A ATUAÇÃO DE PROFESSORES NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

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Transcrição:

A ATUAÇÃO DE PROFESSORES NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Cremilda da Silva Monteiro Centro Universitário Geraldo Di Biase Resumo Com o objetivo de refletir sobre a atuação e os desafios enfrentados pelo professor que atua na Educação a Distância, investigamos, neste artigo, de que forma o professor pode contribuir para a construção de conhecimentos significativos em ambientes virtuais. Os dados obtidos através da pesquisa exploratória e bibliográfica apresentam informações referentes às variadas metodologias de mediação e de interação que são aplicadas na construção e efetivação do processo de ensino e aprendizagem no ambiente virtual. Em ambientes online torna-se essencial o conhecimento prévio de professores e alunos quanto ao uso das tecnologias de informação e comunicação. Essas ferramentas tornam os processos de interação e mediação pedagógica mais efetivos entre professores, alunos e grupos de estudo, promovendo de fato um conhecimento significativo. Os recursos e ferramentas disponibilizados pelo professor possibilitam a mediação, mas esta não prescinde de estratégias e metodologias que se concretizam a partir das relações interpessoais mediadas pelo professor. Na Educação a Distância a mediação e a interação precisam ser trabalhadas com o intuito de manter acessa a motivação e o interesse do aluno em estudar. À guisa de conclusão pode-se afirmar que a atuação do professor é um dos pilares que pode enfrentar a evasão, um dos grandes desafios dessa modalidade de ensino: seu desempenho poderá estimular o aluno a vencer obstáculos e concluir seus estudos. Palavras-chave: Educação a Distância. Mediação pedagógica. Letramento digital. Introdução Vivemos hoje em uma sociedade em que os recursos tecnológicos vêm tomando cada vez mais espaço na área da educação. Entender sobre tecnologia se tornou um fato de extrema importância devido as exigências do mundo contemporâneo tão competitivo onde a cada minuto tudo se torna ultrapassado. Diante de tantas transformações ocorridas no campo educacional verifica-se a Página 238

necessidade de olhar com atenção o papel do professor da Educação a Distância (EAD). Este artigo tem como objetivo refletir sobre a atuação e os desafios enfrentados pelo professor da EAD no seu fazer pedagógico. Para atingir esse objetivo buscaremos responder à seguinte questão: De que forma o professor pode construir em um ambiente virtual, o conhecimento junto com o aluno para que este se torne significativo? Para responder a essa questão optou-se por uma pesquisa exploratória na qual serão utilizados como fontes materiais bibliográficos tais como livros, artigos científicos, teses, dissertações e informações disponíveis na web sobre as características e ferramentas necessárias no processo de construção do conhecimento na EAD. O presente estudo está dividido em seções que abordarão um breve histórico sobre a EAD no Brasil e no mundo, a mediação pedagógica na EAD, o letramento digital de professores e alunos, e a elaboração do material didático na EAD. Histórico da EAD no Brasil e no mundo Segundo Gouvêa; Oliveira (2006) podemos considerar que a Educação a Distância (EAD) pode ter tido origem no século I a partir das epístolas do apóstolo Paulo enviadas aos cristãos da Ásia Menor, conforme registro na Bíblia. É possível que o início da EAD no Brasil não tenha sido registrado, pois os primeiros registros são do século XX. As datas e os acontecimentos considerados relevantes neste momento histórico foram os cursos por correspondência, experiências radiofônicas e utilização de programas de televisão em projetos educativos e, a seguir, a inserção das Tecnologias da Informação e da Comunicação no contexto educacional. Atualmente, mais de 80 países, nos cinco continentes, adotam a EAD em todos os níveis de ensino, em programas formais e não formais, atendendo a milhões de estudantes. Página 239

