COMARCA DE PORTO ALEGRE 1ª VARA CÍVEL DO FORO REGIONAL SARANDI Av. Assis Brasil, 7625



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Transcrição:

COMARCA DE PORTO ALEGRE 1ª VARA CÍVEL DO FORO REGIONAL SARANDI Av. Assis Brasil, 7625 Processo nº: 001/1.09.0256096-8 (CNJ:.2560961- Natureza: Rescisão de Contrato Autor: Patricia Peruzzo Réu: Maxim Veículos Ltda Peugeot do Brasil Juiz Prolator: Juiz de Direito - Dr. Marco Aurélio Martins Xavier Data: 02/09/2011 Vistos etc. PATRICIA PERUZZO ajuizou ação de resolução contratual cumulada com indenizatória contra MAXIM VEÍCULOS LTDA. e PEUGEOT DO BRASIL, dizendo que recebeu de presente um veículo Peugeot 207 Passion XR Sport 1.4 Flex 08/09, em 23.01.2009, pelo valor de 42.060,00, tendo retirado o veículo em 19.05.2009. Afirmou que o veículo apresentou problemas de expressivo vazamento de óleo, tendo que ser levado ao conserto na concessionária, onde foi diagnosticado defeito na vedação do compartimento de óleo, o que foi consertado mediante a troca da junta de borda da caixa. Quando da retirada do veículo, foi-lhe informado que seria necessária a troca de outras peças, pois apresentava um barulho estranho no motor, segundo o consultou Júlio César Nunes Ferreira; porém o problema com vazamento de óleo não foi solucionado. Foi orientada a aguardar o contato da concessionária assim que as peças fossem encaminhadas pela fábrica. Após muita insistência, em 23.06.2009, a concessionária se comprometeu a trocar as peças, mas mesmo assim continuou apresentando o problema de vazamento de óleo. Disse ainda que, em 11.08.2009, o veículo retornou à concessionária e somente em 01.09.2009 o consultor Hilário entrou em contato para dizer que o reparo do defeito fora feito e que foi aproveitada somente a carcaça da caixa. Referiu que encaminhou o veículo à oficina em 19.05.2009, sendo que em 11.08.2009 retornou ao conserto, onde permanece até o ajuizamento da ação. Discorreu sobre a incidência do CDC em virtude da existência de vício de qualidade do produto, sendo devida a substituição, porquanto estaria ainda no prazo da garantia contratual. Discorreu sobre o dano moral vivenciado em virtude dos fatos 1

narrados. Postulou tutela antecipada para determinar que as requeridas efetuem a restituição do valor pago pelo veículo, ainda, a autorização para retirada dos pertences deixados dentro do veículo, bem como determinar que as requeridas disponibilizem outro veículo. Requereu a resolução da compra e venda com restituição do valor, bem como que os requeridos fossem condenados ao pagamento de indenização por danos morais em valor a ser arbitrado pelo juízo, assim como as despesas de transferência do veículo. Por fim, requereu a inversão do ônus probatório e a concessão da gratuidade judiciária. Juntou documentos (fls. 19/108). (fl. 112). Deferida a gratuidade judiciária e indeferida a antecipação de tutela A autora se manifestou postulando a reconsideração da decisão que indeferiu a antecipação de tutela (fls. 117/121), que foi rejeitado (fl. 129) Citada, a requerida MAXIM VEÍCULOS LTDA contestou nas fls. 133/15, arguindo, preliminarmente, pelo descabimento da antecipação de tutela pretendida. No mérito, alegou que inexiste conduta culposa, tanto que atendeu efetivamente todas as solicitações. Informou que a demandante entregou o veículo para reparo, mas não retornou para buscá-lo na concessionária, sendo contatada por diversas vezes. Discorreu sobre a incidência e conceituação das normas aplicáveis sob ótica do CDC. Rechaçou o pedido de danos morais, especialmente pela ausência de prova da sua existência, mas, no eventual acolhimento, postulou que o arbitramento observasse a moderação e a proporcionalidade. Afastou a possibilidade de inversão do ônus probatório. Requereu a improcedência da ação. Juntou documentos (fls. 151/183). A autora comunica que efetuou a retirada do veículo (fls. 185/187) A requerida PEUGEOT CITROEN DO BRASIL AUTOMÓVEIS LTDA contestou nas fls. 198/210, dizendo que não ocorreu ofensa ao Código de Defesa do Consumidor, uma vez que não houve vício de fabricação, inclusive a autora vem utilizando normalmente o veículo. Aduziu que o veículo jamais permaneceu por mais de trinta dias nas dependências da concessionária, afastando assim a responsabilidade da requerida. Sustentou que em caso de devolução do valor pago pelo veículo, não pode ser acolhido na integralidade, uma vez que a própria autora 2

