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Transcrição:

FACULDADE MERIDIONAL IMED Escola de Psicologia Gustavo Marques AS CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO PARA A PSICOLOGIA Passo Fundo 2013

Gustavo Marques AS CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO PARA A PSICOLOGIA Banca examinadora: Profa. Dra. Márcia Fortes Wagner Orientadora Prof. Dr. Vinícius Renato Thomé Ferreira Profa. Me. Maríndia Bradtner Passo Fundo 2013

AS CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO PARA A PSICOLOGIA 2 Gustavo Marques 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por objetivo fazer uma contextualização histórica da psicologia, de como ela nasce como ciência com Fechner e Wundt, e como o Behaviorismo surge e evolui, rompendo com esta psicologia da consciência. Com esta distinção, mostrouse uma alternativa mais fidedigna para o desenvolvimento da ciência psicológica. Nesse contexto, torna-se fundamental a compreensão do Behaviorismo Radical, que nasce da perspectiva de superar as limitações impostas pela metodologia do antigo Behaviorismo. Serão analisados seus fundamentos filosóficos, sua concepção de homem e noção de causalidade, bem como, introduzidos os princípios básicos da Análise do Comportamento. Este estudo tratará da aplicação dos princípios básicos em técnicas da Análise do Comportamento e como elas podem ser aplicadas num contexto de clínica psicológica, através da sal ferramenta fundamental: a análise funcional. Esta ciência, apesar do desconhecimento de muitos profissionais, vem mantendo-se forte e revelando grandes avanços. Este projeto de pesquisa apresenta relevância pelo fato de que a Análise do Comportamento (o que incluiu o Behaviorismo Radical) são temas ainda pouco conhecidos no estado do Rio Grande do Sul. Da mesma forma, contribuem para a formação clínica do psicólogo, visto que sua aplicação tem demonstrado alta eficácia no tratamento de diversos transtornos psicológicos. 2. RESUMO

3 O presente trabalho tem como objetivo contextualizar o início da psicologia como ciência e como o comportamento se mostra o objeto de estudo mais fidedigno para esta nova ciência. O comportamento, como objeto de estudo, será analisado dentro da proposta filosófica fundada por B. F. Skinner, o Behaviorismo Radical, enquanto filosofia de ciência, com uma concepção de homem e com a noção de causalidade. Posteriormente, será abordado o desenvolvimento da ciência chamada Análise do Comportamento, a qual, baseada nessa filosofia, traz seus princípios básicos para aplicação no contexto da clínica psicológica, através da análise funcional da Terapia Analítico-Comportamental. Mostra-se que essa ciência, apesar do desconhecimento de muitos profissionais, vem-se mantendo forte e revelando grandes avanços. A relevância deste trabalho reside nas contribuições que a Análise do Comportamento pode trazer na formação do profissional psicólogo, haja vista que sua aplicação tem demonstrado alta eficácia no tratamento de diversos transtornos psicológicos. Palavras-chave: Análise do Comportamento. Análise Funcional. Behaviorismo Radical. B. F. Skinner. ABSTRACT The present paper aims to contextualize the beginning of psychology as a science and how behavior was more adjusted object of study for this new psychological science. The behavior, as object of research, will be examined within the philosophical proposal founded by B. F. Skinner, Radical Behaviorism as a philosophy of science, with a conception of man and the notion of causality. Subsequently, it will address the development of science called Behavioral Analysis, which, based on this philosophy, brings his basic principles, for application in the context of clinical psychology using the functional analysis of Analytic- Behavioral Therapy. Is demonstrated that science, despite the lack of many professionals, has remained strong and showing great progress. The relevance of this study is given by the contributions that behavior analysis can provide to the training of the professional of psychology, since your application has demonstrated high efficacy in the treatment of various psychological disorders. Keywords: Behavior Analysis. Clinical Psychology. Functional Analysis. Radical behaviorism. Skinner. 3. MÉTODO 3.1. Delineamento Este estudo caracteriza-se por ser uma pesquisa de cunho bibliográfico.

4 3.2. Procedimentos Foi realizada uma busca bibliográfica a partir de materiais publicados: livros, artigos, periódicos, vídeos e materiais atualizado disponibilizados na internet. Foram selecionados os materiais voltados à Análise Comportamental / Behavior Analysis. 3.3. Critérios de inclusão Foram utilizadas referências bibliográficas pesquisadas nas bases de dados Scielo, PsycInfo, Web of Science, livros e revistas, no período de 2003 a 2013, além de livros/artigos clássicos, de língua portuguesa e inglesa. 3.4. Considerações Éticas Este projeto não foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da IMED porque tratase de um estudo de revisão bibliográfica. 4. A psicologia como ciência Fazer ciência é estar em busca de ordem, uniformidade e relações ordenadas entre fenômenos da natureza, se isto não fosse possível, não haveria ciência. Os resultados tangíveis e imediatos da ciência são os únicos que sofrem progressos acumulativos, sendo mais facilmente avaliados que outras formas de descrever a realidade, como a Filosofia, Artes ou Teologia. (SKINNER, 2003). O cientista deve tratar, preferencialmente, os fatos e aceita-los e não sobre o que pode ser dito sobre estes. (SKINNER, 2003). Com a psicologia não é diferente. Assim, os estudos no final do século XIX, de Gustav Fechner e Wilhelm Wundt, foram os responsáveis por

