Estudos Econômicos. Ministério da Fazenda DEZ

Documentos relacionados
METODOLOGIA PROJEÇÃO DE DEMANDA POR TRANSPORTE AÉREO NO BRASIL

Centro Federal de EducaçãoTecnológica 28/11/2012

O Fluxo de Caixa Livre para a Empresa e o Fluxo de Caixa Livre para os Sócios

Universidade Federal de Pelotas UFPEL Departamento de Economia - DECON. Economia Ecológica. Professor Rodrigo Nobre Fernandez

Taxa de Câmbio e Taxa de Juros no Brasil, Chile e México

12 Integral Indefinida

Es t i m a t i v a s

VALOR DA PRODUÇÃO DE CACAU E ANÁLISE DOS FATORES RESPONSÁVEIS PELA SUA VARIAÇÃO NO ESTADO DA BAHIA. Antônio Carlos de Araújo

Equações Simultâneas. Aula 16. Gujarati, 2011 Capítulos 18 a 20 Wooldridge, 2011 Capítulo 16

DEMANDA BRASILEIRA DE CANA DE AÇÚCAR, AÇÚCAR E ETANOL REVISITADA

2 Relação entre câmbio real e preços de commodities

Valor do Trabalho Realizado 16.

Espaço SENAI. Missão do Sistema SENAI

A ELASTICIDADE-RENDA DO COMÉRCIO REGIONAL DE PRODUTOS MANUFATURADOS Marta R. Castilho 1 e Viviane Luporini 2

exercício e o preço do ativo são iguais, é dito que a opção está no dinheiro (at-themoney).

Luciano Jorge de Carvalho Junior. Rosemarie Bröker Bone. Eduardo Pontual Ribeiro. Universidade Federal do Rio de Janeiro

Curso de preparação para a prova de matemática do ENEM Professor Renato Tião

4 Cenários de estresse

Estudo comparativo de processo produtivo com esteira alimentadora em uma indústria de embalagens

CAPÍTULO 9. y(t). y Medidor. Figura 9.1: Controlador Analógico

2 Fluxos de capitais, integração financeira e crescimento econômico.

3 O impacto de choques externos sobre a inflação e o produto dos países em desenvolvimento: o grau de abertura comercial importa?

2. Referencial Teórico

1 Introdução. Onésio Assis Lobo 1 Waldemiro Alcântara da Silva Neto 2

Análise da competitividade do algodão e da soja de Mato Grosso entre 1990 e 2006

Pessoal Ocupado, Horas Trabalhadas, Jornada de Trabalho e Produtividade no Brasil

TOMADA DE DECISÃO EM FUTUROS AGROPECUÁRIOS COM MODELOS DE PREVISÃO DE SÉRIES TEMPORAIS

Taxa de Juros e Desempenho da Agricultura Uma Análise Macroeconômica

HIPÓTESE DE CONVERGÊNCIA: UMA ANÁLISE PARA A AMÉRICA LATINA E O LESTE ASIÁTICO ENTRE 1960 E 2000

ENGENHARIA ECONÔMICA AVANÇADA

UMA ANÁLISE ECONOMÉTRICA DOS COMPONENTES QUE AFETAM O INVESTIMENTO PRIVADO NO BRASIL, FAZENDO-SE APLICAÇÃO DO TESTE DE RAIZ UNITÁRIA.

EVOLUÇÃO DO CRÉDITO PESSOAL E HABITACIONAL NO BRASIL: UMA ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DOS FATORES MACROECONÔMICOS NO PERÍODO PÓS-REAL RESUMO

Análise econômica dos benefícios advindos do uso de cartões de crédito e débito. Outubro de 2012

Necessidade de visto para. Não

OTIMIZAÇÃO ENERGÉTICA NA CETREL: DIAGNÓSTICO, IMPLEMENTAÇÃO E AVALIAÇÃO DE GANHOS

Working Paper Impacto do investimento estrangeiro direto sobre renda, emprego, finanças públicas e balanço de pagamentos

Modelos Econométricos para a Projeção de Longo Prazo da Demanda de Eletricidade: Setor Residencial no Nordeste

O impacto de requerimentos de capital na oferta de crédito bancário no Brasil

APLICAÇÃO DE SÉRIES TEMPORAIS NA PREVISÃO DA MÉDIA MENSAL DA TAXA DE CÂMBIO DO REAL PARA O DÓLAR COMERCIAL DE COMPRA USANDO O MODELO DE HOLT

O EFEITO DIA DO VENCIMENTO DE OPÇÕES NA BOVESPA 1

Série Textos para Discussão

OS EFEITOS DO CRÉDITO RURAL E DA GERAÇÃO DE PATENTES SOBRE A PRODUÇÃO AGRÍCOLA BRASILEIRA hfsspola@esalq.usp.br

Susan Schommer Risco de Crédito 1 RISCO DE CRÉDITO

Escola E.B. 2,3 / S do Pinheiro

SÉRIES WORKING PAPER BNDES/ANPEC PROGRAMA DE FOMENTO À PESQUISA EM DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO - PDE

Equações Diferenciais Ordinárias Lineares

Aula - 2 Movimento em uma dimensão

Preçário dos Cartões Telefónicos PT

BBR - Brazilian Business Review E-ISSN: X bbronline@bbronline.com.br FUCAPE Business School Brasil

Função definida por várias sentenças

Boom nas vendas de autoveículos via crédito farto, preços baixos e confiança em alta: o caso de um ciclo?

CHOQUES DE PRODUTIVIDADE E FLUXOS DE INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS PARA O BRASIL * Prof a Dr a Maria Helena Ambrosio Dias **

MUDANÇAS CAMBIAIS E O EFEITO DOS FATORES DE CRESCIMENTO DAS RECEITAS DE EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE SOJA 1 2

SISTEMA NACIONAL DE INOVAÇÃO EM UM MODELO COM RESTRIÇÃO EXTERNA

PREÇOS DE PRODUTO E INSUMO NO MERCADO DE LEITE: UM TESTE DE CAUSALIDADE

A PERSISTÊNCIA INTERGERACIONAL DO TRABALHO INFANTIL: UMA COMPARAÇÃO ENTRE O BRASIL RURAL E O BRASIL URBANO

Quadro Geral de Regime de Vistos para a Entrada de Estrangeiros no Brasil

Fatores de influência no preço do milho no Brasil

Variabilidade e pass-through da taxa de câmbio: o caso do Brasil

Sistemas não-lineares de 2ª ordem Plano de Fase

Pobreza e Desigualdade de Renda no Brasil Rural: Uma Análise da Queda Recente 1

Boletim Económico Inverno 2006

AÇÕES DO MERCADO FINACEIRO: UM ESTUDO VIA MODELOS DE SÉRIES TEMPORAIS

Exportações Brasileiras de Carne Bovina Brazilian Beef Exports. Fonte / Source: SECEX-MDIC

ACESSOS À BVS-PSI MEDIDOS PELO GOOGLE ANALYTICS

APLICAÇÃO DE MODELAGEM NO CRESCIMENTO POPULACIONAL BRASILEIRO

As exportações nos estados da Região Sul do Brasil por intensidade tecnológica entre 1996 a 2007

COMPORTAMENTO DO PREÇO NO COMPLEXO SOJA: UMA ANÁLISE DE COINTEGRAÇÃO E DE CAUSALIDADE

Ascensão e Queda do Desemprego no Brasil:

Uma avaliação da poupança em conta corrente do governo

Redes de Computadores

Jovens no mercado de trabalho formal brasileiro: o que há de novo no ingresso dos ocupados? 1

ACORDOS TBT E SPS E COMÉRCIO INTERNACIONAL AGRÍCOLA: RETALIAÇÃO OU COOPERAÇÃO? 1

TEXTO PARA DISCUSSÃO N 171 DESIGUALDADES SOCIAIS EM SAÚDE: EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS SOBRE O CASO BRASILEIRO

4 O Papel das Reservas no Custo da Crise

Experimento. Guia do professor. O método de Monte Carlo. Governo Federal. Ministério da Educação. Secretaria de Educação a Distância

Guia de Recursos e Atividades

Palavras-chave: Posição Relativa do Mercado; Vantagem Comparativa; Constant-Market-Share; Competitividade.

