CONTAR HISTÓRIAS: METODOLOGIA DE APOIO AO ENSINO-APRENDIZAGEM. Marcelo Messias da Silva 1 Regina Clare Monteiro 2



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Transcrição:

CONTAR HISTÓRIAS: METODOLOGIA DE APOIO AO ENSINO-APRENDIZAGEM. Marcelo Messias da Silva 1 Regina Clare Monteiro 2 RESUMO: De acordo com o MEC 3, 55% dos alunos do ensino fundamental apresentaram, com relação à Língua Portuguesa, desempenho crítico e muito crítico (dados SAEB Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica). Esse dado é alarmante, pois tais alunos levarão consigo, para os anos posteriores, este mau desempenho, acarretando prejuízos futuros em toda a sua formação educacional. Esta pesquisa, visando despertar o interesse dos alunos de 5ª a 8ª séries do ensino fundamental para a leitura, pretendeu, através da contação de histórias, expandir o universo social e cultural desses alunos, face à exposição de textos diversos, entre contos de fadas, mitos, lendas, entre outras atividades elaboradas a partir da literatura. Para tanto, selecionou um grupo de controle entre sujeitos de um trabalho comunitário realizado pela instituição educacional a qual os pesquisadores são vinculados, que oferece a crianças e adolescentes diversos cursos e/ou reforço escolar. Os resultados caminharam no sentido de comprovar a hipótese levantada de que, pré-adolescentes e adolescentes expostos, com regularidade, à literatura lúdica apresentam melhora no seu desenvolvimento integral e, conseqüentemente, no desempenho escolar. INTRODUÇÃO Durante séculos a memória viva dos povos foi perpetuada pela ação de contar e ouvir histórias. Como heranças remotas da civilização, o conhecimento acumulado pelas gerações foi sendo transmitido através da linguagem oral, constituindo-se num verdadeiro legado da cultura popular, surgindo, assim, mitos, lendas e contos diversos. Entretanto, com o avanço tecnológico a prática da narrativa foi sendo relegada e desaparecendo das escolas os momentos e espaços para a fantasia passada pela oralidade e pelos livros. O que se têm observado é que os educadores, em geral, parecem acreditar que contar histórias é uma prática apenas possível na educação infantil (séries iniciais). Entretanto, a prática da narração de histórias, como forma de conhecimento, 1 Faculdade Comunitária de Campinas Campinas/SP. marcelomessiass@hotmail.com 2 Anhanguera Educacional Campinas/SP. regina.monteiro@unianhanguer.edu.br 3 Notícia no site do Jornal O Estado de São Paulo, em 27/04/2006, 16h58min. http://www.estadao.com.br/educacao/noticias/2006/abr/27/211.htm?rss,.

desencadeia o desenvolvimento da imaginação, da sensibilidade, da manipulação crítica e criativa da linguagem oral. E isso é possível em todas as fases de desenvolvimento do ser humano, como nos leva a refletir Nelly Novaes Coelho (1991, p.13):... o poder de resistência da palavra prova de maneira irrefutável que a comunicação entre os homens é essencial à sua própria natureza. O impulso de contar histórias deve ter nascido no homem no momento em que ele sentiu necessidade de comunicar aos outros, certa experiência sua, que poderia ter significação para todos. Segundo FONSECA (2003), diante de um mundo eminentemente simbólico, onde a linguagem metafórica se traduz como um interlocutor entre a vida interior e exterior do sujeito, as histórias adquirem um papel extremamente importante, devendo ser vivenciadas como um elemento a mais no processo ensino-aprendizagem, dentro e fora da escola. Por tradicionalmente pertencer ao universo infantil, há pesquisas relatando a interferência positiva no desenvolvimento da criança exposta ao universo das narrativas, mas há igualmente falta de pesquisas que identifiquem o mesmo resultado nas séries subseqüentes à educação básica (a partir da 5ª série). Entretanto, a literatura é arte, expressão humana diante da realidade e do mundo, trabalhando a dimensão do sonho, da fantasia, da utopia, enquanto um sentimento que pulsa, cria e recria formas de ser e de sobreviver. Mas é, também, crítica e denúncia de momentos importantes da história. A literatura é tida como a guardiã da cultura humana em todos os tempos e, como arte humana eternizada no tempo, a literatura constitui-se da palavra para a transmissão das experiências humanas estabelecendo, como ponto de partida, a própria existência do homem, seja ela interior, exterior ou na sua relação com o outro e com o mundo. OBJETIVOS: Partindo do dado básico de que é por intermédio de sua consciência cultural que os seres humanos se desenvolvem e se realizam de maneira integral, Coelho (2003) diz ser fácil compreendermos a importância do papel que a literatura pode desempenhar para os seres em formação, uma vez que é ela, dentre as diferentes manifestações da Arte, a que atua de maneira mais profunda e essencial para dar forma e divulgar os valores culturais que dinamizam uma sociedade ou uma civilização. Daí a importância da Literatura, tanto a dos tempos arcaicos quanto a pós-moderna, essencialmente sintonizada com os tempos que a autora chama de tempos de mutação (COELHO, 2003, p. 122). O mundo da escola se apresenta como uma chave mágica para a construção do gosto pela leitura, pelos livros e histórias. Uma postura ativa e estimuladora do

