Aula 22 Introdução às Licitações e Contratos Públicos Prof. Manoel Messias Peixinho Fernanda A. K. Chianca
Introdução A presente aula terá por objetivo apresentar, de forma introdutória, os conceitos e modalidades de licitações e contratos públicos. Neste sentido, serão apresentados: O conceito e a natureza jurídica da licitação; A disciplina normativa das licitações nos âmbitos constitucional e infra legal; Os princípios norteadores do procedimento licitatório; As modalidades de licitação; Hipóteses de dispensa e inexigibilidade, anulação e revogação da licitação; Infrações, crimes e penas em que podem incorrer àqueles que desrespeitarem as normas e princípios da licitação; O conceito de contrato administrativo, a relação contratual formada a partir deste e suas espécies e modalidades.
Licitação Conceito: procedimento administrativo vinculado por meio do qual os entes da Administração Pública e aqueles por ela controlados selecionam a melhor proposta entre as oferecidas pelos vários interessados, com dois objetivos a celebração de contrato, ou a obtenção do melhor trabalho técnico, artístico ou científico. Natureza Jurídica: procedimento administrativo com fim seletivo.
Licitação - Disciplina normativa Disciplina normativa constitucional Disciplina normativa legal Art. 22, XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, 1, III. Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações. Lei 8.666/1993 - Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências. Lei 10.520/2002 - Institui, no âmbito da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, nos termos do art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, modalidade de licitação denominada pregão, para aquisição de bens e serviços comuns, e dá outras providências.
Disciplina normativa - Jurisprudência O art. 22, inciso XXVII, da Constituição Federal atribuiu à União a competência para editar normas gerais de licitações e contratos. A legislação questionada não traz regramento geral de contratos administrativos, mas simplesmente determina a publicação de dados básicos dos contratos de obras públicas realizadas em rodovias, portos e aeroportos. Sua incidência é pontual e restrita a contratos específicos da administração pública estadual, carecendo, nesse ponto, de teor de generalidade suficiente para caracterizá-la como norma geral (STF, ADI 2444/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, DJe 02-02-2015).
Legalidade Moralidade Impessoalidade Princípios Igualdade Publicidade Probidade Administrativa Vinculação ao Instrumento Convocatório Julgamento Objetivo
Moralidade e Interesse Público -Jurisprudência Como se sabe, a regra para a contratação pelo poder público é que os contratos sejam precedidos de procedimento licitatório, assegurando a concorrência entre os participantes, com o objetivo de obter a proposta mais vantajosa para a Administração Pública. Por esta razão, as hipóteses de inexigibilidade ou dispensa de licitação são taxativas e não podem ser ampliadas. O bem jurídico tutelado aqui é, em última instância, a própria moralidade administrativa e o interesse público, prescindindo a consumação dos delitos em análise, repita-se, da ocorrência de dano ao erário, uma vez que o interesse público já foi lesado pela ausência de higidez no procedimento licitatório (STF, Rel. Min. Roberto Barroso, Primeira Turma, Dje 05-03-2018).
Princípios - Jurisprudência Ao realizar a aplicação de recursos federais por longo período de tempo com a compra de insumos alimentícios para merenda escolar sem a prévia licitação, a conduta praticada pelos réus afrontou os princípios que regem a licitação, violando, notadamente, os deveres de legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade e da probidade administrativa, nos termo do art. 3º da Lei n. 8.666/93. (STJ, AgInt no AREsp 866891 /AL, Rel. Min. Francisco Falcão, Segundo Turma, Dje 10/06/2016, 10/06/2016)
Licitação - Modalidades Existem 6 modalidades de licitação, quais sejam: concorrência, tomada de preços, convite, concurso, leilão e pregão. Essas modalidades estão expressas em lei, sendo vedada a criação pela Administração de qualquer outra, bem como não podem sofrer combinações entre si.
Licitação - Dispensa A dispensa de licitação está prevista no artigo 24 da Lei de Licitações e configura a possibilidade de contratações pela Administração sem efetuar procedimento licitatório. Diante de lista exaustiva de hipóteses de dispensa de licitação temos: 1. Dispensa em razão do valor do objeto contratual; 2. Dispensa em razão de situações excepcionais; 3. Dispensa em razão do objeto do contrato; 4. Dispensa em razão da pessoa.
Licitação - Inexigibilidade A licitação NÃO poderá ocorrer, nos termos do artigo 25 da Lei de Licitações, quando houver a inviabilidade de competição. Ou seja, quando o objeto da contratação somente puder ser fornecido por uma empresa ou representante exclusivo. Nos termos da Súmula nº 255 do TCU, configura dever do agente público responsável pela contratação a adoção das providências necessárias para confirmar a veracidade da documentação comprobatória da condição de exclusividade.
Dispensa e Inexigibilidade - Jurisprudência A ausência de observância das formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade da licitação somente é passível de sanção quando acarretar contratação indevida e houver demonstração da vontade ilícita do agente em produzir um resultado danoso, o que não foi o caso STF, HC 155020 AgR /DF, Rel. Min. Celso de Mello, Dje 05-11-2018).
