas pontuações de exaustão emocional na escala de burnout. Variáveis de auto-estima, autoconfiança e auto-eficácia se elevadas diminuem as chances da pessoa de desenvolver burnout, enquanto pessoas passivas que evitam enfrentamento têm chances aumentadas. 2
O perfeccionismo é a tendência em estabelecer padrões elevados de qualidade, preocupando-se excessivamente com a possibilidade de erro, por insegurança e medo de falha, tem sido apontado como característica com vulnerabilidade ao burnout. O otimismo e seu oposto, o pessimismo, são definidos como a forma que a com que a pessoa interpreta suas percepções e experiências. Os otimistas acreditam que os aspectos positivos possuem maior probabilidade de ocorrência, e que as circunstâncias adversas são temporárias e passíveis de controle. Enquanto os pessimistas tendem a se fixar em aspectos negativos ou dão maior relevância a estes, prevendo sempre possibilidade de malogrou sofrendo antecipadamente. Mendes e Nunes, citados em Pereira (2002), encontraram correlação entre pessimismo e altas pontuações na escala burnout. Curiosamente, o idealismo e a motivação aumentam as chances de burnout, pois estão associadas a expectativas elevadas e muitas vezes pouco realistas, como as que acompanham o aluno ingressante no curso de medicina, os quais tendem a se decepcionarem com o curso durante os primeiros anos. CARACTERÍSTICAS DA ATIVIDADE PROFISSIONAL Trabalho noturno acarreta mais freqüentemente transtornos físicos e psicológicos, aumentando a chance de aparecimento do estresse profissional. Quanto mais próxima a relação profissional cliente maior a probabilidade de se estabelecer burnout. Assim como, uma grande quantidade de atendimento, gera sobrecarga que também o propicia. Nesta visão, o tipo de cliente difícil, queixoso, agressivo, depressivo, beligerante ou com necessidades especiais, bem como o contato com injustiças sociais, sofrimento e morte tem influência no estresse profissional. Segundo Maslach e Jackson (1996), na síndrome de burnout o trabalhador se envolve afetivamente com seus clientes, se desgasta, e num extremo, desiste, e entra em burnout. Entre os médicos, um dos fatores mais apontados é a responsabilidade médica; advinda do poder de manter a vida, além das conseqüências civis e penais do erro médico. Ainda como característica do trabalho cita-se a relação entre colegas, suporte organizacional, satisfação pessoal, pressão e possibilidade de progresso. CARACTERÍSTICAS ORGANIZACIONAIS As condições do ambiente de trabalho como temperatura, ruídos, iluminação, higiene, risco de intoxicação e contaminação, relação de espaço e mobiliário adequado, podem interferir na saúde física e psicológica do trabalhador. 3
Mudanças, burocracia e normas institucionais, também são considerados fatores de influência na determinação do burnout. Enquanto a comunicação aberta, autonomia, recompensa e segurança agem inversamente. O burnout uma vez instalado gera diminuição na qualidade do atendimento e na produtividade, predispõem a acidentes, absenteísmo, isolamento e abandono da profissão. A fim de diagnosticar e avaliar a síndrome do estresse profissional Burnout; criaram-se vários questionários de auto-informe. O FBS Freudenberg Burnout Scale, BM Burnout Measure, BAI Burnout Assessment Inventory, SBS Staff Burnout Scale e MBI Maslach Burnout Inventory. (MASLACH e JACKSON, 1996). Desses o mais utilizado é o MBI, traduzido e validado em diversos países. Idealizado como um questionário de auto-informe respondido em escala Lickert de 0 a 6. Possui 22 itens divididos em dimensões de exaustão emocional, despersonalização e realização profissional; altas pontuações nessas dimensões estão associadas a burnout. Os níveis de burnout diferem conforme a cultura estudada, categorias profissionais e cargo. Segundo Arantes (2002), dentro da profissão médica algumas especialidades estão mais vulneráveis a síndrome de burnout como aquelas que lidam com pessoas portadoras de doenças graves, deficiências, necessidades especiais, pediatria, populações carentes, risco de vida, funções que exijam precisão de movimentos e trabalhos em turnos. A Literatura descreve como agentes estressores da profissão médica: - Demanda de atendimento - Pouco reconhecimento - Reduzida participação nas decisões organizacionais - Plantões - Longa jornada de trabalho - Dificuldade de promoção - Equipe paramédica despreparada - Absenteísmo na equipe - Necessidade de atualização contínua - Exposição constante a risco - Pressão do tempo e urgências - Burocracia na prática diária - Convivência com o sofrimento e morte - Responsabilidade civil e pessoal da prática médica - Exigências na qualidade do atendimento - Pacientes difíceis e problemáticos 4
- Problemas de comunicação e competição laboral - Relacionamento com superiores - Ambiente de trabalho inadequado - Ausência de local privado para descanso nos intervalos - Salário insuficiente (PEREIRA, 2002) A associação desses estressores pode desencadear o processo de burnout, tendo sido encontrado 28% de transtornos psicológicos em médicos, avaliados pelo General Helth Questionnaire de Goldberg. (PEREIRA, 2002; PASQUALI e colaboradores 1996). Os prejuízos no exercício profissional transitam entre um contínuo desde grau mais moderado a níveis severos. Desde a dificuldade de atualização por falta de tempo e cansaço, afetando a qualidade do atendimento, até a fadiga por excesso de horas dedicadas ao trabalho que pode causar imprudências, negligência e imperícia. Alguns estudos demonstraram que as atitudes céticas dos alunos aumentam no decorrer do curso, enquanto sentimentos humanitários decrescem, com diminuição da empatia com os pacientes, ocorrendo um processo de desumanização ou brutalização do estudante. (CATALDO, CAVALET BRUXEL, KAPPES e SILVA, 1998). Benevides e Pereira, avaliando a ocorrência de burnout em estudantes de medicina, do 1º ao 6º ano, utilizando o MBI, observaram que ¾ da amostra com altos índices de exaustão emocional, despersonalização e reduzida realização pessoal, demonstrando presença de burnout; principalmente entre alunos do 4º ano. Descrevem ainda como dificuldades desses alunos: manter uma vida social e a ocorrência de sintomas psicossomáticos. Observaram também, que o nível de ansiedade havia duplicado do 1º ao 3º ano. (PEREIRA, 2002). A resposta a estressores da mesma intensidade é diferente para cada indivíduo, sendo que o grau de resistência difere em cada um, ou seja, a resiliência é individual (CAPRA,1988). 5