MÉTODO MARSHALL. Os corpos de prova deverão ter a seguinte composição em peso:

FORMAÇÃO DE PREÇOS E SAZONALIDADE NO MERCADO DE FRETES RODOVIÁRIOS PARA PRODUTOS DO AGRONEGÓCIO NO ESTADO DO PARANÁ*

O mercado brasileiro da soja: um estudo de transmissão, causalidade e cointegração de preços entre 2001 e 2009

Argentina Dispensa de visto, por até 90 dias Dispensa de visto, por até 90 dias. Entrada permitida com Cédula de Identidade Civil

UMA APLICAÇÃO DO TESTE DE RAIZ UNITÁRIA PARA DADOS EM SÉRIES TEMPORAIS DO CONSUMO AGREGADO DAS FAMÍLIAS BRASILEIRAS

PÚBLICO ALVO: Promotores de viagens; agentes de viagens; consultores de viagens; operadores de emissivo e receptivo; atendentes.

Demanda Brasileira de Importação de Borracha Natural,

José Ronaldo de Castro Souza Júnior RESTRIÇÕES AO CRESCIMENTO ECONÔMICO NO BRASIL: UMA APLICAÇÃO DO MODELO DE TRÊS HIATOS ( )

METODOLOGIAS ALTERNATIVAS DE GERAÇÃO DE CENÁRIOS NA APURAÇÃO DO DE INSTRUMETOS NACIONAIS. Alexandre Jorge Chaia 1 Fábio da Paz Ferreira 2

CIRCULAR Nº 3.640, DE 4 DE MARÇO DE 2013

DEMANDA DE IMPORTAÇÃO DE VINHO NO BRASIL NO PERÍODO ANTÔNIO CARVALHO CAMPOS; HENRIQUE BRIGATTE; UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE ECONOMIA DE SÃO PAULO RICARDO SÁVIO DENADAI HÁ HYSTERESIS NO COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO? UM TESTE ALTERNATIVO

ESTIMANDO O IMPACTO DO ESTOQUE DE CAPITAL PÚBLICO SOBRE O PIB PER CAPITA CONSIDERANDO UMA MUDANÇA ESTRUTURAL NA RELAÇÃO DE LONGO PRAZO

COMPORTAMENTO DOS PREÇOS DO ETANOL BRASILEIRO: DETERMINAÇÃO DE VARIÁVEIS CAUSAIS

A Produtividade do Capital no Brasil de 1950 a 2002

Fluxo de Caixa, ADRs e Restrições de Crédito no Brasil

METAS INFLACIONÁRIAS NO BRASIL: UM ESTUDO EMPÍRICO USANDO MODELOS AUTO-REGRESSIVOS VETORIAIS (VAR)

5 Erro de Apreçamento: Custo de Transação versus Convenience Yield

Instituto de Tecnologia de Massachusetts Departamento de Engenharia Elétrica e Ciência da Computação. Tarefa 5 Introdução aos Modelos Ocultos Markov

Perspectivas para a inflação

Campo magnético variável

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA MESTRADO EM ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Transcrição:

Esudos Econômicos Minisério da Fazenda Série de Texos para Discussão 003 DEZ 2012 Débora Bellucci Módolo Célio Hirauka Impaco da concorrência chinesa em erceiros mercados: uma análise por regiões e por caegorias ecnológicas Minisério da Fazenda

003 DEZ 2012 Esudos Econômicos Minisério da Fazenda Série de Texos para Discussão Impaco da concorrência chinesa em erceiros mercados: uma análise por regiões e por caegorias ecnológicas Presidene da República: Dilma Vana Rousseff Minisro da Fazenda: Guido Manega Secreário Execuivo: Nelson Barbosa Chefe de Gabinee: Marcelo Fiche Produção e Execução Assessoria de Assunos Econômicos do Gabinee do Minisro Are Capa: Viviane Barros Supore Técnico Secrearia Execuiva -SE Secrearia de Acompanhameno Econômico - SEAE Secrearia de Assunos Inernacionais - SAIN Secrearia de Políica Econômica - SPE Secrearia da Receia Federal do Brasil - SRFB Secrearia do Tesouro Nacional - STN Serviço Federal de Processameno de Dados - SERPRO www.fazenda.gov.br Minisério da Fazenda Esplanada dos Minisérios Bloco P, 5 o andar CEP 70.048-900 Brasília - DF O pono de visa, as opiniões e conclusões expressas na série de exos para discussão Esudos Econômicos são de responsabilidade exclusiva do(s) auor(es) e não represenam ou não refleem necessariamene a posição do Minisério da Fazenda. * The views, opinions and conclusions presened in he EE discussion paper series are exclusively hose of he auhor(s) and do no necessarily represen or reflec he posiion of he Minisry of Finance. * Minisério da Fazenda

Impaco da concorrência chinesa em erceiros mercados: uma análise por regiões e por caegorias ecnológicas Débora Bellucci Módolo * Célio Hirauka Resumo: A ascensão da China como poência econômica e sua presença crescene nos mercados mundiais êm sido moivo de grande aenção no debae inernacional. Em especial, o aumeno da compeiividade chinesa no comércio inernacional e a acenuada expansão de suas exporações de manufaurados levanam preocupações a respeio das exporações chinesas esarem subsiuindo exporações de ouros países. Nesse senido, ese esudo busca, mediane a uilização do modelo graviacional, verificar se ao longo dos úlimos anos, de 2000 a 2009, as exporações chinesas êm deslocado as exporações de ouros países em erceiros mercados, dialogando com ouros esudos realizados sobre o ema. A conribuição dese rabalho consise em fornecer uma análise geral da concorrência chinesa em erceiros mercados, conemplando diferenes regiões do globo e diferenes caegorias ecnológicas de maneira comparaiva. As evidências enconradas aponam que o efeio das exporações chinesas sobre as exporações mundiais é predominanemene negaivo. Desaca-se o seor de manufaurados de média ecnologia como o segmeno mais afeado pela compeição chinesa. Os resulados ambém indicam que as economias em desenvolvimeno experimenam o maior efeio negaivo da concorrência chinesa, principalmene os países asiáicos emergenes. Palavras-chave: China, Exporações Chinesas, Comércio Inernacional Absrac: The rise of China as an economic power and is growing presence in world markes has received a lo of aenion in he inernaional debae. In paricular, he rise of Chinese compeiiveness in inernaional rade and he dramaic expansion of is manufacuring expors raise concerns abou he displacemen of counries expors by China. Thus, his sudy seeks, hrough he use of graviy model, verify if in he pas years, from 2000 o 2009, Chinese expors have displaced expors from oher counries in hird markes. The conribuion of his paper is o provide an overview of Chinese compeiion in hird markes, covering differen regions and differen echnology caegories in a comparaive way. The evidences in he paper show ha he effec of Chinese expors on global expors is mainly negaive. A he same ime, he manufacuring secor of medium echnology is he segmen mos affeced by Chinese compeiion. The resuls also indicae ha developing economies are experiencing he mos negaive effec of Chinese compeiion, especially he emerging Asian counries. Keywords: Chinese Expors, Chinese Compeiion, Inernaional Trade Área 6: Economia Inernacional JEL: F10, F13 * Possui Graduação em Economia pela FEA-USP e Mesrado em Economia pelo IE-Unicamp. Professor do Insiuo de Economia da Unicamp e pesquisador do Núcleo de Economia Indusrial e da Tecnologia (NEIT).

