RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO INFANTIL: ESTUDO SOBRE PRÁTICAS DOCENTES EM ESCOLAS PÚBLICAS E PARTICULARES DE BRASÍLIA Palavras-chave: Educação infantil, Gênero, Prática docente. Eixo temático: Gênero e sexualidade nas práticas escolares. Juliana Alves da Silva 1 Subtítulos: Introdução - Método Resultados Conhecimentos necessários Formação continuada Dificuldades Temas trabalhados Igualdade Conclusão Craidy e Kaercher (2001) apontam que vivemos em contextos culturais e históricos em transformação constante e as crianças também participam destas transformações, sendo também transformadas pelas experiências vividas, neste sentido, a escola infantil deve estar atenta ao que está a sua volta para que não permita que as diferenças entre as pessoas se transformem em desigualdades. Luciana Zenti (2002) afirma que as características atribuídas aos indivíduos não passam de estereótipos, conceitos construídos socialmente. Segundo ela, estabelecer modelos imutáveis pode acarretar na difusão de preconceitos, uma vez que a escola é um dos lugares que contribuem em grande parte para a constituição da personalidade do indivíduo. Pesquisa de Zagury (2006) constatou que mais da metade dos docentes sentem-se despreparados para trabalhar a educação sexual, e o percentual de professores motivados é um dos menores com relação a outros temas transversais. Segundo sua pesquisa, a educação sexual apresentou os percentuais mais baixos de motivação e aptidão, e segundo os docentes, para trabalhá-la é necessário que haja discussões filosóficas, políticas, éticas e culturais, além de encontrar uma forma adequada para trabalhar tais questões. Neste sentido, esta pesquisa buscou identificar as práticas docentes que valorizam as relações de gênero nas escolas de Brasília -DF. Para tanto, foram entrevistados em 1 Universidade Católica de Brasília UCB. E-mail: jullianaallves@hotmail.com
profundidade 16 professores (13 de escolas particulares e 3 de escolas públicas) através de um questionário de formato aberto e tinha por base as atitudes e conhecimentos docentes acerca da temática Gênero, bem como suas concepções e dificuldades à respeito do tema e os temas transversais mais trabalhados. Debates, acompanhamento de notícias locais e conversas informais com docentes que atuam na área foram as fontes complementares de pesquisa. A análise dos questionários revelou que mais da metade dos docentes não reconhecem a diferença entre sexo e gênero, e contraditoriamente, 75% destes docentes afirmam possuir conhecimentos necessários para subsidiar o trabalho da igualdade de gênero nas escolas. Quanto aos conhecimentos necessários para a prática docente que valoriza as questões de gênero, os professores apontaram como principais: conhecer as etapas do desenvolvimento da criança e a influência do meio onde vivem, psicomotricidade, esquema corporal, princípios de cidadania e valores, origens das raças e conhecimento cultural local, fatos históricos (direito da mulher ao voto foi um dos exemplos citados), percepção do valor social e individual de cada um e a conscientização da força docente nos processos de mudança. Na pesquisa constatou-se que mais da metade dos docentes não tem possibilidade tanto condicional quanto de tempo para realizar cursos de capacitação, para participar de eventos educativos e oficinas, bem como não possuem tempo para ler outros tipos de livros ou freqüentar cinema e teatros, e os mesmos não contam com o apoio da gestão das escolas, exceto as escolas públicas que agora contam com o apoio do governo para a formação continuada. Um fator relevante identificado na pesquisa são as dificuldades que os docentes encontram para desenvolver a conscientização da igualdade de gênero nos alunos, 100% dos docentes afirmaram que a principal dificuldade está no relacionamento com os pais. Aqui temos um problema clássico para educação relação escola e família. Hoje o que encontramos, via de regra, é uma relação onde a escola culpa a família e a família, por sua vez, culpa a escola. Entre as dificuldades encontradas, os docentes apontaram também a falta de acompanhamento dos pais, os valores morais da família que
