IMPACTOS DA CRISE ECONÔMICA MUNDIAL NO MERCADO DE CAPITAIS BRASILEIRO: um estudo das principais ações do IBOVESPA



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Transcrição:

577 IMPACTOS DA CRISE ECONÔMICA MUNDIAL NO MERCADO DE CAPITAIS BRASILEIRO: um estudo das principais ações do IBOVESPA Welton Roberto Silva (Uni-FACEF) INTRODUÇÃO Uma onda de medo se espalhou pelo mundo quando o mercado de crédito norte americano declarou que não mais conseguiria arcar com o saldo negativo dos investimentos imobiliários no ano de 2007, em decorrência da elevação da inadimplência e da desvalorização dos imóveis e dos ativos financeiros associados às hipotecas americanas de alto risco (subprime) (CINTRA, FARHI. 2008). A partir de então o mundo começou a presenciar a queda das bolsas e desvalorização das ações em todos os continentes a cada novo evento durante a crise mundial, como foi o caso, por exemplo, da falência do banco Lehman Brothers em setembro de 2008. (NETO, Epaminondas, 2008) Ao mesmo tempo em que no Brasil a Bolsa de Valores de São Paulo acabara de passar por uma fusão com a Bolsa de Mercadorias & Futuros, que a tornaria a terceira maior Bolsa do mundo em volume de negócios, e o bom desempenho dos papeis brasileiros a faria atingir números históricos em maio de 2008; a economia global traria as conseqüências do baixo controle nas operações de crédito no mercado imobiliário dos Estados Unidos. Este quadro passou a ser presente no Brasil a parir do mês de maio de 2008, quando investidores externos passaram a retirar capital do mercado financeiro brasileiro. Objetivos e Metodologia O presente trabalho buscará realizar uma análise do comportamento das ações de maior relevância no Índice Bovespa, a fim de verificar qual o real impacto no mercado de capitais brasileiro. Para tanto se fará um acompanhamento das citadas ações e como elas reagiram frente aos principais fatos da chamada crise. Em um primeiro momento será feita uma análise da bibliografia de apoio para que seja possível entender como é o funcionamento do mercado de capitais, e o que

578 realmente foi à chamada crise econômica mundial, origens, impactos e formas de contenção. Para aprofundar nos números serão utilizadas as cotações das ações já mencionadas durante o ano de 2008, bem como dos números do IBOVESPA e do Dow Jones (Índice da Bolsa de Nova York); buscando assim por meio da correlação entre as mesmas identificar se a queda na bolsa de São Paulo tem relação com os fatos desencadeados nos Estados Unidos. Tais números foram extraídos do software CMA Station - Séries 4, cedidos pela Planner Corretora de Valores S.A. MERCADO DE CAPITAIS Mercado Financeiro Atualmente existe uma gama de investimentos possíveis para se aplicar capital no mercado nacional e internacional, tais aplicações se estendem, desde a poupança à aplicações em ações e títulos. Quando um determinado investidor decide alocar sua reserva de capital em um certo investimento ele passa a ofertar capital em troca de receber no futuro um retorno, e em contrapartida há quem capta estes valores para poder desenvolver melhor a atividade produtiva, ou seja, alguém está ofertando e outro está demandando. A essa troca de valores se dá o nome de Mercado Financeiro. Cavalcante, Misumi e Rudge (2005) denominam esses agentes do Mercado Financeiro como sendo ofertadores finais e tomadores finais, e em seu trabalho eles expõem que os citados agentes realizam a transferência de recursos entre si por meio de instituições e instrumentos financeiros, aos quais se denomina Sistema Financeiro. O quadro 1 mostra um diagrama sobre tais transações.

