O IMPACTO DOS CUSTOS DA QUALIDADE

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Transcrição:

O IMPACTO DOS CUSTOS DA QUALIDADE CLÁUDIA CARRANO ALMEIDA DAVID VITAL DE OLIVEIRA UFSM-UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CAMPUS UNIVERSITÁRIO, PPGEP, SALA 305 SANTA MARIA - RS - BRASIL CEP 97015-900 E-MAIL: davidv@fatecnet.ufsm.br RESUMO Nos últimos anos, tem-se observado que, cada vez mais, as empresas têm necessidade de justificar seus investimentos. Um ambiente de negócios mais competitivo e complexo exige medidas de controle que representem a sua realidade e apontem caminhos para o contínuo crescimento industrial. Neste contexto, o gerenciamento de custos visa suportar a tomada de decisões e o controle da utilização estratégica dos recursos empresariais, buscando o crescimento não só operacional, mas também financeiro da organização. 1. INTRODUÇÃO No passado, um dos principais obstáculos relacionados ao estabelecimento de programas mais sérios da qualidade, foi a noção equivocada de que a conquista da qualidade exigia custos bem mais elevados. Nada poderia estar mais longe dos fatos da experiência industrial. Qualidade insatisfatória significa utilização insatisfatória dos recursos. Isto implica desperdícios de material, mão-de-obra e tempo em equipamento, e, conseqüentemente, envolve maiores custos. Por outro lado, qualidade satisfatória significa utilização satisfatória dos recursos e, por conseguinte, custos reduzidos. A melhoria da qualidade transfere o desperdício em homens-hora e tempo-máquina para a fabricação de um bom produto e uma melhor prestação de serviços. O resultado é uma relação em cadeia: custos mais baixos, melhor posição competitiva, pessoas mais felizes no trabalho, empregos e mais empregos. (DEMING, 1989) O fator mais importante nesses conceitos enganosos do passado, era um pressuposto generalizado de que a qualidade praticamente não poderia ser medida em termos de custo. Parte da razão para tal pressuposto se encontrava na contabilidade tradicional de custos, que não conseguia enquadrar e quantificar o custo da qualidade em sua estruturas antigas, inflexíveis e limitadas. A outra parte se deve ao fato de que alguns responsáveis pelo controle da qualidade relutavam em encorajar a medição de custos da qualidade. Eles temiam que tal identificação pudesse conduzir a reduções drásticas e menos sensatas nesses custos e, por conseguinte, a redução nos próprios programas de qualidade. 1598

2. HISTÓRICO DE CUSTOS DA QUALIDADE Desde que o conceito de custos da qualidade foi primeiramente apresentado por Juran, em 1951 em seu livro Quality Control Handbook, a medição e o controle desses custos tornaram-se elementos essenciais na contabilidade das empresas. Atualmente, quando o custo da qualidade pode ser comparável em importância aos custos de mão-de-obra e vendas, os custos da qualidade são orçados pelos departamentos, empregados em decisões de importantes investimentos de capital e são parte de significativas determinações empresarias em companhias modernas que estão se empenhando para manter e melhorar suas posições competitivas. Em 1991, O Instituto de Contadores Gerenciais (IMA), publica "Current Trends in Quality Costs", reafirmando a importância dos custos da qualidade na tomada de decisões gerenciais e propondo a utilização de sistemas de custos baseados em atividades (Custeio ABC) para medir custos da qualidade e relacionar as causas dos custos a várias atividades. Mas, para medir custos da qualidade, é preciso, antes de tudo, ter-se clareza do que é qualidade. Por isso, a seguir, apresentar-se-á a definição de qualidade segundo seus principais autores, e em seguida, as definições de custos da qualidade. A definição de Juran tendo qualidade como sendo "adequação ao uso" é amplamente utilizada na literatura por renomados autores e empresas que estão envolvidas com programas de controle da qualidade total ou programas de melhoria contínua. Segundo Feigenbaum, qualidade é a determinação do cliente, e não a determinação da engenharia, nem de marketing e nem da alta administração. A qualidade deve estar baseada na experiência do cliente com produto ou serviço, medidas através das necessidades percebidas que representam uma meta num mercado competitivo. Para Crosby, a qualidade é vista como "conformidade com os requisitos", e acrescenta que se existe empenho em fazer bem feito na primeira vez, então os desperdícios seriam eliminados e a qualidade não seria dispendiosa. Um programa de qualidade ou melhoria contínua deve ter clareza na sua definição de qualidade, pois a ênfase dada em uma metodologia dependerá de seus conceitos básicos. 3. O QUE SÃO CUSTOS DA QUALIDADE Custos da qualidade são os custos associados com a obtenção e manutenção da qualidade em uma empresa, tanto em manufatura quanto em serviços. As definições de custos da qualidade variam de acordo com a definição de qualidade e estratégias adotadas pela empresa, o que leva a diferentes aplicações e interpretações. Segundo Juran, custos da qualidade são aqueles que não deveriam existir se o produto saísse perfeito da primeira vez. Juran associa custos da qualidade com as falhas na produção que levam a retrabalho, desperdício e perda. Já Feigenbaum define custos da qualidade como aqueles custos associados com a definição, criação e controle da qualidade, assim como a avaliação e retroalimentação da conformação com a qualidade, garantia e requisitos de segurança, e aqueles custos associados com falhas nos requisitos de produção e depois que o produto já se encontra nas mãos do cliente. Estes custos estão relacionados com a satisfação total do cliente. Para Crosby, custo da qualidade está relacionado com a conformação ou falta de conformação aos requisitos. Custo da qualidade é o catalisador que leva a equipe de melhoria da qualidade e o restante da gerência, a plena percepção do que está acontecendo. Antes, limitavam-se, muitas vezes, a simular que seguiam o programa só para causarem boa impressão. 1599