5 constituir a psicologia como uma ciência independente, o que ocasionou a fundação do primeiro laboratório de psicologia experimental em 1879, na Alemanha. (KELLER, 1974). Para ficar clara a importância desse fato, naquele momento, a psicologia seria tratada como ciência, ou seja, deveria definir seu objeto de estudo e o seu método, essencial para o seu surgimento e seu desenvolvimento. Dessa forma, os fundadores desse laboratório definiram a consciência como o objeto de estudo da psicologia e a introspecção experimental como o método eleito. (MOREIRA; HANNA, 2012). Mas algumas décadas depois, em 1913, John Watson argumenta que o método da introspecção experimental falhou em estabelecer e em desenvolver a psicologia como ciência natural, que lida com fenômenos que ocupam lugar no tempo e no espaço. Este afirmou que as falhas estavam nos instrumentos e nos métodos utilizados nos experimentos, e que a psicologia dever-se-ia aproximar dos exemplos das ciências já estabelecidas, como a Química e a Física. (KELLER, 1974; CHIESA, 2006; MOREIRA; HANNA, 2012). Assim, Watson dá mais um passo para a constituição da ciência psicológica, com o seu artigo intitulado A psicologia tal como a vê um behaviorista. Este trabalho não propunha uma nova ciência, mas que a psicologia tivesse como foco o estudo do comportamento, sistematizando o que foi chamado posteriormente de Behaviorismo Metodológico. (SKINNER, 1974). Essa proposta estava embasada nas concepções das ciências físicas, sobretudo a mecânica newtoniana e a filosofia do reflexo. (MICHELETTO, 2001; SCHULTZ; SCHULTZ, 2006; CHIESA, 2006). Como referência a essas propostas iniciais de behaviorismo, rótulos como mecanicista, simplista, reducionista, psicologia estímulo-resposta foram e são utilizadas até hoje. Estes são justificados apenas ao Behaviorismo Metodológico, pois, este assume uma concepção mecanicista de comportamento, no sentido de que a causa é necessariamente um evento que antecede o que ele produz, ou seja, um efeito. Além disso, a concepção dualista da natureza humana mantém-se na psicologia, isto é, existiriam processos internos (subjetivos) de natureza diferente dos processos comportamentais (objetivos), em que os primeiros não poderiam ser analisados cientificamente. (CHIESA, 2006). Não demorou muito para que, insatisfeitos com essa proposta, outros cientistas iniciassem outros estudos. Tolman e Hull, expoentes da área à época, colocaram mediadores entre o ambiente e o comportamento ( mente e neurofisiologia, respectivamente), sendo chamados, mais tarde, de behavioristas mediacionais. Estas concepções mantiveram o dualismo mente-corpo/subjetivo-objetivo, e mais tarde deram origem às Terapias Cognitivas- Comportamentais. (COSTA, 2002).

6 Outro caminho para a superação das limitações do Behaviorismo Metodológico foi desenvolvido por Skinner, o qual inicia o desenvolvimento de uma nova proposta de psicologia científica, o Behaviorismo Radical. Este critica o modo de fazer ciência do Behaviorismo Metodológico, afirmando que a verdade por concordância, que mantém a dualidade mente/corpo, limitou a psicologia ao analisar apenas os eventos públicos, que são observáveis por mais de uma pessoa. Nesta nova proposta, os eventos privados também poderiam ser investigados, pois são da mesma natureza. Portanto, uma máquina de escrever é tão física quando uma dor de dente, apesar desta última não ser pública, é possível analisar os processos pelos quais os vocabulários descritivos de estados internos são adquiridos e mantidos pelo indivíduo. (SKINNER, 1969). Com as concepções apresentadas até aqui, não é difícil de perceber até onde os críticos do Behaviorismo Radical (hoje, tido como O Behaviorismo ) chegaram em suas leituras. Para os seres humanos, não existe melhor assunto que se possa falar, que não seja o comportamento. Apesar de existirem milhares de fatos sobre o comportamento, esta proximidade é quase uma desvantagem, pois, muito certamente, sem a análise de uma ciência, tem-se chegado à conclusões equivocadas a respeito deste. A dificuldade de se analisar o comportamento está na sua complexidade, por ser um processo que é mutável, fluído e evanescente, o que com a engenhosidade e energia do cientista é superada. (SKINNER, 2003). Neste sentido, a ciência é responsável por apontar e complementar as experiências dos indivíduos, demonstrando cada vez mais as relações entre acontecimentos e possibilitando o seu aprimoramento. Inicialmente padrões mais básicos são encontrados e descritos, criando regras que acumulados, em um estágio posterior, avançam em um arranjo sistemático de leis mais amplos, criando um sistema científico. Desta forma, a análise científica do comportamento fez progressos dramáticos, indo além das limitações do behaviorismo inicial, sendo, agora, estas, apenas de interesse histórico. Mas as críticas não mudaram muito, devido ao desconhecimento e incompreensões apresentadas pelo público em geral. Devendo-se isto, primeiramente, à delicadeza de se tratar do comportamento humano, pois uma concepção behaviorista radical exige mudanças perturbadoras no modo com que os seres humanos veem a si próprios. (SKINNER, 1974; 2003). E a segunda razão das críticas é que a ciência é, por si mesma, mal compreendida. (SKINNER, 1974). Esta má compreensão inclui alguns psicólogos, que não sentem a necessidade de ter padrões e critérios de prova característicos de uma ciência e relutam em aceitar as conclusões que tais fatos inevitavelmente apontam. Ressalta-se que as técnicas

7 experimentais e matemáticas usadas para a descoberta e expressão das uniformidades são propriedades das ciências em geral, e não apenas um recurso da análise científica do comportamento. (SKINNER, 2003). 5. Análise do comportamento As ideias centrais do Behaviorismo Radical foram articuladas em 1938 no artigo Análise operacional dos termos psicológicos, de Burhhus Frederick Skinner, onde afirma que os conceitos psicológicos devem ser analisados pelo que eles são: comportamentos verbais do cientista. A análise buscaria nos antecedentes e nos consequentes o motivo do uso de tal termo psicológico, isto é, fazer a análise funcional de como o uso de determinado termo se instala e se mantém em uso. (SCHULTZ; SCHULTZ, 2006). Esta expressão radical, que compõe o termo, não se refere a qualquer intransigência do analista do comportamento com as contribuições de outras teorias, mas um pressuposto desta ciência. Nela, o comportamento é a raiz (do latim radix, que também dá origem à palavra radical ), que deve ser tratada como unidade de análise que permite compreender as interações humanas no seu contexto, ou seja, o acesso, a descrição e a explicação das atividades humanas nas suas relações com o ambiente. (CARRARA, 2008). Entretanto, atualmente, é utilizada uma nova classificação, na qual esses conhecimentos behavioristas de tradição skinneriana sejam chamados simplesmente de Análise do Comportamento. Esse sistema cultural é divido em três subáreas: Behaviorismo Radical (sistematização conceitual e de reflexão sobre a extensão do projeto científico); Análise Experimental do Comportamento (produção empírica; pesquisa básica); e Análise Aplicada do Comportamento (pesquisa aplicada; responsável pela criação e pela administração de tecnologias de intervenção social, p. ex.: método ABA de intervenção com indivíduos com espectro autista). Essas subáreas coexistem num processo de alimentação contínua e recíproca, não sendo possível existirem de forma isolada (SKINNER, 1974; TOURINHO, 1999; MICHELETTO, 2001; CARMO; BATISTA, 2003; CHIESA, 2006; CARVALHO NETO, 2002). As diferenças entre a pesquisa básica e a pesquisa aplicada não se refere àquilo que é descoberto e posteriormente é aplicado, afinal, as duas indagam o que controla o comportamento em análise. A pesquisa básica contempla qualquer comportamento e qualquer