afirma, à fl. 14, que o veículo já conta com mais de dez mil quilômetros rodados. Disse que a devolução deverá ser feita no valor de mercado do veículo à época da liquidação da sentença. Rechaçou o pedido de rescisão contratual porque cumpriu com sua obrigação, entregando o produto e prestando a devida assistência técnica. Repeliu o pedido indenizatório e a inversão do ônus da prova. Requereu a improcedência da ação. Juntou documentos (fls. 211/228). Houve apresentação da réplica com juntada de documentos (fls. 233/246 e 247/257). Pela requerida Maxim foi acostados documentos originais, deferido em audiência realizada dia 09.02.2010 (fls. 277/284). Por sua vez, a autora acostou documentos de fls. 295/311. Apresentados memoriais pelas partes nas fls. 314/331 (autora), 332/337 (Maxim Veículos Ltda) e 338/347 (Peugeot Citroen do Brasil Automóveis Ltda.), todas defenderam as teses sustentadas no curso do feito. Diante dos documentos acostados pela autora o feito foi convertido em diligência para nova vista às partes (fl. 348). Pela Maxim foi postulado o desentranhamento de tais documentos (fls. 350), que restou indeferido (fl. 351). (fls.354/360). Diante da decisão supra, a requerida Maxim interpôs agravo retido O agravo foi recebido e o agravado intimado a se manifestar (fl. 361), o que ocorreu às fls. 371/375). Vieram os autos conclusos para sentença. É o relatório, passo a fundamentar. Cuida-se de ação de resolução de contrato de compra e venda de automóvel, cumulada com pedido de indenização pode perdas e danos. A autora denunciou de vícios no produto adquirido, não solucionados pela demandada, quem negociou o veículo com a requerente, razão dos pedidos de rescisão, 3

cumulada com indenização decorrente dos danos morais experimentados. Possível o julgamento do feito no estado em que se encontra, tendo em vista a desnecessidade de provas em audiência. A controvérsia limita-se ao direito da autora à rescisão do contrato em razão dos vícios de qualidade, bem como a responsabilidade civil decorrente, em particular os danos de natureza moral, sendo tutelada pelo art. 18, 1º, CDC. Emergiu incontroversa a aquisição do veículo perante a empresa maxim e sobejamente comprovados os defeitos apresentados Incontroverso que as partes firmaram negócio jurídico de compra e venda, cujo objeto era um veículo Peugeot 207 Passion XR Sport 1.4 flex 08/09, chassi 9362NKFW09BO23994, placas IPN 2853, relação jurídica esta abarcada pela legislação consumerista. Também restou incontroversa a ocorrência inicial de vazamento de óleo, atrelando-se a discussão central do feito em relação à culpa pela ocorrência do problema, bem como a demora no conserto do veículo. Para que se possa analisar os fatos que dizem respeito a eventual demora no conserto do veículo e incidência do art. 18 do CDC, é preciso antes, por prejudicialidade, averiguar a eventual culpa da autora em relação ao problema ocorrido no produto. O veículo foi adquirido em 23/01/2009 (conforme nota fiscal e recibo de pagamento de fls. 27/28) e o vazamento de óleo ocorreu após mais ou menos quatro meses de utilização, quando o veículo teria rodado 1.825km, conforme averiguado na Orçamento da Ordem de Serviço nº 57.037 (fl. 30). Pelas provas produzidas indicam que ao menos por duas oportunidades a autora voltou a concessionária para efetuar reclamações, inclusive na visita do dia 11.08.2009, veja-se que além de outros problemas aparente, a autora continuou reclamando do vazamento, tanto que o veículo se encontrava na concessionária, conforme documento de fl. 34, lá permaneceu até o dia 29 de outubro de 2009 (fl. 279), porque a autora recusou-se a retirar o produto antes pela 4