579 Quadro 1 Fluxo no Mercado Financeiro CAPITAL OFERTADOR FINAL SISTEMA FINANCEIRO TOMADOR FINAL DIVIDENDOS E/OU JUROS Adaptado de Cavalcante, Misumi e Rudge (2005, p.) Sistema Financeiro Nacional O Sistema Financeiro Nacional é constituído por um conjunto de instituições financeiras de origem públicas ou privadas, que funcionam como instrumento responsável por interligar os agentes demandadores de recursos financeiros e àqueles capazes de investir capital, sendo que desta interação há o financiamento do crescimento econômico; o SFN se divide em dois subsistemas, o primeiro (normativo regulamenta as ações do segundo (operante). O subsistema normativo é composto principalmente pelos seguintes órgãos: Conselho Monetário Nacional (CMN), Banco Central (BACEN) e Comissão de Valores Mobiliários (CVM), sendo que deles o de maior atuação e regulamentação é o CMN; já o operante é constituído pelos agentes atuantes do mercado financeiro. (ASSAF NETO, 1999). O quadro 2 ilustra como se subdivide p Sistema Financeiro Nacional.

580 Quadro 2 Composição do Sistema Financeiro Nacional Sistema Financeiro Nacional Subsistema de Intermediação Subsistema Normativo Banco do Brasil BB Instituições não Financeiras Instituições Auxiliares Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo Instituições Financeiras não Bancárias Extraído de Assaf Neto (1999, p. 59). Instituições Financeiras Bancárias BNDES Caixa Econ. Federal CEF Instituições Especiais Comissão de Calores Mobiliários - CVM Banco Central do Brasil BACEN Conselho Monetário Nacional CMN Comissões Consultivas A principal função do Sistema Financeiro Nacional é viabilizar as movimentações de capitais entre tomadores e detentores, e em geral tais transações passam pelos agentes antes de ser concretizadas; e os órgãos reguladores participam desse processo a fim de certificar que não existe qualquer impedimento para que tudo ocorra de forma clara e precisa. Mercado de Ações Existem dois tipos de recursos que uma determinada empresa pode captar dentro do Sistema Financeiro Nacional: Recursos de Terceiros (disponíveis pela oferta de crédito principalmente de Instituições Financeiras), e Recursos Próprios. Assaf Neto (2003, p. 381) expõe o segundo tipo de financiamento como sendo dado pela retenção de seus resultados líquidos (autofinanciamento) e, principalmente pela integralização de novas ações. Tal processo se desenvolve de acordo com uma seqüência de atividades demonstradas no quadro 3.

581 Quadro 3 Processo para Emissão de Novas Ações Empresa Emitente Novas Ações Instituição Financeira não Bancária Intermedia a Operação Colocação Inicial: Mercado Primário Renegociação das Ações: Mercado Secundário Adaptado de Assaf Neto (2003, p. 381). Uma das movimentações que ocorrem no mercado financeiro diz respeito à oferta e procura de participações em empresas consolidadas. Mellagi Filho e Ishikawa (2000, p. 228) definem ações como sendo títulos que representam frações do capital de uma empresa. Empresas desse tipo são denominadas Sociedade Anônima e podem se de capital fechado ou aberto. Quando a empresa é de capital aberto, é registrada como tal na Comissão de Valores Mobiliários e tem a obrigação de prestar informações periódicas ao mercado sobre seu comportamento social, econômico e financeiro. Desta forma, a participação da empresa não se limita apenas aos seus fundadores, e a empresa passa a assumir o compromisso de prestar contas ao mercado sobre sua real situação com certa periodicidade. Geralmente a compra e venda de ações se dá por meio de uma corretora, ela é responsável por negociar os papéis que o investidor deseja. Até o ano de 2005 o Brasil operava por meio do conhecido pregão viva-voz, onde operadores das corretoras gritavam a compra e a venda das ações dentro da bolsa. Com o inicio das atividades do home broker (o investidor pode operar diretamente do seu computador) em 1999, as atividades em viva-voz reduziram drasticamente, e em 30 de setembro de 2005 a Bovespa se torna a penúltima bolsa do mundo a não operar mais por meio desta modalidade de pregão, restando apenas a bolsa de Nova York que ainda insiste no tradicionalismo do viva-voz 1. A BM&F BOVESPA Bolsa de valores pode ser definida como sendo uma: associação civil sem fins lucrativos ou pode se constituir como sociedade anônima. Seu patrimônio é formado por títulos que pertencem às sociedades corretoras membros. Possui autonomia financeira, patrimonial e administrativa, mas está sujeita à supervisão da Comissão de Valores

