AG no 200.2010.023.561-9/001 ACÓRDÃO sql Poder Judiciário do Estado da Paraíba Tribunal de Justiça Gabinete da Desembargadora Maria das Neves do Egito de A. D. Ferreira AGRAVO DE INSTRUMENTO No 200.2010.023.561-9/001 - CAPITAL RELATORA: Desa Maria das Neves do Egito de A. D. Ferreira AGRAVANTES: Sara Regina da Silva Lehmkuhl e Kleber Monteiro do Rego ADVOGADOS: Rodrigo Paredes Moreira, Angélica G. Bello Butrus e outro AGRAVADA: Daiana Maica da Silva ADVOGADOS: Carlos Frederico Nébrega Farias, Gláucia Fernanda N. Martins e outros AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRATO DE COMODATO POR PRAZO INDETERMINADO. NECESSIDADE DE NOTIFICAÇÃO. PRESSUPOSTO DE DESENVOLVIMENTO VÁLIDO E REGULAR DA AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. INEXISTÊNCIA DE AVISO DE RECEBIMENTO DA NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL, QUE, POR SINAL, É APÓCRIFA. PROVIMENTO. 1. "O manejo da ação de reintegração de posse, fundada na existência do contrato de comodato por tempo indeterminado, tem como requisito indispensável a notificação prévia dos comodatários, necessária a comprovar a pratica do esbulho, se eles injustamente continuarem na posse do bem. A ausência da notificação conduz à extinção do processo, sem exame do mérito." (1-3MG, Número do processo: 1.0245.06.090330-0/001(1), Numeração Única: 0903300-42.2006.8.13.0245, Rel. Des. GUILHERME
AG no 200,2010.023.561-9/001 2 LUCIANO BAETA NU 17.01.2007). e4.12.2006, Publicação: 2. Recurso provido. VISTOS, relatados e discutidos estes autos. ACORDA a Segunda Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça da Paraíba, à unanimidade, dar provimento ao agravo. ' Cuida-se de agravo de instrumento interposto por SARA REGINA DA SILVA LEHMKUHL e KLEBER MONTEIRO DO REGO cujo objetivo é reformar liminar deferida pelo Juízo de Direito da 4a Vara Cível da Capital, nos autos da Ação de Reintegração de Posse movida por DAIANA MAICA DA SILVA contra os agravantes. Os recorrentes fulcram o pleito de reforma do decisum nos seguintes aspectos: a) a concessão de liminar inaudita altera pars, sob o fundamento de que os recorrentes estar-se-iam esquivando do ato citatório, não procede; b) a notificação extrajudicial, por meio da qual foi rescindido o comodato, seria apócrifa e não haveria nos autos comprovação do seu recebimento. Esta relatoria indeferiu o pedido de efeito suspensivo, às 68/75. Contrarrazões lançadas às 74/80. recurso. Parecer da Procuradoria de Justiça pelo desprovimento do É o relatório. VOTO: Desa MARIA DAS NEVES DO EGITO DE A. D. FERREIRA Relatora Os autos evidenciam contrato de comodato firmado entre as partes, por meio do qual a recorrida cedeu bem imóvel de sua propriedade a fim de que fosse utilizado pelos recorrentes. Tanto é assim que na exordial da ação de
AG no 200.2010.023.561-9/001 3 reintegração de posse a agravada fez constar que "o comásto -l\irm clo'-éntre as partes era verbal e por prazo indeterminado" (fls. 18y tendo8iib os réus, ora recorrentes, segundo afirma a parte, notificados extraj~ente da rescisão do sobredito pacto no dia 29 de junho de 2010, sendo-lhes concedidos trinta dias para a desocupação do imóvel objeto da lide. No caso dos autos, contudo, como bem salientam os agravantes, inexiste nos autos o aviso de recebimento da notificação extrajudicial, que, por sinal, é apócrifa. Às fls. 81v, há documento comprobatório da sua postagem, mas não do seu recebimento, imprescindível à rescisão do comodato, como apontam os artigos 581 e 582 do Código Civil, in verbis: Art. 581. Se o comodato não tiver prazo convencional, presumir-se-lhe-á o necessário para o uso concedido; não podendo o comodante, salvo necessidade imprevista e urgente, reconhecida pelo juiz, suspender o uso e gozo da coisa emprestada, antes de findo o prazo convencional, ou o que se determine pelo uso outorgado. Art. 582. O comodatário é obrigado a conservar, como se sua própria fora, a coisa emprestada, não. podendo usá-la senão de acordo com o contrato ou a natureza dela, sob pena de responder por perdas e danos. O comodatário constituído em mora, além de por ela responder, pagará, até restituila, o aluguel da coisa que for arbitrado pelo comoda nte. Nelson Rolsenvald, ao comentar o artigo 581 do Código Civil, explica o seguinte: Nos comodatos com prazo, não há controvérsias. Alcançado o termo contratual, a devolução se impõe sob pena de transformação da posse direta e justa em injusta pela precariedade (art. 1.200 do CC). Incidindo o esbulho pela recusa na restituição da coisa, poderá o comodante ajuizar ação de reintegração de posse. É de bom alvitre que seja ajuizada ação até trinta dias após o alcance do prazo, pois, sendo o mesmo superado, presumir-se-á que houve a prorrogação da avença, sendo necessária a interpelação do comodatário para a propositura da demanda.
