DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA CRIANÇA: Música na Educação Infantil de zero a seis anos



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Transcrição:

FACULDADE DE PINDAMONHANGABA Cilene dos Santos Souza Silva Renata dos Santos Oliveira Sthefany Simone Silva Moreira DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA CRIANÇA: Música na Educação Infantil de zero a seis anos Pindamonhangaba - SP 2015

FACULDADE DE PINDAMONHANGABA Cilene dos Santos Souza Silva Renata dos Santos Oliveira Sthefany Simone Silva Moreira DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA CRIANÇA: Música na Educação Infantil de zero a seis anos Artigo apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do Diploma de Licenciatura em Pedagogia pelo Curso de Pedagogia da Faculdade de Pindamonhanagaba. Orientador: Prof. Dr. Alan Ricardo de Souza Araújo Pindamonhangaba - SP 2015

Moreira, Sthefany Simone Silva; Oliveira, Renata dos Santos ; Silva, Cilene dos Santos Souza Desenvolvimento Integral da Criança: Música na Educação Infantil de zero a seis anos. / Sthefany Simone Silva Moreira / Renata dos Santos Oliveira / Cilene dos Santos Souza Silva / Pindamonhangaba-SP: FUNVIC Fundação Universitária Vida Cristã, 2015. f. 35 Monografia (Graduação em Pedagogia) FUNVIC-SP. Orientador: Profº. Dr. Alan Ricardo de Sousa Araújo. 1 Música. 2 Educação Infantil. 3 Desenvolvimento 4. Sala de aula 5. Desenvolvimento Integral. I Desenvolvimento Integral da Criança: Música na Educação Infantil de zero a seis anos. II Sthefany Simone Silva Moreira; Renata dos Santos Oliveira; Cilene dos Santos Souza Silva.

À Banca Examinadora O artigo em questão será encaminhado à revista Educação e Pesquisa da USP para publicação, portanto esclarecemos à Banca que, por se tratar de um TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), há uma divisão na formatação: no início do trabalho seguem as normas da Instituição FAPI/FUNVIC e a partir do sumário, seguem as normas da revista. Obrigada pela compreensão. Cilene dos Santos Souza Silva Renata dos Santos Oliveira Sthefany Simone Silva Moreira

FACULDADE DE PINDAMONHANGABA Cilene dos Santos Souza Silva Renata dos Santos Oliveira Sthefany Simone Silva Moreira DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA CRIANÇA: Música na Educação Infantil de zero a seis anos Artigo apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do Diploma de Licenciatura em Pedagogia pelo Curso de Pedagogia da Faculdade de Pindamonhanagaba. Orientador: Prof. Dr. Alan Ricardo de Souza Araújo Data: Resultado: BANCA EXAMINADORA Prof. Faculdade de Pindamonhangaba Assinatura Prof. Faculdade de Pindamonhangaba Assinatura Prof. Faculdade de Pindamonhangaba Assinatura

Em primeiro lugar, dedicamos este trabalho a Deus por ter-nos proporcionado esta oportunidade única, aos nossos familiares, pelo amor e compreensão nesses sete semestres, e por fim, aos nossos mestres, que nos mostraram a importância de aprender a aprender e a amar a educação.

AGRADECIMENTOS Agradecemos primeiramente a Deus, pela Sua fidelidade em nossas vidas, pelo Seu amor nas horas mais difíceis e pela onipresença nas nossas escolhas. Toda conquista nesta trajetória aconteceu por meio de esforços e muita dedicação. Tudo que foi alcançado foi graças a algumas pessoas que fizeram parte deste momento das nossas histórias de vida. Agradecemos a todas pela realização deste trabalho. À Fundação Universitária Vida Cristã, pela oportunidade de graduar em seu espaço acadêmico e por ter, em sua equipe, professores competentes que nos proporcionaram uma formação de excelência. Ao professor orientador Alan Ricardo, pela paciência na orientação, incentivo, entusiasmo e dedicação que tornaram possível a conclusão deste artigo. Suas contribuições e seus conhecimentos, repassados durante todo o desenvolvimento do trabalho, foram indispensáveis, sobretudo por acreditar no quanto somos capazes. À coordenadora Marina Buselli, pela disponibilidade, carinho e confiança. Agradecemos a todos os professores mencionados a seguir: mestre Ângelo Fonseca, por compartilhar sua experiência de vida e profissional; professora Kátia Corregiari, pelo afeto, pela motivação, e pelo seu imenso amor pela sala de aula; ainda, Hilda Montemór, Célio Machado, Sandra Costa, Patrícia Chipoletti, Luiz Haruna, Karina Paz e Fernanda Aquino, por fazerem parte de um momento tão importante em nossas vidas. Todos contribuíram, direta e indiretamente, com seus ensinamentos para nossa vida acadêmica e profissional, proporcionaram o conhecimento não apenas racional, mas também a manifestação do caráter e afetividade na educação, no processo de profissional de formação. Enfim, não somente por terem nos ensinado, mas por nos terem feito aprender.

Um povo que sabe cantar está a um passo da felicidade. É preciso ensinar o mundo inteiro a cantar Villa-Lobos