582 Mobiliários e obedece às diretrizes e políticas emanadas do Conselho Monetário Nacional. (CAVALCANTI, MISUMI e RUDGE. 2005, p. 80). A Bolsa de Valores de São Paulo, somada à Bolsa de Mercadorias e Futuros é hoje uma das maiores Bolsas do mundo em volume de negócios, sendo considerada a segunda do continente americano e a maior da América Latina. A história não fornece com clareza qual a real origem das bolsas de valores, o que se tem definido é que seu início data de tempos antigos, mas a primeira ilustração identificada data de 16968 quando era fundada a Bolsa de Fundos Públicos de Londres; o que somado à fundação do Banco da Inglaterra e a presença da Casa da Moeda que já praticava a cunhagem da moeda em ouro, pode ser definido como o primeiro exemplo do sistema financeiro integrado moderno. (CAVALCANTI, MISUMI e RUDGE. 2005) A bolsa brasileira tem sua origem em 1890, com a fundação da Bolsa Livre e em 1895 a Bolsa de Fundos Públicos de São Paulo. Em 1934 ela evolui para Bolsa Oficial de Valores de São Paulo, onde as negociações se realizavam em um balcão central e os corretores ficavam ao seu redor; a partir de 1967 surge o operador de pregão juntamente com as sociedades corretoras, neste período ela já passa a ser chamada Bolsa de Valores de São Paulo. Dezenove anos mais tarde tem inicio a Bolsa Mercantil & de Futuros (BM&F), que em 1991 entra em acordo com a Bolsa de Mercadorias de São Paulo (fundada em 1917) e passa a ser conhecida como Bolsa de Mercadorias & Futuros (ainda BM&F). Em 1999 a BOVESPA passa a operar o Home Broker, um sistema que permite o investidor operar via corretora diretamente da internet. E em 2008 ocorre a fusão entre as duas bolsas brasileiras (BOVESPA e BM&F) uma das maiores bolsas do mundo em valor de mercado 2. IBOVESPA Assim como as demais bolsas do mundo, a BOVESPA possui um indicador capaz de medir o desempenho médio dos preços de uma suposta carteira de ações, medindo o comportamento do mercado em um determinado período de tempo. O valor absoluto do índice da carteira expressa o valor de mercado da carteira de ações negociada na Bolsa de Valores, sendo as variações verificadas de um período para o outro entendidas como sua lucratividade. (ASSAF NETO, 1999. p. 204) O Índice BOVESPA foi criado em 2 de janeiro de 1968 e é o indicador brasileiro de maior representatividade, uma vez que nunca sofreu variação em sua

583 metodologia de cálculo, bem como pelo fato de no Brasil a BOVESPA realiza o volume total de transações no mercado de valores; basicamente ele indica o comportamento do mercado acionário brasileiro, desta forma em sua composição busca-se chegar o mais próximo possível do real negociado na BOVESPA. (PINHEIRO, 2005. p. 215) CRISE ECONÔMICA DE 2008 Origem da Crise As notícias vindas dos Estados Unidos em 2008 não pareciam as melhores para ressaltar o otimismo do mercado financeiro brasileiro. As operações no mercado imobiliário norte-americano, especialmente no mercado de hipotecas, deu origem a uma crise de proporções maiores, no mercado de crédito de modo geral; o segmento que mais foi abalado foi o chamado "subprime", que embutem um risco maior de inadimplência; Após a crise das empresas pontocom 3 ", em 2001 houve uma acentuada aceleração no mercado imobiliário dos Estados Unidos, o Banco Central Americano (Federal Reserve Fed) reduziu as taxas de juros para que houvesse uma recuperação da economia, e o setor imobiliário aproveitou da baixa nas taxas de juros, uma vez que houve um crescimento na demanda por imóveis. Em 2005, a compra de imóveis passou a ser um negócio atrativo devido a grande expectativa de valorização, bem como a demanda por hipotecas já que era um bom momento para se ter dinheiro à mão. Empresas financeiras passaram a trabalhar com o segmento "subprime", e na expectativa de maiores ganhos gestores de fundos e bancos passaram a adquirir os referidos títulos para que as instituições pudessem realizar novas transações, antes que o pagamento da primeira fosse efetuado; desta forma um agente financeiro poderia adquirir esse título das empresas e fundos, gerando assim uma cadeia de venda de títulos. Entretanto, havendo inadimplência por parte do credor inicial desencadeia-se um ciclo de não-recebimento dos títulos, conseqüência: o mercado ficaou receoso em negociar o "subprime" e tudo culmina em uma crise de liquidez. (FOLHA ONLINE, 20 set 2008). Em 2006, a elevação na taxa de juros pelo Fed proporcionou a queda no valor dos imóveis o que acabaria por proporcionar uma recessão na economia norteamericana. Isso acabou por impactar em todo o mundo, Krugman (2009, p. 186) descreve que esse impacto foi em decorrência de que:

584 Como os investidores americanos mantinham parcela considerável de sua riqueza no exterior, eles estavam menos sujeitos à queda da atividade econômica nos Estados Unidos, e, como os investidores estrangeiros mantinham boa parte de sua riqueza nos Estados Unidos, também eles estavam menos sujeitos às quedas da atividade econômica nos respectivos países. Porém, parcela considerável do aumento da globalização financeira decorre do investimento de instituições financeiras altamente alavancadas, que faziam vários tipos de apostas transfronteiriças arriscadas. E, quando as coisas davam erradas nos Estados Unidos, esses investimentos transfronteiriços atuavam como o que os economistas denominam mecanismos de transmissão, pelo qual uma crise que eclodiu no mercado habitacional dos Estados Unidos desencadeou sucessivas outras no exterior. Desta forma decisões que deveriam afetar positivamente a economia de um país ocasionaram a queda de números no mundo todo, uma vez que o mundo globalizado não vê fronteiras. Isso já pôde ser presenciado em 1929, quando ocorreu a chamada queda da Bolsa de Valores de Nova York. Este acontecimento marcou todo o mundo e entrou para a história como sendo a primeira grande crise do capitalismo. Tal crise ocorreu devido à especulação que cercava o mercado na época e, como se poderia esperar, abalou a confiança no crescente valor das ações ordinárias em tão curto prazo, os investidores só almejavam se desfazer dos papais e manter seus ganhos, entretanto o desfecho na foi tão favorável e culminou em uma crise sem precedentes. (GALBRAITH, 1988). IMPACTOS DA CRISE NO IBOVESPA Números do IBOVESPA O IBOVESPA, como já mencionado é um índice que mede o desempenho de uma determinada carteira de ações. Assim como ele, há outros de grande relevância no mundo, sendo alguns dos principais: Dow Jones Nova York; FTSE 100 Londres; Merval Buenos Aires; Nikkei 225 Tóquio; DAX 30 Frankfurt; CAC 40 Paris; Hang Seng Hong Kong; IPC Cidade do México; SSE Composite Xangai. Para efeito de análise do presente trabalho, será considerado o Índice Dow Jones, o principal dos Estados Unidos. Antes de ter início o efeito cascata da crise econômica pode se considerar que o mercado brasileiro estava empolgado e o IBOVESPA ultrapassou os 73000 pontos em maio de 2008, um número histórico dentro do mercado de capitais brasileiro. A partir deste ponto, começou a se perceber a influência do pessimismo vindo de outras economias. O primeiro indício que a crise incidiria no otimismo pelo qual o país vinha

585 passando foi no final do primeiro semestre de 2008, quando deu inicio a retirada de investimentos estrangeiros da BOVESPA; a partir de então o volume de negociações entrou em decadência, e em novembro de 2008 o índice chegou abaixo dos 32000 pontos. Para ressaltar este fato, a Tabela 1 demonstra a variação trimestral dos negócios realizados em 2008. Tabela 1 Média Trimestral do IBOVESPA em 2008 Período Média Fechamento Média Variação 1º Trimestre 61.192-0,05% 2º Trimestre 67.501 0,12% 3º Trimestre 58.192-0,37% 4º Trimestre 37.064-0,32% Mas é importante também correlacionar o desempenho da bolsa brasileira com a bolsa de Nova York, para poder estabelecer ligação da baixa no IBOVESPA com a chamada crise. A Tabela 2 mostra esta correlação trimestral, tendo por base os números diários durante o ano de 2008. Tabela 2 Correlação Trimestral do IBOVESPA e Dow Jones em 2008 Período Correlação 1º Trimestre 0,5479 2º Trimestre 0,5344 3º Trimestre 0,7526 4º Trimestre 0,7598 A Tabela 2 mostra que quanto mais a crise se aprofundava, mais a correlação se aproximava de Um (1), o que estabelece uma relação direta entre as baixas nas ações brasileiras e a situação da economia norte-americana. Outro fato que pode ser observado está no 2º Trimestre, na Tabela 1 observou-se uma variação positiva no IBOVESPA, comparando-a a Tabela 2, verifica-se que é o Trimestre onde a correlação apresenta-se mais baixa, comprovando mais uma vez o bom momento pelo qual passava o mercado financeiro no Brasil. Desenvolvimento das Ações de Maior Relevância em 2008 O sentido do presente trabalho é verificar o quanto a crise impactou nas ações de relevância do mercado brasileiro. Para tanto, fez-se um levantamento de alguns