discordância quanto ao conserto efetuado. Percebe-se também que após o ajuizamento da ação, a retirada do veículo da concessionária, ainda, ocorreram diversos problemas e dos mais variados, tendo a autora de deixar o veículo para revisão em diversas oportunidades. Muito embora não tenha sido feita perícia técnica, os documentos acostados dão conta de que desde a aquisição o veículo sempre teve problemas. Verifica-se, então, que o problema do vazamento de óleo do motor foi a causa principal para o inicio de vários incidentes e reclamações. Todavia, é preciso também levar em conta o que levou a gerar esse vazamento e se a autora poderia ter evitado o dano ou impedido seu agravamento. Inicialmente, é importante transcrever os artigos 441 e 443 do Código Civil Brasileiro, os quais definem a obrigação do alienante quanto ao defeito ou vício na coisa. Veja-se a transcrição dos referidos dispositivos legais: Art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor. Art. 443. Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o que recebeu com perdas e danos; se o não conhecia, tão-somente restituirá o valor recebido, mais as despesas do contrato. (grifei) Ainda, importa referir que se está diante de típica relação consumerista; assim, entendo que as cláusulas contratuais sua interpretação deve buscar o equilíbrio entre as partes, ante a vulnerabilidade do consumidor. A pretensão da embasada está embasada na teoria do vício redibitório, prevista no art. 18 c/c 3º do art. 26 do Código do Consumidor. Os vícios redibitórios são falhas ou defeitos ocultos existentes na coisa alienada, não comuns aos objetos da espécie e que não podiam ser logo percebidos pelo comprador, que as adquiriu no pressuposto da inexistência de defeitos. Ressalto ainda o fato de o veículo vendido era zero quilometro e ainda que não fosse, não excluiria a responsabilidade da vendedora pelos defeitos ocultos que aparecerem depois da aquisição, mormente quando se comprova que a revenda não informou a adquirente sobre as falhas ou defeitos ocultos existentes no momento do ato negocial. No caso em exame, tanto a revenda quanto o fabricante não se 5

negaram a efetuar os reparos no veículo, afirmando, inclusive que a peça principal para o conserto tinha sido encomendada no estoque (fl. 32). Alega a ré Maxim, inclusive (fl. 139), que o veículo na terceira passagem pela concessionária OS 60.076 com 2.994 Km, com reclamação de vazamento de óleo embaixo do veículo. Foi realizada a limpeza dos controles e substituição de peças danificada, Carter, CVM, rolamentos, eixos, engrenagens e; em consequência, troca Kit, reparo e reposição de óleo. Todavia, entendo que a alegação da contestante de que os consertos necessários foram realizados, mas a dizer que o problema apresentado não restou demonstrado que já era existente quando da venda, penso que não. Um veiculo com tão pouca quilometragem não deveria ter tantos problemas mecânicos em tão pouco espaço de tempo, a ponto de ter que substituir peças danificadas. Isso porque o defeito, como o próprio nome já refere, é oculto, por não se tratar de defeito visível e aparente. Ainda, desimporta se a revenda de veículos tem ciência sobre a qualidade do produto que comercializa para ser responsabilizada por vícios preexistentes ao negócio realizado. No entanto, deve ser asseverado que a parte autora adquiriu um automóvel na revenda demandada acreditando estar o mesmo livre de qualquer defeito, tendo, posteriormente, verificado vícios no mesmo, com pouco tempo após a compra, o que terminou por ensejar o conserto do maquinário, por várias vezes. Tenho que tais defeitos não poderiam ser verificados por uma pessoa comum, já que essa não possui as qualidades que um técnico ou especialista empregariam na análise do automóvel, uma vez que os vícios afetaram a parte mecânica do veículo, não sendo visíveis a olho nu. Extreme de dúvidas, houve uma quebra de confiança da consumidora no produto adquirido, relevando aduzir que não se pode obrigar o consumidor a recorrer, reiteradas vezes, aos reparos, ficando privado do uso do bem recentemente adquirido. Tenho que, no caso concreto, o veículo apresentou defeitos em peças que são de fundamental importância para o seu funcionamento, como correias, rolamentos, eixos, engrenagens e principalmente na reposição de óleo (fl. 284), cujos defeitos somente poderiam ser verificados com a completa desmontagem do veículo e por um especialista. 6