Inrodução A posição de desaque alcançada pela economia chinesa no cenário econômico mundial dos úlimos anos em sido moivo de grande aenção inernacional. Esse resulado, em grande pare, é reflexo de um crescimeno do PIB chinês de aproximadamene 10% a.a. nas úlimas rês décadas, acompanhado de uma rápida inegração do país ao comércio inernacional. De 1980 para 2009, a paricipação chinesa no comércio mundial cresceu de 1% para aproximadamene 10%, permiindo que a China se consolidasse em 2009 como a maior exporadora mundial e a segunda maior imporadora global 1. Segundo Winers e Yusuf (2007), a expansão econômica chinesa afea os ouros países do globo por uma série de canais, mas a via que ainge mais direamene e com maior inensidade as ouras economias é o comércio inernacional. Nessa direção, ese esudo se concenra na análise dos impacos da emergência chinesa sob a esfera comercial. Na lieraura dos impacos da expansão chinesa no âmbio comercial podem-se idenificar quaro ipos principais de impacos 2 que, por sua vez, êm influência sobre as rajeórias de crescimeno econômico e desenvolvimeno nacional de inúmeros países. Daí decorre a imporância de avaliá-los, idenificando as oporunidades ou ameaças derivadas desse processo. O primeiro desses impacos diz respeio às oporunidades de exporação dos países para a China, graças à crescene demanda chinesa por commodiies primárias, componenes e bens de capial. O segundo efeio refere-se às oporunidades de imporações de produos chineses, com desaque para os manufaurados inensivos em mão de obra e, crescenemene, manufaurados do complexo elerônico, de informáica e de elecomunicações. O erceiro ipo de impaco corresponde à compeição das exporações chinesas com exporações de ouros países em erceiros mercados, dada a possibilidade de os países de desino subsiuírem seus fornecedores em favor da China. Por fim, a quara modalidade engloba os impacos comerciais indireos, como por exemplo, a expansão dos preços globais de commodiies primárias agrícolas, minerais, meálicas e energéicas, e a redução dos preços das manufauras inensivas em rabalho no mercado mundial. Ese rabalho em seu foco na análise do erceiro ipo de impaco. A hipóese que se preende esar é a de que a expansão das exporações de manufauras chinesas pode provocar o deslocameno das exporações de ouros países que se desinariam ao mesmo mercado de desino. Segundo essa hipóese, os países imporadores esariam subsiuindo seus fornecedores em favor de produos advindos da China. Diferenemene dos ouros rabalhos, ese esudo procura idenificar quais segmenos de produos, classificados por inensidade ecnológica, êm sido mais afeados pela expansão comercial chinesa em erceiros mercados e ambém verificar quais regiões do globo êm enfrenado maior ameaça diane dessa concorrência. Nese rabalho, ambém se preende avançar em relação à grande pare da lieraura que uiliza a análise de indicadores direos de comércio 3 para avaliar a compeição chinesa em erceiros mercados. Assim, realiza-se um ese economérico a parir de uma aplicação do modelo graviacional, conrolando de maneira mais adequada o amplo conjuno de variáveis que afeam o comércio bilaeral. Para ano, ese arigo esá dividido em cinco seções, além desa inrodução e das considerações finais. Na primeira seção, apresena-se um panorama da expansão comercial chinesa, na segunda realizase uma revisão da lieraura sobre a concorrência chinesa em erceiros mercados. A erceira seção dealha a meodologia uilizada nese rabalho, especificando as equações esimadas. Na quara e quina seções são apresenados os resulados das esimações do modelo, levando por fim à exposição das conclusões dese rabalho. 1. A expansão comercial chinesa e seus efeios globais Esa seção em por objeivo apresenar o noório desempenho comercial chinês nos úlimos anos, aponando para os poenciais efeios dessa expansão. Enquano o PIB chinês foi capaz de crescer a uma axa média de cerca de 10% a.a. de 1980 a 2010, as exporações chinesas pariram de US$ 18 bilhões em 1 Unied Naions Commodiy Trade (UN Comrade). 2 Abreu (2005), Jenkins, Peers e Moreira (2008), Ianchovichina, Ivanic e Marin (2009). 3 Os indicadores mais frequenes analisam a similaridade de pauas exporadoras e as variações de marke share.

1980 para alcançar US$ 1,6 rilhão em 2010, represenando uma expansão média4 de 16% a.a. Como resulado, verifica-se o aumeno da parcela das exporações no PIB chinês, finalizando 2010 em 29% do PIB, aingindo o pico de 39% em 2006, em conrase com os 11% de 1980. A grandeza da expansão comercial chinesa se orna mais evidene quando comparada ao crescimeno das exporações mundiais, conforme o Gráfico 1. Observa-se que aé 2000, apesar do crescimeno acumulado pelas exporações chinesas er sido superior ao acumulado pelo mundo, a diferença enre eles não era ão grande quano após 2000. No período de 2000 a 2008 5, as exporações mundiais pouco mais que dobraram, enquano as exporações chinesas mais que sexuplicaram. Assim, se nos anos de 1990 o desempenho exporador chinês já se desacava, passa a chamar mais aenção ainda nos anos 2000, por isso a análise do impaco das exporações chinesas sobre as exporações mundiais dese rabalho será realizada a parir de 2000 6. Gráfico 1 Crescimeno acumulado das exporações chinesas e mundiais, 1990 a 2010 3000% 2500% 2000% 1500% 1000% 500% 0% Fone: Elaboração própria a parir de dados do UN Comrade. 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Noa: Crescimeno acumulado com base nos dados de exporações em dólares correnes. Além do exraordinário crescimeno do volume das exporações chinesas, ambém é imporane desacar mudanças imporanes na paua de exporações. Rodrik (2006) enfaiza como imporane deerminane do crescimeno econômico chinês o fao de a cesa exporadora chinesa er se conduzido para produos significaivamene mais sofisicados que o esperado para seu nível de renda per capia 7. Segundo ele, a cesa exporadora chinesa é compaível com um país de renda per capia rês vezes maior. Para Hanson e Roberson (2008) foi a ala especialização em manufauras que fez da emergência chinesa no cenário mundial um fenômeno disrupivo. Porano, dois fenômenos se sobressaem no desempenho comercial chinês: o exraordinário aumeno da paricipação da China no comércio mundial e o fore crescimeno da paricipação chinesa no comércio mundial de manufauras, desacando-se em especial o os produos de ala ecnologia. O primeiro fenômeno evidencia-se no crescimeno da paricipação das exporações chinesas no oal das exporações mundiais, passando de 0,9% em 1980 para 10,6% em 2010. O segundo fenômeno pode ser observado no Gráfico 2, que mosra a evolução da marke share das exporações chinesas em ermos de inensidade ecnológica, segundo a classificação proposa por Lall (2000). Essa classificação raduz os dados de comércio (SH a 6 dígios) em produos primários e Mundo China 4 Taxa média anual de crescimeno calculada com base nas exporações em dólares correnes, segundo dados UN Comrade. 5 Vale noar a queda das exporações de 2008 para 2009 por cona da recene crise mundial. Apesar dessa urbulência, a endência das axas de crescimeno do comércio chinês coninuou fore 5, levando-a à posição de maior exporadora mundial em 2009 (UN Comrade). 6 Ressala-se que o período abrangido pelos eses economéricos vai aé 2009 por cona da base de dados que se enconrava incomplea para o ano de 2010 na época da colea dos dados. Ainda que 2009 enha sido um ano de crise mundial, opou-se por incluí-lo na análise, uilizando dummies anuais nas esimações para conrolar os efeios da crise e de ouros faores. 7 Rodrik (2006) verifica que há uma correlação posiiva e esaisicamene significane enre o nível de renda per capia e o nível de produividade associado à cesa exporadora de um país. Nas palavras do auor, países ricos endem a exporar o que ouros países ricos ambém exporam.