professor-leitor-contador de histórias funciona como uma mola propulsora para a estimulação de alunos e leitores, críticos e criativos. Seguindo tais pressupostos, esta pesquisa objetiva: levar os sujeitos a um contato próximo e lúdico com a literatura, através da contação de histórias; incentivar a expressão criadora dos sujeitos, estabelecendo um canal de interlocução entre o professor e o aluno através de uma atividade verbal lúdica com a leitura; utilizar-se da leitura, através da contação de histórias, como uma metodologia para o desenvolvimento dos sujeitos e melhoria de seu desempenho escolar, respondendo a necessidades afetivas e intelectuais pelo contato com o conteúdo simbólico das histórias trabalhadas. METODOLOGIA A instituição onde a pesquisa foi desenvolvida possuía, à época, um convênio com uma ONG e atendia a crianças, adolescentes, adultos e terceira idade em projetos diversos, voltados para cada um desses segmentos da população. Os cursos de Letras e Pedagogia desenvolvem um trabalho de reforço e acompanhamento pedagógico e também de estimulação e conhecimento, como por exemplo o curso de inglês, a oficina de redação, entre outros. Um dos projetos pensados pelos cursos de licenciatura mencionados foi o da contação de histórias com a finalidade de desenvolver atividades com uma população específica de 07 a 15 anos, que já participava, também, de outros projetos como aulas de informática e de inglês. Dentro deste projeto-mãe, esta pesquisa procurou identificar um grupo de controle com sujeitos pertencentes à faixa etária intermediária de 10 a 14 anos. O grupo iniciou-se com 10 (dez) sujeitos mas, já na segunda semana de atividades, fixou-se em 8 (oito) sujeitos. Todas as crianças que participavam do projeto-mãe, participavam, também, das atividades narrativas (contação de histórias), mas apenas o grupo de controle foi observado e entrevistado informalmente, tanto no início dos trabalhos do Projeto, como ao longo dos meses referentes ao período letivo de 2006 (nos dois semestres), para confirmação ou não da hipótese de que a exposição às narrativas (histórias, contos e mitos), e aos seus conteúdos simbólicos/arquetípicos, promoveu desenvolvimento global e, em especial, da aprendizagem escolar na criança. As histórias eram previamente selecionadas pelas professoras orientadoras do projeto-mãe, e trabalhadas, primeiramente, com os alunos-pesquisadores e só então apresentadas aos sujeitos desta pesquisa. O grupo de trabalho, composto por três alunos de Iniciação Científica e as professoras orientadoras do projeto-mãe, fazia reuniões mensais (um sábado por mês) para discussões teóricas. Nestas reuniões,

