A GEOGRAFIA DO PROFESSOR E A EMANCIPAÇÃO DO CIDADÃO
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- Afonso Cabreira Barata
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1 Jônatas Lima Candido Secretaria de Estado da Educação do Paraná SEED PR A GEOGRAFIA DO PROFESSOR E A EMANCIPAÇÃO DO CIDADÃO INTRODUÇÃO Embora o Ensino de Geografia tenha sido objeto de numerosos estudos, a observação empírica da realidade das aulas da disciplina Geografia na educação básica, permite observar que ainda há uma variedade de questões que demandam uma reflexão e um debate mais aprofundado, com vistas ao maior embasamento teórico e metodológico da pratica profissional do professor de Geografia. Este movimento de reflexão e debate pode contribuir para que o conhecimento geográfico, que compõe o discurso destes professores, de fato promova a emancipação dos alunos, tornando-os cidadãos conscientes de seu papel na sociedade em que estão inseridos. Pode-se supor que a percepção da existência de uma diferença entre o conhecimento geográfico ensinado na escola e aquele elaborado na academia seja habitual a todos aqueles que ingressam num curso superior de Geografia, e preservam, mesmo que parcas, as lembranças da educação básica. A percepção de tal diferença pode ocorrer, pois para que o conhecimento produzido na academia seja ensinado aos alunos da educação básica, faz-se necessário que o mesmo passe por uma adequação didático-pedagógica, e atenda às demandas cognitivas dos alunos do ensino fundamental e médio. O entendimento da referida diferença perpassa pela compreensão do desenvolvimento do Ensino de Geografia e sua inserção na educação escolar, o que em parte se faz a partir do conhecimento da trajetória do desenvolvimento do próprio conhecimento geográfico, ou seja, de seus debates teórico-metodológicos, de suas correntes e vertentes. Muitos estudos têm apontado para as limitações do Ensino de Geografia, no sentido de evidenciar a disparidade entre a Geografia das salas de aula da educação básica e aquela elaborada nos círculos acadêmicos. 1
2 Pode ser inquietante perceber que está para além da referida adequação didático-pedagógica a diferença entre a geografia acadêmica e aquela a que se pode chamar de geografia escolar. É possível até mesmo questionar a respeito de um provável excesso de simplificação que acaba por despojar o conhecimento geográfico de sua reflexão dialética acerca da realidade, o que distancia a geografia, ensinado aos alunos, da realidade social. Um paradoxo já que tal fato pode dificultar o preparo do educando para o exercício da cidadania. Percebe-se então que o conhecimento geográfico, sob a forma de conteúdos, presentes nas grades curriculares, nos livros didáticos, nas propostas e diretrizes curriculares, não estariam acompanhando os movimentos do debate geográfico. Exemplo disso são os trabalhos que mostram que o debate da chamada Geografia Crítica não conseguiu se estabelecer na geografia escolar. De acordo com a compreensão do Estado brasileiro, uma das finalidades da educação escolar é o preparo do educando para o exercício da cidadania, o que é possível constatar a partir da leitura do excerto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Embora o texto da lei apresente mais de um termo que mereça questionamentos e reflexões, nos ateremos ao termo cidadania para fins desta pesquisa. Assim, cabe questionar a respeito do papel que o professor de geografia desempenha para que tal finalidade seja alcançada, uma vez que a geografia é um dos componentes curriculares da educação escolar, da qual trata a citada lei. Cumpre salientar que neste estudo a cidadania é entendida segundo a definição de Katuta (1997, p. 23) [...] entendemos o conceito de cidadania com um direito resguardado pelas leis do Estado Nacional, mas a ser construído, através do acesso à cultura letrada da nossa sociedade, de informações e práticas sociais mais democráticas. Supõe-se que a primeira vista a geografia se apresenta com a disciplina que, dentre as demais que compõe as grades curriculares, estaria apta a desempenhar esse papel, o de promoção 2