Na verdade, é nítido que o problema decorreu de fábrica e que não poderia a consumidora prevê-lo porque tinha adquirido o produto há aproximadamente quatro meses. E não se cogita a má utilização do produto pelo consumidor porque não há provas nesse sentido e principalmente porque o veículo tinha percorrido, desde sua aquisição, apenas 1.825km km, quilometragem esta que não impõe a troca de óleo, sendo aconselhável a cada cinco mil quilômetros rodados no mínimo. Aliado a esses fatos é que a fabricante, segunda requerida, ofertou a autora a possibilidade de conserto do motor com substituição das peças por outras da mesma espécie e novas, sem custo para a autora. Tal conduta corroborou os argumentos da autora porque dificilmente, num ramo comercial e capitalista, um fabricante aceitaria a substituição gratuita das peças estragadas se detectada a culpa exclusiva da consumidora. Tanto que em momento algum houve menção da existência de mau uso, pelas demandadas. Nessa perspectiva, entendo que a prova carreada é robusta no sentido de demonstrar a existência de vício redibitório capaz de desfazer o negócio. Considerando que autora deixou o veículo para conserto no dia 11.08.2009 e, no dia 09.09 o veículo ainda estava dentro da concessionária, não se diga que a autora demorou para retirá-lo. Na notificação extrajudicial a requerida informa que no dia 31.08 deu-se a conclusão do serviço no veículo. Porém, no documento acostado pela própria demandada vê-se que no dia 09 de setembro o veículo estava dentro de sua oficina (fl. 284). Dito isso, não se vê como justificado o proceder da autora em, simplesmente, não retirar o veículo quando consertado, mesmo que fora do prazo. Mas, ainda que o lapso de tempo percorrido da última entrada do veículo em oficina, verifica-se que desde o início do problema as requeridas levaram mais de noventa dias, para dar uma solução ao problemas, considerando as idas e vindas da oficina. Pelo conjunto probatório, restou nítido que as requeridas ultrapassaram o prazo disposto no art. 18 do CDC, qual seja, 30 dias para que o vício fosse sanado. E a solução do problema dizia respeito ao conserto do motor em si, porque foi necessária a substituição das peças que lhe faziam parte e eram essenciais ao seu funcionamento, pois se permanecesse ocorrendo o vazamento 7

de óleo, por certo o motor fundira,k necessitando, no mínimo de retifica. Assim, findo o prazo, sem que o fornecedor tivesse solucionado o problema, é plenamente cabível a rescisão contratual por vício de qualidade do produto, tendo o consumidor direito à restituição da importância paga. Ao contrário do que foi sustentado pelos requeridos, mesmo que esse prazo não tivesse sido ultrapassado, o autor tinha o direito de exigir as hipóteses previstas no art. 18, 1º, do CDC de forma imediata, visto que a substituição das peças, embora novas e de fábrica, poderia comprometer a qualidade do produto e, principalmente, diminuir-lhe o valor no mercado de consumo (art. 18, 3º, do CDC). Isso porque, quanto a primeira hipótese, a recolocação de peças por uma concessionária não é a mesma técnica do que aquela feita na própria fábrica, onde os produtos recebem um serviço padronizado. No que pertine a segunda hipótese (diminuição do valor) é sabido que, quando um indivíduo pretende revender um veículo, o adquirente, especialmente se for uma empresa do ramo de veículos, detecta os mínimos fatores diferenciais do produto e eventuais trocas de peças, o que diminuiu o seu valor para fins de negociação. Esse talvez seria o problema que a autora enfrentaria na revenda de seu veículo, porque, embora consertado, estaria com praticamente todo o motor refeito, o que causaria nítida depreciação de seu preço no mercado veicular. Com efeito, a autora deve ser restituída integralmente do valor desembolsado no pagamento do veículo. Haverá a rescisão contratual, com a devida restituição do bem à parte ré e com a condenação da mesma ao valores despendidos pela autora, restabelecendo-se, assim, o status quo ante. Nesse sentido: APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO ORDINÁRIA. RESCISÃO DE CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE VEÍCULO USADO. VERIFICAÇÃO DE VÍCIO OCULTO. DEVOLUÇÃO DO BEM E RESSARCIMENTO DOS VALORES PAGOS PELA ADQUIRENTE. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA. APLICABILIDADE DA TEORIA DA APARÊNCIA. Não merece acolhimento a preliminar de ilegitimidade passiva da demandada Nicola Veículos Ltda. eis que restou comprovado nos autos que a mesma intermediou o negócio jurídico realizado com a segunda ré. Ademais, plenamente aplicável ao caso a Teoria da Aparência, a qual visa resguardar e proteger interesse de terceiro de boa-fé, como no caso dos autos, bem como diante da ausência de comprovação, pela demandada, de que a parte autora teve ciência de que a revenda não teve participação na negociação. Caracterizada a existência de vício redibitório quando da aquisição do veículo, comprovados documentalmente e por laudo pericial os 8

