FUNÇÕES DE ESTADO TERMODINÂMICAS: ENTALPIA E ENERGIA LIVRE Parte 2

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Transcrição:

FUNÇÕES DE ESTADO TERMODINÂMICAS: ENTALPIA E ENERGIA LIVRE Parte 2 [texto baseado nas seções 3.5, 3.6 e 3.9 de Physical Chemistry, P. Atkins e J. de Paula, Freeman 2006] As energias livres de Helmholtz e Gibbs Além da entalpia, duas outras funções de estado são muito utilizadas na termodinâmica, na termoquímica, na físico-química e na bioquímica. Ambas são denominadas energias livres, mas são diferentes e recebem adjetivos de origem histórica, relacionada com físicos que as definiram. A energia livre de Helmholtz, F, é definida como a diferença entre a energia interna e o produto temperatura entropia, F E int TS. A origem do nome energia livre está relacionada não à própria função, mas a sua variação, pois df = de int d(ts) = de int SdT TdS. Se substituirmos de int = dq + dw, da primeira lei da termodinâmica ( conservação de energia ) para fluidos, e lembrarmos que a variação de entropia é definida para um processo reversível como ds dq, temos para uma variação infinitesimal da energia livre de Helmholtz T df = de int SdT TdS = (dq + dw) SdT TdS = (TdS + dw) SdT TdS, ou seja, df = dw SdT. Em um processo a temperatura constante (dt = 0), a energia livre de Helmholtz é a energia livre para se transformar em trabalho mecânico! Ou seja, F = W (processo reversível a T constante). É possível mostrar que esse é o máximo trabalho que se pode extrair de um processo qualquer (reversível ou não) que conecta dois estados de um sistema termodinâmico. QUESTÃO Qual é a variação de energia livre de Helmholtz de um mol de gás ideal monoatômico, numa expansão isotérmica à temperatura de 25 C, em que o volume varia de um litro para dois litros? Qual é o máximo trabalho que se pode extrair dessa expansão? A energia livre de Gibbs, G, é definida como a diferença entre a entalpia e o produto temperatura entropia, G H TS, ou como a soma da energia livre de Helmholtz com o produto pressão volume, 9

G F + PV. Obviamente, as duas definições são equivalentes, pois H TS = E int + PV, e F = E int TS, de modo que G H TS = F + PV = E int TS + PV. Mas qual o significado físico dessa sopa de letras? A origem do nome energia livre está relacionada não à própria função, mas com sua variação, pois dg = dh d(ts) = dh SdT TdS. Se substituirmos, da definição de entalpia, dh = de int + d(pv) = dq + VdP (uma vez que de int = dq PdV), e lembrarmos da definição de entropia, dq = TdS, temos para uma variação infinitesimal da energia livre de Gibbs, dg = dh SdT TdS = (dq + VdP) SdT TdS = (TdS + VdP) SdT TdS ou seja, dg = SdT + VdP. Portanto, para um processo a temperatura e pressão constantes, dg = SdT + VdP = 0 (temperatura e pressão constantes) a variação da energia livre de Gibbs deve ser nula! É exatamente essa condição dg(t, P constantes) = 0 que é utilizada para analisar reações químicas. O significado físico deve ficar mais claro nos exemplos. QUESTÃO. Vimos acima que a variação da energia livre de Gibbs pode ser escrita na forma dg = dh SdT TdS. Qual é a relação entre a variação de entalpia e a variação de entropia numa reação química, se o sistema permanece à mesma temperatura e à mesma pressão? As energias livres e a segunda lei da termodinâmica A segunda lei da termodinâmica afirma que a entropia S de um sistema isolado não pode diminuir, o que estabelece um critério para a ocorrência espontânea de processos termodinâmicos nesse tipo de sistema. Em linguagem matemática, S(sistema isolado) 0. Para processos teóricos (idealizados) reversíveis, podemos ter a igualdade, S(sistema isolado) = 0. Vimos que tanto o processo de equilibração térmica como o de equilibração mecânica, ou o processo de igualar densidades, todos irreversíveis, ocorrem com um aumento da entropia dos sistemas isolados. Na maioria das vezes, não lidamos com sistemas isolados. Quando pensamos em processos termodinâmicos, há sempre transferências de energia com o meio em forma de calor e trabalho mecânico. Numa expansão, há transferência de energia com o meio na forma de trabalho e, na maioria das vezes, também na forma de calor. Numa transição de fases, há transferência de energia na forma de calor e, havendo gases envolvidos, também na forma de trabalho. O mesmo se pode dizer da ocorrência de reações químicas. 10