A mediação pedagógica na Educação a Distância Um aluno bem preparado e motivado geralmente tem um professor comprometido e responsável com seu trabalho. Tais qualidades só podem ser atribuídas ao educando quando o professor envolvido no processo promove momentos de interação e trabalha de acordo com o tempo de cada um, respeitando sua individualidade. Deste mesmo modo, o professor é peça fundamental nesse processo para que haja a comunicação entre o educando e o conteúdo, como citam Medeiros et al.: O professor e o grupo como um todo passa a ser solicitado a interagir com diferentes meios e sujeitos e a compartilhar o conhecimento, para construir novas relações, fazendo e desfazendo as informações dadas, reconstruindo-a em novos espaços em diferenciados significados e novas formas de organização (2003, n.p.). É fundamental que o professor transmita um sentimento de motivação e proponha mudanças capazes de provocar em seus alunos o interesse e o desejo de permanecerem no curso até seu término. Ele tem que compartilhar das conquistas, das dificuldades e de tantos outros obstáculos com seus educandos, sendo ele uma das partes principais e muito importante desta modalidade. É ele quem faz a ponte entre as novas formas de aprendizagens através da tecnologia, promovendo sempre a interação entre os estudantes, conversas estimulantes e trabalhos em grupo para a troca de conhecimentos, tendo um papel colaborativo, cooperativo e comunicativo. Ainda se tem a errônea ideia de que o ensino a distância é frio e com pouquíssimo contato com o educando. Pode-se afirmar que, entre o conhecimento acumulado pela humanidade e o aluno, está o professor. E, cabe a ele, mediar a aprendizagem. Essa mediação se dá na medida em que o professor aproxima o aluno do conhecimento, facilitando a compreensão e, consequentemente, a aprendizagem. Os indivíduos estão em processo de aprendizagem a todo tempo e realizam várias atividades sobre diversos objetos. Considerando-se que a realidade é constantemente modificada, é papel do professor realizar a mediação pedagógica adequando-a às necessidades apresentadas por seus alunos. Segundo Souza (2006, Página 240

p.68) [...] ao entrarmos em contato com o contexto escolar, a mediação assume características diferentes, passando a ter caráter intencional e sistematizado denominado mediação pedagógica. Nesse contexto a mediação ocorre quando a aprendizagem acontece por intermédio do outro, sendo ela presencial ou online. No ambiente virtual a mediação pedagógica tem características específicas, como mostraremos a seguir. Uma dessas características é a interação professoraluno que deve ocorrer, mesmo à distância. As interações que ocorrem ao longo dos cursos não presenciais geralmente se apresentam de forma isolada e sem nenhum tipo de troca, como cita Palloff; Pratt (2004). A interação entre alunos depende da significação prévia das atividades propostas no começo do curso ou durante o seu desenvolvimento. No entanto observa-se que as tarefas solicitadas nos cursos, muitas vezes, demandam apenas respostas isoladas dos alunos, não ocorrendo propriamente interação entre os envolvidos no processo educativo. Outra característica específica da mediação pedagógica no ambiente virtual é que por intermédio da tecnologia da informática é possível estabelecer uma interação na qual alunos e professores não se percebam distantes uns dos outros. Essa interação favorece não apenas o aprendizado colaborativo, mas contribui para o armazenamento, distribuição e principalmente o acesso às informações, independentemente do local em que se encontrem os alunos. Palloff; Pratt (2004) chamam a atenção para o fato de alguns professores pensarem que independente do curso, seja presencial ou à distância, os alunos aprendam da mesma maneira e destacam que se fazem necessárias abordagens diferenciadas de ensino. Observa-se que nos cursos de EAD, as ferramentas de comunicação (computadores, internet, software, etc.) além de terem como objetivo facilitar o processo de ensino-aprendizagem estimulam, a interação e colaboração entre os participantes e possibilitam que o professor crie atividades planejadas, observe, reflita e analise o trabalho que o aluno está realizando. Desta forma, criamse condições para que o professor auxilie o aluno na resolução de seus problemas. Partindo deste pressuposto, tanto na modalidade presencial quanto na modalidade à distância, o professor deve procurar desenvolver hábitos, habilidades e atitudes que favoreçam a utilização do tempo e local para que o processo de aprendizagem ocorra. Página 241