RESUMO Este artigo, sob o título Desenvolvimento Integral da Criança: música na educação infantil de zero aos seis anos, foi escolhido em função da recente retomada da utilização da música como prática pedagógica. Visa discutir a importância da música nos primeiros anos de vida da criança. A música favorece a criatividade na primeira infância, enquanto linguagem e objeto de conhecimento, e sua aplicação produz benefícios importantes para o desenvolvimento da criança. Esses benefícios podem ser evidenciados a partir mesmo da vida intrauterina. O desenvolvimento desta pesquisa opta, primeiramente, pela verificação da linguagem musical. Esta encontra-se presente na vida dos seres humanos desde antes do nascimento, quando os bebês já começam a responder aos estímulos enviados pelo corpo da mãe. Durante o desenvolvimento, a criança continuará a responder a estes estímulos. Nos passos seguintes, foram abordados os assuntos relacionados às contribuições da música para suscitar e desenvolver habilidades, especialmente quanto ao desenvolvimento da musicalidade em relação a outras dimensões da vida infantil, como a sociabilidade na vida escolar, acompanhada do desenvolvimento psicomotor, do desenvolvimento cognitivo e do desenvolvimento afetivo. Tais aspectos são facilitadores do processo no ensino-aprendizagem e notório estreitamento das relações aluno-aluno e professor-aluno. Tratamos também da música como tema de ensinoaprendizagem; da contribuição do educador em relação ao processo de alfabetização musical; procurou-se evidenciar a prática da atividade musical com a utilização de materiais simples. Assim, o professor, mesmo não especialista na área musical, mas com algum conhecimento de música e dedicado, pode apontar caminhos e possibilidades para o desenvolvimento da criança. Este desenvolvimento passa pela postura de curiosidade e abertura para o mundo que o cerca. As confecções de materiais por meio de oficinas é uma forma de grande relevância para a aprendizagem musical. Por último, finalizamos abordando como as crianças desenvolvem a comunicação, a inteligência musical, a linguagem musical, o potencial de musicalidade desde a infância e como a música pode ser considerada sinônimo de alegria, de aproximação entre pessoas, de sintonia, ideias e aspirações, de liberação daquilo que sentimos, amamos e queremos. Levar este mundo a pequenos seres em formação contribuirá para seu desenvolvimento integral, tornado este pequeno uma pessoa mais sensível e perceptível da ação que lhe cabe para a harmonia e a paz. Palavras-chave: Música. Educação Infantil. Desenvolvimento. Sala de aula. Desenvolvimento integral.

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 9 2 MÉTODO... 11 3 A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA PARA A CRIANÇA.... 12 3.1 A música no desenvolvimento cognitivo da criança... 12 3.2 A música no desenvolvimento afetivo da criança... 13 3.3 A música no desenvolvimento psicomotor da criança... 14 3.4 A criança e a educação musical... 14 4 DESENVOLVIMENTO INTEGRAL... 16 4.1 A música como expressão cultural... 16 4.2 Inteligência musical... 17 4.3 Linguagem musical... 17 4.4 Quando se cresce em um ambiente musical... 19 4.5 Crianças são músicos competentes... 20 5 DESENVOLVIMENTO DA MÚSICA NA SALA DE AULA... 22 5.1 Bandinhas, apreciação e registro musical... 23 5.2 Jogos, Brincadeiras e Expressão corporal... 24 5.3 Estratégias e recursos... 26 5.4 Ideias práticas e Oficinas... 27 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 29 REFERÊNCIAS... 31

9 1 INTRODUÇÃO O trabalho aborda a importância da música no desenvolvimento integral com crianças de zero a seis anos da Educação Infantil. Esta pesquisa tem os seguintes objetivos: discutir sobre a importância da música para a Educação Infantil, compreender os meios através dos quais a linguagem musical pode abrir novos horizontes para a criança por meio da música; sugerir práticas de como se trabalhar a música para crianças de zero a seis anos. O tema surgiu pelas indagações e lacunas encontradas quando se trabalha na Educação Infantil. A música é um instrumento educativo de desenvolvimento da criatividade, sensibilidade e comunicação. Ela facilita o processo do ensino-aprendizagem, com notório estreitamento das relações aluno-aluno e professor-aluno. Somando-se a isso, cria-se a possiblidade da prática reflexiva em que a criança tem a oportunidade de aprender a se humanizar e ser capaz de perceber, sentir, relacionar, pensar e comunicar-se. Este artigo parte das seguintes perguntas: qual a importância do ensino de música na Educação Infantil? Geralmente, como é ministrada a disciplina de música na Educação Infantil? Qual o papel da música no desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicomotor? O que pode ser feito para tornar as aulas mais ricas e significativas musicalmente para as nossas crianças? Esses questionamentos nos remetem à importância da música e à sua necessária presença na vida escolar exercendo um papel influenciador, sendo capaz de provocar sensações que estimulam a personalidade, o desenvolvimento psicomotor, o desenvolvimento cognitivo e o desenvolvimento da subjetividade da criança, sendo, pois, uma importante ferramenta para ser trabalhada na Educação Infantil. Partindo desses pressupostos, levantam-se as seguintes hipóteses: a música tem um importante papel no desenvolvimento da criança; um trabalho adequado com a música na sala de aula contribui para o desenvolvimento da criança quanto às inteligências lógico-matemática, espacial e linguísticas, às sensações, emoções e reações; a criança pode aprender os sons extraídos da própria natureza, como os cantos e urros dos animais ou, ainda, os sons produzidos pelas pessoas, que traduzem informações objetivas provocando também, sensações, emoções e reações subjetivas. Muitos educadores têm receio de usar a música na educação de crianças por pensar que somente profissionais músicos, ou que vivem dela, podem trabalhar de maneira eficaz, por isso se restringem somente a alguns momentos, não sabendo o valor que ela tem na construção da

10 subjetividade de uma criança. Por essa razão, a relevância da reflexão sobre o assunto. A metodologia de desenvolvimento consiste nas seguintes etapas: a música no desenvolvimento integral da criança; a importância da música para a criança e o desenvolvimento da música na sala de aula.

11 2 MÉTODO Esta pesquisa parte do método bibliográfico; recorre a livros, hipertextos e a artigos científicos sobre o tema. Como principais referências teóricas temos: Maria Teresa de Elencar Brito (2003), doutoranda em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, professora no Departamento de Música, do curso de Licenciatura em Educação Artística, tem Habilitação em Educação Musical, é relatora do documento de música do referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. No livro "Música na Educação Infantil", buscou esclarecer como a música age no desenvolvimento da criança, com a intenção de aproximar educadores, música e crianças. Finalmente, indica caminhos e possibilidades da música na sala de aula, usados para este trabalho. Beatriz Ilari (2009), graduada em música pela Universidade de São Paulo (USP), Mestre em violino pela Universidade estadual de Monteclair, nos Estados Unidos e phd em educação musical pela Universidade McGill, no Canadá. Procurou mostrar no livro Música na Infância e na Adolescência, a importância do desenvolvimento musical em bebês, crianças e adolescentes, as preferências musicais e a formação do gosto musical, as altas habilidades, os efeitos da música no desenvolvimento cognitivo, o ambiente musical na família e na escola. Tratamos aqui, portanto, de uma literatura amadurecida e reconhecida no assunto. Procurou-se trabalhar o tema de forma objetiva, evitando-se digressões, com foco especial no universo infantil de crianças de zero a seis anos.