Seria possível extrair consequências da segunda lei da termodinâmica para esses sistemas que passam por processos termodinâmicos sem isolamento? Da mesma maneira que na dedução da distribuição de Boltzmann, vamos imaginar que nosso sistema de interesse, que troca energia com um entorno bem definido, forma com esse entorno um sistema composto isolado. Para esse sistema composto isolado vale a segunda lei da termodinâmica na forma usual, S tot = ΔS sis + ΔS ent 0, em que, para um processo arbitrário, ΔS sis e ΔS ent são as variações de entropia do sistema de interesse e do entorno. Para avançarmos mais nesta ideia, será necessário definir claramente as condições do entorno com o qual o sistema de interesse troca energia. A segunda lei da termodinâmica e a energia livre de Helmholtz Imagine que o entorno encontra-se a uma temperatura T 0 e tem volume V 0. Imagine também que esse entorno é muito grande, e que pode ser considerado um banho térmico (também chamado de reservatório térmico), a temperatura constante. Vamos aplicar a segunda lei da termodinâmica a esse sistema composto pelo nosso sistema de interesse mais o banho térmico. Temos S tot = ΔS sis + ΔS banho (temperatura T 0, volume V 0 ) 0. Se o sistema de interesse não sofre variação de volume durante o processo, então a transferência de energia com o banho ocorre apenas na forma de calor. Como queremos reescrever essa igualdade de forma que envolva apenas as propriedades do sistema de interesse, precisamos nos livrar do segundo termo da desigualdade! Como fazer isso? Vamos analisar a variação da entropia do banho, S banho (temperatura T 0, volume V 0 ), durante um processo em que o volume do sistema de interesse não se altera. Essa variação é dada por S banho = Q T 0, 11

sendo Q a energia transferida, na forma de calor, do sistema de interesse para o banho. Note que nos utilizamos aqui da hipótese de que o banho é muito grande, de modo que as trocas de energia não têm qualquer efeito relevante sobre sua temperatura, que permanece constante. Note que a expressão acima é verdadeira desde que o banho permaneça em equilíbrio interno, mesmo que isso não ocorra para o sistema de interesse. Pelo princípio de conservação da energia, se o sistema composto está isolado, vale E sis + E banho = 0, e portanto podemos escrever E sis = E banho. Como para um processo a volume constante vale E banho = Q, então Q = E sis. Finalmente, podemos escrever a segunda lei da termodinâmica para o sistema em banho térmico a volume constante. Substituindo as equações anteriores na desigualdade S tot = ΔS sis + ΔS ent 0, temos S sis + S banho (temperatura T 0, volume V 0 ) = S sis + Q T 0 = S sis ΔE sis T 0 0. Agora reorganizamos os termos na desigualdade e obtemos ΔE sis T 0 S sis 0. Você reconhece a expressão à esquerda da desigualdade? Lembrando a definição da energia livre de Helmholtz, F E TS, e de sua variação F = E Δ(TS), verificamos que a expressão que aparece na última desigualdade é a variação da energia livre de Helmholtz em um processo a temperatura constante! O que obtivemos, nessa análise da transferência de energia na forma de calor entre e um banho térmico e um sistema cujo volume é mantido constante, é que em um processo espontâneo a energia livre de Helmholtz do sistema não pode aumentar. A expressão matemática dessa conclusão é F(T, V constantes) 0, que fornece um critério para a ocorrência espontânea de processos a temperatura e volume constantes. Exercício 3. Quatro moles de gás ideal monoatômico estão contidos em um recipiente cujo volume é fixo em 100 l e cuja temperatura é mantida constante em 300 K pelo contato com um reservatório térmico. Há no recipiente um pistão que inicialmente está fixo, dividindo o volume interno em partes iguais, uma das quais contém um mol de gás, a outra contendo os três moles restantes. Em um certo instante, o pistão é liberado e o sistema evolui para um novo equilíbrio termodinâmico. Calcule a variação da energia livre de Helmholtz entre a situação inicial e a situação final, e mostre que essa variação é compatível com a segunda lei da termodinâmica. 12

