A BUSCA INCESSANTE PELO EQUILÍBRIO NA MANUTENÇÃO ATRAVÉS DO USO DE TÉCNICAS, FERRAMENTAS E AÇÕES GERENCIAIS NA ORGANIZAÇÃO

Transcrição

1 Faculdade Ietec Pós-graduação Engenharia de Manutenção - Turma 05 Julho 2017 A BUSCA INCESSANTE PELO EQUILÍBRIO NA MANUTENÇÃO ATRAVÉS DO USO DE TÉCNICAS, FERRAMENTAS E AÇÕES GERENCIAIS NA ORGANIZAÇÃO Anderson Claiton M. Carlos Engenheiro de Produção anderson_bhz@yahoo.com.br 1 Lucas Figueiredo Soares Engenheiro Mecânico soares.lucas@gmail.com 1 RESUMO Este trabalho aborda de forma sintetizada a rotina da manutenção industrial, bem como todos os desafios e conflitos que este setor enfrenta com a área produtiva. A eficácia da manutenção é medida diretamente com a disponibilidade operacional e com a frequência de interrupções não programadas. Palavras-chave: Estratégia. Manutenção. Gestão. 1. INTRODUÇÃO A indústria de base e bens de produção vem trabalhando continuamente, em busca da eficiência e produtividade dos processos fabris. A manutenção industrial é um processo intrinsecamente ligado à cadeia produtiva e opera basicamente com técnicas de inspeções, monitoramentos, reparos programados, análise e tratamento de falhas, sendo responsável por garantir a disponibilidade de todos os equipamentos de qualquer cadeia produtiva. Com o mercado cada vez mais dinâmico e em constante transformação em busca de competitividade [3,5], percebe-se um desequilíbrio no cumprimento dos planos de manutenção, muitas vezes em favor do cumprimento de planos de produção, escassez de recursos materiais e humanos. Neste cenário, improvisos e falta de estratégia não têm espaço, podendo causar perdas financeiras significativas [1], obrigando as organizações a repensarem e aperfeiçoarem suas ações técnicas e administrativas [5]. Muitas organizações ainda enxergam a manutenção como meramente um departamento responsável pelo restabelecimento das condições normais dos equipamentos / sistemas quando necessário, ou seja, considerando a manutenção corretiva não planejada como a principal estratégia [1, 2, 5]. O foco deste artigo é abordar esta mudança de conceito a respeito da manutenção e trazer as principais ferramentas que sejam suficientemente convincentes para sensibilizar a liderança quanto a importância de se considerar continuamente o equilíbrio entre os

2 2 processos de produção e manutenção, tratando-a de forma mais estratégica nas organizações produtivas. 2. UMA ABORDAGEM DIRECIONADA SOBRE AS PRINCIPAIS FERRAMENTAS E CONCEITOS ESTRATÉGICOS DA MANUTENÇÃO As melhores práticas mostram que uma organização produtiva de alta competitividade deve ser constituída de uma gestão robusta e focada em itens de controle empresariais que justificam a perpetuidade do negócio [1], dando suporte gerencial para tomada de decisões: disponibilidade, confiabilidade, custos, backlog, qualidade, segurança e meio ambiente, além de itens que sejam relevantes ao negócio, com análise crítica periódica. Aspectos de Segurança e Saúde no Trabalho já são percebidos com relevante maturidade. A integridade física e saúde das pessoas já são tratados como valores inegociáveis nas organizações e deixa, portanto, de ser um paradigma nas organizações. Num passado recente, índices de acidentes com e sem perda de tempo eram contabilizados como indicadores para remuneração variável. Atualmente a própria legislação trabalhista proíbe esta abordagem em qualquer organização trabalhista, vindo a confirmar a maturidade deste tópico. A análise preditiva é uma aliada da manutenção estratégica, pois detecta bem no início quando uma anomalia é detectada em um equipamento, antes que a anomalia se transforme em falha e parada não programada. Composta de técnicas de análise de temperatura, vibração, corrente, tensão etc., dificilmente seria detectada através de inspeções sensitivas, seja pelo fato as organizações não disporem de técnicos suficientes para inspecionar todos os equipamentos, seja, pela necessidade de utilização da tecnologia eletrônica embarcada. Vários softwares de análise preditiva foram e são constantemente aprimorados em benefício da maior disponibilidade do setor produtivo. A adoção do TPM (Total Productive Maintenance ou manutenção produtiva total), atribui o operador como o principal guardião do equipamento, devendo se preocupar em observar a sua saúde, integridade e funções básicas. Esta simples postura contribui significativamente para a maximização da vida do equipamento, aumentando conseqüentemente a produtividade e a qualidade do sistema. Em complemento, o nível motivacional e de comprometimento para com o estado geral dos equipamentos fica elevado [7]. Para tanto, o TPM demanda uma quebra de paradigmas, afetando diretamente a estrutura funcional da organização, provocando o acompanhamento de indicadores, acompanhamento de