produos manufaurados com diferenes graus de inensidade e sofisicação ecnológica (manufaurados baseados em recursos naurais e manufaurados de baixa, média e ala ecnologia). Desaca-se o ganho de imporância das exporações chinesas de ala ecnologia no mercado mundial, pois o marke share das exporações chinesas desse segmeno mais do que quadriplicou de 2000 para 2009. As exporações chinesas de média ecnologia mais do que riplicaram sua paricipação no comércio mundial e as exporações chinesas de baixa ecnologia dobraram seu marke share no período. Vale ressalar que apesar da maior expansão de marke share er sido experimenada pelas exporações chinesas de ala ecnologia, o marke share nos produos de baixa ecnologia é o maior de odos os segmenos, represenando mais de 20% das exporações mundiais no segmeno. Gráfico 2 Evolução da paricipação das exporações chinesas no oal de exporações mundiais por segmeno ecnológico, 2000 a 2009 25,0% 20,0% 15,0% 10,0% 5,0% 0,0% 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Produos primários Manufaurados de baixa ecnologia Manufaurados de ala ecnologia Fone: Elaboração própria a parir de dados do UN Comrade. Manufaurados baseados em recursos naurais Manufaurados de média ecnologia Assim, diferenemene do que seria esperado pela eoria das vanagens comparaivas, segundo a qual a China se especializaria em produos inensivos em rabalho (ípico de economias de baixa renda), ese país em exporado produos sofisicados, que são normalmene exporados por economias mais ricas. Conudo, a evolução da paua comercial a parir dessa classificação, assim como de qualquer oura classificação de inensidade ecnológica de produos, deve ser analisada com cuidado, uma vez que, no conexo aual, o fao de um país exporar produos classificados como sendo de ala ecnologia não significa necessariamene que as empresas dese país dominem os princípios ecnológicos e deenham os conhecimenos associados ao desenvolvimeno e produção compeiiva do produo final. Como desacado por Hirauka (2010), os fluxos de comércio inernacional passaram nos úlimos anos por um profundo processo de mudança em decorrência das esraégias de desvericalização da produção e de fragmenação da cadeia de valor levadas a frene pelas grandes corporações ransnacionais. Com esse processo, as cadeias de valor se ornaram muio mais dispersas geograficamene, incorporando diferenes países em diferenes eapas da cadeia, aneriormene realizadas de maneira vericalmene inegradas. O próprio início do processo de expansão das exporações de manufauras chinesas eseve basane associado às esraégias de erceirização das eapas mais inensivas em mão-de-obra em seores de baixa ecnologia, como êxeis, vesuário e calçados. Na China, mulinacionais do Japão, Coreia do Sul, Hong Kong e Taiwan iniciaram o processo de realocação de suas indúsrias radicionais já nos anos 1980, ransformando a China em base produiva das empresas asiáicas (Gaulier, Lemoine e Ünal-Kesenci, 2004). Ao longo dos anos 1990, foram principalmene as grandes empresas americanas que ransferiram grande pare de sua aividade produiva para a Ásia, em especial para a China. Embora inicialmene basane concenrada em seores radicionais, a esraégia de desenvolvimeno da China, passou por uma busca consane de upgrade, com a incorporação crescene de seores mais inensivos em capial, ecnologia e escala, diversificando rapidamene sua esruura exporadora em uma ampla gama de indúsrias, com desaque para o complexo elerônico, auomoivo e de máquinas e equipamenos em geral. Também vale desacar o imporane

upgrade que ocorreu denro das eapas das cadeias de valor dos diferenes seores, buscando incorporar aividades e funções corporaivas com maior coneúdo ecnológico, e não apenas as aividades inensivas em mão-de-obra (Hirauka e Sari, 2010). Assim, a escala e a velocidade do crescimeno indusrial chinês ao longo dos anos 2000 passaram a exercer impacos crescenes sobre os fluxos comerciais inernacionais, inclusive sobre os preços das maérias primas. Ao mesmo empo, Medeiros (2006) desaca o papel da China favorecendo países avançados como Japão e Coreia, na medida em que a economia chinesa se coloca como grande imporadora de pares e componenes, e bens de capial provenienes desses países, para usá-los como insumos nos seus processos de produção. Além da China se consiuir em imporane mercado consumidor para as indúsrias japonesa e coreana, grande pare dos invesimenos desses países na China desina-se à monagem da rede de produção e comércio inra-asiáica. Desse modo, o peso da produção comparilhada inra-asiáica conribui para que a esruura de comércio na China eseja foremene conecada aos fluxos de invesimeno esrangeiro direo, ambém associado à decisão de grandes corporações em consolidar na China uma base manufaureira mundial, em especial de bens elerônicos de consumo (Medeiros, 2006). Tal especialização da produção denro da Ásia levou a um aumeno da parcela das imporações da China provenienes da região de al forma que as imporações chinesas deixaram de ser feias majoriariamene a parir dos países cenrais, como era na década de 1980, e passaram a se concenrar nos vizinhos asiáicos semi-periféricos (Nogueira, 2008). Ainda assim, o Japão e os NIEs (Newly Indusrialized Economies) 8 coninuam como imporanes fornecedores de bens de capial e bens inermediários sofisicados para países menos desenvolvidos da região asiáica, ano para a China como ambém para os países da ASEAN 9 (Gaulier, Lemoine e Ünal-Kesenci, 2004). Já nas exporações chinesas, as economias em desenvolvimeno é que represenavam o desino dominane na década de 1980. A parir de 1993, enreano, a paricipação dessas economias como desino das exporações chinesas foi superada pela paricipação dos países desenvolvidos. Essa mudança deveuse, em grande pare, ao fao de os EUA erem aumenado consideravelmene o volume de imporações provenienes da China e, em menor escala, ao foralecimeno do comércio chinês com a União Europeia (Chernavsky e Leão, 2010). Porano, a análise dos impacos da concorrência chinesa deve ser analisada, levando em cona essas ransformações no comércio mundial, em que a produção comparilhada ornou-se um elemeno imporane com a China exercendo papel crescenemene desacado nesse processo, com impacos diferenciados sobre diferenes regiões do mundo. A seguir, busca-se realizar uma breve análise dos esudos que procuraram verificar em que medida a expansão comercial chinesa deslocou compeidores em erceiros mercados. 2. Breve revisão da lieraura sobre os impacos comerciais da expansão chinesa sobre os compeidores mundiais O surpreendene crescimeno da economia chinesa e sua presença crescene nos mercados mundiais êm sido moivo de grande aenção no debae inernacional. Especialmene com a inserção da China na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001 e a subsequene eliminação das coas de imporação de produos êxeis e de vesuário 10 em 2005, as consequências da expansão chinesa e de sua inegração ao comércio inernacional passaram a gerar maiores preocupações (Jenkins, 2008a). Assim, ao longo dos anos 2000, êm surgido diversas quesões a respeio dos impacos da compeição chinesa em erceiros mercados, ano sobre países desenvolvidos como em desenvolvimeno (Jenkins e Peers, 2009). Nesse senido, Hused e Nishioka (2010) se preocuparam em invesigar quais países desenvolvidos e em desenvolvimeno perderam espaço devido à expansão comercial chinesa. Ao 8 Coreia do Sul, Hong Kong, Cingapura e Taiwan. 9 Países da Associação de Nações do Sudese Asiáico (ASEAN) - Indonésia, Malásia, Filipinas, Tailândia - excluindo Cingapura. 10 Com o fim do Acordo sobre Têxeis e Vesuário.

