Rodrigo Rennó Administração Geral e Pública
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- Artur Macedo Camilo
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1 Rodrigo Rennó Administração Geral e Pública Administração Gerencial. Durante as décadas de 70 e 80 do século passado os governos passaram por momentos difíceis, com uma economia em recessão, choques externos (como os do petróleo em 73 e 79), que levaram a uma crescente dificuldade destes governos em manter o Estado de bemestar (série de bens e serviços fornecidos pelo Estado a qualquer cidadão educação e assistência médica gratuitas, renda mínima, auxílio desemprego, etc.) e o investimento estatal que foi a alavanca de várias economias até aquele momento. A crise fiscal foi um importante fator, pois ficou cada vez mais difícil rolar as dívidas antigas e financiar os déficits, portanto era primordial reduzir os gastos governamentais. O aumento de impostos não era visto como uma alternativa palatável, pois os contribuintes tinham uma percepção extremamente negativa da capacidade da máquina estatal de utilizar os recursos públicos. A crise do Estado levou a uma crescente crítica ao modelo burocrático, visto como causador de lentidão, ineficiências e gastos excessivos. Muitos teóricos iniciam então uma busca por melhores práticas, e vão ao encontro de várias iniciativas já em curso na administração empresarial. O setor estatal adota então o discurso de descentralização, de inovação, do foco nas necessidades do cliente, da estrutura mais flexível e enxuta que já existia no setor privado. Essa nova concepção do Estado que começa a implantar uma administração gerencial é chamada de Nova Gestão Pública ( New Public Management ou NPM em inglês). Todavia não podemos ver a administração gerencial como uma negação da Burocracia, já que ela mantém diversas características, como a meritocracia, a avaliação de desempenho, a noção de carreira, entre outras. Uma das principais diferenças está na função controle, que deixa de ser efetuado com base em processos e procedimentos ( a priori ou ex ante ) para ser efetuado com base em resultados ( a posteriori ou ex post ). Vejam uma questão que mostra a transição do modelo Burocrático para o gerencial: (CESPE TRE BA /ANAL JUD ADMINISTRATIVA 2010) A administração pública burocrática se alicerça em princípios como profissionalização, treinamento sistemático, impessoalidade e formalismo, que são abandonados à medida que a administração pública gerencial, calcada na eficiência e na eficácia, se sobrepõe ao modelo burocrático. O erro da questão é que nem todos estes princípios do modelo burocrático citados não são abandonados pelo modelo gerencial, mas sim incorporados ao modelo gerencial. Portanto 1 Eu Vou Passar e você?
2 o modelo gerencial é uma ruptura somente com alguns aspectos da burocracia (o formalismo, por exemplo), mas podemos dizer que se apóia em vários de seus princípios (profissionalização, meritocracia, etc.). O Gabarito é questão errada. Outras características marcantes do novo modelo são: a demanda por maior autonomia aos gestores (financeira, material e de recursos humanos), a definição clara de quais serão os objetivos que os gestores devem buscar, a descentralização, o incentivo à inovação, a maior flexibilidade, a preocupação com as necessidades dos clientes, o foco na qualidade e uma estrutura hierárquica mais achatada e flexível. Vamos ver uma questão do Cespe que mostra isso: (CESPE TRE MA / ANAL JUD 2005) O modelo da administração pública gerencial baseia se na definição clara de objetivos para cada unidade da administração, da descentralização, da mudança de estruturas organizacionais e da adoção de valores e comportamentos modernos no Estado que possibilitem o aumento da qualidade e da eficiência dos serviços prestados à sociedade. Exato. O modelo gerencial acolhe então essa noção de que deve servir melhor aos cidadãos, que deve ser mais eficiente e preocupado com a qualidade dos serviços que presta a população. Para este fim necessitará de uma modernização de suas práticas, adotando então um ferramental que herdou do setor privado. A frase está correta. O modelo de administração gerencial teve uma evolução que podemos classificar em três momentos: inicia se com o que chamamos de gerencialismo puro (ou managerialism), depois se volta para o consumerism e o PSO Public Service Orientation. Gerencialismo Puro Managerialism O primeiro impulso da Nova Gestão Pública veio com o gerencialismo puro (ou managerialism em inglês). De acordo com Abrucio, a Inglaterra, no governo Thatcher em 1979, foi um dos primeiros a adotar os conceitos do NPM. O contexto era de exaustão das finanças do Estado e a incapacidade do mesmo em atender a todas as demandas sociais que a sociedade cobrava. As primeiras ações buscaram reduzir custos e pessoal. Seu objetivo era devolver ao Estado a condição de investir, através da redução de custos e do aumento da eficiência. Dentro deste prisma estava toda uma estratégia de reposicionar o papel do Estado na sociedade, reduzindo o número de atividades que eram exercidas. Dentre as iniciativas de Thatcher estavam a privatização, a desregulamentação, redução de cargos públicos, a definição clara dos objetivos de cada setor e outras com o intuito de 2 Eu Vou Passar e você?