12 3 A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA PARA A CRIANÇA A musicalização é um processo de construção do conhecimento, favorecendo o desenvolvimento da sensibilidade, criatividade, senso rítmico, prazer em ouvir música, imaginação, memória, concentração, atenção, respeito ao próximo, socialização e afetividade, também contribuindo para uma efetiva consciência corporal e de movimentação, por esses motivos a sua importância na idade escolar. Nesse sentido discorremos sobre a música no desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicomotor da criança. 3.1 A música no desenvolvimento cognitivo da criança As crianças, desde o ventre materno, escutam diferentes sons e continuarão ouvindo no decorrer da vida. A música é, sem dúvida, uma importante fonte de estimulação, com especial destaque no despertar da curiosidade dos bebês. O envolvimento das crianças com o universo sonoro começa ainda antes do nascimento, pois na fase intrauterina bebês já convivem com o ambiente de sons provocados pelo corpo da mãe, como o sangue que flui pelas veias, a respiração e a movimentação dos intestinos. A voz materna também constitui material sonoro e especial é referência afetiva para eles (BRITO, 2003, p. 35). Ainda, segundo Brito (Ibid, p. 17), os sons da natureza, os cantos e urros dos animais ou os sons produzidos pelas pessoas traduzem informações objetivas provocando também sensações, emoções e reações subjetivas. Várias pesquisas, desenvolvidas em diferentes países e em diferentes épocas reiteram que a influência da música no desenvolvimento da criança é incontestável. Algumas delas demonstraram que o bebê, ainda no útero materno, desenvolve reações a estímulos sonoros. Para Nogueira (2001) o indivíduo, ao ler determinado sinal na partitura, necessita passar essa informação (visual) ao cérebro; este, por sua vez, transmitirá à mão o movimento necessário (tato); ao final disso, o ouvido acusará se o movimento feito foi o correto (audição). Na sala de aula deve-se, então, trabalhar de forma com que se desenvolvam os sentidos das crianças através das suas vivências musicais e ritmos pelo ouvir, ver e tocar. Essas

13 experiências aperfeiçoam sua audição e assim as crianças passa não apenas a ouvir, mas também passam a distinguir vários tipos de sons. Stateri (1997, p. 13) fala também sobre o processo evolutivo na atividade musical: [...] o conhecimento musical deve se iniciar com experiências concretas e aos poucos se orientar para o domínio da linguagem e de estruturas musicais O domínio da linguagem e da expressão musical, seja ela para a aprendizagem de um instrumento, seja pela apreciação ativa, potencializa a aprendizagem cognitiva que age diretamente na mente das crianças, contribuindo na formação do equilíbrio do sistema nervoso, descargas emocionais, agilidade, melhora no campo da memória e aumento do foco dos movimentos, melhorando sua coordenação motora. 3.2 A música no desenvolvimento afetivo da criança Podemos dizer que somos seres significativamente afetivos. Precisamos de carinho, necessitamos do outro para partilharmos e convivermos, não somos feitos para ficarmos sós. A música faz parte desse afeto, com ela podemos alegrar, acalmar e até entristecer, tocando assim, de certa maneira, os sentimentos e as emoções. Brito (2003, p.31) destaca que é difícil encontrar alguém que não goste ou não se relacione com a música de uma maneira ou de outra, pois: [...] temos um repertório musical especial, que reúne músicas significativas que dizem respeito à nossa história de vida: as músicas da infância, as que nos lembram alguém, as que ouvimos na escola, as que nos remetem a fatos alegres ou tristes, as que ouvimos no rádio, em concertos, shows etc. São fortes motivos para afirmar que a musicalização desenvolve um vínculo afetivo nas crianças. Estas, por estarem em formação, têm maiores condições de expressarem seus sentimentos e emoções e não se envergonham com adultos e público. Os professores devem utilizar a música como ferramenta para trabalhar as dimensões afetiva e social nas crianças, oferecer canções que, além de alegra-las e estimulá-las, criem possibilidades de participação individual e situações, por meio das quais possam expressar-se. Ao trabalhar a desinibição e a imaginação, os alunos aprendem a se valorizar, além de conhecer e respeitar o próximo.

14 3.3 A música no desenvolvimento psicomotor da criança A psicomotricidade é um processo de aprendizagem importante na Educação Infantil, pois através dela a criança desenvolve-se e movimenta-se, descobre o corpo, seu esquema corporal, a sua lateralidade e seu equilíbrio. A música é importante, pois envolve ritmo, observação e movimento corporal como um todo. O desenvolvimento psicomotor é necessário, pois com ele os músculos, ossos e sistema nervoso da criança atingem determinado estágio de desenvolvimento em vários aspectos. Assim, ela adquire condições para desenvolver atividades específicas de forma natural. Entretanto, não se pode forçar esse processo de maturação, que ocorre à medida que a criança cresce. Ainda sobre os aspectos do desenvolvimento, ratifica-se que a expressão musical é caracterizada pelo aspecto intuitivo, afetivo e sensório motor: As crianças integram a música às demais brincadeiras e jogos: cantam enquanto brincam, acompanham com sons os movimentos de seus carrinhos, dançam e dramatizam situações sonoras diversas, conferindo personalidade e significados simbólicos aos objetos sonoros ou instrumentos musicais e à sua produção musical. (BRASIL, 1998, p.52) Por isso, enquanto brincam, as crianças desenvolvem as três dimensões da música propostas por Piaget (1976 apud BRITO 2003, p. 36): sensório motor, vinculado à exploração de sons e dos gestos; jogo simbólico, vinculado ao valor expressivo e à significação mesma do discurso musical; jogo com regra, vinculado à organização e a estruturação da linguagem musical. A música é prazerosa e significativa principalmente na idade musical de zero a seis anos. O professor não pode deixar de buscar novas ideias e possibilidades para que a música não seja apenas mecânica, mas sim construída, que seja essencial e encante nossas crianças. 3.4 A criança e a educação musical A música na escola tem a função de formar cidadãos plenos, capazes de exercer a sua cidadania. É um meio de comunicação e expressão por excelência, existente em nossas vidas. Ela promove equilíbrio emocional, estimula a atenção, a concentração, a memória, a