Professores e alunos, por meio de recursos disponíveis via internet podem trocar informações, num processo de aprendizagem colaborativa e interativa de acordo com seu tempo e sua necessidade. Um recurso essencial nesse processo é o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) que é aquele onde professor e aluno não precisam estar necessariamente num mesmo espaço físico, nem na mesma hora para que a interação ocorra. Mesmo nesse ambiente, é importante que a interação aconteça, pois é através dela que se consegue uma troca eficiente entre os envolvidos e onde a construção do conhecimento se realiza. É preciso que os professores contextualizem e direcionem as atividades propostas aos alunos, pois, existem características específicas nesse atendimento que demandam a significação de conteúdos. Neste sentido a EAD tem o professor como o condutor para implantar condições que venham permitir a construção de conhecimento, assessorando o aluno no sentido de entender o que ele faz e poder desta forma desafiá-los a novas experiências, auxiliando-o a atribuir significação ao que está realizando. Na EAD é comum que o aluno espere que as ações do professor sejam as mesmas do professor do curso presencial que são: interação simultânea e resposta imediata do professor. Interessante observar que nem sempre essas características estão presentes no ensino presencial. Devido a diversos fatores que interferem neste processo, sejam eles interpessoais, sobrecarga de conteúdos, dificuldade de transposição didática, turmas numerosas, entre outros, o professor, no ensino presencial, nem sempre interage com a turma. No entanto, ainda é mais difícil que a interação por parte dos professores ocorra de maneira adequada na EAD. É preciso que o professor deixe claro quais serão as responsabilidades dos alunos e esteja disposto a atender suas expectativas, para que os mesmos se sintam motivados a continuarem o curso e compreendam como funciona a aprendizagem online. Tal postura docente poderá evitar a desistência do aluno, já que foi esclarecido acerca de todo o funcionamento do curso e está ciente sobre os procedimentos a serem realizados. Outra medida a ser tomada é a preparação do professor: Página 242

Se os professores são treinados não apenas para ministrar cursos usando a tecnologia, mas têm conhecimento de métodos pedagógicos que facilitam sua vida online, e se, além disso, o desenvolvimento da comunidade, se tornar uma prioridade, o resultado poderá ser um curso altamente interativo (PALLOFF; PRATT, 2004, p. 141). Ou seja, quando o profissional de ensino tem um olhar mais pedagógico e mais social, sua atuação se torna mais interativa. Para que essa atuação docente seja efetivamente instrutiva é preciso que aluno e professor tenham seus papéis definidos: o aluno sabendo que neste tipo de ensino terá suas responsabilidades e total autonomia para determinar quando e onde estudar, e o professor, por sua vez, sabendo que deve deixar claro quando acontecerão seus encontros presenciais e quais serão as oportunidades de feedback oferecidas aos educandos. Pode-se afirmar que as novas tecnologias muito têm contribuído para auxiliar professores e alunos no processo ensino-aprendizagem e, ao mesmo tempo, exigem uma nova postura por parte do professor no sentido de dominar novas habilidades tecnológicas e até mesmo facilitar a compreensão de leitura-escrita de adolescentes em chats e também e-mails. Os alunos, contemporâneos da tecnologia, crescem e vivem em ambientes em que artefatos tecnológicos fazem parte de seu dia a dia. Mas como o professor pode alcançar tal domínio? Devemos esperar que ele se torne um letrado no meio digital para que esteja apto a atuar na EAD? Como veremos a seguir, o letramento digital não é uma competência simples: além de dominar o uso de ferramentas computacionais, é preciso saber utilizá-la de forma crítica, ou seja, [...] tornar-se digitalmente letrado significa aprender um novo tipo de discurso e, por vezes, assemelha-se até a aprender outra língua (FREITAS, 2010, p. 338). Letramento digital de professores e alunos Segundo Soares (2002) o letramento digital refere-se ao conjunto de competências que o indivíduo adquire e que serão utilizadas e desenvolvidas através do computador. Pesquisas mostraram que não basta somente ter acesso e um conhecimento superficial sobre Internet para que o professor consiga exercer suas práticas pedagógicas concomitantemente com os recursos disponíveis no mundo Página 243