3 reduzir os gastos. O movimento ficou conhecido como rolling back the state, algo como retração da máquina estatal. Nesta visão, o cidadão é visto como contribuinte (financiador do Estado), que deve ter seus recursos gastos de maneira mais consciente. Alvo do Gerencialismo Puro Aumento da eficiência e redução de custos É implantada aos poucos uma administração voltada à resultados, com uma maior flexibilidade e descentralização dos gestores públicos, em vista a um ganho esperado de eficiência, que ao final acabou ocorrendo pelo menos na ótica do gasto público. Consumerism O Gerencialismo puro recebeu muitas críticas, pois a redução de custos e o aumento da eficiência não podiam ser o único objetivo das reformas. Faltava a visão de que os serviços devem ser prestados com qualidade e com foco nas necessidades dos clientes e não nas necessidades da máquina pública. Esta nova visão não renega os princípios do gerencialismo puro, mas acrescenta outras variáveis e prioridades. É o início do que chamamos de paradigma do cliente na administração pública. A preocupação deixa somente de ser com custos e produtividade para ser voltada a fazer melhor entregar serviços de qualidade para a sociedade. Uma das medidas tomadas neste modelo foi a descentralização do processo decisório. A idéia é delegar poderes para quem está efetivamente envolvido na prestação do serviço ao cliente. Desta forma as decisões são mais rápidas e o próprio cliente poderá acompanhar o processo decisório e cobrar o agente público que gerencia o processo. Outra medida foi a tentativa de quebrar o monopólio na prestação de serviços dentro da máquina pública, tentando assim criar uma competitividade dentro do setor público e gerando alternativas de atendimento ao cliente. Por fim foram criados novos modelos contratuais, que serviriam como uma gestão de resultados no setor público. Alvo do Consumerism Satisfação do cliente As principais críticas ao Consumerism vieram exatamente do problema de se considerar o cidadão um simples cliente, pois apesar de ser uma evolução do que existia antigamente, não se adapta ao real relacionamento que deve existir entre o Estado e seus cidadãos. O termo 3 Eu Vou Passar e você?
4 cliente traz a noção de tratamento diferenciado aos que realmente utilizam os serviços públicos, enquanto o Estado deve ser isonômico! O bordão comum no setor privado ( o cliente sempre tem razão ) não se aplica no setor público, e no relacionamento entre o Estado e o cidadão devem existir direitos e deveres. O conceito de cliente Vip também seria obviamente inconstitucional, pois o Estado não poderia tratar como especial um cidadão por ser um maior contribuinte, não é mesmo? Portanto se fez necessária uma nova visão, que iremos ver no Public Service Orientation. Public Service Orientation PSO Com o PSO, que é a versão atual da Nova Gestão Pública (ou NPM), entra a noção de tratamento não somente como cliente, mas como cidadão uma noção mais ampla do que a de cliente, com direitos e deveres. Os princípios do PSO são temas como a equidade e a accountability, bem como a participação popular. A descentralização no PSO não é vista somente como uma maneira de melhorar os serviços prestados, mas como um meio de possibilitar a participação popular, criando se uma arena que aumente a participação política dos cidadãos. Portanto a visão atual é a de que o Estado deve não só prestar serviços de qualidade e tratar bem seus cidadãos, mas que deve proporcionar meios que possibilitem a cobrança de resultados e a participação destes cidadãos nas políticas públicas, de modo que o cidadão deixe de ser passivo diante do Estado para uma postura mais ativa. Fonte: Abrucio. Caderno ENAP n Eu Vou Passar e você?