aplicarem o méodo de consan marke share 11 para dados de exporação de produos manufaurados (SITC Rev. 3, indúsrias de 5 a 8) 12 e uilizarem uma amosra de 24 países de 1995 a 2005, os auores enconraram evidências de que os países em desenvolvimeno não experimenaram quedas de marke share como consequência dos ganhos da China. Países em desenvolvimeno, como Malásia e México, especializados na produção de produos semelhanes aos chineses apresenaram variações de marke share no período posiivamene relacionadas a mudanças do marke share chinês em erceiros mercados, sugerindo que ais países não compeem significaivamene com a China. Pelo conrário, os resulados de Hused e Nishioka (2010) sugerem que o crescimeno do marke share da China ocorreu às cusas da redução do marke share de países avançados como Japão e Esados Unidos. Ouro esudo que se pode ciar sobre a concorrência chinesa em erceiros mercados, no âmbio da economia mundial, é o rabalho de Dimaranan, Ianchovichina e Marin (2009). Esses auores, observando que o crescimeno da China, ao mesmo empo em que cria oporunidades para seus parceiros comerciais, ambém gera fore compeição nos mercados inernos e exernos, buscaram idenificar quais países e indúsrias enfrenam a compeição chinesa de forma mais severa e quais seriam as maiores oporunidades enconradas. Uilizaram uma versão modificada do modelo padrão GTAP 13, fazendo simulações para o período de 2005 a 2020. As simulações revelaram que o crescimeno da China inensifica a compeição nos mercados de manufaurados, especialmene nas indúsrias êxil e de vesuário, e que as indúsrias manufaureiras de diversos países são afeadas negaivamene pela compeição chinesa, principalmene dos países de baixa e média renda do Sul e Sudese Asiáico. Também verificaram que uma expansão da variedade e melhorias na qualidade das exporações chinesas êm poencial para razer ganhos de bemesar ao mundo, mas ainda assim países que não se esforçarem para acompanhar o rimo da China sofrerão erosão do marke share de suas exporações e dos seores manufaurados de ala ecnologia. Ao mesmo empo, como a China em produzido novas manufauras mais sofisicadas, abrem-se oporunidades para países se expandirem em indúsrias de processameno. Grande pare dos esudos sobre os impacos da expansão comercial chinesa se concenra na região da Ásia, uma vez que as exporações chinesas endem a deslocar mais inensamene as exporações dos ouros países asiáicos em erceiros mercados (Blázquez-Lidoy, Rodríguez e Saniso, 2006). Ahearne e al. (2003), por exemplo, realizaram um esudo para os seguines países asiáicos: NIEs (Coreia do Sul, Cingapura, Taiwan) e ASEAN-4 (Indonésia, Malásia, Filipinas e Tailândia). Os auores enconraram uma correlação quase sempre posiiva (apesar de poucas vezes significaiva esaisicamene) enre o crescimeno das exporações chinesas e o crescimeno das exporações dos NIEs e ASEAN-4 de 1981 a 2001, sugerindo que há uma relação de complemenaridade enre a China e os demais países asiáicos. Por ouro lado, ao analisar a evolução do marke share das exporações das economias asiáicas e da China para o mercado dos EUA de 1989 a 2002 divididas por ipo de indúsria, os auores consaaram que a China ganhou marke share nos EUA em quase odas as indúsrias 14, enquano o marke share dos NIEs declinou e o marke share do ASEAN-4 experimenou ganhos somene em cerca da meade das indúsrias, revelando evidências de compeição enre a China e os países asiáicos, especialmene os NIEs. Eichengreen, Rhee e Tong (2007), ambém preocupados com a compeiividade dos países asiáicos diane da emergência chinesa no mercado mundial, realizaram um esudo para esimar os impacos das exporações chinesas sobre as exporações asiáicas de 1990 a 2002. Os auores derivaram, por meio de modelos graviacionais, as implicações da expansão chinesa sobre as exporações dos países asiáicos desinadas à China, bem como obiveram os efeios do crescimeno das exporações chinesas sobre as exporações dos ouros países asiáicos com desino a erceiros mercados. A conclusão de Eichengreen, Rhee e Tong (2007) foi de que o crescimeno econômico da China eve impaco posiivo para as exporações de países de ala renda como Japão, Cingapura e Coreia do Sul que são exporadores relevanes de bens de capial. Para países com renda média, como Malásia e Filipinas, que exporam 11 Há diferenes abordagens e formas de cálculo do méodo de consan marke share, mas a ideia básica é de que o marke share de um país deveria se maner consane no empo. Se há variações no marke share, esas são aribuídas a mudanças na compeiividade ou mudanças na demanda mundial como um odo ou em mercados específicos (Hused e Nishioka, 2010). 12 SITC (Sandard Inernaional Trade Classificaion) Rev. 3 corresponde à erceira revisão do sisema de classificação de produos publicada pelas Nações Unidas para esaísicas de comércio. Produos indusriais são classificados de 5 a 8. 13 A sigla GTAP significa Global Trade Analysis Projec e corresponde a um modelo de equilíbrio geral compuável. 14 Desaca-se a indúsria chinesa de compuadores, acessórios e semiconduores pelos rápidos ganhos de marke share nos EUA desde 1998.

grande variedade de produos, o efeio da expansão chinesa foi pouco conclusivo. Já para países asiáicos de baixa renda, como Bangladesh, Sri Lanka, Paquisão e Vienã, cujas exporações são principalmene baseadas em bens de consumo inensivos em mão de obra, o impaco comercial da expansão econômica chinesa foi negaivo e mais inenso. Porano, os auores consaaram que as exporações chinesas apresenam endência de compeir com exporações de bens de consumo dos ouros países asiáicos. Além dos esudos que invesigaram as implicações do poderio indusrial-exporador recenemene alcançado pela China sobre os países asiáicos, há pesquisas que abrangem ouras localidades do globo, como a África (Broadman, 2007), a Europa (Marin, Ianchovichina e Dimaranan, 2008), a Rússia (Ianchovichina, Ivanic e Marin, 2009), o México (Gallagher, Moreno-Brid e Porzecanski, 2008), enre ouros países e coninenes. Nesse senido, Ianchovichina e Marin (2006) aponam que a concorrência chinesa em erceiros mercados é imporane não apenas para os países do Sul e Sudese Asiáico, como ambém para a América Laina, podendo haver perdas relevanes para esses países. No caso da América Laina, grande pare do debae sobre essas quesões em enconrado evidências de que a China represena uma ameaça às exporações laino-americanas, ainda que para alguns essa ameaça seja mais resria, aingindo poucos países e/ou poucos seores, e para ouros seja mais inensa e abrangene. Jenkins (2008a) consegue aponar um único esudo, o de Lederman, Olarreaga e Soloaga (2007), que conclui que não houve evidências de subsiuição das exporações da América Laina pelas exporações da China em erceiros mercados, em conrase com odos os esudos no ema que consaaram pelo menos algum impaco negaivo da expansão chinesa sobre as exporações lainoamericanas para erceiros mercados. Enre os rabalhos que consideraram a ameaça chinesa à América Laina mais resria, podem-se ciar: Freund e Özden (2009), Lederman, Olarreaga e Perry (2006) e Devlin, Esevadeordal e Rodríguez- Clare (2006). Freund e Özden (2009) e Lederman, Olarreaga e Perry (2006) mosraram que as exporações de poucos países laino-americanos foram afeadas negaivamene pela compeição chinesa em erceiros mercados: as exporações mexicanas e em menor exensão de alguns países da América Cenral. Segundo Freund e Özden (2009), esses impacos negaivos se resringiram apenas a alguns seores de manufaurados: das 97 indúsrias (HS2) 15, apenas 16 indúsrias experimenaram declínio esaisicamene significaivo das exporações laino-americanas para erceiros mercados, concomiane à expansão das exporações chinesas. Para Devlin, Esevadeordal e Rodríguez-Clare (2006), o impaco ambém é mais concenrado na América Cenral e no México, apesar de reconhecerem que a compeição enre China e América Laina em se inensificado. Segundo eles, o México e os países da América Cenral e Caribe com esruuras de exporação especializadas em bens manufaurados leves são os mais afeados pelo impaco negaivo da compeição com exporações chinesas, especialmene no mercado dos EUA. Por ouro lado, rabalhos como de Lall e Weiss (2007), Moreira (2007) e Jenkins (2008a) mosram que os impacos negaivos das exporações chinesas sobre as exporações dos países laino-americanos foram mais abrangenes em ermos de seores e/ou países afeados. Lall e Weiss (2007) classificaram o comporameno do marke share da América Laina em comparação ao da China em dois ipos de ameaça: o que denominaram de ameaça direa represenando a siuação em que a China experimena ganhos de marke share enquano o país em análise apresena queda de marke share, e a chamada ameaça parcial quando ano a China como o país analisado ganham marke share, mas o ganho da China é maior. A parir daí, os auores concluíram que os países mais afeados de maneira geral (considerando ameaça direa e parcial) foram Cosa Rica, El Salvador e Chile. Nos dois primeiros países, a parcela de exporações sob ameaça chinesa do oal exporado para o mundo represenava mais de 70% em 2002, e no Chile cerca de 60%. Ao se considerar apenas a ameaça direa, os países mais afeados foram Bolívia, Chile, Brasil, Colômbia e Uruguai em ordem decrescene, odos com mais de 20% de suas exporações para o mundo sob ameaça chinesa em 2002 16. 15 A sigla HS2 significa Harmonized Commodiy Descripion and Coding Sysems e corresponde à nomenclaura de classificação de produos num sisema comum de códigos que vão aé 6 dígios. O número 2 significa que a classificação uilizada considera apenas os dois primeiros dígios do código. 16 Apesar disso, os auores consideram que a ameaça direa das exporações chinesas para a América Laina como um odo aparena pouco inensa quando comparada à ameaça chinesa ao Lese Asiáico.