Licitação anulação e revogação Anulação: decretada pela própria Administração quando existe no procedimento um vício de legalidade. Não gera obrigação de indenizar por parte da Administração, salvo se o contratado já houver executado parte do objeto até o momento da invalidação. Esta invalidação produzirá efeitos ex tunc (retroativos), comprometendo todos os atos que sucederam ao ato inquinado de vício. Revogação: desfazimento dos efeitos da licitação já concluída, em virtude de critério de ordem administrativa, ou por razões de interesse público. Tais critérios são analisados exclusivamente pelo administrador, à luz das circunstâncias especiais que conduzirem à desistência na contratação. Há, portanto, certa discricionariedade da Administração, ao contrário do que ocorre na anulação.
Licitação infração, crimes e penas No procedimento licitatório várias são as ilegalidades passíveis de serem cometidas, tais como dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade, bem como patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a Administração, dando causa à instauração de licitação ou à celebração de contrato, cuja invalidação vier a ser decretada pelo Poder Judiciário, etc. Nestes casos, deve-se aplicar a respetiva sanção aos infratores. Essas hipóteses estão previstas no na Seção III Dos Crimes e das Penas da Lei nº 8.666/93, compreendendo os arts. 89 à 99. Destaca-se, ainda, o advento da Lei Anticorrupção (lei nº 12.846/2013) que dispõe sobre a responsabilização civil e administrativa de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a Administração Pública.
Contratos Administrativos O substrato básico dos contratos é o acordo de vontades com objetivo determinado, pelo qual as pessoas se comprometem a honrar as obrigações ajustadas. Com o Estado não poderia ser diferente. Sendo pessoa jurídica e, portanto, apta a adquirir direitos e contrair obrigações, tem a linha jurídica necessária que lhe permite figurar como sujeito de contratos. Conceito: ajuste firmado entre a Administração Pública e um particular, regulado basicamente pelo direito público, e tendo por objeto uma atividade que, de alguma forma, traduza interesse público.
Contratos Administrativos relação contratual Possui a relação jurídica do contrato administrativo algumas peculiaridades próprias de sua natureza. Assim é que esse tipo de contrato se reveste das seguintes características: Formalismo Não basta apenas o consenso das partes, mas, ao contrário, é necessário que se observem certos requisitos externos e internos. Comutatividade Existência de equivalência entre as obrigações, previamente ajustadas e conhecidas. Confiança Recíproca (intuitu personae) O contratado é, em tese, o que melhor comprovou condições de contratar com a Administração. Bilateralidade Indicativa de que o contrato administrativo sempre há de traduzir obrigações para ambas as partes.
Contratos Administrativos Contrato de Obras: a obra pública pode ser executada por via direta, (Administração), ou por via indireta (terceiros). Pode se dar através de algumas modalidades, quais sejam, empreitada por preço global, empreitada por preço único, tarefa e empreitada integral. Contrato de serviços: rege-se pelos mesmos princípios e normas aplicáveis aos contratos de obra pública. Trata-se atividade destinada a obter determinada utilidade pública concreta de interesse para a Administração, tais como demolição, conserto, instalação, montagem, operação, conservação,, manutenção, transporte, publicidade, seguro ou trabalhos técnico-profissionais. Contrato de Compras ou Fornecimento: consiste na aquisição pela Administração de bens móveis e Espécies semoventes necessários ao cumprimento de suas atividades. As compras devem ser processadas, mediante um sistema de preços que deverão ser periodicamente publicados na Imprensa Oficial da União, dos Estados ou dois Municípios para orientação da Administração e para facilitar a fiscalização popular. Contrato de alienação: consiste na alienação de bens da Administração a terceiros, que se dá pela transferência da propriedade sob a forma de venda, permuta, doação, dação em pagamento, investidura, cessão ou concessão de domínio. Requisitos: autorização legislativa, avaliação prévia e licitação sob a forma de concorrência. Contrato de concessão: contrato administrativo pelo qual a administração confere ao particular a execução remunerada de serviço público ou de obra pública, ou lhe cede o uso de bem público, para que o explore por sua conta e risco, pelo prazo e nas condições regulamentares e contratuais. Requisitos: prévia licitação.
Conclusões Conclui-se, portanto, que a licitação constitui instrumento fundamental para observância dos princípios norteadores da Administração Pública, quais sejam, legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (art. 37, CF/88) e, principalmente da supremacia do interesse público. Em apenas algumas hipóteses, presentes em rol taxativo na legislação, é que se pode admitir a não realização do procedimento licitatório. Neste mesmo sentido devem ser celebrados os contratos públicos, sempre a buscar a satisfação das necessidades estatais através da prestação dos melhores serviços, obras e produtos pelo menor preço possível. Dentre as espécies de contratos destacam-se os contratos de obras, serviços, compras ou fornecimento, alienação e concessão/ permissão.
Referências Para explorar o tema de forma mais profunda, apresentamos abaixo a bibliografia utilizada na elaboração da aula, bem como demais links para acesso a outros conteúdos relativos ao tema: CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo, 31ª edição. São Paulo: Atlas, 2017 p. 179-189 / 250-334. MEIRELLES, Hely Lopes. Curso de Direito Administrativo. 34ª ed. São Paulo: Malheiros, p. 213-331. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 27 ed. São Paulo: Atlas, 2014.