15 imaginação e a criatividade, ainda possibilita o imaginário da criança a transportar-se para o desconhecido. É da própria inclinação da criança pela música o encantamento, a fantasia e a imaginação, ou seja, tudo isso pode ocorrer com o simples fato de ouvi-la. Isso porque A Linguagem Musical é excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da autoestima, do autoconhecimento, além de poderoso meio de integração social. (BRASIL, 1993, p.49) Na Educação Infantil, professores sentem receio na utilização da música por não terem formação específica, ou por experienciarem uma ação pedagógica limitada e limitante. Assim, também se limitam as trocas de experiências em nome da disciplina, perdem-se as oportunidades de criações e descobertas. Neste cenário, a música vira musiquinha, usada para simples memorização e desenvolvimento de hábitos e atitudes repetitivos ou automatizados. Esse quadro pode ser exemplificado pelas apresentações nas datas comemorativas. Salienta-se também que a música é uma forma de expressão que permite ao ser humano manifestar suas alegrias e tristezas. É uma arte que permite ao educando construir seus conhecimentos e desenvolver seu potencial. As leituras feitas são suficientes para dizer que a música é uma ferramenta importante para o desenvolvimento integral da criança, e deve ser trabalhada na Educação Infantil, assim como a cultura que trabalha a estética e a criatividade. É, pois, uma importante ferramenta para a construção da subjetividade da criança.

16 4 DESENVOLVIMENTO INTEGRAL O desenvolvimento integral da criança não prescinde da educação musical. Daí a necessidade de conhecer o papel da música no desenvolvimento da criança. Nesta parte discorremos sobre a música como expressão, a inteligência musical, a linguagem musical e como e o que acontece quando a criança cresce em um ambiente musical. 4.1 A música como expressão cultural Ao entrar em contato com a música, zonas importantes do corpo físico e psíquico são acionadas, como os sentidos, as emoções e a própria mente. Esses fatores são de grande importância no desenvolvimento da criatividade, sensibilidade e comunicação. Acima de tudo, faz uma aproximação de educadores e crianças, estimulando a reflexão e o questionamento, além de expressar emoções que nem sempre são expressas com palavras. A conquista de habilidades musicais no uso da voz, do corpo e dos instrumentos deve ser observada, acompanhada e estimulada, tendo-se claro que não devem constituir-se em fins em si mesmas e em pouco valem se estiverem integradas em contexto em que o valor da música como forma de comunicação e representação do mundo se faça presente. (BRASIL, 1998, p.77) Por este motivo é que a música torna-se um meio de comunicação e expressão existente em nossas vidas. Sua importância no meio escolar promove o desenvolvimento da sensibilidade estética e artística de crianças e adolescentes, a leitura e compreensão crítica do universo musical no meio social e cultural que está inserida, o desenvolvimento do potencial criativo dos alunos, o desenvolvimento cognitivo e psicomotor, o desenvolvimento de habilidades sociais e comunicação verbal e não verbal. Em alguns países a educação musical é considerada fundamental na formação do indivíduo, não apenas para preservar as raízes culturais, mas para auxiliar no desenvolvimento das múltiplas inteligências do aluno, promovendo um melhor equilíbrio emocional, estimulação, concentração, atenção, memória, percepção auditiva, raciocínio, imaginação e criatividade.

17 4.2. Inteligência musical As teorias das Inteligências Múltiplas se apoiam nas descobertas no campo da neurologia procedidas na universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Tais descobertas foram feitas pela equipe do psicólogo e neurologista Howard Gardner, que categorizou sete tipos de inteligências, a saber: inteligência linguística; inteligência espacial; inteligência lógicomatemática; inteligência corporal; inteligência intrapessoal; inteligência interpessoal e a inteligência musical. Entre elas, destacamos aqui a inteligência musical. A música pode e deve ser usada como estímulo para as outras inteligências, pois desde antes de seu nascimento a crianças já começa a ter experiências sonoras e musicais de grande importância para seu conhecimento de mundo. A música resulta em um contato no qual a pessoa poderá experimentar e integrar suas emoções, criando assim um contato consigo mesma. Inteligência Musical geralmente é definida como uma habilidade na atuação, composição e apreciação de padrões musicais, conseguir ouvir e processar sons além do que a maioria das pessoas consegue, sendo capazes também de criar novas músicas e harmonias inéditas. É como se conseguissem enxergar através dos sons. Algumas pessoas têm esta inteligência tão evoluída que são capazes de aprender a tocar instrumentos musicais sozinhas (GARDNER, 1994). Pode-se inferir a importância de professores trabalharem de forma eficaz a música na sala de aula, pois através dela pode-se construir uma ponte para demais inteligências e habilidades das crianças. 4.3 Linguagem musical Existem muitas teorias sobre a presença da música na cultura humana. A linguagem musical tem sido interpretada de várias maneiras, relacionada com cada época e cultura em sintonia com o modo de pensar, com os valores e com as concepções estética vigentes. O termo música, no novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (2009), tem a seguinte definição: arte e ciência de combinar sons de modo agradável ao ouvido; qualquer conjunto de sons (seguido de parênteses onde se lê: deprec.: musiqueta ). O verbete funda-se em uma

18 abordagem subjetiva que confere valor àquilo que agrada ao ouvido, já quando define a música como qualquer conjunto de sons, isenta o valor estético, aponta para algo sem apreciação. Falar sobre parâmetros de som não é obviamente falar sobre música, as características dos sons não são ainda a própria música, mas uma passagem sonora entre o som e o silêncio. Música então não é apenas melodia, ritmo ou harmonia, ainda que estes elementos estejam presentes e se relacionem cotidianamente. Brito (2003, p. 26) dá a seguinte definição de música: Música é também melodia, ritmo ou harmonia, dentre outras possibilidades de organização de material sonoro. O que importa, efetivamente, é estarmos sempre próximos da ideia essencial à linguagem musical: a criação de formas sonoras com base em sons e silêncio. Esta composição de som e o silêncio está dividida em três elementos organizacionais: melodia, harmonia e ritmo. No entanto, quando nos referimos a sons é preciso também levar em conta a altura, o timbre e a duração combinados para levar a outro aspecto como, por exemplo, o estilo. Entretanto, nem toda música segue a mesma regra, podendo ser ausentado algum elemento organizacional dependendo da cultura. A música é um elemento universal, não existe um povo ou uma civilização que nunca tenha experimentado a música de alguma forma, seja em ocasiões alegres ou tristes. Nos dias de hoje, ela se encontra presente na vida do ser humano a todo instante, pois todo ser humano um dia já tentou cantar e dançar, mesmo que com um som desafinado, ou descompassado com o som. Existem músicas para todo gosto, como aquelas que são capazes de sensibilizar, deixar a pessoa emotiva. As crianças são ainda mais sensíveis aos sons musicais. Dificilmente uma criança irá ficar parada diante de um ritmo mais agitado ou até mesmo se acalmar com um ritmo mais suave. Desse modo, ela começa a desenvolver a linguagem somente ao ouvir um som. Segundo Mariani (2011, p.27), o filósofo Émile Jaques-Dalcroze, que abriu as portas para as inovadoras pedagogias musicais, desenvolveu um método de educação musical baseado no movimento, mediante o qual o aprendizado ocorre por meio da música e pela música. A relação música e movimento vai além da dança e dos ritmos que manifestam de maneiras variadas, o simples ruído que a natureza produz já possibilita o movimento. O movimento pode trazer contribuições para as crianças, fazendo com que conheçam suas próprias habilidades e limitações. Os conteúdos sobre movimento devem constar na rotina do aluno e certamente devem ser efetuadas diariamente seja de forma planejada ou não. Conseguir trabalhar com essas linguagens na Educação Infantil é conseguir uma formação integral da criança, tornando-a um sujeito feliz e livre. (BRASIL, 1998).