digital. Torna-se primordial que professor/computador/internet se integrem à prática profissional. Aproveitar o conhecimento já existente no exercício da docência com o novo modelo de educação trará aos professores e alunos condições de um melhor uso da tecnologia na prática escolar (MACHADO; TERUYA, 2009). Vale ressaltar que, devido as diversas transformações que ocorreram na maneira de se transmitir conhecimento, não sendo somente a escola ou o espaço escolar o único local detentor desse saber, professores muitas vezes sentem-se ameaçados e inseguros em sua prática docente. As autoras acima citadas afirmam também que os docentes se sentem até mesmo descontentes no tocante às mídias e às tecnologias digitais, tendo que urgentemente capacitarem-se para acompanhar essa revolução de inovações no seu fazer educacional. Como um professor que se encontra na posição fictícia de estrangeiro digital consegue conviver com um aluno já legitimamente digitalizado? Para Freitas (2010) os professores precisam reconhecer que [...] o aluno nativo digital tem um conhecimento específico que nós não temos: ele tem um letramento digital no sentido amplo, e não apenas um domínio técnico. Como falta ao professor o letramento digital e ele não reconhece esse letramento digital do aluno como conhecimento, mas como técnica, o professor também não se reconhece como um não-letrado digital (p. 348). No tocante ao letramento digital, os processos formativos de professores, tanto iniciais como continuados, ainda se encontram numa posição quase que embrionária. Segundo Gatti; Barreto (2009) a formação de professores para a educação básica no Brasil, bem como a estrutura curricular e as ementas dos cursos de ensino superior responsáveis pela formação inicial dos docentes na área de pedagogia, indicam que o currículo apresenta característica fragmentada, disciplinas dispersas, faltando relação concreta entre teoria e prática. Esse cenário acaba reduzindo o desenvolvimento de habilidades específicas necessárias à prática computador/internet, essencial aos profissionais da educação. Sabemos, entretanto, que a necessidade de desenvolver habilidades específicas em relação às novas tecnologias também diz respeito aos alunos. O aluno da EAD, durante seu processo inicial de estudo, não conta com uma experiência Página 244

prévia sobre esta modalidade de ensino, que, por sua vez, requer certo conhecimento na utilização das tecnologias. O aluno pode apresentar dificuldades de organização, de gerenciamento do tempo, de planejamento e estratégias adequados e, por essa razão, pode se sentir perdido, sem saber ao certo como proceder. Nesta modalidade de ensino muitos são os elementos que causam no aluno desilusão e frustração, como por exemplo: conteúdo do curso desinteressante para o aluno, dificuldade para navegar entre as diversas seções do curso, falta de prática para participar do fórum de discussão, ler mensagens, compreender, realizar e enviar respostas aos exercícios das seções ou realizar exercícios muito longos. De forma geral, a modalidade EAD não é a melhor escola para o aluno que não dispõe de tempo. O aluno que vive sempre muito ocupado sente mais dificuldade em se adaptar ao modo de estudo online e nem sempre obtém sucesso quanto não domina os conhecimentos básicos de uso das tecnologias. A dificuldade em acompanhar e manter uma interação através de envio de e- mail, chats, grupos de discussão, realização das tarefas, ocasionadas pela falta de uma alfabetização tecnológica se torna um dos maiores obstáculos para o aluno da EAD e faz-se necessário que haja, por parte do professor, um esclarecimento de como o aluno deve se preparar para enfrentar este novo desafio. Isso porque a EAD requer uma prévia habilidade. Embora existam muitos obstáculos o professor da EAD deve propor aos alunos atividades que despertem o interesse e que os façam se sentir capazes e estimulados. O papel do professor na preparação do material didático da EAD O processo ensino-aprendizagem nos cursos da EAD é mediado pelo professor e pelos recursos por ele utilizados, seja a produção de material impresso, vídeos, programas televisivos e radiofônicos, teleconferências, CD-ROM, páginas na WEB e outros. A elaboração do material didático para atendimento online atende a diferentes lógicas de concepção, produção, linguagem, estudo e controle de tempo e somente a Página 245