Para Moreira (2007), apesar de os países da América Cenral e México esarem mais exposos à compeição chinesa em erceiros mercados por cona da similaridade das pauas exporadoras, os países da América do Sul foram os países da América Laina que experimenaram maiores perdas diane da compeição chinesa de manufaurados no mercado mundial de 1990 a 2004. Esse resulado foi obido por meio da meodologia de consan marke share. A jusificaiva que o auor enconra para explicar porque os países da América Cenral e México acabaram sendo menos afeados pela compeição chinesa foi de que uilizaram acordos preferenciais e proeção ao comércio. Ouro aspeco raado por Moreira (2007) refere-se à conesação da visão de que a compeição chinesa esá confinada a uma gama resria de manufaurados. Apesar de as maiores perdas de marke share da América Laina para a China erem sido em bens de baixa ecnologia e inensivos em rabalho, odos os níveis de inensidade ecnológica dos manufaurados sofreram perdas, desde bens de ala ecnologia aé os baseados em recursos naurais. Jenkins (2008a), por sua vez, uiliza uma exensão do modelo de consan marke share para mensurar a ameaça compeiiva da China para a América Laina. Dos 18 países analisados, odos sofreram perdas de marke share de suas exporações para os EUA por cona da compeição chinesa no período de 1996 a 2006, exceo Nicarágua e Peru O auor conclui que a maior pare da América Laina perdeu marke share significaivamene para a China no período de 1996 a 2006, sobreudo após 2001, evidenciando uma endência de aumeno da compeição em erceiros mercados. Além disso, os auores, ao calcularem as perdas de marke share nas exporações somene de manufaurados, concluíram que os impacos negaivos são mais severos do que para o oal das exporações, como seria esperado. Consaa-se, porano, que a concorrência chinesa em erceiros mercados aparece como um aspeco imporane na lieraura, porém suas evidências são, em geral, basane segmenadas por região geográfica, e muias vezes conflianes. Assim, nese rabalho busca-se uma análise geral do impaco da compeição chinesa em erceiros mercados, que conemple as diferenes regiões geográficas de maneira comparaiva, buscando ao mesmo empo, diferenciar os impacos por caegorias ecnológicas. 3. Aspecos meodológicos e especificação do modelo graviacional Grande pare dos esudos para analisar o impaco da concorrência chinesa em erceiros mercados emprega a análise de indicadores de comércio, medindo a similaridade da esruura exporadora enre o país afeado e a China 17 ou esudando a evolução do marke share do país de ineresse em comparação com a China e evenualmene ouros países 18. Esse conjuno de écnicas, apesar de úeis para sugerir a direção do impaco das exporações chinesas sobre as exporações dos ouros países, carece de ferramenas para conrolar ouros faores que afeam o comércio enre os países, bem como se mosra incapaz de capurar efeios de equilíbrio geral. Os esudos que uilizam écnicas de equilíbrio geral para simular os efeios da compeição chinesa em erceiros mercados 19 empregando o modelo GTAP (Global Trade Analysis Projec 20 ), especificam odas as relações econômicas para prever mudanças nas variáveis de ineresse como preço, produo e bem-esar econômico. Enreano, o modelo GTAP depende de um grande conjuno de parâmeros para esimar as previsões do período desejado, mosrando-se muio sensível aos parâmeros adoados, o que alera significaivamene os resulados 21. Nese esudo, opou-se por uilizar uma exensão do modelo graviacional capaz de incorporar os efeios de equilíbrio geral sem depender das resrições apresenadas pelo modelo GTAP. O modelo graviacional não realiza previsões (que dependem de parâmeros definidos ex ane), mas ao uilizar uma sequência de dados de séries anuais permie observar a endência de um período de ineresse. O modelo graviacional represena um dos méodos mais uilizados em economia inernacional para explicar diversas quesões relacionadas ao fluxo de comércio enre os países. As primeiras aplicações 17 Lall e Weiss (2007), Moreira (2007). 18 Jenkins (2008a), Jenkins e Peers (2009), Hused e Nishioka (2010), Hirauka e al. (2011). 19 Dimaranan, Ianchovichina e Marin (2009) e Ianchovichina, Ivanic e Marin (2009). 20 O modelo GTAP raa-se de um modelo mulirregional e mulisseorial de equilíbrio geral compuável, uilizado na forma de sofware e alimenado pela base de dados GTAP Daa Base. Além desses recursos de dados e programas de equilíbrio geral compuável, o projeo GTAP envolve cursos, conferências e projeos de pesquisa, coordenados pelo Cener for Global Trade Analysis. 21 Como se pode verificar em Dimaranan, Ianchovichina e Marin (2009).

do modelo graviacional ao comércio inernacional foram desenvolvidas por Tinbergen (1962) e Pöyhönen (1963), com o objeivo de explicar o monane de comércio enre dois países, assumindo que o volume de comércio se relaciona posiivamene ao amanho dos países medido pelo produo domésico, e negaivamene ao cuso de ranspore enre os dois países, medido pela disância enre seus cenros econômicos (Cheng e Wall, 1999). Mesmo diane das críicas quano à fundamenação eórica dos modelos graviacionais, ais críicas perderam força na medida em que vários auores 22 conribuíram para dar fundamenação ao modelo, demonsrando sua compaibilidade com diversas eorias de comércio inernacional 23. Nese rabalho, o modelo graviacional é uilizado como ferramena para analisar um problema empírico, e não para esar uma eoria específica de comércio. Assim, o modelo graviacional é empregado para esimar o impaco das exporações chinesas sobre as exporações de ouros países com mesmo desino, semelhanemene a Eichengreen, Rhee e Tong (2007), conforme especificação abaixo 24 : ln X ij, ln D 6 lncx ij 0 F 7 1 ij j, L 8 ij lny 2 P i 1,, N; j 1,, N; 1,, T, 9 ij i, lny ln 3 ij, j, ln R 4 i, ln R em que β 0 a β 9 são os parâmeros a serem esimados; X ij, represena as exporações do país i para o país j no ano ; CX j, refere-se às exporações chinesas para o país j no ano ; Y i, e Y j, correspondem ao Produo Inerno Bruo (PIB) do país exporador e imporador respecivamene, no empo ; R i, e R j, represenam a renda per capia do país exporador e imporador respecivamene, no ano ; D ij é a disância enre o país exporador i e o imporador j; F ij refere-se à variável binária que assume valor 1 se o país exporador i e imporador j comparilham uma froneira comum; L ij corresponde à variável binária que apresena valor 1 quando o país exporador e imporador possuem língua oficial comum; P ij é a variável binária que adquire valor 1 quando o país exporador e imporador iveram uma relação colonial no passado; e por fim, ε ij, represena o ermo de erro aleaório. Vale ressalar que as variáveis de exporação, PIB e renda per capia esão medidas em dólares correnes 25 e a variável disância enre dois países esá medida em quilômeros, a parir da laiude e longiude das cidades ou aglomerações mais imporanes de cada país em ermos de população. A variável CX j,, referene às exporações chinesas para o país j no período consise na variável chave, de paricular ineresse nese esudo, pois é ela que indica o nível de compeição das exporações mundiais frene às exporações chinesas para o mesmo desino. Quando o coeficiene dessa variável for negaivo pode-se inerprear que as exporações chinesas para o país j esão deslocando as exporações do país i que se desinariam ao mesmo país de desino j. Porano, a inerpreação do coeficiene negaivo de exporações chinesas significa que a crescene compeiividade das exporações chinesas esá provocando o efeio dos países consumidores subsiuírem seus fornecedores pela China. O caso conrário de um sinal posiivo represena uma siuação de complemenaridade, uma vez que o aumeno das exporações chinesas esaria relacionado a um aumeno das exporações mundiais de mesmo desino. É imporane reconhecer que a variável explicaiva exporações chinesas (CX j, ) é poencialmene uma variável endógena ao modelo, pois faores globais não observados conidos no ermo de erro 26 5 j, (1) 22 Para mais dealhes, ver Frankel (1997) e Sá Poro (2002). 23 Frankel (1997) consaa que o modelo graviacional pode ser derivado dos modelos de compeição monopolísica apresenados por Helpman e Krugman (1985) e os modelos de Heckscher-Ohlin derivados por Deardoff (1998). Deardorff (1998) mosra que a equação graviacional pode ser derivada de modelos ricardianos de comércio e modelos de compeição imperfeia e reornos crescenes de escala. 24 Vale desacar que, nese rabalho, assim como na radição da lieraura em comércio inernacional, a equação graviacional é esimada na forma logarímica. Isso, enreano, gera um problema para englobar na esimação as observações nas quais o fluxo comercial de um país para ouro seja zero, dada a impossibilidade de ober o logarimo de um valor nulo. Como não há um consenso sobre a melhor maneira de esimar a equação graviacional levando em consideração os fluxos comerciais nulos, opou-se, nese esudo por realizar as esimações desconsiderando as observações de fluxo comercial nulo, pois corresponde à práica mais frequene na lieraura (Cheng e Wall, 1999; Eichengreen, Rhee e Tong, 2007). Para uma breve apresenação das diferenes maneiras de raar os fluxos comerciais nulos nas equações graviacionais, ver Módolo (2012). 25 Opou-se pelo uso de PIB e renda per capia em dólares correnes ao invés das variáveis em paridade do poder de compra, assim como Frankel (1997) e Sá Poro (2002) ambém o fizeram. Segundo Frankel (1997, apud Srinivasan, 1995), as variáveis em paridade do poder de compra esão sujeias a grandes erros de medida. 26 Por exemplo, crédio para comércio, cuso de ranspore influenciado pelo preço do peróleo e ouros.

