O OLHAR DE UM FUTURO DOCENTE SOBRE A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: UMA EXPERIÊNCIA VIVIDA NO PROJETO RONDON

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1 O OLHAR DE UM FUTURO DOCENTE SOBRE A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: UMA EXPERIÊNCIA VIVIDA NO PROJETO RONDON Romaro Antonio Silva¹ Instituto Federal de Ciência Educação e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais Campus Rio Pomba romaro18cefet@yahoo.com.br Paula Reis de Miranda² Instituto Federal de Ciência Educação e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais Campus Rio Pomba paula.reis@ifsudestemg.edu.br Resumo: O presente relato apresenta a experiência de um Licenciando em Matemática do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais - Campus Rio Pomba ao participar do PROJETO RODON (Missão Centro-Nordeste). A experiência teve como foco a contextualização de conceitos e saberes da Educação Matemática com professores da cidade de São Valério da Natividade no estado de Tocantins. Neste projeto o licenciando teve a oportunidade de trabalhar as faces da Educação Matemática junto a professores da educação básica da rede estadual e municipal. Encontram-se aqui os principais tópicos da realização desta atividade, além de reflexões e relato feitos pelos professores a respeito dos métodos de ensino utilizados na cidade e observados pelos executores do trabalho. Palavras-chave: Projeto Rodon; Educação Matemática; Métodos de Ensino. INTRODUÇÃO Este relato é resultado de uma atividade, realizada durante ações do Projeto Rondon aplicada por um Licenciando em Matemática do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais Campus Rio Pomba, juntamente com uma aluna do curso de Pedagogia da Universidade Salgado Filho de São Gonçalo no Rio de Janeiro (UNIVERSO- RJ) a professores da Educação Básica das escolas municipais e estaduais na cidade de São Valério da Natividade ³ no estado de Tocantins. O Projeto Rondon é um projeto de integração social que envolve a participação voluntária de estudantes universitários na busca de soluções que contribuam para o desenvolvimento sustentável de comunidades carentes e ampliem o bem-estar da ¹ Aluno do curso de Licenciatura em Matemática do Instituto Federal de Ciência Educação e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais Campus Rio Pomba. ² Professora Efetiva do Instituto Federal de Ciência Educação e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais Campus Rio Pomba. 1

2 ³ A Cidade de São Valério da Natividade está localizada na região sudeste do estado, com uma população de aproximadamente cinco mil habitantes sendo a agropecuária a principal economia da cidade, São Valério conta com duas escolas estaduais e cinco escolas municipais. população, e busca aproximar esses estudantes da realidade do País, além de contribuir, também, para o desenvolvimento das comunidades assistidas. Este projeto é realizado em estreita parceria entre diversos Ministérios e o imprescindível apoio das forças armadas, que proporcionam o suporte logístico e a segurança necessárias nas operações. Conta, ainda, com a colaboração da União Nacional dos Estudantes, dos Governos Estaduais, Prefeituras Municipais, Organizações Não-Governamentais e Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público. (BRASIL, 2010). PROJETO RONDON: Extensão e Cidadania As atividades realizadas pelos alunos e professores concentram-se nas áreas de comunicação, cultura, direitos humanos e justiça, educação, meio ambiente, saúde, tecnologia, produção e trabalho. As ações do projeto são orientadas pelo Comitê de Orientação e Supervisão, criado por Decreto Presidencial de 14 de janeiro de O COS, como é conhecido, é constituído por representantes dos Ministérios da Defesa, que o presidem, do Desenvolvimento Agrário, Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Educação, Esporte, Integração Nacional, Meio Ambiente, Saúde e da Secretaria- Geral da Presidência da República. A Operação Centro Nordeste aconteceu entre os meses de janeiro e fevereiro de 2010, sendo por si um projeto de extensão universitária que desta forma oferece ao aluno uma oportunidade de colocar em prática os conhecimentos adquiridos na sala de aula, o que na maioria das vezes as universidades por si só não tem estrutura para auxiliar FREIRE destaca a importância da ampliação dos conhecimento para além da escola: O conhecimento não se estende do que se julga sabedor até aqueles que se julga não saberem; o conhecimento se constitui nas relações homem-mundo, as relações de transformação, e se aperfeiçoa na problematização crítica destas relações. (FREIRE, 2006: p36). 2