3 3 resultados, busca constante pela redução de custos, redução de desperdícios, eliminação de manutenções corretivas, pensamento enxuto e redução dos itens de investimento em decorrência da melhor preservação dos equipamentos. O emprego da Manutenção Centrada na Confiabilidade (MCC), é também fundamental e estratégico no aumento da disponibilidade operacional. É uma metodologia que estuda um equipamento ou um sistema em detalhes, analisa as possibilidades de falhas e define o melhor momento e a melhor forma de se fazer manutenção preventiva, prevenindo a falha ou minimizando as perdas decorrentes das falhas [1]. A metodologia de manutenção centrada em confiabilidade utiliza métodos de análise quantitativos que norteiam a orientação e elaboração de um plano de manutenção, que seja eficaz e assertivo na garantia da disponibilidade operacional e na confiabilidade do sistema. As análises mais comumente utilizadas e eficazes são a medição de TMNP, MTTR e MTBF [3], bem como análise de aderência ao cumprimento de ordens de manutenção preventiva e preditiva. A figura 1 elucida o gráfico da banheira [2], muito referenciado nas organizações que tratam a manutenção como setor estratégico, que auxilia na compreensão dos perfis de falhas de equipamentos e sistemas produtivos, levando em consideração: a fase inicial, referente à baixa maturidade e conhecimento sobre um processo recente; a fase intermediária, onde se observa uma maturidade do sistema, com falhas controladas num baixo patamar; por último, a fase onde equipamento apresenta longo tempo de operação e desgaste, observando-se um aumento na ocorrência de falhas de forma mais imprevisível o que demanda acompanhamento técnico mais próximo ao sistema, em busca de sinais de anomalias. Por trás desta análise, está um estudo técnico, estatístico e comportamental da linha, que integra a manutenção centrada na confiabilidade e na manutenção produtiva total. Figura 1. Gráfico da banheira, adaptado de Selitto [2], elucidando a relação entre taxa de falhas e ciclo de vida de um sistema produtivo.

4 4 3. CONTEXTUALIZAÇÃO DA REALIDADE DA MANUTENÇÃO NAS INDÚSTRIAS As empresas fabris em geral conhecem e adotam a manutenção nos seus organogramas e buscam estabilização dos seus processos. Para um nicho de empresas, estabilização de processos significa prover o máximo de disponibilidade à produção. Isto significa dar suporte à produção, restabelecendo-a, sempre que necessário, o mais rápido possível. Nesta linha de raciocínio, a manutenção assume papel de suporte à produção, com recursos humanos capacitados e disponíveis para atuar nos equipamentos quando necessário. Há empresas que têm a manutenção como setor estratégico, que estuda e monitora a condição dos equipamentos e aplica na íntegra as técnicas de TPM [1,2,3,8]. Assim o monitoramento da vida dos componentes e até mesmo a detecção de avarias em fase inicial podem ter a vida remanescente calculada, programando-se, pois, paradas preventivas juntamente com a área produtiva em período o menos oneroso possível. Entretanto, com a atual conjuntura econômica e financeira que as empresas estão vivendo, nota-se que vários setores vêm sofrendo constantes enxugamentos nos seus orçamentos. Observa-se que de forma geral a manutenção está entre os setores que têm seu orçamento revisado. Não obstante, os setores operacionais também vêm sofrendo redução de quadro pessoal, o que colabora com a diminuição do envolvimento do operador nas tarefas de manutenção autônoma. Como medida compensatória à redução de investimentos nos programas de manutenção, as equipes são geralmente instigadas a reforçar inspeções sensitivas dos componentes e intensificar atividades de lubrificação, monitoramento de temperatura e reapertos e é observado um aumento na taxa de recuperação de componentes cujo recondicionamento era sequer cogitado. O recondicionamento de componentes/peças tem se tornado cada vez mais habitual no atual cenário, onde a manutenção tem sofrido constantes cortes de orçamentos, principalmente nas organizações em que a manutenção não é vista como ponto estratégico. Recondicionamentos acarretam em imprevisibilidades podendo causar falhas inesperadas e prematuras, além de dificultar diagnósticos, onerando ainda mais o tempo de manutenção e linha parada trazendo prejuízos financeiros. O que se percebe são componentes que já extrapolaram a vida útil declarada pelo fabricante ou baseada em históricos de funcionamento são mantidos no processo, sendo levadas ao desgaste extremo, vulnerabilizando a confiabilidade dos sistemas.