19 4.4 Quando se cresce em um ambiente musical O ambiente familiar é fundamental para o desenvolvimento musical das crianças, pois é neste ambiente que as crianças têm as primeiras experiências sonoras, na companhia de alguém que ouve, canta ou dança. Em algumas culturas a música é algo que acompanha praticamente todas as atividades cotidianas, em outras está reservada para momentos especiais da vida em comunidade, não podendo ser usanda em qualquer contexto. Neste caso, a música exerce um papel fundamental nos repertórios que escolhemos para ouvir, tocar e cantar. Como sugeriu Gardner (1994, p. 33), As crianças não crescem em um vácuo acústico. As canções que elas cantam e as palavras que repetem refletem os sons que elas ouvem na sociedade, ao invés de um padrão sonoro universal pré-ordenado. Junto a qualquer cultura está o valor atribuído à música. Os pais, mesmo não sendo profissionais, são geralmente amantes da música e na maioria das vezes, procuram passar este amor aos seus filhos. Cantar com as crianças tem sido ao longo dos séculos, algo muito natural, uma espécie de comportamento espontâneo do ser humano (ILARI, 2009). No entanto, diversas pesquisas realizadas sugerem que os pais e as mães cantam muito menos com seus filhos do que os antepassados. Isto provavelmente acontece em decorrência do excesso de parafernálias eletrônicas, entre outras, na vida das crianças, como a TV, a internet, os CDs e os DVDs. Tudo isso não substitui o carinho e o cuidado dos pais. Uma explicação plausível para o não desenvolvimento da música no ambiente doméstico, seja por aparelhos ou ao vivo, é que na cotidianidade dessas famílias não se aprendeu a conviver com a música, seja em casa ou na escola, ou não tiveram aulas de música, por este motivo não se preocupam tanto como os pais que tiveram a oportunidade de conhecer os benefícios da música. A música segue uma lógica plausível. O mesmo acontece com o adulto, que logo na infância encontrou o prazer e criou o hábito ler. Uma vez adquirido esse hábito, tende a encher a casa com livros, repassando este prazer para seus filhos de modo natural. Assim, a importância de se criar um ambiente sonoro para as crianças, lembrando que o CD e/ou o DVD, por mais mágicos que pareçam ser, não substituem a voz envolvente da mãe, da avó ou de outro cuidador. Estes, no momento que cantam ou dançam, utilizam a música em forma de comunicação divertida juntamente com a criança.

20 4.5 Crianças são músicos competentes No passado pensava-se que as crianças eram tabulas rasas. Estas vinham ao mundo como uma folha de papel em branco, prontas para serem preenchidas. Esta era a crença de Locke (1983, p. 160), que disse: a mente é, como dissemos, um papel em branco, desprovida de todos os caracteres, sem quaisquer ideias. Atualmente, já se sabe que não é bem assim. Os bebês, ao nascerem, já possuem competências, demonstram conhecer a voz materna, são curiosos e voltam-se com frequência a qualquer tipo de som, como os da TV, do rádio e voltam a atenção para as conversas no entorno. Os bebês, conforme vão crescendo, aprendem a virar a cabeça ou o corpo em direção aos sons diversos que ouvem. Normalmente existe um aspecto surpreendente da capacidade auditiva dos bebês, principalmente quanto à altura dos sons. Ilari (2009, p. 36) faz a seguinte afirmação: Do útero aos primeiros dias de vida, os bebês ouvem melhor os sons graves. Poucos dias após o seu nascimento, a percepção inverte, e os bebês passam a ouvir melhor os sons agudos aos graves; habilidade que pendura por quase toda a infância. Percebe-se também que os bebês reconhecem as alterações ou afetações da voz dos adultos. Situações nas quais os adultos mudam o tom de voz, deixando a voz mais emotiva, mais doce e quando mudam de gestos, são facilmente perceptíveis aos bebês. Estes distinguem sons agudos de graves. Entretanto, atentam mais para os sons agudos. As competências dos bebês não se restringem à percepção de voz. O ritmo é outro elemento dominado desde cedo. Ilari (2009, p. 37) afirma que [...] ainda no útero, os fetos estão rodeados por sons rítmicos de origem biológica como, por exemplo, as batidas do coração materno. Assim, conforme os bebês vão crescendo, vão associando esses ritmos às suas rotinas, como acordar, brincar, tomar banho e assim por diante. Não é de se espantar que ainda bem pequenas as crianças consigam associar diferentes ritmos e associá-los a diferentes atividades cotidianas. Desse modo, percebe-se que os ritmos e estilos musicais servem para regular a atenção, o comportamento e o humor das crianças. Pode-se dizer então que o modo como as crianças percebem e apreendem os sons, no tempo e espaço, revelam como se relacionam com o mundo e como vêm explorando e descobrindo a cada dia. Isso não tendo nada a ver com a afinação, conotação certo e errado, refere- se a condutas infantis de uma exploração sonora, como afirma Brito (2003, p. 41): Quando emite sons vocais e movimentos sonoros ascendentes ou descendentes, o bebê não busca uma afinação coerente com o repertório

21 dos sons de sua cultura: ele explora as qualidades deste gesto e vai, à medida que exercita, descobrindo e ampliando novas possibilidades para seus exercícios. Quando exercitadas nos primeiros meses de vida, as crianças aprendem a explorar a quantidade de sons vocais, e tornam-se melhor preparadas para a fala. Um pouco mais desenvolvidas, as crianças tendem a expandir o repertório de sons. Enquanto isso, começam a acompanhar as canções com o corpo, ainda sem a coordenação rítmica adequada, até o momento de procurarem criar e manifestar um interesse pelas regras da canção, como se fosse uma etapa do jogo. À semelhança dos ótimos compositores, as crianças brincam com os sons, inventam, para mais tarde criarem suas próprias melodias e canções.