586 dos principais fatos que marcaram a crise de 2008, para que nesse período possa se estudar as ações já relacionadas. Os fatos de destaque utilizados serão: A crise provoca a nacionalização do banco britânico Northern Rock em fevereiro O banco norte-americano IndyMac anuncia a quebra em junho; Quebra do banco Lehman Brothers e a estatização das empresas AIG, Fannie Mae e Freddie Mac em setembro; Pedido de capital das montadoras GM e Chrysler em dezembro; Para demonstração da situação do mercado de capitais brasileiro, será feito uso das ações: Petrobras; Companhia Siderúrgica Nacional; e Vale. Petrobras (PETR4) 4 : a empresa tem seu início em 1953 pela edição da lei nº 2.004, com a finalidade de explorar o petróleo no país em nome da União. Em 2008 ela obteve um lucro líquido que atingiu os R$ 32, 988 mi. A abertura de capital da empresa se deu em 1986. Companhia Siderúrgica Nacional 5 (CSN3): fundada em 09 de abril de 1941, deu início às suas atividades em 1946. Foi privatizada em 1993, hoje possui em seus ativos: uma usina siderúrgica integrada, cinco unidades industriais, duas no exterior (Estados Unidos e Portugal), minas de minério de ferro, calcário e dolomita, uma forte distribuidora de aços planos, terminais portuários, participações em estradas de ferro e em duas usinas hidrelétricas; possui as certificações ISO 9001 e ISO 14001. O Lucro Líquido apurado da empresa chegou aos R$ 5, 774 bi. Vale (VALE5) 6 : Sua fundação data de 1942, criada com o nome de Companhia Vale do Rio Doce pelo Governo Federal, foi privatizada em 1997, hoje ela pode ser considerada uma empresa global, presente nos cinco continentes, e um quadro funcional que ultrapassa os 100 mil empregados (próprios e terceirizados). Seu Lucro líquido girou em torno de 21, 3 bi em 2008. Tais ações são as que movimentam maiores recursos, portanto servem de base para um parecer independente. A Tabela 3 exporá o comportamento das ações CSNA3, PETR4 e VALE 5, respectivamente, em cada um dos períodos supracitados, relacionando a eles a média de variação da ação no período competente. Tabela 3 Relacionamento das Ações aos Fatos da Crise Período Mês Média do Período CSNA3 PETR4 VALE5

587 Nacionalização do Northern Rock Fevereiro 0,77 0,40 0,60 Quebra do Banco IndyMac Junho -0,46-0,25-0,59 Quebra Lehman Brothers / Estatização AIG, Fannie Mae e Freddie Mac Setembro -1,25 0,18-0,53 Pedido de capital GM e Chrysler Dezembro 0,68-0,93-0,06 Até o final do primeiro semestre, as ações das empresas pareciam inalteradas em relação aos fatos acima relacionados. A partir de então os impactos da crise afetaram diretamente as Instituições Financeiras, o risco de investir aumentou consideravelmente, verificando assim uma tendência de queda nas ações do IBOVESPA (entre o final de maio e início de junho); o que corrobora com o fato já citado de o mercado de capitais brasileiro começar a perder investidores externos neste período. O Gráfico 1 faz um cruzamento entre as ações estudadas, o IBOVESPA e o Dow Jones. Por meio dele é possível observar que em fevereiro, quando o Northern Rock foi nacionalizado apenas o Dow Jones obteve desempenho negativo, entretanto a partir de junho quando houve a quebra do Banco IndyMac, o quadro já é diferente, as ações estudadas já começam a ter um novo desdobramento, identificando assim que a crise começaria a afetar esses papeis. Entretanto cabe ressaltar que os ativos estudados esboçaram reação ao longo do período, enquanto o Índice da bolsa americana não apresenta grandes melhoras.