Assim, a falta da qualidade gera prejuízo, pois quando um produto apresenta defeitos, a empresa gasta novamente para corrigir tais defeitos e o custo de produção de uma peça defeituosa pode até dobrar. Estes custos provenientes de falhas no processo produtivo fazem parte dos custos da qualidade e servem para medir o desempenho dos programas de melhoria nas organizações. 4. CUSTOS OPERACIONAIS DA QUALIDADE Apesar das diferentes definições dos custos da qualidade, pode-se classificar as idéias dos autores citados acima dentro da proposta de Feigenbaum. As áreas principais do custo da qualidade são: Custos de Controle - Custos da Prevenção - Custos da Avaliação Custos de Falha no Controle - Custos de Falha Interna - Custos de Falha Externa Os Custos de Controle são aqueles necessários para garantir que o produto saia perfeito. Já os Custos da Falha de Controle são devidos a falhas que podem ser detectadas na linha de produção, antes que o produto saia da empresa ou mesmo depois que o produto já se encontra no mercado. - Custos de Prevenção: são todos os custos incorridos para evitar que falhas aconteçam. Tais custos tem como objetivo controlar a qualidade dos produtos, de forma a evitar gastos provenientes de erros no sistema produtivo. Incluídos nestes, encontram-se custos como: engenharia da qualidade, treinamento, controle de processo, análise e aquisição de dados, relatórios de qualidade, controle do projeto, custos administrativos da qualidade, estudo de processos, informação da qualidade e outros. - Custos de Avaliação: são os custos necessários para avaliar a qualidade do produto pela primeira vez e assim, detectar falhas e inconsistências antes que o produto seja posto no mercado. Tais custos incluem: inspeção de matéria-prima, inspeção e teste, teste de equipamento, testes produção, material consumido nos testes, avaliação de estoques, operações de laboratórios, aprovações de órgãos externos como governo, seguro, laboratórios, demonstração de qualidade, relatórios de qualidade e outros. - Custos de Falha Interna: são todos aqueles incorridos devido a algum erro do processo produtivo, seja ele falha humana ou mecânica. Quanto mais cedo os erros são detectados, menores serão os custos envolvidos para corrigi-los. Alguns exemplos de falhas internas são: refugos, retrabalho, paradas, esperas, falhas do fornecedor, utilização de material rejeitado para outras finalidades e outros. - Custos de Falha Externa: são aqueles decorrentes de falhas no produto ou serviço quando estes se encontram no mercado e/ou são adquiridos pelo consumidor final. Falhas Externas ocasionam grandes perdas em custos intangíveis, como destruição da imagem e credibilidade da empresa. Quanto mais tarde forem detectados, maiores serão os custos envolvidos para corrigi-los, além de ocasionar perdas que muitas vezes são irreversíveis. São consideradas Falhas Externas: atendimento a reclamações, material devolvido, custos com garantia, serviço de atendimento a clientes, etc. 5. A IMPORTÂNCIA DA MEDIÇÃO DOS CUSTOS DA QUALIDADE Os investimentos em qualidade e programas de melhoria devem trazer retorno financeiro para a empresa, do contrário não são justificados. Por esse motivo, a utilização de medidas 1600