22 5 DESENVOLVIMENTO DA MÚSICA NA SALA DE AULA Na vida infantil, o ensino da música vem como forma de compreensão de mundo. De zero a três anos as crianças tentam imitar e responder aos estímulos externos com sons, criando assim momentos significativos no desenvolvimento afetivo e cognitivo, dos três aos seis anos já reconhecem e distinguem os sons. Neste segmento, pretende-se abordar sobre a prática da música na sala de aula; discorrer brevemente sobre a utilização de bandinhas, apreciação e registro musical; falar sobre a importância dos jogos e brincadeiras para a expressão corporal, focar as estratégias e recursos que podem ser utilizados e finalmente, apontar algumas ideias práticas e realizações de oficinas. A prática musical em sala de aula pode ocorrer por meio de atividades lúdicas. O professor pode desenvolver atividades criativas em que os alunos irão fazer sons com tudo que lhe for permitidos dentro de expressão com o corpo e com a voz. A criança é um ser brincante e, brincando faz música, pois assim se relaciona com o mundo que descobre a cada dia. Fazendo música, ela, metaforicamente, transforma-se em sons, num permanente exercício: receptiva e curiosa, a criança pesquisa materiais sonoros, descobre instrumentos (BRITO, 2003, p. 35). A música também oportuniza contatos com outras culturas e gera momentos alegres e prazerosos quando transforma o espaço escolar em um ambiente adequado à aprendizagem, além de estimular nos alunos o ritmo e coordenação motora favorecendo sua autonomia e sua integração com o grupo. Ao oportunizar-se o ensino da música desde cedo, as crianças desenvolvem habilidades importantes, elas aprendem a refletir e a fazer escolhas mais conscientes sobre os tipos de música que devem ouvir ou apreciar. O bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno à intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seus pensamentos, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas (FREIRE, 1996, p. 96). Por isso um professor mais preparado é aquele que transcende em suas aulas, que oportuniza o aluno a ter uma vivência musical significativa, que vai além das atividades trabalhadas no dia a dia em sala de aula, trabalha de forma paralela com outros conteúdos,

23 tornando o ambiente mais alegre e favorável à aprendizagem, proporcionando satisfação àqueles que dele participam. 5.1 Bandinhas, apreciação e registro musical A música é um dos meios de expressão mais usado pelo homem. A partir do primeiro ano de vida ele já demonstra prazer ao se sacudir ao ouvir um som agradável. A bandinha rítmica é uma das mais ricas formas de expressão musical, além dos valores estéticos a ela atribuídos. Concorre ainda para o desenvolvimento do autodomínio e da autorrealização, por permitir que a própria criança extraia sons dos instrumentos. A bandinha oferece a oportunidade da criança desenvolver o senso rítmico, recrear-se, socializar-se, ter maior interesse pela música, desenvolver a atenção, a concentração e a coordenação motora, promover a formação de hábitos de ordem e cooperação, e ainda, maior ajustamento emocional. O desenvolvimento da música na escola não visa a formação de músicos. Através da vivência e compreensão da linguagem musical, a música proporciona uma abertura para experiências criativas, desenvolvendo a expressão de emoções, ampliando a cultura geral e contribuindo para a formação integral do ser. (PEREIRA, 2002). Para a apreciação musical, o professor deve levar a criança a demonstrar a capacidade para ouvir, concentrar-se e perceber ritmos, ter contato com músicas diversas, escutar músicas variadas de diferentes gêneros, estilos, épocas e cultura. A apreciação musical refere-se à audição e à interação com músicas diversas. (BRASIL,1998, p.63). O papel do professor é, assim, conhecer diferentes ritmos e sons instrumentais, conhecer diversos compositores e sua contribuição musical. Uma vez melhor preparado, o professor pode conduzir o aluno estimulando-o a fazer associações, como de figuras aos sons; nas brincadeiras, pode levar as crianças a reconhecerem músicas mais simples, a cantar, imitar vozes, e outras mais (ANTUNES, 2002, p. 20). Ainda, aprender a escutar, com concentração e disponibilidade para tal, faz parte do processo de formação de seres humanos sensíveis reflexivos e capazes de perceber, sentir, relacionar, pensar e comunicar-se. Sobre o registro musical, é importante ressaltar o seu valor para o professor e para a criança. Por meio dele, o professor poderá dar continuidade ao seu trabalho, utilizando formas de escrita

24 musical não convencional. Quando a criança utilizar o corpo para realiza um movimento, isso quer dizer que ela está traduzindo diferentes tipos de sons corporalmente. Na Educação Infantil a criança não deve ser treinada para leitura e escrita musical, o mais importante é dar a oportunidade da criança ouvir, cantar e tocar, criando formas de notação musicais com a orientação dos professores, como se vê na seguinte orientação: Representar o som por meio do desenho é trazer para o gesto gráfico aquilo que a percepção auditiva identificou, constituindo-se em primeiro modo de registro. Pode-se propor, para crianças a partir de quatro anos, que relacionem som e registro gráfico, criando códigos que podem ser lidos e decodificados pelo grupo: sons curtos ou longos, graves ou agudos, fortes ou suaves etc. (BRASIL, 1998, p.75). Essa avaliação deve ser contínua, pois cada registro das observações feitas da criança será um importante instrumento de avaliação, para saber como está seu desenvolvimento rítmico e motor, sua capacidade de imitação, de criação, de memorização e desenvolvimento vocal, se canta - e como canta. 5.2 Jogos, Brincadeiras e Expressão corporal É através dos jogos e brincadeiras que a criança começa a descobrir o mundo; explorando e se relacionando, ela constrói e socializa o conhecimento na troca de experiências com outras crianças, permitindo que as tarefa e habilidades possam ser executadas de maneira independente, ou até mesmo com a ajuda do colega. É possível perceber, nas sugestões a seguir, a importância dos jogos e brincadeiras: Jogos de escuta dos sons do ambiente, de brinquedos, de objetos ou instrumentos musicais; jogos de imitação de sons vocais, gestos e sons corporais; jogos de adivinhação nos quais é necessário reconhecer um trecho de canção, de música conhecida, de timbres de instrumentos etc.; jogos de direção sonora para percepção da direção de uma fonte sonora; e jogos de memória, de improvisação etc. são algumas sugestões que garantem às crianças os benefícios e alegrias que a atividade lúdica proporciona e que, ao mesmo tempo, desenvolvem habilidades, atitudes e conceitos referentes à linguagem musical. (Grifo nosso). (BRASIL, 1998, p. 72). As instituições escolares podem garantir a linguagem musical contemplando com atividades diversas, tais como: trabalho vocal, interpretação e criação de canções, brinquedos cantados e rítmicos, jogos que reúnem sons, movimento e dança, jogos de improvisação,