8 variável que possa estar relacionada a este, na maioria das vezes realizada em laboratório. É uma opção metodológica com objetivos claros, que parte do simples com o objetivo de chegar ao complexo, ou seja, amplia o número de variáveis estudadas e de forma a entender como se dá a interação entre o maior número possível de eventos estudados, pois o comportamento é um sistema complexo e precisa ser compreendido enquanto tal. Apesar de uma esmagadora quantidade de variáveis a se considerar, ainda assim é possível identificar regularidades na complexidade. Já a pesquisa aplicada tem como foco a análise de variáveis que possam ser eficazes na melhoria de um dado comportamento socialmente relevante, sendo realizado, geralmente, em ambientes extralaboratório (BAER; WOLF; RISLEY, 1968). Assim, a Análise Aplicada do Comportamento (o que inclui a terapia) é um tanto diferente daquela realizada em laboratório, mas deve ter o estudo aplicado (interesse que a sociedade demonstra aos problemas estudados), comportamental (o que é possível ao indivíduo fazer com eficiência), analítico (demonstrar confiavelmente os eventos que podem ser responsáveis pela ocorrência ou não de tal comportamento), tecnológico (as técnicas utilizadas devem estar completamente identificadas e descritas), conceitualmente sistemático (relacionar o tecnológico com os conceitos básicos já desenvolvidos), eficaz (alterar o comportamento suficientemente para tornar-se socialmente importante) e demonstrar certa generalidade (deve demonstrar durabilidade de mudança de comportamento através do tempo e alterações em uma grande variabilidade de comportamentos relacionados). Os autores concluem que, em uma intervenção realizada nessas condições, é possível perceber a importância do comportamento alterado e suas características quantitativas, as manipulações experimentais utilizadas (possibilitam perceber o que foi responsável pela mudança), a descrição tecnológica precisa de todos os procedimentos que contribuíram para esta mudança, a eficácia dos procedimentos e a generalização (BAER; WOLF; RISLEY, 1968). Dessa forma, o presente estudo busca definir os principais conceitos desta importante área da psicologia, buscando instrumentalizar os profissionais da área da saúde mental no conhecimento teórico e na aplicação prática desses princípios. 5.1. Fundamentos filosóficos

9 A Análise do Comportamento é uma ciência monista e materialista, ou seja, adota um mundo físico de dimensão natural única. Dessa forma, a problemática dualista mente-corpo não existe nessa concepção filosófica. (CARRARA, 2008; BAUM, 2008). Ou seja, as mesmas leis, nos comportamentos públicos (comer, correr, escrever, falar, etc.) que descrevem as relações funcionais (relação se... então..., em que um evento afeta a ocorrência de outro) também as descrevem nos comportamentos privados (pensar, sonhar, imaginar, raciocinar, etc.), a diferença é que esses últimos estão acessíveis apenas para o próprio indivíduo que se comporta. Assim, a metafísica torna-se dispensável, pois entidades como aparelho psíquico, cognição ou mente não são utilizados para a explicação dos comportamentos, pois é o organismo, na sua integralidade, que faz parte do mundo e interage com este. (MARÇAL, 2010). Esta ciência adota o pragmatismo, cujo foco da investigação científica não está na busca da verdade sobre como o universo funciona, mas naquilo se pode fazer com este. Nessa concepção, o critério de verdade está mais como um poder explicativo, ou seja, a explicação que trouxer compreensão ou descrição mais coerente de determinado comportamento dentro de um único mundo natural com vistas a alterá-lo. Por exemplo, se alguém afirma que Um homem está correndo na rua, a topografia descrita do comportamento pode indicar que aquele homem está fazendo exercícios ou até mesmo fugindo da polícia. O que prevalece para um pragmatista são as razões pelas quais aquele homem corre. Uma descrição que inclua a funcionalidade do comportamento é mais apropriada, por exemplo, Aquele homem está correndo na rua como parte de seu treinamento para ir às Olimpíadas, pois descreve as razões do comportamento e as suas funções. (BAUM, 2008, p. 43). A Análise do Comportamento também adota o determinismo, pois, a partir da concepção do mundo natural, de que apenas se explica o presente a partir do passado, surge a ideia de que a natureza é determinada. O determinismo coloca o ser humano ao mesmo nível do resto da natureza, pois este é parte integrante dela, e, assim, os comportamentos não acontecem ao acaso, mas são determinados pelos ambientes (descritos abaixo). Dessa forma, pode-se afirmar que sentimentos, pensamentos e intenções (respostas) também não acontecem ao acaso, mas são determinados por eventos anteriores (estímulos antecedentes). (BAUM, 2008). É o que ocorre no caso da ansiedade, que é sentida em situações em que a apresentação de um estímulo aversivo é iminente. Por exemplo, pode acontecer em uma situação de paquera, em que há possibilidade de rejeição, pois, em outros momentos durante a vida, em contextos semelhantes, a rejeição já aconteceu. Existe a ideia equivocada de que o