3 da cidadania entre os alunos, e tal suposição se faz em razão da hegemonia da vertente crítica da Geografia. A denominação Geografia Crítica deriva do fato de que a mesma [...] priorizou a crítica, seja à Geografia Tradicional, seja às estruturas sociais e espaciais desiguais e injustas da sociedade brasileira, e, terceiro-mundista em geral. [...]. (KAERCHER, 2004, p.36). Esta breve definição de Geografia Crítica pode tornar mais difícil a desvinculação entre a geografia ensinada na Educação escolar e a finalidade desta, qual seja a promoção da cidadania. Entretanto e necessário ter cautela, pois como argumenta Katuta (1997, p. 31) [...] muitos docentes, empunhando a bandeira de um discurso de Educação para a cidadania, equivocadamente, deixaram de ensinar os alunos. Realizam discursos panfletários sobre movimentos sociais e participação política, contribuindo assim, ainda mais, para a ineficiência do ensino e inviabilizando a construção da cidadania. Kaercher (2004, p ), ao refletir sobre a ação docente do professor de Geografia sob a égide da Geografia Critica, também realiza importante contribuição para um entendimento menos ortodoxo do papel do professor de Geografia na busca da emancipação cidadão de seu aluno, de acordo com esse autor A educação incute nos alunos modos de pensar e de agir (e aqui não cabe discutir o quão sensata ou insensatamente nós educadores operacionalizamos isso, até porque a discussão acerca do que seja bom senso também seria interminável já que todos os educadores se auto-intitulam como portadores do bom senso ). O fato é que, em Educação, sempre estamos, ainda que em nome da liberdade, do bem, etc. seja qual for a palavra-mestra que adotarmos -, a dizer o que os outros, sejam colegas professores, ou alunos, devem fazer. Onde está a ciência nesse terreno tão comum do aconselhamento paternalista (o bom senso ) em que a Educação e nós da Geografia em nada escapamos disso tão facilmente se intromete? Quanta domesticação de corpos e doutrinação de mentes fizemos com nossos alunos em nome de princípios tão nobres e no geral bem intencionados - como a liberdade, democracia, Geografia crítica, cidadania, ensinar a pensar, etc.? Parece-me que, mais uma vez, na sala de aula, ainda que em nome da ciência ou do conhecimento, estamos mais próximos da ideologia, entendida aqui como uma representação/idealização indemonstrável do objeto, representação a partir da qual a relação com o objeto é elaborada/criada. Um ato de fé, portanto, que vai além da discussão baseada em argumentos lógicos/racionais que, supostamente, caracterizam a atividade racional docente. Eis o desafio, preparar o educando para o exercício da cidadania por meio do ensino de uma forma de compreensão do mundo que foi historicamente elaborada (no caso aqui apresentado 3
4 o conhecimento geográfico), e fazer isso evidenciando a existência de uma pluralidade de formas de compreensão do mundo, e que essas formas são compostas por verdades que só adquirem o status de verdade numa dada conjuntura. OBJETIVOS Ainda que se tenha elegido, como objeto de pesquisa, a atuação do professor de geografia, não serão abordadas e nem sugeridas metodologias para o ensino de Geografia. É igualmente importante frisar que não há aqui a pretensão de realizar um estudo inédito, mas sim de contribuir para a reflexão sobre o Ensino de Geografia, sem desmerecer os esforços empreendidos por aqueles que encetaram a tarefa de realizar este debate. Faz-se necessário mencionar que este estudo parte da concepção de que a produção do conhecimento deve ser motivada pela possibilidade de seus resultados servirem a intervenção na realidade, podendo modificá-la ou não, e sendo assim não se acredita na inexistência de intencionalidade (s), mesmo que essa(s) não esteja aparente em trabalhos despretensiosos. Nesse sentido, a presente pesquisa tem por objetivo evidenciar a compreensão que os professores de geografia tem do conhecimento geográfico, de