experiência adquirida pelo professor com os cursos presenciais não é suficiente para assegurar a qualidade necessária a essa elaboração. O material didático produzido para a EAD deve desenvolver um diálogo com o aluno, e estar vinculado ao instante presente relacionando-o a sua realidade, para que ele possa associá-lo de maneira útil à sua realidade. O material deve ser voltado para a aprendizagem e não para o ensino, deve promover um diálogo e ter cuidado para não se tornar indutivo, o que geraria um texto confuso que não seria de fácil compreensão. Um bom material consegue ser capaz de esclarecer as dúvidas do aluno, possibilitando até mesmo sua interação com o conhecimento. Para que essa característica esteja presente é preciso evitar textos expositivos e impessoais ou uma estrutura que não permita ao aluno organizar-se. O professor que elabora o conteúdo desses materiais deve ter o objetivo de possibilitar uma aprendizagem autodirigida e oferecer informações que direcionem o esforço do aluno. Ao se elaborar um material impresso para a EAD devem-se considerar alguns pontos: identificar o perfil do novo leitor que utilizará este material; utilizar uma linguagem dialógica; deixar claro o que se quer dizer com o texto; o texto deve ser leve, claro e rico em analogias ( semelhanças entre coisas ou pessoas distintas); os termos científicos devem ser explicados, levando em conta que o aluno não conta com a presença do professor para esclarecimentos e resolução de dúvidas; o material deve ser vinculado ao momento presente e ser atraente para motivar o aluno a continuar estudando. Nesta modalidade de ensino é de suma importância levar o aluno a aprender a aprender, a refletir e questionar, buscar soluções e reconstruir conceitos que possam ser utilizados em sua vida diária, construindo desta forma habilidades e conhecimentos nas mais diversas situações do seu dia a dia. Faz-se necessário que os docentes responsáveis pela elaboração e construção desses materiais e conteúdos trabalhem integrados a uma equipe multidisciplinar, contendo profissionais capacitados e experientes em desenho instrucional, diagramação, ilustração, desenvolvimento de páginas web, entre outros que venham verdadeiramente torná-lo adequado aos alunos da EAD. Página 246

Vale apenas ressaltar que o bom desempenho e sucesso da EAD muitas vezes resultam da escolha do material didático que será utilizado durante o curso. A construção do material didático deve se preocupar em manter a unidade entre os conteúdos trabalhados em todas as áreas, numa linguagem dialógica que promova autonomia no aluno. Tanto a abordagem do conteúdo quanto a forma com que o material didático é disponibilizado para a EAD devem estar pautadas numa concepção epistemológica explicitada no projeto pedagógico. Essa abordagem deve desenvolver no aluno, habilidades e competências específicas, para que ele possa utilizar diversos tipos de mídias compatíveis com o contexto, no intuito de facilitar a construção do conhecimento e mediar o diálogo entre professor, aluno e demais integrantes do processo ensino-aprendizagem. Alguns professores programam atividades síncronas, aquelas que exigem a participação dos interlocutores no mesmo horário, mas o que predomina no curso da EAD são as atividades assíncronas, que permite que professores e alunos trabalhem em tempos diferentes. Ao se elaborar material didático para a EAD deve-se ter o cuidado de fornecer ou preparar também um guia geral do curso onde o aluno possa se orientar tanto sobre as características do curso quanto aos direitos, deveres, normas e informações claras e precisas sobre toda estrutura pedagógica. Esse guia inclui desde grade curricular até os materiais que serão colocados a disposição do aluno, além de cronograma (data, horário, local - quando for o caso) para o sistema de acompanhamento e avaliação. Considerações finais A partir da pesquisa realizada para investigar de que forma o professor pode contribuir para a construção de conhecimentos significativos em ambientes virtuais observa-se a relevância do seu comprometimento e responsabilidade com o seu trabalho. Com esses atributos poderá promover momentos de interação produtivos, respeitando o tempo e a individualidade de cada um dos seus alunos. Página 247