3 O Projeto Rondon tornou-se um projeto de referencia no âmbito social por seu método de ação baseadono trabalho voluntário. Alguns autores contextualizam em suas obras a relevância de universitários participarem de projetos extensionistas: Os projetos de Extensão Universitária possibilitam a formação profissional dos cidadãos, juntamente com a sociedade, criando espaços para diminuir as desigualdades sociais através da produção de conhecimento e resultando na conquista crescente da capacidade de analisar criticamente as problemáticas sociais. Através da extensão a Universidade cria um diálogo com a sociedade, em especial com a escola, sendo esta representada pelos professores, alunos e toda a comunidade escolar. Aos acadêmicos extensionistas, é despendida a oportunidade de conviver com a realidade social e prática profissional e aos professores garante a busca constante de formação através da análise da vivência prática. (ANDRADE;CHINEN;FERREIRA, 2007, p1). A CONTEXTUALIZAÇÃO DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA PARA PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA A proposta desta atividade surgiu a partir de uma discussão com os professores locais sobre o que seria a Educação Matemática na visão de um educador, A partir das repostas dadas a este questionamento, resolveu-se fazer um estudo sobre as concepções de alguns autores sobre o tema em questão e as aplicações disso à realidade local. Então montou uma proposta baseada em mini-cursos com atividades lúdicas, palestras e seminários que abordassem o tema e viessem propiciar aos professores reginais uma melhor contextualização sobre o determinado tema. Como primeira investigação, procurou-se referências bibliográficas relacionadas à Educação Matemática no acervo das escolas da cidade, porém entre tordos os acervos pesquisado foi encontrada apenas uma revista que abordasse o tema, a qual fazia parte dos materiais de uma professora da rede municipal e dela utilizaram os textos para as discussões nos seminários e fonte bibliográfica das palestras. Para início do seminário utilizou-se as contribuições de DANTE (1991) presente na revista que permitiram uma reflexão sobre a perspectiva de que o tema educação matemática é muito abrangente e de difícil definição, a partir de debates sobre a 3

4 fundamentação de cada um sobre educação matemática analisou-se a percepção de CARVALHO (1991); em que aponta os fios condutores para a identificação da Educação Matemática e chama a atenção para a formação de professores como o problema mais importante desta área de estudo. Contudo, DINIZ (1991); traz a tona uma relevante discussão sobre a resolução de problemas no ensino da matemática que acarreta um déficit na aprendizagem. Baseando-se em como resolver os problemas matemáticos na sala de aula, que se levantaram algumas discussões dentro do seminário sobre os métodos atuais de resolução de problemas utilizados na comunidade local, uma professora disse: Embora existam diversos métodos de resolução de problemas, nas minha aulas utilizo somente o método tradicional, para que o aluno aprenda a resolver os exercícios através da decoração dos algoritmos estruturados, ou do contrário não terei êxito nas aulas. Então uma professora de outra escola disse: Nas minhas aulas deixo que primeiro o aluno tente resolver os exercícios pelo método que achar mais fácil, depois vou ao quadro e discuto com eles o método usado por cada um. De acordo com esta citação O centro de Educação matemática é aprendizagem do aluno e não o modo de falar sobre Matemática para os alunos.(baldino, 1991, p55). Embasado nos autores destacados dentro da revista Temas & Debates, única fonte de pesquisa em mãos na hora da atividade, resolveu-se então aplicar uma atividade com duração de 8 horas a vinte professores da Educação Básica. A aplicação foi realizada na Escola Municipal Getulio Vargas e na Escola Estadual José Lopes Chaves no dia 03 de fevereiro de A atividade destacou o lúdico no ensino da matemática, trabalhando com os professores o uso de material concreto como meio facilitador da aprendizagem e fez-se o uso de palitinhos de dentes como um instrumento dinâmico para se trabalhar equações e também o raciocínio lógico com os alunos. Aproveitando a oportunidade, discutiu-se o uso destes materiais na sala de aula e foram analisados os benefícios do ensino com material concreto encontrando-se algumas discordâncias de opiniãos quanto ao uso deste material, conforme afirma Magina e Spinillo: O material concreto não é o único e nem o mais importante recurso na compreensão matemática, como usualmente se supõe. Não se deseja 4