contradizem os que são passados pela escola, a influência negativa dos meios de comunicação, a discriminação e em alguns casos o tratamento diferenciado que a própria escola dá para as crianças. Quanto aos temas transversais, todos os docentes trabalham temas relacionados ao Meio Ambiente e á Ética e Cidadania, pouco mais da metade dos docentes trabalham questões de direitos e deveres, e menos da metade trabalham questões ligadas ao trânsito e ás eleições. A orientação sexual é trabalhada por apenas 12,5% dos docentes, o que constata mais uma vez a dificuldade dos docentes em trabalhar questões ligadas á construção ou reconstrução de valores. De acordo com os depoimentos, apesar de existirem meios para se trabalhar questões de gênero, ainda há uma gama de fatores que interferem o desenvolvimento da igualdade, sendo que os mais perceptíveis são a prevalência de mulheres na área da educação - embora o número de homens esteja aumentando e a disparidade do grau de instrução e de emprego, daí podemos perceber vários outros fatores de impedimento como já citado pelos entrevistados: resistência e oposição entre valores familiares e escolares, influência dos meios de comunicação, entre outros. Considerando que a escola deve proporcionar o pleno desenvolvimento do educando, e que a educação é papel da família e do Estado, a Gestão Participativa e as iniciativas de cidadania como conselhos escolares, por exemplo, devem ser atuantes efetivos na escola, a educação ambiental que é um tema focado também pode relacionarse a questões de gênero e noções de igualdade, para tanto a participação da família e a colaboração da gestão das escolas são imprescindíveis. Trabalhando em parceria com a família e a sociedade, a escola pode desenvolver um bom trabalho independente da disponibilidade de materiais, pois existem escolas que se apossam das iniciativas do governo e apostam numa pedagogia de mudança que objetiva a construção de um mundo igualitário e cidadã. O diálogo e a problematização dos aspectos sociais, culturais e psicológicos dos conflitos de gênero podem prevenir e atuar contra a discriminação e o preconceito. É importante que a igualdade de gênero seja trabalhada de maneira constante e a abarcar todas as disciplinas, não apenas em temas transversais e que os docentes sejam capacitados para saber lidar e trabalhar estas questões.
Referências BARROSO, Carmem. Metas de desenvolvimento do milênio, educação e igualdade de gênero. Cadernos de Pesquisa, v. 34, n. 123, set./dez. 2004, p. 573-582. BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. Tradução Maria Helena Kühner. Rio de Janeiro: Bertrand. Brasil, 1999. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da república federativa do Brasil. 19. ed Rio de Janeiro: DP&A, 2005. 405 p.. Parâmetros curriculares nacionais. Brasília, DF: MEC : SEF, 1997. 10v CRAIDY, Carmem Maria; KAERCHER, Gládis Elise P. da Silva (Coord). Educação infantil: pra que te quero?. Porto Alegre, RS: Artmed, 2001. 164 p. FERNANDEZ, Alicia. Aprendizagem também é uma questão de gênero. Revista NOVA ESCOLA, Ed. 207, nov. 2007. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/pdf/0207/falamestre.pdf. Acessado em 13/09/2008. FREIRE, Paulo. Educação e mudança. 11. ed Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1983. 79p. JAGSTAIDT, VÉRONIQUE. A sexualidade e a criança. São Paulo: Manole, 1987. 253 p. KRAMER, Sônia. (coord.). Com a pré-escola nas mãos: uma alternativa curricular para a educação infantil. 12ª ed. São Paulo: Ática. 1999. LEI de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 3. ed Rio de Janeiro: COLTED, 1968. 565p MAKARENKO, Anton Semionovich. Conferências sobre educação infantil. São Paulo: Moraes, 1981. 95 p. MARIZ, Ricardo Spindola. Se minha mesa falasse - uma análise sobre a força do cotidiano. 1. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001. 45 p. MARIZ, Ricardo Spindola; SIMIÃO, Daniel Schroeter. Seu Mota e a História da Amélia. 1. Ed. Brasília: Movimento de Educação de Base, 2000. 48 p.
MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos."temas transversais" (verbete). Dicionário Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2002. Disponível em: http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=60. Acessado em 13/09/2008. PUPO, Kátia. Programa Ética e Cidadania: Questão de gênero na escola. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/etica/20_pupo.pdf. Acessado em 13/09/08. SOUZA NETO, Samuel ; CARDOZO, Aline Steckelberg ; SILVA, D. B. ; CESANA, Juliana ; BENITES, Larissa Cerignoni ; MOTTA, Adriana Ijano. O magistério como escolha profissional: questões e reflexões. In: Vários organizadores. (Org.). Núcleo de Ensino. São Paulo: UNESP, 2005, v., p. 564-594 SILVEIRA, Maria Lucia da; GODINHO, Tatau (Coord.). Educar para igualdade: Gênero e educação escolar. São Paulo, SP: Prefeitura do Município de São Paulo, 2004. 222 p. (Cadernos da Coordenadoria Especial da Mulher ; 6) ZAGURY, Tânia. O professor refém: para pais e professores entenderem porque fracassa a educação no Brasil. Rio de janeiro, RJ: Record, 2006. 302 p. ZENTI, Luciana. Coisa de menino. Coisa de menina. Será? Revista NOVA ESCOLA, ed. 152, mai. 2002. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0152/aberto/mt_244455.shtml. Acessado em 13/09/2008.