Por isso, se faz necessário que o professor tenha consciência de sua importância e esteja preparado para atuar e desenvolver nos alunos da EAD a motivação e a troca de conhecimentos entre os grupos de estudos, utilizando atividades virtuais através do trabalho cooperativo, superando desta forma obstáculos, dificuldades e inseguranças que fazem parte da rotina do aluno. No entanto, sabemos que para construir o conhecimento é preciso que o aluno seja instigado a avançar em busca de novas aprendizagens. Para que isso ocorra o conhecimento de professores e alunos na área digital deve ser aprimorado, e uma atenção especial deve ser dispensada à elaboração de materiais didáticos de fácil compreensão. Esses requisitos poderão contribuir para dar segurança ao aluno para realizar suas tarefas. O avanço das tecnologias da informação e da comunicação e sua utilização no campo educacional tornou imprescindível um olhar mais apurado e determinado em relação à maneira como o professor vem sendo preparado para atender esse novo perfil de alunos que optam pela Educação a Distância. Os dados coletados através da pesquisa bibliográfica permitiram a obtenção de informações referentes às variadas metodologias aplicadas na formação e capacitação do profissional que atuará na Educação a Distância. Sabemos que neste módulo educacional a mediação e a interação são requisitos essenciais ao processo educativo e precisam ser desenvolvidos com o intuito de se manter acesa a motivação e o interesse do aluno em estudar. A EAD tem como um de seus grandes desafios a permanência do aluno até o término do curso e a atuação do professor é um dos fatores primordiais para que o aluno conclua seus estudos. Referências FREITAS, Maria Tereza. Letramento digital e formação de professores. Educação em Revista, v. 26, n. 03, p. 335-352, 2010. GATTI, B. A.; BARRETO, E. S. S. Professores do Brasil: impasses e desafios. Brasília: Unesco, 2009. Página 248

GOUVÊA, G.; C. I. OLIVEIRA. Educação a Distância na formação de professores: viabilidades, potencialidades e limites. 4. ed. Rio de Janeiro: Vieira e Lent. 2006. MACHADO, S. F.; TERUYA, T. K. Mediação pedagógica em ambientes virtuais de aprendizagem: a perspectiva dos alunos. Congresso Nacional de Educação, 9, 2009, Pará. Anais eletrônicos do EDUCERE, 2009. MEDEIROS, Marilu Fontoura; MEDEIROS, Gilberto Mucilo; BEILER, Adriana. O cenário da educação a distância: compromissos da Universidade brasileira. In: X Congresso internacional de educação a distância. Porto Alegre, 2003. Disponível em: http://www.abed.org.br/congresso2003/docs/anais/tc41.pdf. Acesso em ago. 2016. PALLOFF, Rena M.; PRATT, Keith. O aluno virtual: um guia para trabalhar com estudantes online. Porto Alegre: Artmed, 2004. SOARES, M. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educação e Sociedade, Campinas, v.23, n.81 p. 143-160, dez.2002. SOUZA, R. A M. A mediação pedagógica da professora: o erro na sala de aula. Campinas, SP: 2006. Tese de doutorado Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação. Página 249