suas origens, de sua espistemologia, de suas finalidades, de suas possibilidades e, em certa medida, do entendimento que os professores de geografia têm em relação ao papel que desempenham. Dito de outra forma, quer-se com essa pesquisa conhecer o modo como professores de Geografia compreendem o ofício que exercem, ou seja, qual a imagem que eles têm da Geografia que ensinam e quais as perspectivas deles em relação às possibilidades do conhecimento geográfico servir à emancipação cidadã de seus alunos, uma vez que, em tese, esse é um dos objetivos da educação, da qual faz parte o Ensino de Geografia. Por esta razão, ouvi-los (os professores de Geografia) pode auxiliar na compreensão das limitações e possibilidades que se colocam ao Ensino de Geografia. METODOLOGIAS Serão realizadas entrevistas com os professores de Geografia que atuam no ensino fundamental da rede de ensino pública estadual da cidade de Londrina (PR). As entrevistas 4
5 serão realizadas com professores de cinco escolas (uma em cada região de Londrina: Norte, Sul, Leste, Oeste e Centro), as quais, segundo informações disponibilizadas pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED PR), possuíam o maior número de alunos de cada região da cidade. As entrevistas serão realizadas com base em questionário semi estruturado previamente elaborado, com perguntas referentes à formação docente, atuação profissional e considerações pessoais a respeito do Ensino de Geografia. Nome da Escola Número de Alunos Região da Cidade Vicente Rijo 1680 Centro Maria do Rosário Castaldi 1389 Oeste Olympia Morais Tormenta 1044 Norte Maria José B. Aguilera 726 Sul Carlos de Almeida 525 Leste Quadro 1 Nome, número de alunos e Região onde se localizam as escolas onde atuam os professores que serão entrevistados Fonte: Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED - PR), 2009 Organização: CANDIDO, J. L. 5
6 Mapa 1 Cidade de Londrina com localização das escolas onde atuam os professores que serão entrevistados Fonte: Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina (IPPUL) / Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED - PR), 2009 Organização: CANDIDO, J. L. 6
7 RESULTADOS PRELIMINARES Esta pesquisa encontra-se em fase inicial, em que se realiza a discussão teórica e o levantamento de dados. A realização das entrevistas, parte empírica desse estudo, em razão das particularidades do calendário escolar do ano de 2010 (em que se estabelece o encerramento do 1 semestre do ano letivo de 2010 no dia 16/07), foram postergadas para o mês de agosto de BIBLIOGRAFIA BRASIL. Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: < Acesso em: 23 abr CAPEL, H. Filosofía y ciencia em la geografía contemporánea. Barcelona: Barcanova, FONTES. R. M. P. do A. Da geografia que se ensina à gênese da geografia moderna. Florianópolis: UFSC, FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 29. Ed. São Paulo: Paz e terra, KAERCHER, N. A. A geografia escolar na pratica docente: a utopia e os obstáculos epistemológicos da geografia crítica Tese (Doutorado em Geografia) Universidade de São Paulo, São Paulo. KATUTA, A. M. Ensino de geografia X mapas: em busca de uma reconciliação Dissertação (Mestrado em Geografia) Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Presidente Prudente.. O estrangeiro no mundo da geografia Tese (Doutorado em Geografia) Universidade de São Paulo, São Paulo. LACOSTE, Y. Geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Campinas: Papirus, PARANÁ. Consulta escolas. Disponível em: < Acesso em: 23 abr
8 PEREIRA, N. M. et al. (Orgs.). Ler e escrever: compromisso no ensino médio. Porto Alegre: UFRGS, SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 7 ed. Campinas: Autores Associados, Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre educação e política. 22 ed. São Paulo: Cortez: Autores Associados, VESENTINI, J. W. Para uma geografia crítica na escola. São Paulo: Ática, (Org.). O ensino de geografia no século XXI. Campinas: Papirus,
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