AG no 200.2010.023.561-9/001 4 Já nos contratos sem prazo'çie4fem principio parecer simples a retomada da c endo bastante a interpelação do comodatário pelo princípio da satisfação imediata (art. 331 do CC). Todavia,, se imaginarmos o comodato de um imóvel rural, concedido em atenção às necessidades econômicas do comodatário, alcançaríamos o absurdo se admitíssemos a possibilidade de resilição unilateral do contrato a qualquer tempo. Por isso, a norma enfatiza que, na ausência do prazo convencional, o termo moral será o necessário para o alcance das finalidades do uso concedido. Voltando ao exemplo da fazenda, no mínimo um ano para o planto e a colheita da safra. Tempo de restituição inferior implicaria lesão ao princípio da boa-fé objetiva pelo abuso do direito potestativo de resilição contratual. Temos, portanto, uma hipótese que lembra aquela genericamente prevista para o exercício da denúncia (art. 473, parágrafo único, do CC), com a diferença de que o comodatário não precisa demonstrar que efetuou "investimentos consideráveis" para a execução do contrato, o que atentaria contra a própria lógica do instituto.' Segundo a unívoca jurisprudência pátria, "o manejo da ação de reintegração de posse, fundada na existência do Cbntrato de comodato por tempo indeterminado, tem como requisito indispensável a notificação prévia dos comodatários, necessária a comprovar a pratica do esbulho, se eles injustamente continuarem na posse do bem. A ausência da notificação conduz à extinção do processo, sem exame do mérito."' A propósito, cito outros precedentes nesse sentido: AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE - SUPOSTO COMODATO - AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO VÁLIDA PARA DESOCUPAÇÃO - ESBULHO NÃO CARACTERIZADO - ÔNUS A PROVA DA PARTE AUTORA (ART. 333, I, DO CPC) - SENTENÇA MANTIDA. A notificação é o próprio ato de constituição em mora do devedor, de modo que até o seu efetivo recebimento e o transcurso do prazo nela assinalado, Ia Código Civil Comentado Doutrina e Jurisprudência, Coordenador Ministro Cezar Peluso, Manole Editora, 4a Edição, fls. 617. 2 TJMG, Número do processo: 1.0245.06.090330-0/001(1), Numeração Única: 0903300-42.2006.8.13.0245, Rel. Des. GUILHERME WCIANO BAETA NUNES, jul. 04.12.2006, Publicação: 17.01.2007.
AG no 200.2010.023.561-9/001 não comete o supost como tário qualquer ilícito contratual. A ausênci de nouficção`.-elescaracteriza o esbulho e impõe a extinção do to sem julgamento do mérito por falta de essup,astõ-de desenvolvimento valido e regular do process AÇÃO REIVINDICATÓRIA. CONTRATO DE COMODATO. NÃO CONS 11UIÇÃO EM MORA. POSSE INJUSTA NÃO CONFIGURADA. AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTO DE CONS1ITUIÇÃO E DESENVOLVIMENTO VÁLIDO E REGULAR DO PROCESSO. EXTINÇÃO DO FEITO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. I. Tratando-se de contrato de comodato por prazo indeterminado, o comodante somente estará habilitado a retomar o imóvel, mediante ação reivindicatória, se antes constituir em mora o comodatário. II. A prova da constituição do comodatário em mora é pressuposto de constituição válida e regular do processo em caso de ação reivindicatória proposta com base no art. 1.228 do Código CiviI. 4 Assim, inexistindo, nos autos, o aviso de recebimento da notificação extrajudicial, além de ser ela apócrifa, não há que se falar, ainda que numa análise perfunctória, em esbulho, razão por que não deveria a liminar ser concedida. À luz de tais considerações, dou provimento ao agravo, para, anulando a decisão recorrida, indeferir a liminar nos autos da ação de reintegração de posse. É como voto. Presidiu a Sessão ESTA RELATORA, que participou do julgamento com a Excelentíssima Desembargadora MARIA DE FÁTIMA MORAES BEZERRA CAVALCANTI e com o Excelentíssimo Desembargador MARCOS CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE. 3 TJMG, Número do processo: 1.0024.03.885802-3/001(1), Numeração Única: 8858023-50.2003.8.13.0024, Des. VALDEZ LEITE MACHADO, jul. 26.07.2007, Publicação: 13.08.2007. 4 TJMG, Número do processo: 1.0317.07.079986-9/001(1), Numeração Única: 0799869-33.2007.8.13.0317, Rel. Des. GENEROSO FILHO, Jul. 08/09/2010, Publicação: 27/09/2010.
+4. AG no 200.2010.023.561-9/001 6 Presente à Sessão a Excelentí FÁTIMA MAIA DE FARIAS, Procuradora de Justiça. Doutora LÚCIA DE Sala de Sessões da Segunda Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado dal)araíba, em João Pessoa/PB, 17 de maio de 2011. Desa MARIA DAS NEVES E A. D. FERREIRA
TR1BUt 1AL DE JUSTIÇA slcoordeusmiorla Judiciária Registrado em