25 sonorização de histórias, elaboração e execução de arranjos (vocais e instrumentais), invenções musicais (vocais e instrumentais) execução de objetos sonoros, registros e notações, escuta sonora e musical. A estas atividades, podem ser somadas outras, como se vê nos exemplos a seguir: Os jogos e brinquedos musicais da cultura infantil incluem os acalantos (cantigas de ninar); as parlendas (os brincos, as mnemônicas e as parlendas propriamente ditas); as rondas (canções de roda); as adivinhas; os contos; os romances etc. (BRASIL, 1998, p. 71). Por meio do cântico, criam-se e recriam-se jogos antigos e mantém-se a alegria na escola. Desse modo, esta passará a ser sinônimo de conquistas do conhecimento, de acesso à produção cultural de um povo. Evita-se também o cultivo de crianças tão somente alegres e obedientes, mas sem autonomia. Para que se forme a cidadania plena na criança, faz-se necessária a criação de uma nova história, um novo tempo, com evolução cultural de seres pensantes e críticos Quanto à expressão corporal, esta se manifesta através dos sentimentos e das sensações internas, representados por meio de movimentos simbólicos do corpo e, muitas vezes, pela linguagem corporal. Esta modalidade de linguagem é o meio pelo qual a criança expressa as suas emoções, através dela utiliza-se de gestos, posturas e movimentos. Os instrumentos mais comuns da expressão corporal são o corpo, a voz, o som, o ritmo, o gesto, a postura, o movimento, o espaço, o tempo. Um exemplo dessa expressão corporal pode ser visto na sugestão abaixo: [...] Brincadeiras que envolvam o canto e o movimento, simultaneamente, possibilitam a percepção rítmica, a identificação de segmentos do corpo e o contato físico. A cultura popular infantil é uma riquíssima fonte na qual se pode buscar cantigas e brincadeiras de cunho afetivo nas quais o contato corporal é o seu principal conteúdo, como no seguinte exemplo: Conheço um jacaré que gosta de comer. Esconda a sua perna, senão o jacaré come sua perna e o seu dedão do pé. Os jogos e brincadeiras que envolvem as modulações de voz, as melodias e a percepção rítmica tão características das canções de ninar, associadas ao ato de embalar, e aos brincos 6, brincadeiras ritmadas que combinam gestos e música podem fazer parte de sequências de atividades. (BRASIL, 1998, p. 30). Uma vez que as crianças são beneficiadas pelas oportunidades de vivenciar situações envolvendo música, é de se esperar que elas reconheçam e utilizem-se da linguagem expressiva, mais conscientes do seu valor como meio de comunicação e expressão. Por meio da voz, do corpo, dos instrumentos musicais e dos objetos sonoros, terão mais condições de interpretar, improvisar e compor. Geralmente, tornam-se interessadas também pela escuta de diferentes gêneros e estilos musicais e pelas confecções de materiais sonoros.

26 5.3 Estratégias e recursos A atividade musical é, em geral, entendida como o contato entre a realização acústica com seu receptor, seja alguém que cante, dance, componha ou simplesmente ouça. A produção musical ocorre por meio de dois eixos: a criação e a produção. Brito (2003, p. 57) descreve que estes dois eixos garantem três possibilidades de ação: [..] atividade ligada à imitação e reprodução de uma obra[...] improvisação criar constantemente orientando-se por algum critério[...] composição: é a criação musical caracterizada pela sua condição de permanecia[...]. Assim, pode-se utilizar todo e qualquer material produtor ou propagador de sons produzidos pelo próprio corpo humano, pela voz, por objetos cotidianos, por instrumentos musicais acústicos, elétricos, etc. Outro aspecto importante da atividade musical é a possibilidade da utilização de instrumentos de madeira, metal ou outros materiais. É possível explorar as diferenças entre os sons produzidos por eles, assim como as diversas maneiras de usá-los. Há diversas formas de tocar cada um, permitindo assim a estimulação da pesquisa de possibilidades de construir sons ao invés de ensinar um único modo de tocar cada instrumento. O papel do educador, neste caso, é o de estar sempre atento se a criança força ao falar; se tem a voz rouca para poder, assim, encaminhar para um especialista; e se ela tem disposição, interesse, curiosidade e criatividade. Os educadores e as crianças poderão fazer improvisações de canções de roda, criar histórias com diferentes sons vocais, além de montar um acervo de materiais sonoros. Todo trabalho é dinâmico e possibilita as transformações necessárias que enriquecem as atividades, especialmente por não se limitar ao uso dos tradicionais instrumentos musicais. A construção de objetos sonoros é uma atividade que desperta a curiosidade e o interesse das crianças, além de contribuir para o entendimento de questões referentes à produção de sons, às qualidades acústicas, ao mecanismo e ao funcionamento dos instrumentos musicais