abalo moral. defeitos do produto, que impossibilitou o uso pela adquirente, bem como pela presunção de confissão tácita pelas demandadas as quais se comprometeram perante o juízo à solucionar o problema, inclusive manifestando vontade de composição da lide, impõe-se a manutenção da sentença que determinou a rescisão do contrato de compra e venda, com a devolução dos valores dispendidos pela demandante e condenou as demandadas ao pagamento de indenização pro danos materiais e morais. DESNECESSIDADE DA PROVA DO DANO MORAL. Verificado o evento danoso, surge a necessidade da reparação, não havendo que se cogitar da prova do prejuízo, se presentes os pressupostos legais para que haja a responsabilização civil pelo dano moral (nexo de causalidade e culpa). Preliminar rejeitada. Apelações desprovidas. (Apelação Cível Nº 70029047818, Décima Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Lúcia de Castro Boller, Julgado em 14/05/2009) Por outro lado, não merece guarida o pedido de indenização por Por mais que sejam nítidos os incômodos vivenciados pela autora e compreensível o seu descontentamento perante a conduta das requeridas, leva-se em conta que o fato decorre de descumprimento contratual, o que, por si só, não alcança o patamar de autêntico dano moral. Somente se cogitaria a possibilidade de indenização por dano moral se tivesse havido prova efetiva da ocorrência de lesão a um atributo inerente à personalidade da autora. Todavia, tais circunstâncias não foram descritas nem comprovadas nos autos, correspondendo a situação vivenciada pela requerente a mero descumprimento contratual, aliado a um dissabor, circunstâncias que não se enquadram nos requisitos formadores da responsabilidade civil. Diante do exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido formulado por PATRICIA PERUZZO em face de MAXIM VEÍCULOS LTDA. e PEUGEOT CITROEN DO BRASIL AUTOMÓVEIS LTDA para: a) declarar a rescisão do contrato de compra e venda do veículo Peugeot 207 Passion XR Sport 1.4 flex 08/09, chassi 9362NKFW09BO23994, placas IPN 2853; e b) condenar as requeridas, de forma solidaria, a ressarcir a autora o valor pago pelo veículo constante na nota fiscal (fl. 27), corrigido monetariamente pelo IGP-M a partir desta data da primeira entrada na oficina (19.05.2009), acrescido de juros moratórios de 1% ao mês desde a citação. c) deverá a autora proceder na devolução do veículo, voltando a propriedade para a requerida que cumprir com a obrigação, sendo que, a requerida também arcará com as despesas da respectiva transferência. Ante o decaimento mínimo do pedido, condeno as requeridas ao pagamento integral das custas processuais e honorários advocatícios ao patrono do autor que fixo em R$ 1.500,00, nos termos do art. 20, 4º, do CPC. 9

Registre-se. Publique-se. Intimem-se. Porto Alegre, 02 de setembro de 2011. Marco Aurélio Martins Xavier, Juiz de Direito 10