além da revisão bibliográfica indicada para leitura e consulta, eram apresentados, pelos alunos, relatórios parciais sobre o desenvolvimento da pesquisa. Os demais sábados eram reservados para os encontros com as crianças e adolescentes e os trabalhos com a contação de história. DESENVOLVIMENTO O projeto teve início no dia 18 de março de 2006 e nesse encontro estavam presentes aproximadamente 18 ouvintes na faixa etária de 7 a 14 anos: meninos e meninas das classes sociais média baixa e baixa, regularmente matriculados em escolas públicas. O grupo de controle foi identificado previamente, no momento das inscrições e confirmado pelos alunos-pesquisadores no primeiro dia de encontro e contava com 10 pré-adolescentes e adolescentes, de ambos os sexos, na faixa de 10 a 14 anos. Por motivos diversos, dois alunos deixaram de freqüentar o trabalho com contação de histórias e, a partir do terceiro encontro, o grupo de controle fixou-se em 8 sujeitos. Durante os encontros, havia sempre um aluno-pesquisador fazendo as observações e anotações de acordo com as orientações de um professor de psicologia da educação que compunha a equipe de professores orientadores e participava dos encontros de discussão teórica e bibliográfica. Os outros dois alunos contavam a história do dia e desenvolviam atividades correlatas à história trabalhada. Os encontros ocorriam aos sábados, como já foi mencionado, das 09h às 11h, em uma das salas de aula do campus. O horário era um pouco flexível, dependendo do envolvimento dos sujeitos e até do tempo, pois, quando fazia muito calor, os ouvintes não demonstravam paciência para ficarem na sala após 1h ou 1h30min de atividades. Entretanto, os encontros nunca ocorreram com menos de 1h de trabalho e essa flexibilidade fazia parte da estratégia de permitir aos sujeitos sentirem o momento da história, assim como suas atividades correlatas, com ludicidade, prazer e desejo de participar. Ao longo do ano ocorreram 12 encontros, todos iniciados com a leitura de uma história, poesias ou conto de fadas. Um dos encontros trouxe uma aluna do curso de Pedagogia com deficiência visual que leu a história em Braille para os ouvintes. Esta atividade despertou a curiosidade dos participantes para o texto em Braille, as dificuldades e soluções encontradas para o cotidiano da aluna cega e estimulou os ouvintes a debaterem, opinarem e se interessarem pelas questões dos deficientes visuais e sua integração à rotina dos videntes. A partir da história do dia, eram elaboradas atividades de complementação ao tema que iam desde a confecção de materiais utilizando papéis coloridos até o desenhar com giz de cera e cantar cantigas, acompanhando os alunos-pesquisadores ao violão.

RESULTADOS Nos encontros iniciais as crianças mostraram-se um tanto tímidas em participar abertamente das atividades. No primeiro encontro, por exemplo, após as apresentações, os pesquisadores solicitaram que os sujeitos afastassem as carteiras e se sentassem no chão. Houve muita resistência e optou-se por sugerir que ficassem nas carteiras, mas formassem o semicírculo. Percebeu-se, também, que, os alunos chegavam muito excitados para a aula, por estarem vindo da aula de inglês ou informática e também estarem preocupados com a atividade que iriam desenvolver depois da contação de histórias. Decidiu-se, então, criar o ambiente para a imersão dos ouvintes no mundo sensorial e a participação mais expansiva nas atividades propostas. A partir do terceiro encontro, os alunos chegavam na sala e as cortinas estavam semicerradas, deixando o ambiente mais tranqüilizador, havia música de fundo, com melodias calmas, e alguns objetos coloridos foram trazidos para minimizar o fato de estarem em uma sala de aula. Os ouvintes foram muito receptivos a esta mudança e passaram a se acalmar, mais rapidamente, ao entrarem na sala e na atmosfera criada e a se deixarem envolver nas atividades propostas. As atividades complementares à leitura da história dependiam do tema abordado. No encontro que trabalhou o conto Chapeuzinho Vermelho, dos irmãos Grimm, os ouvintes foram surpreendidos com uma caixa grande cheia de material para colagem e papéis coloridos de diversos tipos, consistências e formatos a partir dos quais cada um deveria confeccionar o seu chapéu. Outras atividades eram constituídas de desenhos da família, por exemplo, na leitura da história Ninguém é igual a Ninguém, de Regina Otero, além das cantigas e de alguns adivinhas que, quando os sujeitos não sabiam a resposta, serviam como mote para o início do encontro seguinte. Todos os encontros mobilizaram os alunos de alguma maneira, às vezes mais um determinado grupo (as meninas, por exemplo, quando as histórias eram mais românticas), às vezes outro grupo. Entretanto, dois encontros receberam a total atenção de todos os participantes: o que trabalhou as diferenças pessoais e sociais (traços e características físicas e emocionais), quando todos queriam dizer a sua palavra, dando a devida importância a sua própria expressividade que indicava o sentirse único e diferente, e o que contou com a presença da aluna deficiente visual. Como já mencionado, os ouvintes queriam conhecer o Braille, tocar e falar sobre ele, conhecer o cotidiano da aluna para vencer situações, que eles consideravam muito complicadas sem a visão, e manifestarem o conhecimento de alguém em seu universo familiar ou correlato que possuísse alguma deficiência física. Foi possível perceber como a distância entre a compreensão e o preconceito ficou muito menor. As observações e anotações registradas pelos alunos (chamados de diário de bordo) que acompanhavam as atividades narrativas indicaram que os sujeitos tonavamse mais atentos e participantes nas atividades, em especial na hora da contação da