27 5.4 Ideias práticas e Oficinas Por meio da música podemos desenvolver várias áreas do conhecimento como, por exemplo, trabalhar a interdisciplinaridade, contribuir para que o aluno seja capaz de perceber o outro e a si, sentir, pensar, relacionar-se, comunicar-se, humanizar-se, desenvolver o espirito de solidariedade, cooperação, interação, socialização e sensibilidade. Com isso, facilitar o processo do ensino-aprendizagem. A escola pode contribuir para que os alunos se tornem ouvintes sensíveis, amadores talentosos ou músicos profissionais. [...] Ela pode proporcionar condições para uma apreciação rica e ampla, onde o aluno aprenda a valorizar os momentos importantes em que a música se inscreve no tempo e na história. (BRASIL, 1998, p. 56). A partir dessas contribuições, o professor pode promover outras, sempre tendo em mente alguns cuidados. Entre eles, a música não deve ser imposta, mas deve ser algo natural da criança; devem ser desenvolvidos nela hábitos como cantar, tocar, marcar o ritmo com as mãos, pés, dedos, utensílios e outros objetos, fazendo a criança perceber que o som está em toda parte: nos animais, na chuva que cai, nos ruídos do mar, e em outros lugares e situações; aprender também que os sons se distinguem e que alguns nos agradam e outros não é muito importante para o processo ensino-aprendizagem. Deve-se ainda, sempre que possível, oportunizar uma vivência qualitativa musical para nossas crianças. Na sala de aula ou em outro ambiente apropriado, o professor pode trabalhar com a espontaneidade da criança ao andar, marchar, pular e correr. Acompanhar o ritmo, ouvindo música, movimentar a cabeça, bater palmas e pés, bater palmas sem música, perceber os sons dos animais (agudo, grave, longo e curto), em grupo, trabalhar com o estalar dos dedos, bater pés, requebrar, trabalhar a improvisação, abaixar, rodar, virar, levantar, pular, entre outras práticas. Em relação às oficinas, estas consistem no tempo e no espaço nos quais se podem introduzir, de maneira concreta e prática, a criança no universo da música. Os trabalhos com a música realizados com as crianças podem e devem reunir grande variedade de fontes sonoras: pode-se confeccionar objetos sonoros com as crianças, com o cuidado de adequar materiais que disponham de boa qualidade sonora e não apresentem nenhum risco à segurança delas, especialmente bebês; devem-se sonorizar brinquedos populares como a matraca, o rói- rói ou berra-boi, os piões sonoros, além de tradicionais chocalhos de bebês. Pios de pássaros, sinos de

28 diferentes tamanhos, brinquedos que imitam sons de animais, entre outros, são materiais que podem ser aproveitados na realização de atividades musicais. As crianças devem também trabalhar com a voz. Esta é, sem dúvida, um dos instrumentos mais práticos, pois está sempre de posse da criança. É lugar- comum dizer que a voz é o nosso primeiro instrumento! Instrumento natural que é o meio de expressão e comunicação desde o nascimento. (BRITO, 2003, p. 87). Nas oficinas as crianças podem então construir seus próprios instrumentos. São atividades que despertam interesse, curiosidade, pesquisa, imaginação, planejamento, organização e o entendimento de questões elementares referentes à produção dos sons e da sua qualidade acústica. Para construir instrumentos é preciso, antes de tudo, selecionar e organizar o uso de sucatas, materiais recicláveis, latas, embalagens, tubos de papelão, de PVC, de conduítes, caixa de papelão, potes plásticos etc... Devemos contar com materiais próprios de cada região, como grãos, sementes, cabaças, conchas, pedrinhas, rolhas plásticas, fios de nylon fita crepe, cola, tesoura, alfinetes, tintas, barbantes e outros materiais destinados ao acabamento e à decoração. Esta ideia é reforçada na seguinte sugestão: A experiência de construir materiais sonoros é muito rica. Acima de tudo é preciso que em cada região do país este trabalho aproveite os recursos naturais, os materiais encontrados com mais facilidade e a experiência dos artesãos locais, que poderão colaborar positivamente para o desenvolvimento do trabalho com as crianças. (BRASIL, 1998, 69). As atividades de construção de instrumentos serão mais ricas e significativas se estabelecerem relações com as histórias dos instrumentos musicais, com seus papéis empenhados no decorrer do tempo e nas diferentes culturas e, além disso, se seus conteúdos são trabalhados relacionados à educação ambiental, às relações de natureza e sociedade.

29 CONSIDERAÇÕES FINAIS Em vista dos argumentos apresentados, percebe-se o quanto a música é importante no desenvolvimento da criança, pois ela contribui para a construção do conhecimento, para o processo de socialização, além de favorecer o desenvolvimento de sua personalidade. Desde o ventre materno, a criança adquire as suas primeiras experiências sonoras, que são produzidas pelo corpo da mãe, como a voz materna que um é material sonoro e serve como referência afetiva para ambos. Quando a criança entra em contato com a música, zonas importantes do corpo físico e psíquico são acionadas. A partir disso, relacionaremos abaixo as conclusões a que se chegou. Primeiramente, através da música, a criança desenvolve as linguagens musical e corporal, mediante as quais terá a possibilidade de sentir as harmonias, interpretar e criar, e neste processo ela terá a oportunidade de perceber suas habilidades e limitações, desenvolvendo a criatividade, sensibilidade e comunicação. A música no ambiente familiar é fundamental, pois é neste ambiente que a criança terá seu primeiro contato sonoro, os pais são grandes responsáveis pelos primeiros gostos musicais das crianças, por constituírem geralmente sua socialização primária, eles têm a capacidade de interferir na qualidade musical da criança. A música na escola é uma excelente ferramenta para exercitar a cidadania e a comunicação, serve para descobrir habilidades, trabalhar emoções, memória, concentração entre outros. Por mais que o tempo passe e surjam novas tecnologias, novos processos de ensino-aprendizagem, a capacitação dos professores, quando acontece, não acontece no mesmo ritmo. A maioria dos professores que trabalha com música na escola, não se sente preparada para lidar com a música na sala de aula. Geralmente se restringe às músicas das rotinas, como aquelas executadas na hora do lanche, para a criançada lavar as mãos etc. O prejuízo para a educação da criança é grande, pelo simples fato de o professor desconhecer o benefício da música e não saber utilizá-la pedagogicamente. Finalmente, para trabalhar a música na sala de aula não são necessários grandes esforços, e sim materiais básicos usáveis na própria sala de aula. Pode ser usado um plano alternativo como materiais recicláveis por exemplo, por meio dos quais os alunos terão a oportunidade de fazer sons com tudo que lhes são permitidos. Assim, podem trabalhar o corpo, a voz, fazer contatos com outras culturas e produzir momentos alegres e prazerosos. O espaço e tempo escolares podem ser transformados em ambientes propícios à aprendizagem. Cabe ao