5 dizer com isso que tal recurso deva ser abolido da sala de aula, mas que seu uso seja analisado de forma crítica, avaliando-se sua efetiva contribuição para a compreensão matemática. (MAGINA,SPINILLO; 2004: p11) Percebeu-se o entusiasmo dos professores, além de participações com discussões vinculadas à realidade dos mesmos, que afirmaram receberam muito incentivo da direção de ambas as escolas locais para este tipo de atividade, visto que a realidade dos alunos naquela região muita das vezes é de carência e de abandono. Porém os professores descreveram não ter técnicas de ensino da matemática que facilitem a aprendizagem. Em ambas as escolas em que se aplicaram as atividades, discutiram a linha de investigações matemáticas, onde partimos do princípio de que os educadores definiriam o que seriam as investigações matemáticas. Os professores afirmaram que investigações seriam os meios pelos quais o professor observa os métodos de ensino e constrói caminhos para facilitar a aprendizagem do aluno. Essa afirmação condiz com as colocações de FROTA (2006) sobre investigações: As práticas investigativas introduzidas na sala de aula de matemática parecem ser cruciais para o desenvolvimento de uma postura especulativa em matemática, podendo gerar também, um foco de aula, do professor para o aluno, no sentido de uma aula mais colaborativa. (FROTA, 2005, p2) Encerramos as atividades e as discussões com os professores retomando o que seria a Educação Matemática, discutindo meios que facilitassem o ensino da geometria para os alunos do ensino fundamental, visto que segundo os professores estava difícil trabalhar este tema com os alunos. Então analisaram os PCN s e assim tivemos um meio dinâmico para tentativas de incentivo aos alunos para a aprendizagem:...é preciso, que o aluno perceba a matemática como um sistema de códigos e regras que a torna uma linguagem de comunicação de idéias e permite modelar a realidade e interpretá-la. Assim, os números e a álgebra como sistemas de código, a geometria na leitura e interpretação do espaço, e estatística e a probabilidade na compreensão de fenômenos em universos finitos. (BRASIL, 1999, p.17). 5

6 Nesta perspectiva, discutiu-se a opção de trabalhar com o TANGRAM como atividade inicial do ensino da Geometria. Aos participantes construíram vários modelos de TANGRAM e discutiram meios de inseri-lo no ensino, encerraram as atividades com a conclusão de que uma das formas de contribuir para a melhora do ensino de Matemática no Brasil está no desenvolvimento de estudos de casos. Pesquisar realidades locais, compreender como metodologias utilizadas são, ou não, efetivas no processo ensino-aprendizagem trazem ao conhecimento dos pesquisadores e da comunidade acadêmica uma melhor visão sobre o ensino de matemática. Nesse sentido: um estudo de caso visa conhecer uma entidade bem definida como uma pessoa, uma instituição, um curso, uma disciplina, um sistema educativo, uma política ou qualquer outra unidade social. O seu objectivo é compreender em profundidade o como e os porquês dessa entidade (...) (PONTE, 2006, p112). 1) Discussões Sobre Educação Matemática 2) Atividades com o uso de material Concreto 6

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Pretendeu-se com este relato mostrar de forma sintética a realidade vivenciada por educadores em uma determinada região do norte de nosso país. Espera-se que este relato possa servir de entusiasmo aos educadores mostrando a realidade encontrada e principalmente a falta de técnicas e conhecimento da área na vida de professores de regiões de pouco acesso. Também vem levantar discussões sobre a necessidade da formação continuada na área profissional de um educador além, é claro, de salientar a importância de projetos de extensão na vida acadêmica de um licenciando. O relato mostrou que, além de contribuir com a comunidade local, o projeto contribuiu na formação do licenciando como futuro educador. REFERÊNCIAS ANDRADE, D.C.P.;CHINEN, U.S.R.; FERREIRA,S.A.M. A Importância de Projetos de Extensão como Método de Formação Continuada de Docentes. In: Anais do IV Seminário de Teoria e Prática de Ensino Universidade e Escola: saberes, cultura e Formação docente. Curitiba, PR, Disponível em acine.pdf Acesso em 13/02/2010. BALDINO, Roberto Ribeiro. Ensino da Matemática ou Educação Matemática. Revista Temas & Debates SBEM, Rio de Janeiro, n.3, ano IV, p.51-60, BRASIL. Ministério da Defesa; Projeto Rondon Operação Centro-Nordeste Disponível em acesso em 06/02/2010. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais (PCN s); Ensino Médio: Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1999 p. 17. CARVALHO, J. B. P. F. O que é Educação Matemática? Matemática, Ensino e Educação. Coleção Temas & Debates, SBEM, ano IV, n.3, p DANTE, L. R. Didática da Resolução de Problemas de matemática. Coleção Temas & Debates, SBEM, 1991, p ano IV, n.3. 7

8 DINIZ, M. I. de S. V. Uma visão do ensino de matemática. Temas & Debates, Rio Claro, v.4, n.3, p.27-30, FREIRE, Paulo. Extensão ou Comunicação. (pag. 36); 13a Edição. São Paulo: Paz e Terra FROTA, M.C.R. (2005) EXPERIÊNCIA MATEMÁTICA E INVESTIGAÇÃO, MATEMÁTICA Disponível em: pag. 2; acesso em 24/02/2010. MAGINA, Sandra Maria Pinto ; SPINILLO, Alina Galvão. Alguns 'mitos' sobre a Educação Matemática e suas consequências para o Ensino Fundamental. In: Regina Maria Pavanello. (Org.). Matemática nas Séries Inicias do Ensino Fundamental: A pesquisa e a sala de aula. 1 ed. São Paulo: Ed. SBEM, 2004, v. 2, p Ponte, J. P. Estudos de caso em educação matemática. Bolema, 25º, 1999, p