podem ao mesmo empo afear as exporações do país i para o país j e as exporações chinesas para o país j. A solução comum dada pela lieraura é a esimação pelo méodo das variáveis insrumenais. Como aponado por Eichengreen, Rhee e Tong (2007), a variável disância enre a China e o país j de desino das exporações (CD j ) pode ser inroduzida como variável insrumenal válida de exporações chinesas (CX j, ), pois é plausível considerá-la exógena (hipóese que não pode ser esada 27 ) e ao mesmo empo significaivamene correlacionada com a variável endógena CX j, (hipóese esada e corroborada pelos resulados das regressões de primeiro eságio). Assim, a esimação da equação (1) é realizada pelo méodo de mínimos quadrados de dois eságios 28, sendo uilizada esimação robusa à presença de heerocedasicidade segundo a écnica proposa por Whie (1980). Ao considerar o problema de heerogeneidade na amosra dos modelos graviacionais, a solução frequenemene aponada pela lieraura é a esimação pelo méodo de efeios fixos para o par de países, como fizeram Cheng e Wall (1999). Conudo, nese esudo foi esimado um inercepo para cada região exporadora como forma de incorporar uma espécie de efeio fixo 29, já que a esimação pelo méodo de efeios fixos para o par de países considerando ao mesmo empo a endogeneidade da variável exporações chinesas se orna inviável pelo fao de a variável insrumenal (CD j ) enconrada para esimar o primeiro eságio da regressão (em dois eságios) ser consane no empo. Além disso, o modelo graviacional apresenado nese rabalho inclui variáveis explicaivas que buscam capar efeios hisóricos, culurais, énicos e geográficos que afeam o comércio enre dois países como forma de complemenar o conrole da heerogeneidade das observações. Assim, a especificação da equação (1) incorpora além dos faores de ofera e demanda do mercado mundial, os faores de resisência ao comércio represenados pela disância geográfica (D ij ), pela presença/ausência de froneira comum enre dois países (F ij ) e pelo disanciameno hisórico-culural, cujas variáveis proxy correspondem à língua comum enre dois países (L ij ) e à relação colonial no passado enre dois países (P ij ). A expecaiva é de que a disância enre o país exporador e imporador se relacione negaivamene ao volume de comércio enre eles e que a presença de froneira comum, a presença de língua comum e a exisência de uma relação colonial no passado se mosrem posiivamene relacionadas ao monane de comércio enre os dois países. A fim de conrolar ambém o efeio empo foi realizada a inclusão de dummies anuais. Traa-se de uma práica frequene em esimações com dados em painel, que permie incorporar mudanças comuns a odos os países que enham ocorrido ao longo do empo (por exemplo, uma crise inernacional) na análise do impaco das exporações chinesas para as exporações mundiais. É imporane desacar que a equação (1) é uilizada para esimar o impaco uniforme das exporações chinesas sobre as exporações mundiais. Porém, num segundo momeno do rabalho, objeiva-se idenificar o impaco das exporações chinesas diferenciado para cada região exporadora, parindo da ideia de que as exporações chinesas não afeam igualmene odos os países exporadores. Diane disso, foi esimado um coeficiene diferene do efeio das exporações chinesas para cada região exporadora. Com base na equação (1), mas agora ineragindo a variável exporações chinesas (CX j, ) com dummies de região exporadora G k é possível ober um coeficiene de inclinação da variável exporações chinesas para cada região, conforme modelo abaixo: ln X ij, ln R 4 i, k 1,, K 0 G 0 k 1 j, 1 k j, 2 i, 3 j, k 1 k 1 (2) ln R 5 j, lncx ln D 6 ij F 7 ij G L 8 lncx ij P 9 lny ij ln ij, lny em que k corresponde a k-ésima região exporadora considerada na análise; β 0 represena o inercepo esimado do grupo base (ou grupo de referência) 30 ; δ 0 corresponde à diferença esimada enre o inercepo da região exporadora (G k ) e o inercepo do grupo base; β 1 se refere ao coeficiene esimado do 27 Wooldridge (2002, p. 86). 28 O primeiro eságio consise em esimar a variável endógena em função das variáveis exógenas e da variável insrumenal por mínimos quadrados ordinários. O segundo eságio consise na esimação da equação (1) por mínimos quadrados ordinários, com a paricularidade de uilizar como variável explicaiva os valores esimados de ln CX j, obidos do primeiro eságio, no lugar da própria variável ln CX j,. 29 Foi esada a incorporação ambém de um inercepo para cada região imporadora, porém como a variável insrumenal é definida como a disância enre a China e o país imporador, verificou-se uma ala mulicolinearidade. 30 Grupo base se refere ao grupo conra o qual as comparações são feias.