5 5 Adotado este cenário de aproveitamento máximo de componentes, operadores e mantenedores passam a ser coadjuvantes, mesmo atuando como mantenedores autônomos. O que se tem feito neste cenário é intensificar a prática da inspeção visual e monitoramentos preditivos. Na prática, quando componentes são detectados com anomalia, o sistema já está no limite da sua capacidade operacional, devendo sofrer intervenção imediata, sob pena de colapso e conseqüente interrupção operacional. Somado a este cenário, a notória falta de mão-de-obra acarreta na apuração de altos índices de backlog, ou seja, ordens abertas decorrentes de inspeções e anomalias registradas e que não foram atendidas por falta de recursos humanos e materiais. Ainda há empresas que tratam a manutenção como setor estratégico. Neste caso, planos de manutenção baseados no tempo são respeitados. Componentes críticos no final de vida útil são substituídos, mesmo que não estejam apresentando anomalias. A tomada de decisão contrária a esta diretriz só é admitida mediante a realização de análise de riscos conjunta entre manutenção e operação e mediante autorização formalizada pelo gestor de manutenção da unidade. Neste caso, observa-se backlog muito baixo ou inexistente, pois todos os planos de manutenção são atendidos. Certamente o respeito às melhores práticas de manutenção refletem em maior confiabilidade e conseqüentemente maior disponibilidade do sistema. Observa-se que o setor de manutenção de algumas organizações continua convivendo com intervenções corretivas, o que está diretamente relacionado com o cenário de retração da economia brasileira, que vem obrigando muitas empresas a cortarem drasticamente seus orçamentos, principalmente na manutenção. Mesmo que estas organizações valorizem a manutenção estratégica baseada no aumento da disponibilidade operacional, elas acabam por sacrificar seus orçamentos internos, inclusive de manutenção para poderem sobreviver e não têm outra saída, sendo complacentes com o risco de paradas não previstas e aumento de indisponibilidade operacional. É sabido, no entanto, que a maior eficiência de um sistema produtivo se dá através das manutenções preditiva e preventiva, onde ações simples e sincronizadas podem contribuir para redução significativa de perdas e falhas. As áreas de manutenção que sofreram com esta redução orçamentária acabam, portanto, por ter parte dos seus sistemas de engenharia de manutenção suprimida por manutenção corretiva. Busca-se, na realidade, um equilíbrio para que a estratégia com foco em disponibilidade não se perca e a área de manutenção, mesmo em cenário adverso e com pouco recurso.

6 6 A liderança e a qualificação técnica da equipe de manutenção têm função primordial, pois devem gerenciar o sistema de forma crítica, com foco na máxima disponibilidade operacional da planta sob sua gestão. Independentemente dos recursos limitados, cabe à manutenção lutar pela conservação periódica e pela autonomia para implementação de técnicas preditivas, baseadas na análise de dados coletados através de acompanhamentos, monitoramentos ou inspeções de campo [9]. No que diz respeito às anomalias detectadas, cumpre ao departamento de manutenção alertar a alta liderança sobre o risco instaurado no sistema e solicitar intervenções para restabelecimento do sistema de forma planejada. Muitas vezes é notado que a alta liderança deposita uma expectativa mais otimista acerca da anomalia detectada e não consente com a intervenção preventiva solicitada pela manutenção. Os índices de interrupção elevam conseqüentemente; o percentual de ordens executadas não planejadas eleva; o custo de manutenção se eleva e principalmente a segurança envolvendo pessoas fica diretamente afetada, uma vez que ordens de atividades corretivas são planejadas às pressas e nem sempre o cenário é levantado adequadamente para a elaboração de uma análise preliminar de riscos. Por fim, vários níveis organizacionais foram extintos em função da crise econômica que assola o país e a manutenção passa a ser subordinada à área operacional, o que vai de encontro à pressuposta autonomia que a manutenção deveria desempenhar para atuar na garantia da disponibilidade operacional. Mesmo nestas condições, a manutenção não pode ser complacente com a situação e deve continuar lutando incessantemente pela sensibilização da organização quanto aos benefícios da manutenção estratégica, voltada para a garantia da disponibilidade operacional, de forma inteligente, organizada, sistêmica e racional. Não faltam estudos comprobatórios [5] que destacam que para se maximizar os ganhos numa unidade produtiva, é necessário otimizar a disponibilidade e confiabilidade, que podem ser obtidas através de práticas do TPM e MCC, tais como minimização do MTTR, maximização do MTBF e melhoria dos prazos para paradas preventivas, através do bom e eficiente planejamento das atividades, dos recursos humanos, materiais e ferramentas. 4. CONCLUSÃO Este estudo demonstrou a eficiência da manutenção estratégica e suas principais ferramentas para os processos onde a manutenção com foco estratégico para produção, é