10 ser humano não escolheria, não decidiria nem determinaria o seu futuro. A explicação mais correta é de que esses comportamentos (respostas) (p. ex. escolher, decidir e determinar) também são explicáveis a partir de experiências passadas e não ocorrem ao acaso ou em relação ao futuro (BAUM, 2008; MARÇAL, 2010). Assim, sendo todos os eventos determinados, existe controle, que deve ser entendido como influência, ou seja, variáveis ambientais influenciam (controlam) a ocorrência de certo comportamento, aumentando ou diminuindo a probabilidade da sua ocorrência. (MOREIRA; HANNA, 2012). A ciência comportamental aprimorou e ampliou a possibilidade de prever o comportamento e tornou explícitas as uniformidades. E é por essa regularidade que se torna possível a previsão e a manipulação do comportamento, que é um evento influenciado por outros eventos ambientais. (SKINNER, 2003). Observando as diferentes áreas da ciência psicológica nota-se que o que as caracteriza é a ênfase dada às alguma das diversas interações do organismo com o ambiente. Assim, te-se a divisão do ambiente em ambiente externo (físico e social) e ambiente interno (biológico e histórico). O ambiente externo divide-se em físico e social. O ambiente externo físico referese às ações mecânicas (princípios geométricos e mecânicos), com propriedades que se relacionam, quase sempre, de forma simples, com os efeitos produzidos (p. ex. apertar um botão e receber café no copo). O ambiente externo social, diferentemente, tem suas consequências mediadas por outro indivíduo, envolvendo uma série complexa de acontecimentos entre o falante e o ouvinte (p. ex. fazer o pedido de um prato ao garçom de um restaurante). Nesse caso, as consequências de tal comportamento de pedir um prato surgem por intermédio de uma diversidade de eventos não menos físicos ou inevitáveis que as ações mecânicas, mas, com certeza e apenas, maior dificuldade de descrever. (TODOROV, 2007). Da mesma forma, o ambiente interno, seja o biológico ou o histórico, também sempre está presente nas interações organismo-ambiente. A compreensão do ambiente interno biológico não é muito diferente da de cem anos atrás, quando Freud desenvolveu sua teoria ou Skinner, em 1930, a sua, apesar dos progressos dos últimos anos. (TODOROV, 2007). Sobre o ambiente interno histórico, é fato dado que o indivíduo age agora não apenas em função de um ambiente externo presente e que este carrega os resultados de interações passadas. E, pela conclusão do autor, existe a dificuldade em se explicar as relações do organismo com o ambiente, seja interno ou externo, físico ou social, biológico ou histórico, e esta talvez seja a responsável pelo desenvolvimento de várias escolas em psicologia, criando diferentes conceitos e princípios, a partir de diferentes ênfases na relação que os organismos

11 têm com os seus ambientes. De qualquer forma, os quatro aspectos apresentados para o ambiente são indissociáveis, pois estudar apenas as partes levaria a um conhecimento incompleto, não inter-relacionado com as demais partes para o entendimento, já que o todo não decomposto é ininteligível. É a estes ambientes que o analista de comportamento referese ao se fazer uma análise comportamental. (TODOROV, 2007). Em outras palavras, a Análise do Comportamento não se limita ao método: seu critério de verdade é a efetividade (e não o consenso de mais de uma pessoa); compreende que os eventos públicos (p. ex. correr, escrever, caminhar etc.) e privados (p. ex. sentimentos, pensamento, memória etc.) são da mesma natureza material. Assim considera que esses eventos privados também são passíveis de estudo, resgatando a introspecção e o estudo da consciência como comportamentos verbais a serem analisados. (SKINNER, 1974; TOURINHO, 1999; TODOROV; MOREIRA, 2008; MOREIRA; HANNA, 2012). 5.2. O modelo de seleção por consequências Em 1981, Skinner publicou, na Science, uma das mais influentes e importantes revistas científicas do mundo, o artigo Seleção por Consequências, e apesar das ideias ali apresentadas já estarem em outros trabalhos, foi neste artigo que se formalizou o modelo explicativo da Análise do Comportamento: o modelo de seleção pelas consequências. Nesse modelo, estão a seleção natural (filogênese), a seleção operante (ontogênese) e a seleção cultural (esta última é exclusiva dos humanos e possibilita o surgimento e a transmissão das práticas culturais) (MOREIRA; HANNA, 2012). Para o autor, a compreensão, a previsão e o controle dos comportamentos acontecem pela análise destas três seleções, que são tipos de contingências, que agem mutuamente na multideterminação do comportamento do indivíduo: (...) a) contingências de sobrevivência responsáveis pela seleção natural das espécies, e b) contingências de reforçamento responsáveis pelos repertórios adquiridos por seus membros, incluindo c) contingências especiais mantidas por um ambiente cultural evoluído. (Em última análise, obviamente, tudo isso é uma questão de seleção natural, uma vez que o condicionamento operante é um processo evoluído, do qual as práticas culturais são aplicações especiais) (SKINNER, 1981).

12 Estas contingências, que explicam as causas do comportamento para esta ciência, são regras que descrevem dependências entre antecedentes ambientais, respostas do organismo e suas consequências, dando ênfase à relação funcional entre esses elementos. (SILVA; DE- FARIAS, 2010, p. 231). Em outras palavras, são relações entre eventos antecedentes, resposta e consequência (contingência de três termos), que alteram a probabilidade de ocorrência de determinados comportamentos (p. ex.: em privação de afeto dizer palavras de amor ganhar um beijo, assim, em ocasiões semelhantes futuras esta resposta tende a ocorrer novamente). Assim, um comportamento é adquirido e mantido devido à sua funcionalidade, ou seja, pelas consequências da resposta. O primeiro nível de seleção por consequências é a filogênese, descrito por Charles Darwin como o processo de seleção natural, a qual explica a existência das diferentes espécies, como também explica parte dos comportamentos dos organismos. (SKINNER, 1981; MOREIRA; HANNA, 2012). Se for realizada uma observação mais acurada dos organismos, será possível perceber uma diversidade de comportamentos que estes emitem sem que seja necessária uma aprendizagem ou uma experiência anterior. Estes comportamentos são chamados de comportamentos respondentes/reflexos, e, como não necessitam de aprendizagem, são qualificados como inatos/incondicionados. É importante frisar que, para acontecer esse tipo de comportamento, sempre há uma alteração ambiental antecedente (estímulo antecedente) que elicia uma alteração no organismo (resposta), cujo reflexo é essa relação fidedigna, não apenas a resposta. Como exemplo, alguns comportamentos respondentes inatos: quando uma superfície muito quente estiver próxima da mão, a resposta é a retirada da mão; a presença de alimento da boca, a resposta é salivar; se ocorre um barulho estridente, a resposta é um sobressalto; se uma luz forte é direcionada aos olhos, a resposta é a pupila retrair. (MOREIRA; MEDEIROS, 2007; MARTONE; TODOROV, 2007). Em um comportamento respondente, uma explicação suficiente da resposta é a descrição do estímulo antecedente, pois contingências filogenéticas atuam sobre o organismo. Mas, como explicar a salivação de um bebê ao apenas ouvir a palavra doce, por exemplo? O que ocorre, nesse caso, é o condicionamento respondente (reflexo, pavloviano ou clássico), em que um estímulo neutro (a pronunciação doce ) com o pareamento (apresentação anterior, quase simultânea) do estímulo incondicionado (o próprio doce) adquire funções do estímulo incondicionado de salivação. Inicialmente, apenas a pronunciação doce não eliciaria a resposta de salivar da criança, mas, com apresentações contingentes e sistemáticas do doce (estímulo incondicionado) com a pronunciação doce (estímulo neutro), este