A segunda lei da termodinâmica e a energia livre de Gibbs Imagine que o entorno encontra-se a uma temperatura T 0 e exerce uma pressão P 0. Imagine também que esse entorno é muito grande, e que pode ser considerado um banho térmico e de pressão, a temperatura e pressão constantes. Vamos aplicar a segunda lei da termodinâmica ao sistema composto pelo nosso sistema de interesse mais o entorno: S tot = S sis + S banho (temperatura T 0, pressão P 0 ) 0. A transferência de energia entre o entorno e o sistema de interesse, nesse caso, ocorre tanto na forma de calor como na forma de trabalho. Como queremos reescrever essa igualdade de forma que envolva apenas as propriedades do sistema de interesse, precisamos nos livrar do segundo termo da desigualdade! Como? Já aprendemos a fazer isso no caso do banho térmico. Vamos usar o mesmo procedimento novamente. A variação da entropia do banho térmico e de pressão, S banho (temperatura T 0, pressão P 0 ), durante um processo em que a pressão do sistema de interesse permanece constante, pode ser escrita na forma S banho = Q T 0, em que Q é a energia transferida do sistema de interesse para o banho na forma de calor e novamente supomos que o banho é tão grande que a temperatura (assim como a pressão) não varia durante o processo. Como o sistema composto está isolado, mais uma vez podemos escrever E sis = E banho, mas agora, como o processo ocorre a pressão constante, temos E banho = Q P 0 ΔV banho, em que ΔV banho é a variação do volume do banho durante o processo. Mas para um sistema composto isolado deve valer ΔV banho + ΔV sis = 0, de modo que obtemos E banho = Q + P 0 ΔV sis, e daí escrevemos Q = ( E sis + P 0 ΔV sis ). Finalmente, podemos escrever a segunda lei da termodinâmica para o sistema em banho térmico e de pressão. Substituindo os resultados anteriores na desigualdade S tot = ΔS sis + ΔS ent 0, temos S sis + S banho (temperatura T 0, pressão P 0 ) = S sis + Q T 0 = S sis ΔE sis + P 0 ΔV sis T 0 0. Agora reorganizamos os termos na desigualdade e obtemos E sis T 0 S sis + P 0 V sis 0. Você reconhece a expressão à esquerda da desigualdade? Lembrando a definição da energia livre de Gibbs, G E int TS + PV, e sua variação G = E int (TS) + (PV), verifica-se que a expressão que aparece na última desigualdade é a variação da energia livre de Gibbs em um processo a temperatura e pressão constantes! O que obtivemos, nessa análise da transferência de energia na forma de calor entre um banho térmico e um sistema mantido a pressão constante, é que em um processo espontâneo a energia livre de Gibbs do sistema não pode aumentar. 13

A expressão matemática dessa conclusão é G(T, P constantes) 0, que fornece um critério para a ocorrência espontânea de processos a pressão e temperatura constantes. EXEMPLO 5. O sistema da figura a seguir consiste de moléculas de O 2 em banho térmico e de pressão, que sofrem uma reação química e dão origem a dois moles de O atômico. As paredes são rígidas, mas o pistão é móvel. Tabelas de físico-química fornecem os dados abaixo. H formação (kj mol 1 ) S formação (J mol 1 K 1 ) O 231,73 161,06 O 2 0 205,138 A variação de entropia na formação de 2 moles de O atômico a partir de 1 mol de O 2 é (322,12 205,138) J mol 1 K 1 > 0. [Você saberia encontrar a origem da variação no número de estados microscópicos associada a essa variação de entropia?] Considerando o banho a uma pressão de 1 atm, qual deve ser a temperatura para que a reação de formação de O atômico ocorra? Solução. Como se trata de um processo que ocorre a pressão e temperatura constantes, é conveniente analisar a variação da energia livre de Gibbs, que em um processo espontâneo deve satisfazer G(T, P constantes) = E sis T 0 S sis + P 0 V sis 0. Como não temos dados na tabela sobre as variações de volume, podemos reescrever a variação de energia livre de Gibbs em termos da variação de entalpia, obtendo G(T, P constantes) = ( E sis + P 0 V sis ) T 0 S sis = H T 0 S sis 0. Portanto, a segunda lei da termodinâmica só será satisfeita para T 0 H 2 231,73 103 = S sis 116,94 K = 3,96 10 3 K = 3960 K. 14