Comunicação Digital / Cibercultura Prof. Dr. Andre Stangl

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Transcrição:

Comunicação Digital / Cibercultura Prof. Dr. Andre Stangl https://ambientedigitalpuc.wordpress.com/

LIVROS A máquina universo: criação, cognição e cultura informática, 1987. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática, 1990. A ideografa dinâmica: rumo a uma imaginação artifcial, 1992. As árvores de conhecimentos (com Michel Authier), 1992. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço, 1994. O que é o virtual? 1995. Cibercultura, 1997. A Conexão Planetária: o mercado, o ciberespaço, a consciência, 2000. Ciberdemocracia, 2002. O Fogo Liberador, 2006. O Futuro da internet: em direção a uma ciberdemocracia planetária. (com André Lemos), 2010. A Esfera Semântica: tomo I, computação, cognição, economia da informação. São Paulo: Annablume, 2014.

A Inteligência Coletiva pode ser entendida como a partilha das funções cognitivas. E o que é inteligência? É a memória, o aprendizado, a percepção, as funções cognitivas.

A partir do momento em que essas funções são transformadas por sistemas técnicos - algo de objetivo, externo ao organismo humano elas poderão ser mais facilmente partilhadas. Se alguma coisa é escrita, ela já não faz parte da memória pessoal, mas faz parte da memória da comunidade.

A informática é uma tecnologia intelectual. E a Internet permite o compartilhamento de nossa memória. Mas só pode existir desenvolvimento da inteligência coletiva se houver cooperação competitiva ou competição cooperativa. É a partir do equilíbrio entre competição e cooperação que nasce a inteligência coletiva. O desafo é inventarmos todos juntos formas de organização que não sejam nem anárquicas onde não haveria nenhuma forma de cooperação nem demasiadamente rígidas, mas sim as que permitam otimizar a capacidade de invenção das pessoas, suas competências, suas experiências, suas memórias.

Não se deve confundir a cibercultura com uma subcultura particular, a cultura de uma ou algumas "tribos". Ao contrário, a cibercultura é a nova forma da cultura. Entramos hoje na cibercultura como penetramos na cultura alfabética há alguns séculos. Entretanto, a cibercultura não é uma negação da oralidade ou da escrita, ela é o prolongamento destas.

Acompanhando o progresso das mídias, os espaços culturais multiplicaram-se e enriqueceram-se: novas formas artísticas, divinas, técnicas, revoluções industriais, revoluções políticas. O ciberespaço representa o mais recente desenvolvimento da evolução da linguagem. Os signos da cultura, textos, música, imagens, mundos virtuais, simulações, softwares, moedas, atingem o último estágio da digitalização. Eles tornam-se ubiqüitários na rede no momento em que eles estão em algum lugar, eles estão em toda parte e interconectam-se em um único tecido multicor, fractal, volátil, infacionista, que é, de toda forma, o metatexto englobante da cultura humana.

Um dos grandes méritos da cibercultura é de nos confrontar à nossa própria liberdade, à nossa própria responsabilidade.

O que é esse caos que reina no ciberespaço como na humanidade contemporânea? Onde se encontra a ordem? Aí está o que nós gostaríamos de saber. Procuramos e corremos em todos os sentidos, nos reunimos em clãs, nos opomos, nos distanciamos, brigamos... Denunciamos o "mal" à direita e à esquerda. Cada um aponta o dedo sobre os outros.

a internet vai nos fazer descobrir a verdadeira hierarquia do bem: uma hierarquia complexa, hipertextual, emaranhada, viva, móvel, abundante, turbilhante como uma biosfera.

através do ciberespaço, qualquer que seja o lugar onde nos encontrarmos, dirigiremos nós mesmos nossos olhos a distância em direção à zona da realidade que escolheremos para observar, e a intensidade dos nossos olhares, como a força de nossas questões, fará nascer ao infnito novos detalhes.

A cibercultura encarna a forma horizontal, simultânea, puramente espacial da transmissão. Para ela, o tempo é uma decorrência. Sua principal operação é conectar no espaço, construir e estender os rizomas do sentido. Essa universalidade desprovida de signifcado central, esse sistema da desordem, essa transparência labiríntica, é a universalidade sem totalidade. O que é o Universal? É a presença (virtual) para si da humanidade. Quanto à totalidade, podemos defni-la como o agrupamento estabilizado do sentido de uma pluralidade.

Face ao futuro que nos espera, nenhuma referência, nenhuma autoridade, nenhum dogma e nenhuma certeza se mantêm. Descobrimos que a realidade é uma criação compartilhada. Estamos todos pensando na mesma rede. Tal é nossa condição desde sempre, mas o ciberespaço a apresenta diante de nossos olhos com tamanha força que não podemos mais dissimulá-la. É chegado o tempo da responsabilidade.

A palavra "virtual" pode ser entendida em ao menos três sentidos: o primeiro, técnico, ligado à informática, um segundo corrente e um terceiro flosófco. O fascínio suscitado pela "realidade virtual" decorre em boa parte da confusão entre esses três sentidos. Na acepção flosófca, é virtual aquilo que existe apenas em potência e não em ato, o campo de forças e de problemas que tende a resolver-se em uma atualização. O virtual encontra-se antes da concretização efetiva ou formal (a árvore está virtualmente presente no grão). No uso corrente, a palavra virtual é muitas vezes empregada para signifcar a irrealidade enquanto a "realidade" pressupõe uma efetivação material, uma presença tangível. A expressão "realidade virtual" soa então como um oxímoro, um passe de mágica misterioso. Em geral acredita-se que uma coisa deva ser ou real ou virtual, que ela não pode, portanto, possuir as duas qualidades ao mesmo tempo.

Contudo, a rigor, em flosofa o virtual não se opõe ao real mas sim ao atual: virtualidade e atualidade são apenas dois modos diferentes da realidade. Se a produção da árvore está na essência do grão, então a virtualidade da árvore é bastante real (sem que seja, ainda, atual). É virtual toda entidade "desterritorializada", capaz de gerar diversas manifestações concretas em diferentes momentos e locais determinados, sem contudo estar ela mesma presa a um lugar ou tempo em particular. Para usar um exemplo fora da esfera técnica, uma palavra é uma entidade virtual. ainda que não possamos fxá-lo em nenhuma coordenada espaçotemporal, o virtual é real. Pierre Lèvy - Cibercultura, p. 47-8

Bibliografa LEVY, Pierre. Internet e desenvolvimento humano. Cad. psicopedag., São Paulo, v.5, n.9, 2005. LEVY, Pierre. Uma perspectiva vitalista sobre a cibercultura. In: LEMOS, Andre. Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre: Sulina, 2002.