13 segundo passa a ser um estímulo condicionado, sendo agora possível eliciar a salivação como resposta condicionada. (HOLLAND; SKINNER, 1974). A importância deste fato é que através do condicionamento respondente, respostas selecionadas previamente pela seleção natural podem ficar sob controle de novos estímulos. O comportamento operante é o segundo tipo de seleção por consequências (ontogênese), que descreve a história de aprendizagem de cada indivíduo. Este é possível pois em algum momento da evolução das espécies o comportamento dos organismos tornou-se suscetível aos acontecimentos que ocorrem após a resposta emitida. Nesse nível, variações comportamentais são selecionadas ( reforçadas ) pelas consequências que produzem. Ou seja, conclui-se que respostas foram reforçadas pelas consequências que produzem, se, posteriormente, aumentam a probabilidade de ocorrência dos comportamentos da classe de resposta (respostas que resultam em certo reforçador) selecionada (p. ex. trabalhar, nas mais diversas profissões, é reforçado pelo dinheiro que se obtém). Após isso, o comportamento operante instala-se e fica sob controle das consequências que se seguem. E são essas variações e seleções que possibilitam a descrição do processo de surgimento de características individuais que dão singularidade às respostas de um indivíduo, possibilitando o estabelecimento de repertórios comportamentais individuais únicos, inclusive as diferentes formas de sentir e nomear emoções. (TEIXEIRA JÚNIOR; SOUZA, 2006; ROSE, 2001; MOREIRA; MEDEIROS, 2007). Ou seja, comportamento operante é assim chamado porque opera e não reage sobre o ambiente. A crítica de que na Análise do Comportamento o ser humano é um ser passivo não poderia ser mais equivocada, já que se estudam exatamente as interações entre organismo e ambiente, através do comportamento. (CARRARA, 2008). Os indivíduos estão em constante construção da sua história, e não reagem ao mundo, mas agem sobre este e o modificam e por ele são modificados, ou seja, trata-se de uma concepção interacionista. (SKINNER, 1957). Inclusive, são esses comportamentos que constituem a maior parte das atitudes dos seres humanos, inclusive o que se denomina pensamento. (ROSE, 2001). A analogia entre seleção natural e seleção operante é direta. A seleção natural de Darwin é responsável pelas diferenças entre as espécies, que ocorrem há milhões de anos, e a seleção operante é responsável pelas diferenças comportamentais individuais durante a vida dos indivíduos. (MOREIRA; HANNA, 2012). Resultante disso, na espécie humana, a musculatura vocal ficando sob controle operante, tornando esta muito mais social. Assim, não houve a necessidade de uma nova susceptibilidade ao reforçamento, pois as consequências do comportamento verbal diferenciam-se das demais pelo fato de que são mediadas por outros

14 indivíduos. Desta forma, o comportamento verbal aumentou muito a importância do terceiro nível de seleção pelas consequências (seleção cultural), sendo o efeito sobre o grupo e não as consequências reforçadoras individuais o responsável pela evolução da cultura. (SKINNER, 1981). O entrelaçamento entre os comportamentos dos indivíduos e os seus efeitos também se tornaram determinantes no comportamento destes. Os ambientes sociais, inevitavelmente se iniciam em nível de indivíduo, por exemplo, quando este desenvolve uma melhor ferramenta de trabalho, de acumular alimentos ou de ensinar ajudantes. Assim, com a seleção cultural, o conhecimento começou a ser acumulado ao longo das gerações, possibilitando o desenvolvimento de repertórios comportamentais que ultrapassam a própria vida do indivíduo (p. ex. atitudes ecologicamente sustentáveis). (MARTONE; TODOROV, 2007). Por essas razões, é isso que evolui uma cultura, a consequência reforçadora que o produto desses comportamentos tem sobre o grupo, na solução dos seus problemas grupais, como nos exemplos anteriores: a ferramenta, os alimentos e um ajudante útil. (SKINNER, 1981). 6. Terapia analítico-comportamental A Terapia Analítico-Comportamental (TAC) é uma das diversas formas de se fazer psicoterapia para o enfrentamento dos problemas humanos. Desenvolvida por brasileiros, tem uma forte base experimental, com direção filosófica e conceitual do Behaviorismo Radical, pautada historicamente nos princípios da aprendizagem. É uma das formas da Análise Aplicada do Comportamento. A seleção por consequências é o modelo explicativo para as análises e para as técnicas e a análise de contingências é a ferramenta interpretativa. (BORGES; CASSAS, 2012). Nessa proposta terapêutica, as estratégias de intervenção estão voltadas para a prática psicológica, com ênfase na relação terapeuta-cliente, na análise do comportamento operante e na análise dos eventos privados. (MARÇAL, 2010). De forma geral, alguns aspectos da psicoterapia analítico-funcional são fundamentais e norteiam as intervenções do terapeuta:

15 a) Rejeição do modelo médico (causa patológica mental e sintomas comportamentais), tratando o comportamento por ele mesmo, não sendo substrato de conteúdo mental; b) A intervenção acontece na modificação das variáveis ambientais responsáveis (contingências), em contraposição à tentativa de mudar causas mentais ; c) Abordagem idiográfica (cada comportamento tem determinantes individuais) em contraposição à nomotética (generalização em psicodiagnóstico e intervenções tecnicistas); d) Rejeição da classificação de comportamento normal e anormal (patológico), pois sua distinção é meramente social; e) Ênfase no comportamento aprendido relevante clinicamente, sem esquecer-se da genética e cultura; f) Considera a historicidade do comportamento, mas a intervenção é centrada nas contingências mantenedoras atuais. (ALVES; MARINHO, 2010, p. 68). Na Terapia Analítico-Comportamental, como em qualquer outra abordagem psicoterápica, as pessoas buscam psicoterapia por diversos motivos e todos eles refletem situações ligadas a contingências aversivas. Disso decorre a importância de estabelecer e criar o vínculo terapêutico, como potencial reforçador positivo, pois não é fácil para cliente procurar ajuda, pois tal atitude já revela que a sua vida não vai bem e que não consegue mais resolver seus problemas sozinho. Então, cabe ao terapeuta realizar uma escuta não punitiva, ou seja, criar o ambiente em que o cliente possa emitir seus comportamentos que, antes punidos, agora estão sob necessário acolhimento e consequenciado sem punições. (DELITTI; GROBERMAN, 2005; KOHLENBERG; TSAI, 2006). Da mesma, é importante ressaltar que as verbalizações das queixas também se apresentam-se como em qualquer outra psicoterapia, por exemplo, queixas de ansiedade, de medo, de angústia, de aflição, de desespero. Mas, a terapia analítico-comportamental não concebe os sentimentos como fenômenos mentais, de natureza diferente do comportamento, mas como manifestações físicas do organismo, como ações sensoriais, perceptíveis apenas àquela pessoa. (SKINNER, 1989). Conclui-se, assim, que sentimentos (eventos privados) também são produtos (e não causas) de contingências, não se podendo alterar os sentimentos diretamente, mas as suas contingências. O caminho para tratar esses sentimentos desconfortáveis e comportamentos-alvo que compõem a queixa, é investigar as variáveis das quais o comportamento é função. Assim, inicialmente, buscam-se informações do que está ocorrendo com o cliente e como está ocorre,

16 relacionadas à queixa do cliente, o que o levou a procurar terapia, sendo que, em geral, os problemas iniciais são excessos comportamentais (p. ex. brigas frequentes com o cônjuge), déficits comportamentais (p. ex. falta de habilidade em iniciar e manter um relacionamento amoroso) e comportamentos interferentes (p. ex. dificuldade de manter interação social devido ao desconforto de ficar em grandes públicos). Em todos esses casos, os sentimentos que acompanham os relatos também são consequências, nunca a causa dos problemas. (LEONARDI; BORGES; CASSAS, 2012). Neste processo, a função do terapeuta para o cliente é de auxiliá-lo a: a) responder visando às consequências necessárias, ao mesmo tempo eliminando ou pelo menos diminuindo a aversividade experienciada na situação; b) alterar a forma de como o cliente responde às situações, alterando, assim, o comportamento (relação); e c) melhorar suas relações com terceiros (ambiente). (OLIVEIRA; BORGES, 2007). Para que o terapeuta possa realizar esta tarefa, a análise funcional é a ferramenta que permite a compreensão do caso do cliente e que norteia as tomadas de decisões por parte do terapeuta analítico-comportamental. Esta é realizada através da identificação das relações de dependência entre as respostas do cliente, a situação em que essas ocorrem e as operações motivadoras (evento que altera o valor reforçador da consequência e ao mesmo tempo altera a probabilidade de ocorrência dos comportamentos relacionados ao estímulo, p. ex. privação de relação sexual) em vigor. Resumidamente, os objetivos da análise funcional utilizada pelo terapeuta são: 1) identificar o comportamento-alvo e as condições ambientais que o mantém; 2) determinar a intervenção apropriada; 3) monitorar o progresso da intervenção; 4) auxiliar na medida do grau de eficácia e efetividade da intervenção.. (FOLLETTE; NAUGLE; LINNEROOTH apud BORGES; CASSAS, 2012). Em outras palavras, a avaliação funcional tem por objetivo entender quais os comportamentos-alvo que compõem a queixa, que contingências estão envolvidas, que tipo de processo comportamental ocorre e a história de reforçamento desse comportamento. Assim, parte-se da queixa, descreve-se em que condições antecedentes acontece, as consequências que produz e a frequência atual e histórica. Possibilitando ao terapeuta interpretar a dinâmica de funcionamento do cliente, e nortear a intervenção mais apropriada para alterar as relações comportamentais que o cliente tem com os seus diversos contextos. Essas histórias pessoais analisadas são únicas, consequentemente, possuem inúmeras possibilidades interpretativas e desfavorecem pacotes generalizados de tratamento. Dessa forma, dois clientes, com o mesmo quadro clínico, poderão necessitar de diferentes

17 intervenções. (LEONARDI; BORGES; CASSAS, 2012; CARRARA, 2008). Neste contexto, o comportamento verbal é uma complementação para a identificação de comportamentos-alvo ou clinicamente relevantes na relação terapêutica. Nesse modelo de terapia, a análise dos episódios verbais (interação entre ouvinte e falante) é uma importante ferramenta, pois possibilita ao terapeuta (ouvinte) entrar em contato com as experiências às quais apenas o cliente (falante) tem acesso, ou seja, comportamentos privados e comportamentos públicos ocorridos extrassessão. No comportamento verbal, que sempre é mediado pela comunidade e nem sempre vocal, existem alguns tipos de operantes, dos quais o tato é a forma de descrever o mundo para o ouvinte. Para Skinner (1957), é o mais importante deles, devido ao controle único exercido pela estimulação anterior (p. ex. Me sentindo aliviada, agora que falei dos meus sonhos. ; Hoje sai de casa e me senti muito bem. ). (KOHLENBERG; TSAI, 2006). Em um segundo momento, o terapeuta inicia a formulação de hipóteses, a partir dos eventos relatados em atendimento e também dos observados de forma direta na relação terapêutica (LEONARDI; BORGES; CASSAS, 2012). Essas hipóteses relacionam-se aos processos comportamentais que estão envolvidos nos comportamentos-alvo que compõem a queixa, que podem ser referentes a condições antecedentes (discriminação, operação motivadora, equivalência de estímulos etc.) e consequentes (reforçamento, punição, extinção etc.). Para auxiliar na formulação de hipóteses, alguns exemplos de perguntas que ajudam no levantamento de informações: 1) A respeito dos estímulos antecedentes da contingência: Quando você se comporta assim? ; O que você acha que te leva a pensar assim? ; Como você estava se sentindo antes de fazer isso? ; 2) Já estas podem auxiliar nos estímulos consequentes que são produtos da resposta: Se você não o fizesse, o que aconteceria? ; Como você se sente depois que age dessa maneira? ; O que acontece quando você faz isso?. (LEONARDI; BORGES; CASSAS, 2012). Este procedimento auxilia também no planejamento da intervenção, onde o terapeuta deve identificar, dentro do comportamento que ocorre, em que parte da contingência é necessário intervir: nos antecedentes, nas respostas ou nas consequências. (FOLLETTE; NAUGLE; LINNEROOTH, 1999). E, muitas vezes, pode ser necessária a intervenção em mais de uma dessas partes da contingência, seja um comportamento respondente ou um comportamento operante (BORGES, 2009; DEL PRETTE; ALMEIDA, 2012). Na análise funcional, o terapeuta analítico-comportamental deve identificar regularidades nos diversos eventos experienciados e relatados pelo cliente e na relação