efeio das exporações chinesas sobre as exporações da região adoada como grupo base; δ 1 represena a diferença enre o coeficiene esimado do efeio das exporações chinesas sobre o grupo base e o efeio das exporações chinesas sobre a região exporadora G k. Assim, o inercepo da região exporadora G k (quando a dummy de região assume valor igual a 1) é dado por 0 0 ; e a inclinação, que mede o impaco das exporações chinesas sobre a região exporadora G k, é dada por 1 1. Como já mencionado, a variável exporações chinesas apresena problema de endogeneidade. Se a variável disância enre a China e o país de desino das exporações (ln CD j ) é considerada uma variável insrumenal válida para a variável endógena exporações chinesas (ln CX j, ), enão as variáveis endógenas G k ln CX j, uilizam como variáveis insrumenais G k ln CD j, conforme Wooldridge (2002, p. 121-122). O méodo de esimação que emprega as variáveis insrumenais é novamene o de mínimos quadrados ordinários de dois eságios, mas nesse caso há k variáveis endógenas, k variáveis insrumenais e k equações esimadas no primeiro eságio, a fim de esimar a equação (2). A divisão das regiões exporadoras busca separar os grupos de países aponados pela lieraura como os países que seriam mais afeados pelas exporações chinesas, especialmene os países asiáicos e laino-americanos, separando-os dos grupos de países avançados. Dessa forma, as regiões analisadas foram classificadas de acordo com os seguines grupos de países de origem 31 : 1- Exporações com origem na Ásia Emergene 32 ; 2- Exporações com origem na Ásia Avançada 33 ; 3- Exporações com origem em Hong Kong e Macau 34 ; 4- Exporações com origem na Europa 35 ; 5- Exporações com origem na América do Nore 36 ; 6- Exporações com origem na América Cenral e México 37 ; 7- Exporações com origem na América do Sul 38 ; 8- Exporações com origem nos países do Reso do Mundo 39. Tano o modelo graviacional da equação (1), quano da equação (2), é esimado para o período de 2000 a 2009, levando em consideração a classificação inroduzida por Lall (2000), que caegoriza os produos por inensidade ecnológica. Assim, as esimações dese rabalho são apresenadas, num primeiro momeno, para o conjuno de produos manufaurados de baixa, média e ala ecnologia. Num segundo momeno, são uilizadas as seguines caegorias: i) Produos primários; ii) Manufauras baseadas em recursos naurais; iii) Manufauras de baixa ecnologia; iv) Manufauras de média ecnologia; e v) Manufauras de ala ecnologia. 31 Para a amosra foram selecionados apenas os países considerados mais relevanes no comércio inernacional. O criério uilizado para a seleção de países foi a exigência de o país apresenar dados disponíveis (diferenes de zero) de um oal exporado para o mundo, em cada ano do período de 2000 a 2009, excluindo aqueles que não apresenaram dados suficienes para as variáveis explicaivas da equação (1). 32 A Ásia Emergene corresponde aos países em desenvolvimeno do Sul e Sudese Asiáico, englobando: Filipinas, Índia, Indonésia, Malásia, Paquisão e Tailândia. 33 A Ásia Avançada se refere aos países asiáicos desenvolvidos, envolvendo Japão, Coreia do Sul e Cingapura. 34 Como os países Hong Kong e Macau são regiões adminisraivas especiais da China, foram isolados dos ouros países asiáicos para não conaminar as esimações realizadas na seção 5, mas não se preende analisar esses dois países separadamene por cona da dificuldade em separar as reexporações que ocorrem enre a China e esses países. 35 No grupo de países da Europa, foram incluídos apenas os países europeus considerados desenvolvidos segundo a classificação do FMI (Fundo Moneário Inernacional), 2011. São eles: Alemanha, Áusria, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Esônia, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Irlanda, Islândia, Iália, Mala, Noruega, Porugal, Reino Unido, República Tcheca, Suécia e Suíça. Os demais países europeus foram considerados no Reso do Mundo. 36 Os países considerados no grupo América do Nore referem-se a apenas Canadá e Esados Unidos, uma vez que se opou em incluir o México juno ao grupo da América Cenral por semelhanças de esruura exporadora. 37 Os países considerados nesse grupo são: Aruba, Bahamas, Barbados, Cosa Rica, El Salvador, Guaemala, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá, São Vicene e Granadinas, Trindade e Tobago. 38 São considerados Argenina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru e Uruguai. 39 Não se preende explicar os efeios das exporações chinesas sobre o grupo Reso do Mundo, pois se raa de um conjuno de países muio heerogêneo, agrupados como forma de conrole, para isolar o efeio das regiões de ineresse. São eles: África do Sul, Albânia, Arábia Saudia, Argélia, Armênia, Ausrália, Azerbaidjão, Bielorússia, Bosuana, Bulgária, Burundi, Casaquisão, Chipre, Cosa do Marfim, Croácia, Emirados Árabes Unidos, Eiópia, Fiji, Gâmbia, Hungria, Ilhas Feroe, Israel, Jordânia, Leônia, Líbano, Liuânia, Madagascar, Malaui, Marrocos, Mauriânia, Moçambique, Moldávia, Nova Zelândia, Omã, Polinésia Francesa, Polônia, Quênia, Quirguisão, República Cenro-Africana, Romênia, Rússia, São Tomé e Príncipe, Senegal, Tanzânia, Tunísia, Turquia, Ucrânia e Zâmbia.

Vale novamene ressalar que as classificações ecnológicas como a de Lall (2000) podem superesimar as exporações de ala ecnologia, pois se associa caracerísicas seoriais de inensidade ecnológica ao produo. Com a fragmenação produiva, o país que expora produos de ala inensidade ecnológica não necessariamene domina os fundamenos ecnológicos para sua produção, pois pode realizar somene a eapa de monagem (o eságio final do processo produivo). Apesar disso, a análise por caegoria ecnológica é imporane já que diferenes esruuras de exporação êm diferenes implicações para o crescimeno econômico e desenvolvimeno da indúsria domésica. Os dados de exporação foram exraídos da base Unied Naions Commodiy Trade Saisics Daabase (UN Comrade) e foram agregados segundo a classificação de Lall (2000) com base no rabalho de Marconi e Rolli (2007). As observações de Produo Inerno Bruo (PIB), renda per capia e população foram obidas juno ao Banco Mundial por meio do World Developmen Indicaors. Os dados de disância enre país exporador e imporador, e das variáveis binárias de froneira comum, língua oficial comum e passado colonial comum, foram coleados juno à base de dados do CEPII (Cenre D Esudos Prospecives e d Informaions Inernacionales). 4. O impaco das exporações chinesas sobre as exporações mundiais Nesa seção, são apresenados os resulados das esimações do modelo graviacional para análise do impaco das exporações chinesas sobre as exporações mundiais, supondo um efeio uniforme sobre os países exporadores. Por cona da fore concenração de produos manufaurados na paua exporadora chinesa, primeiramene esima-se o impaco das exporações chinesas sobre as exporações mundiais de manufaurados. Em seguida, apresenam-se os resulados das esimações do impaco das exporações chinesas para cada caegoria ecnológica de produo. A equação esimada na Tabela 1 corresponde à equação (1), incluindo as dummies emporais e de região exporadora. A primeira coluna expõe os coeficienes obidos por meio da esimação de mínimos quadrados ordinários (MQO) e a segunda coluna, pelo méodo de mínimos quadrados de dois eságios (MQ2E) 40. É imporane noar que a grande diferença enre os coeficienes esimados por MQO e MQ2E se enconra no coeficiene da variável chave, exporações chinesas, pois de uma esimação a oura se alera não apenas a magniude, como ambém o sinal esimado. Isso apona para a imporância de considerar a endogeneidade das exporações chinesas no modelo pelo méodo MQ2E, o que é reforçado pelo ese de Hausman 41, que apona para a rejeição (ao nível de significância de 1%) da hipóese de exogeneidade das exporações chinesas. Assim, pelo méodo de MQ2E êm-se evidências de que as exporações mundiais de produos manufaurados foram deslocadas em erceiros mercados pela compeição das exporações chinesas no período de 2000 a 2009, mosrando que um aumeno de 1% das exporações chinesas refleiria em uma redução das exporações mundiais para os mesmos mercados em 0,2%. Tais resulados corroboram a conclusão de Dimaranan, Ianchovichina e Marin (2009), cujas simulações revelaram que o crescimeno chinês inensificaria a compeição nos mercados de manufaurados e que as indúsrias manufaureiras de diversos países seriam afeadas negaivamene. Os coeficienes esimados por MQ2E das demais variáveis do modelo apresenam o sinal esperado 42 e são esaisicamene significanes a 1%. 40 As regressões do primeiro eságio foram omiidas aqui, mas podem ser fornecidas sob demanda. 41 O ese de Hausman em como base o fao de que a esimação por MQ2E é consisene ano na presença quano na ausência de endogeneidade, e a esimação por MQO é consisene apenas na ausência desa. A rejeição da hipóese nula apona para a endogeneidade da variável analisada, sendo preferível a esimação por MQ2E. 42 Ressalva-se que as dummies emporais aparecem com sinal negaivo e se reduzem com o passar dos anos, conrariamene ao esperado, porém, o mesmo se observa em Eichengreen, Rhee e Tong (2007).