eficazes para a qualidade torna-se necessária para garantir o sucesso de programas de melhoria. Neste contexto, custos da qualidade é uma excelente ferramenta de suporte para a qualidade, pois aponta as áreas que necessitam de maior atenção e que possibilitam maior retorno para a empresa. Um sistema de custos da qualidade é uma ferramenta gerencial e, portanto, deve ser projetado para fornecer informações que auxiliarão a gerência no planejamento e controle da qualidade. Através do gerenciamento dos processos críticos, pode-se transformar as perdas de falta de controle em lucros para a empresa. Assim, investimentos no controle de qualidade devem prevenir falhas internas e externas. Heldt afirma que para cada dólar gasto na prevenção e avaliação da qualidade, pode-se ganhar 4 dólares na diminuição de falhas internas e externas. Os custos da falta de controle crescem no tempo, se erros e defeitos não são detectados. Programas de custos da qualidade são importantes, pois suportam a análise de lucratividade das empresas. Os principais autores da qualidade, como Deming e Crosby, colocam que existe uma correlação direta entre qualidade e lucratividade. Assim, custos da qualidade é uma ferramenta que deverá assegurar esta correlação. 6. COMO MEDIR OS CUSTOS DA QUALIDADE Tradicionalmente, os custos da qualidade são obtidos através da identificação de itens de prevenção, avaliação, falhas internas e falhas externas de uma empresa. Os cálculos de custos são retirados de relatórios contábeis e através de ajustes em sistemas de custos tradicionais. Este enfoque leva aos mesmos problemas dos sistemas de custos tradicionais e não relacionam tais itens às suas causas. A obtenção de custos da qualidade através da utilização do enfoque tradicional adiciona apenas um relatório financeiro de falhas, que serve para medir a qualidade em uma empresa, porém não aponta as causas das falhas e, portanto, não possui efeito significativo no gerenciamento da qualidade. A nova tendência da utilização do conceito de valor agregado aos custos da qualidade, relaciona os itens de prevenção de falhas com as atividades que agregam ou não agregam valor para o consumidor. Assim, o gerenciamento da qualidade baseia-se na eliminação de atividades que não agregam valor e que resultam em custos desnecessários para a empresa. Neste contexto, custos da qualidade são então obtidos através de sistemas de Custeio Baseados em Atividades (Custeio ABC). Itens de custos da qualidade podem ser divididos em atividades relacionadas com a prevenção da qualidade para os custos de controle e falhas internas e externas com as atividades realizadas na empresa que não adicionam valor aos produtos ou serviços para os custos da falta de controle. A identificação e cálculo dos itens de custos exige alguns ajustes no sistema de custos para adequar-se à realidade de cada empresa. O Custeio ABC vem ganhando popularidade como ferramenta gerencial de medição do custo da qualidade. Parte do princípio de que as atividades que consomem os recursos da empresa, e os produtos ou serviços são frutos dessas atividades. Por intermédio desse método de custeio é possível, através da identificação das atividades que estão consumindo recursos, ter um conhecimento mais completo da composição do custo do produto. (STEPHANI, 1995, p.151) Assim, relatórios de custos da qualidade passam a ser um produto do sistema de custos, fornecendo informações de causas de erros e relacionando as atividades que ocasionam falhas com o valor do cliente. 1601