18 terapêutica, e, sempre que possível, essas relações funcionais identificadas devem ser testadas, confirmando ou não as suas existências. Assim, o terapeuta analisa como as relações entre o cliente e seu ambiente se constituíram e se mantém. Dessa forma, o profissional compreende os comportamentos-alvo sem fazer julgamentos de valor e sem recorrer a explicações metafísicas, pois entende que esses comportamentos foram selecionados na história de vida do cliente. (LEONARDI; BORGES; CASSAS, 2012). Além disso, para que se possa fazer um planejamento mais apropriado, é importante que se tenha o máximo de informações sobre o cliente. Assim sendo, a avaliação funcional não deve apenas considerar as contingências mantenedoras do comportamento-alvo, mas que o terapeuta identifique, na história do cliente, as formas de como este tem enfrentado seus problemas, assim conhecerá os repertórios comportamentais que poderão ser utilizados na intervenção. Cabe, então, ao terapeuta, usar diferentes estratégicas para obter as informações para a formulação do caso, conhecendo os aspectos filosóficos, teóricos e empíricos da Análise do Comportamento, pois são esses que norteiam a formulação de perguntas, a criação de hipóteses e a elaboração de uma intervenção bem-sucedida. (LEONARDI; BORGES; CASSAS, 2012; BORGES, 2009). A dimensão da análise é igualmente importante para o planejamento da intervenção. Logo, a análise funcional deve compreender os comportamentos dentro de uma visão molar e molecular. A visão molecular pode ser entendida como a análise da tríplice contingência (pode-se utilizar contingências até cinco termos), ou seja, dos antecedentes, das respostas e das consequências. Essas análises moleculares terão foco nas consequências imediatas e diretas da contingência. Mas, é evidente que comportamentos também têm outras consequências, ditas colaterais ou secundárias. Dessa forma, deve-se fazer uma análise molar dos comportamentos. (BORGES, 2009). A visão molar é mais ampla, inclui questões como estas: De que forma as pessoas reagem aos comportamentos do cliente, atualmente?, Com estes novos comportamentos, o cliente receberá consequências reforçadoras em seu ambiente cotidiano?. Essa visão avalia o impacto que determinado comportamento está tendo no funcionamento global do cliente, além de antecipar alguns problemas que podem ocorrer na mudança desse comportamento, pois todos os sistemas aos quais o indivíduo interage são afetados na alteração de uma única classe de respostas. (BORGES, 2009). Por isso é importante o terapeuta estar atento aos efeitos das mudanças propostas nesses ambientes. Após realizar a avaliação inicial, com a análise funcional e com o planejamento da intervenção, chega o momento de iniciar a intervenção, quando o terapeuta ajudará o cliente a

19 identificar e a aperfeiçoar suas relações com os seus ambientes para que este tenha maior possibilidade de receber reforçadores e diminuir as relações de controle aversivo. (OLIVEIRA; BORGES, 2007). A intervenção se dá pelas técnicas, que são a sistematização de intervenções com vistas a determinados resultados diante de situações específicas e afirmam que técnicas têm função de estímulo antecedentes (são regras ou modelos) para uma determinada classe de respostas do terapeuta de responder sob controle delas e de produzir consequências semelhantes àquelas descritas. Essas explicam que o uso da palavra sistematização se dá em razão de as técnicas terem resultados efetivos, empiricamente comprovados, e por terem uma descrição suficientemente padronizada e precisa, para facilitar o treino e a aplicação por outrem. (DEL PRETTE; ALMEIDA, 2012, p. 78). O terapeuta deve estar atento para o relato sobre os respondentes (muitas vezes nomeados como raiva, culpa, ansiedade, medo) e sua manifestação na sessão de atendimento, pois esses podem também dar material para a avaliação funcional, por exemplo, quando um relato de raiva acontece, sugere uma contingência de estimulação aversiva produzida por outra pessoa ou de privação de evento reforçador positivo (punição negativa). (DEL PRETTE; ALMEIDA, 2012; CATANIA, 2008). Da mesma forma, muitas vezes esses respondentes são relatados pelos clientes como a causa do sofrimento, podendo alterar o comportamento operante, suprimindo ou exacerbando a resposta ou levando a uma tentativa de controle, o que muitas vezes só piora a condição (p. ex. um homem, para não se sentir ansioso e com medo de perder o controle nas frequentes reuniões da empresa, pede demissão). Nos respondentes, podem ser usadas técnicas como Dessensibilização Sistemática e Exposição como forma de intervenção no estímulo (S R) e Relaxamento Muscular Progressivo de Jacobson e Treino de Respiração na resposta (S R). A importância desse tipo de intervenção reside na redução de respostas de esquiva e no enfrentamento de estimulação aversiva, o que possibilita o desenvolvimento do repertório comportamental mais apropriado. (DEL PRETTE; ALMEIDA, 2012). Neste nível de intervenção, deve-se realizar uma cuidadosa análise sobre a relação entre estes e os operantes, pois um tem influência sobre o outro. Por exemplo, um indivíduo que tem respondentes de medo na presença de cães e este se coloca nesta situação aversiva, se alguém intervém em sua defesa, isto pode trazer implicações para o operante falar da fobia de cães e este ficar sob controle da atenção social obtida. Dessa forma, se for implementada uma intervenção respondente na diminuição do medo, as consequências