história, ao longo dos encontros, conforme criavam intimidade com o grupo, com os alunos-pesquisadores e se envolviam nas atividades complementares à história, as quais eram sempre aguardadas com excitação, numa demonstração, por parte dos sujeitos, de desejo de participar, o que impossibilitou aos pesquisadores referirem-se aos sujeitos como ouvintes, no seu sentido Lato. Relatos dos pais confirmam uma maior concentração das crianças nas atividades escolares e a mudança de postura em relação à leitura, que já começava a ser vista como algo prazeroso. Algumas mães informam que a criança está mais atenta, expressando-se melhor sobre o cotidiano. Os alunos-pesquisadores ficaram particularmente mobilizados pela manifestação das crianças que alegavam sentir falta da contação de histórias, quando não podiam estar presentes. Segue gráfico sobre o resultado da entrevista com os pais dos sujeitos que fizeram parte do grupo de controle, no qual identificam-se as referências mais freqüentes ao desenvolvimento dos sujeitos dentro e fora da escola. 71% 80% 57% 60% 37% 43% Ele(a) agora conta historias todo dia para o irmãozinho As notas dele(a) melhoraram A professora disse que ele(a) não reclama mais quando precisa fazer redação Ele(a) pede para a professora dar livro de história para ele(a) ler em casa Os professores falaram que ele(a) está mais interessado na aula Ele(a) está mais curioso, pergunta tudo

É possível enumerar algumas observações importantes, como por exemplo, o fato de que o ambiente realmente precisa ser preparado, pois quando as crianças chegam a sala de aula crua, os pesquisadores têm mais dificuldade em promover a concentração e a participação nas atividades. O tempo também influencia muito, uma vez que nos dias mais quentes não se consegue manter as crianças dentro do espaço da sala de aula por muito tempo. Com isso, o ideal seria, não apenas uma sala ambiente climatizada, mas também um espaço ao ar livre (também previamente organizado), para diversificar as sessões de contação de história. Além disso, o contador não deve ler a história, mas sim reproduzir o pensamento para o ouvinte, permitindo-lhe participar da leitura. Finalmente, se a sala apropriada é aquela que não se parece com uma sala de aula tradicional, o ideal é que o contador também não se faça confundir com um professor, pelo menos não com a figura de professor que pertence ao imaginário da maioria dos educandos. Os resultados indicaram a confirmação da hipótese levantada para esta pesquisa, tal seja a de que a exposição a leitura, histórias, contos, numa associação da literatura com a vida, estimula a aprendizagem e premia a curiosidade, seja no âmbito escolar ou fora dele. Esta pesquisa gerou três trabalhos de Iniciação Científica na instituição de origem dos pesquisadores que foram selecionados para participar do Encontro Nacional de Iniciação Científica CONIC, em 2006. Este mesmo tema orienta, agora, o Trabalho de Conclusão de Curso de Marcelo Messias que aprofunda a pesquisa com outros sujeitos e em outro local, reformulando e aperfeiçoando a metodologia e o desenvolvimento das atividades. O TCC está sendo realizado na ABA Associação Biblioteca dos Amigos, em Hortolância, com 14 crianças. Referências Bibliográficas: COELHO, Nelly Novaes. Literatura: Arte, Conhecimento e Vida. Peirópolis: Fundação Peirópolis, 2000..Panorama histórico da literatura infantil/juvenil. São Paulo: Ática, 2001.. Literatura Infantil: Teoria, Análise, Didática. São Paulo: Moderna, 2002.. O conto de fadas: símbolos, mitos e arquétipos. São Paulo: Difusão Cultural do Livro, 2003. CORTELLA, Mario Sergio. A Escola e o Conhecimento. São Paulo: Cortez, 2002. DOHME, Vânia. Técnicas de Contar Histórias. São Paulo: Informal Ed., 2005. EVANGELISTA, Aracy A. Martins (Org.) A Escolarização da Leitura Literária: o jogo do livro infantil e juvenil. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. FONSECA, Adriana Beatriz da Silva. Era uma vez... : o contar histórias como prática

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