588 Gráfico 1 - Relação entre Fatores e as Cotações/Índices 1,00 0,50 0,00 Fator -0,50 Nacionalização do Northern Rock Quebra do Banco IndyMac Quebra Lehman Brothers / Estatização AIG, Fannie Mae e Freddie Mac Pedido de capital GM e Chrysler -1,00-1,50 Cotações/Índices IBOVESPA DOW JONES CSNA3 PETR4 VELE5 CONCLUSÃO A finalidade do presente estudo era verificar a atuação da crise econômica mundial que abalou a muitos gigantes financeiros em 2008 diretamente em ativos de grande expressão da Bolsa de Valores de São Paulo, bem como analisar o impacto da citada crise no mercado financeiro brasileiro. Diante do estudado, pode-se concluir que foi a partir do segundo trimestre que o Brasil começou a ser influenciado pela baixa no mercado norte-americano, investidores internacionais não demonstraram confiança quando grandes instituições financeiras começaram a ser abaladas. Contribuindo com isso, pode-se utilizar como exemplo a correlação calculada entre o IBOVESPA e o Daw Jones, uma vez que foi a partir do terceiro semestre que os números ganharam expressão. Outro fato a ser considerado é que embora as ações que foram base para o presente estudo tenham sofrido com o impacto causado na Bovespa, em alguns momentos elas despertaram reação, indo à contramão do próprio mercado brasileiro. Por fim pôde ser observado que embora o IBOVESPA tenha se comportado de maneira inversa ao Dow Jones em fevereiro, ele foi atingido pelo mal-estar da economia mundial seguindo a tendência americana; mas cabe ressaltar que no final de 2008 ele esboçou uma melhora.

589 Diante do abordado, é possível se pensar uma forma de fortalecimento do mercado de capitais brasileiro, a fim de que ele possa estar mais resistente a momentos de turbulência internacional. Cabe ressaltar ainda que é interessante um posterior acompanhamento dos números, e um aprofundamento nos dados com informações de outras bolsas, a fim de se ter uma visão mais ampla de como incorreu a crise no mundo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSAF NETO, Alexandre. Mercado Financeiro. 2.ed. São Paulo: Atlas, 1999.. Finanças corporativas e valor. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2005. BM&F BOVESPA: a nova bolsa. História. Disponível em <http://www.bmfbovespa.com.br/portugues/historia.asp>. Acesso em 15 maio 2009. CAVALCANTE, Francisco. MISUMI, Jorge Yoshio. RUDGE, Luiz Fernando. Mercado financeiro e de capitais o que é e como funciona. 6.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. CINTRA, Marcos Antônio Macedo. Farhi, Mayse. A crise financeira e o global shadow banking system. São Paulo: Sielo, 2008. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0101-33002008000300002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 18 maio2009. FILHO, Armando Mellagi. ISHIKAWA, Sérgio. Mercado finaceiro e de apitais. São Paulo: Atlas, 2000. FOLHA Online. Entenda a crise financeira que atinge a economia dos EUA. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u447052.shtml>. Acesso em: 18 maio 2009. GALBRAITH, John Kenneth. 1929 o colapso da bolsa. Tradução de Oswaldo Chiquetto. 2.ed. São Paulo: pioneira, 1988. KRUGMAN, Paul. A crise de 2008 e a economia da depressão. Tradução de Afonso Celso da Cunha Serra. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. NETO, Epaminondas. Bovespa fecha em queda de 7,59%, o pior tombo desde o 11 de Setembro. Folha Online: 15 set 2008. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u445170.shtml>. acesso em 18 maio 2009. NOGUEIRA, Ricardo. Fim do pregão viva-voz na BOVESPA. 2005. Disponível em <http://www.realtrader.com.br/forum/indice.pl/read/17172>. Acesso em 14 maio 2009.

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