20 dessa diminuição do respondente influenciaria diretamente na diminuição da atenção social, consequenciado pelo operante, o que poderia sabotar o processo terapêutico. Intervenções sobre o comportamento operante enfatizam alterações com foco no antecedente, na resposta ou na consequência. Algumas das técnicas do antecedente estão baseadas na alteração do comportamento verbal, ou seja, na mudança de regras e autorregras, autoconhecimento e autocontrole. (DEL PRETTE; ALMEIDA, 2012). Na Análise do Comportamento, regras são antecedentes verbais que descrevem uma contingência (relações do tipo se... então ) e que podem exercer controle sobre uma resposta. Ou seja, regra é uma afirmação (ordem, dica, conselho, instrução, sugestão, etc.) de que, em um determinado contexto, uma determinada resposta é emitida ela terá determinadas consequências, sejam punitivas ou reforçadoras. (MARTIN; PEAR, 2009). A distinção entre regras e autorregras está na origem dos antecedentes verbais. Assim, a primeira refere-se à formulação realizada por outras pessoas ou agências controladoras e a segunda à formulação da própria pessoa que a segue. (DEL PRETTE; ALMEIDA, 2012). A concepção das regras e das autorregras está estreitamente ligada ao que se entende por autoconhecimento, que é definido como um repertório comportamental de autoobservação e de autodescrição (sobre o próprio comportamento, incluindo as contingências que o controlam). Esse pode ser chamado também de uma relação fazer-dizer, isto é, o que se diz sobre aquilo que se faz. (DEL PRETTE; ALMEIDA, 2012). Ou seja, entender a função de cada comportamento, saber como e por que ocorre, ajuda na tomada de decisão, no planejamento de longo e médio prazo e no estabelecimento de metas e propósitos. (JONAS apud SILVA; DE-FARIAS, 2010). Com este objetivo, de desenvolver o autoconhecimento do cliente, o comportamento verbal do terapeuta de emitir regras é uma importante fonte de controle para este fim. Este utiliza duas classes verbais durante a terapia: a) interpretação, pela qual o terapeuta expõe algo de forma afirmativa, interrogativa ou pela afirmação com pergunta de confirmação (p. ex. Percebo que, quando você se relaciona com seus namorados, não existe um envolvimento emocional. ); b) solicitação de reflexão, em que o terapeuta faz perguntas fechadas ou perguntas abertas, afirmações imperativas ou apresenta dicas, afirmações ou comentários para reflexão (p. ex. Se você não gosta de estudar Direito, o que te mantém ainda frequentando as aulas? ). Esses operantes levam o cliente a relatar autorregras, também ampliando o seu autoconhecimento. (ZAMIGNANI, 2007). Assim, o indivíduo tem consciência do que faz quando pode descrever a topografia do comportamento (p. ex. Nos sábados sempre vou até o quarto e pego um cobertor para me

21 cobrir deitado no sofá da sala. ), mas este apenas é consciente das razões do comportamento se puder descrever os aspectos importantes e variáveis relevantes do contexto ou do reforçamento, ou seja, analisar funcionalmente as relações que existem entre a resposta emitida e o ambiente (p. ex. Nos sábados, eu sinto a falta da minha mulher [falecida], então vou até o quarto dela e pego uma coberta que ela gostava muito... e me deito no sofá da sala pensando nela. ). Nesse caso, na privação da presença da esposa (operação motivadora) sozinho em casa (antecedente), ele foi até o quarto e pegou um objeto que estava associado afetivamente à sua esposa e foi até a sala (resposta) e lá deitou no sofá pensando nela (consequência reforçadora). (SKINNER, 1969). O cliente, ao descrever funcionalmente os motivos do seu comportamento, percebe a origem do controle e assim pode intervir neste. Mas esse tipo de relato só ocorre por meio de perguntas que lhe foram feitas pela comunidade verbal (família, amigos, terapeuta), desde a mais tenra idade. Assim, existem pessoas que têm o repertório de emitir autotatos (resposta controlada por estímulos discriminativos, p. ex. sensações corporais) mais desenvolvidos que outros e cabe ao terapeuta auxiliar o cliente na emissão desse tipo de comportamento através de perguntas. Fazendo isto, o indivíduo deixa de ser objeto e se torna sujeito pois se torna capaz de planejar e de se autogovernar, por meio do autoconhecimento que é sinônimo de consciência. (MICHELETO; SÉRIO, 1993). Assim, com o autoconhecimento, o sujeito é capaz de construir suas autorregras que, por sua vez, também possibilitam o autocontrole. O autocontrole possibilita ao indivíduo decidir sobre os seus determinantes, suas autorregras e segui-las ou não. (SKINNER, 1977). Por exemplo, um indivíduo fumante, através da sua família conhece os malefícios do cigarro (conhecimento) e também percebe que toda vez que tem dificuldades no trabalho, sai para dar uma caminhada e fumar (autoconhecimento). Dessa forma, ele tem evitado sair por qualquer motivo da empresa e, com isso, diminuiu o consumo de cigarros por dia (de certa forma isso é um autocontrole). Essa é uma relação dizer-fazer, ou seja, a emissão de uma resposta controladora (p. ex. Não vou sair agora, vou resolver isso, pois sei que fumarei lá fora ) altera a emissão da resposta controlada (p. ex. sair para fumar), em que a primeira é necessária para colocar o segundo para responder sob controle de consequências a longo prazo, produzindo menos consequências aversivas (p. ex. praticar esportes sem problemas respiratórios). (DEL PRETTE; ALMEIDA, 2012). Pode-se, assim, ter o ledo engano de que a Análise do Comportamento e as Terapias Cognitivas seriam conciliáveis quando se tratar do entendimento de regras (o que inclui crenças ). A noção de regras sugere uma probabilidade de ação, que também é resultado da