Alguns requisitos importantes devem ser cumpridos quando da obtenção dos itens de custos da qualidade. Primeiramente, o conceito de qualidade da empresa, assim com a sua cadeia de valores devem ser bem definidos, a fim de possibilitar a identificação de atividades que levam a insatisfação do consumidor e que não colaboram para o alcance dos objetivos estratégicos da empresa. A identificação dos itens de custos é uma importante fase na obtenção dos custos da qualidade e deve ser analisada cuidadosamente. Além disso, novos itens de custos da qualidade podem ser adicionados de acordo com o desenvolvimento do programa de melhoria contínua da empresa. 7. OS RELATÓRIOS DOS CUSTOS DA QUALIDADE Devido à complexidade industrial, atividades realizadas em uma empresa ou segmento da indústria, geralmente possuem particularidades não imitáveis. Além disso, estratégias de diferenciação levam a um alto grau de especialização de mão-de-obra e tecnologias. Esses são alguns dos motivos que levam a especificidade de relatórios de custos da qualidade. Outros fatores que contribuem para a unicidade de relatórios de custos da qualidade são: Definição de qualidade e estratégias dos segmentos industriais: a definição da qualidade da empresa, estabelecerá critérios para a definição do que é considerado valor e das atividades que devem incorporar prevenção e falhas. Além disso, as estratégias e enfoque adotado têm influência sobre o objetivo da qualidade na empresa. Relatórios de custos da qualidade podem ser superficiais, atingindo apenas algumas áreas de interesse; ou podem ser detalhados, apontando causas de falhas em micro atividades. O objetivo da utilização dos custos da qualidade varia de acordo com a ênfase do programa de qualidade adotado. Assim, o programa de melhoria está restrito a um processo ou somente a produção, então os custos da qualidade podem estar associados com a conformação de requisitos. Porém, se o programa de melhorias possui um objetivo mais amplo, sendo parte da estratégia da empresa e tendo como objetivo a satisfação do cliente, então relatórios de custos da qualidade devem possuir informações que permitam o gerenciamento estratégico de custos para toda a empresa. Evolução do programa de melhoria: programas de melhoria não iniciam com a utilização de ferramentas complexas, mas sim com a reestruturação da empresa e educação de pessoal para mudanças culturais. Com o desenvolvimento da empresa e alcance dos objetivos previamente estipulados, passa-se então para outras fases e utilização de ferramentas mais sofisticadas que possibilitam atingir objetivos mais ambiciosos quanto a produtividade e lucratividade. Da mesma forma, um sistema de custos da qualidade deve ser adaptado para a realidade atual da empresa e posteriormente novas etapas devem ser executadas. Além disso, alguns itens dos custos da qualidade são de difícil acesso e o custo de obtenção de todos os itens pode ser muito elevado e, portanto, não se justifica. O principal objetivo da utilização de um sistema de custos de qualidade deve ser eliminar grande parte dos custos da falta de controle. Desenvolvimento tecnológico: o avanço tecnológico das últimas décadas possibilitou às empresas o desenvolvimento de sua tecnologia de informação no sentido de oferecer relatórios mais detalhados, mais precisos e em menor espaço de tempo. Isto influencia 1602

a disponibilidade de dados para implementar um sistema de custos da qualidade. Assim, a percentagem de custos da qualidade que podem ser obtidos a partir dos relatórios existentes na empresa dependerá também de sua tecnologia de informação. Se importantes itens dos custos da qualidade não estiverem disponíveis, novos procedimentos de coleta e obtenção de dados podem ser necessários. Da mesma forma, a evolução de um programa de custos da qualidade determinará a necessidade de exploração de novos itens e métodos. 8. CONCLUSÃO A relação estreita e nova entre crescimento econômico e custo da qualidade significa que controle e economia devem se tornar dois dos elementos principais para o planejamento estratégico da empresa e suas decisões gerenciais mais importantes, de forma a tornar-se competitiva nos mercados nacional e internacional. Controle e custos da qualidade devem ser dirigidos de modo a fornecer à empresa maior valor agregado em negócios. Dessa forma essas atividades assumirão, de forma cada vez mais importante, posição fundamental nos planejamentos e ações do gerenciamento. "No Brasil, informações em termos de valores financeiros são considerados segredo de estado. Mas é bom lembrar que, se a matéria é tão importante, por que somente umas pessoas têm acesso a ela?" (Paladini, 1995). Uma forma eficiente de evitar erros e falhas de processo é mostrar, claramente aos empregados, quanto custam para a empresa tais desvios. 9. BIBLIOGRAFIA CROSBY apud PALADINI, Edson Pacheco. Gestão da Qualidade no Processo. A qualidade na produção de bens e serviços. São Paulo, Atlas, 1995. DEMING apud PALADINI, Edson Pacheco. Gestão da Qualidade no Processo. A qualidade na produção de bens e serviços. São Paulo, Atlas, 1995. FEIGENBAUM, Armand V. Controle da Qualidade Total. São Paulo, Makron Books, 1994. HELDT apud PALADINI, Edson Pacheco. Gestão da Qualidade no Processo. A qualidade na produção de bens e serviços. São Paulo, Atlas, 1995. JURAN apud PALADINI, Edson Pacheco. Gestão da Qualidade no Processo. A qualidade na produção de bens e serviços. São Paulo, Atlas, 1995. PALADINI, Edson Pacheco. Gestão da Qualidade no Processo. A qualidade na produção de bens e serviços. São Paulo, Atlas, 1995. PALMER, Colin F. Controle Total de Qualidade. São Paulo, Edgard Blücher, 1974. ROBLES, Antonio Jr. Custos da Qualidade - Uma Estratégia para a Competição Global. São Paulo, Atlas, 1996. STEPHANI, Douglas E. Custo como Ferramenta Gerencial. São Paulo, Atlas, 1996. 1603