7 7 valorizada como um processo meio para os melhores resultados de disponibilidade e performance operacional. A busca pela conscientização das organizações quanto a eficácia da gestão estratégica da manutenção deve ser contínua e incansável. Há uma questão cultural sobre a manutenção, que é vista em tempos de crise como uma área adaptável e, no entanto, tem limites que são vitais e inegociáveis para o processo operacional. Este limite tênue que deve ser reconhecido e apoiado, pois se não cuidado, pode expor o processo produtivo a um nível crítico de degradação que pode até mesmo inviabilizar a continuidade operacional de uma linha produtiva. Espera-se, portanto, que todas as organizações enxerguem a manutenção como estratégica, reconhecendo a importância de se atingir ao menos um equilíbrio entre e redução de custos aliados às melhores práticas, em prol de um sistema produtivo enxuto e ao mesmo tempo focado na busca pela máxima disponibilidade e eficiência operacional. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] PINTO, Alan Kardec; XAVIER, Júlio Aquino Nascif. Manutenção: função estratégica. Qualitymark, [2] SELLITTO, Miguel Afonso. "Formulação estratégica da manutenção industrial com base na confiabilidade dos equipamentos." Revista Produção 15.1 (2005): [3] MENDES, Angélica Alebrant; Ribeiro, José Luis Duarte. Estabelecimento de um plano de manutenção baseado em análises quantitativas no contexto da MCC em um cenário de produção JIT, 2014 [4] MINUZZO, Guilherme Saliba; Andrade, Jairo José de Oliveira. Estratégias de Manutenção Baseadas em Análise de Confiabilidade: Aplicação em uma máquina automática de Montagem de Capacitores, [5] SOUZA Oliveira, José; Silva, Aluísio Pinto. Análise de Indicadores de Qualidade e Produtividade da Manutenção na Indústrias Brasileiras - Gepros: Gestão da Produção, Operações e Sistemas, 2013, Vol.8(3), p.53 [6] LEÃO, S.R.D.C. Aplicação da troca rápida de ferramentas (TRF) em intervenções de manutenção preventiva. Revista Produção Online, v.9, n.1, p.2-27, mar. de [7] BIEHL, Norberto Carvalho; SELLITTO, Miguel Afonso. TPM e manutenção autônoma: estudo de caso em uma empresa da indústria metal-mecânica. Revista Produção Online, Florianópolis, v. 15, n. 4, p , dez ISSN

8 8 [8] STONNER, Rodolfo. Ferramentas de Planejamento Utilizando o MS Project para gerenciar empreendimentos. E-papers, UFRJ. [9] Notas de Aula. 2017

9 9 Autorização de Divulgação de Artigo Técnico AUTORIZAÇÃO DE PUBLICAÇÃO X AUTORIZO A PUBLICAÇÃO DO ARTIGO TÉCNICO NA INTERNET, JORNAIS E REVISTAS TÉCNICAS EDITADAS PELO IETEC. NÃO AUTORIZO A PUBLICAÇÃO OU DIVULGAÇÃO DO ARTIGO TÉCNICO. BELO HORIZONTE, _29_/_07_/ 2017 CURSO: Engenharia de Manutenção SEMESTRE/ANO: 1 / 2017 TURMA: 05 TÍTULO DO ARTIGO: A BUSCA INCESSANTE PELO EQUILÍBRIO NA MANUTENÇÃO ATRAVÉS DO USO DE TÉCNICAS, FERRAMENTAS E AÇÕES GERENCIAS NA ORGANIZAÇÃO. NOME DO AUTOR (LEGÍVEL) ASSINATUR