5 Vamos analisar agora umas questões sobre o tema: 1. (CESPE STM / ANAL JUD 2004) A tendência do Estado na atualidade é concentrar esforços na centralização administrativa, incorporando funções produtivas mal atendidas pelo setor privado e, em última instância, interferindo diretamente na atividade econômica por meio de suas empresas públicas, fortalecendo o setor conhecido como de serviços não exclusivos e produção de bens e serviços para o mercado. 2. (CESPE MDS / ADMINISTRADOR 2006) Max Weber considera a existência de três tipos puros de dominação legítima: a tradicional, a racional legal e a gerencial. 3. (CESPE SEGER ES / EPPGG 2007) No entendimento de Bresser Pereira, a administração do Estado pré capitalista era do tipo patrimonialista; a associação entre o capitalismo e a democracia fez emergir uma administração pública burocrática, o modelo racional legal, ao passo que a administração pública gerencial está mais orientada para as necessidades do cidadão e para a obtenção de resultados. 4. (CESPE MDS / ADMINISTRADOR 2006) eficiência, eficácia e efetividade na avaliação de seu desempenho. A eficiência caracteriza se pelo uso racional dos recursos disponíveis; a eficácia, pelos resultados obtidos pela ação governamental e a efetividade, pelo alcance dos objetivos e metas previamente estipulados. 5. (CESPE ANCINE / ANAL ADM 2006) Uma das principais inovações preconizadas pelos movimentos de reforma do Estado empreendidos nos anos 80 e 90 o New Public Management foi a instituição de critérios meritocráticos para o provimento de cargos e funções públicas, bem como para fins de ascensão funcional. 6. (CESPE STM / ANAL JUD 2004) À luz dos novos preceitos de um Estado moderno e eficiente, entre as ações de modernização administrativa existe a busca pela otimização das ferramentas gerenciais no âmbito da administração pública, sendo a única exceção o desinteresse explícito dos órgãos oficiais pela melhoria dos sistemas de informação, pela transparência e pelas ferramentas de governo eletrônico. 7. (CESPE MPS ADMINISTRADOR 2010) O modelo gerencial da administração pública, que disseminou a adoção de práticas estritamente privadas no setor público, mostrouse incapaz de atender a todas as demandas da sociedade. Das mudanças realizadas, ressalta se a preocupação com a chamada accountability, que reflete uma evolução da ótica do usuário do serviço, de cliente/consumidor para cidadão, e que se compatibiliza melhor com a descentralização dos serviços públicos. 8. (CESPE MTE / ADMINISTRAÇÃO 2008) Uma das principais vantagens apontadas na nova gestão pública, ou gerencialismo, é o fato de ela facilitar a mensuração da eficiência e a avaliação dos resultados dos serviços públicos em geral, razão pela qual 5 Eu Vou Passar e você?
6 reduz as exigências de acompanhamento e controle da execução dos orçamentos e da consecução dos objetivos do planejamento governamental. 9. (CESPE AGU AGENTE ADM. 2010) Para a administração pública burocrática, o interesse público é frequentemente identificado com a afirmação do poder do Estado. A administração pública gerencial nega essa visão do interesse público, relacionando o com o interesse da coletividade, e não do Estado. 10. (CESPE MTE / ADMINISTRAÇÃO 2008) A administração pública gerencial está voltada para o atendimento às demandas dos usuários dos serviços e a obtenção de resultados. Apóia se fortemente na descentralização e na delegação de competência e define indicadores de desempenho, o que está associado à adoção de contratos de gestão. 11. (CESPE MTE / ADMINISTRAÇÃO 2008) O modelo gerencial puro, a partir da metade dos anos 80 do século passado, priorizou os conceitos de flexibilidade, planejamento estratégico e qualidade. Freqüentemente, seus seguidores, na ânsia de atenderem o público usuário, passaram a considerá lo cliente, o que está mais associado à realidade do mercado que à do aprovisionamento de bens públicos. 12. (CESPE STJ / ANAL ADM 2004) Imperam na corrente da public service orientation reflexões que se utilizam de conceitos como accountability, transparência e participação política. 13. (CESPE STJ / ANAL ADM 2004) A centralização do processo de tomada de decisão, o rígido controle sobre o desempenho e o foco em resultados são algumas das características do paradigma pós burocrático. 14. (CESPE MPS ADMINISTRADOR 2010) A execução orçamentária no Brasil, representada pelo modelo gerencial, caracteriza se pelo controle rígido do objeto dos gastos, independentemente da consecução dos objetivos e das metas. 15. (CESPE MDS / ADMINISTRADOR 2006) O modelo de administração pública societal incorpora aos modelos burocráticos e gerenciais tradicionalmente fechados práticas que ampliam a relação Estado sociedade, como a instituição de conselhos gestores de políticas públicas e o orçamento participativo. 16. (CESPE MTE / ADMINISTRAÇÃO 2008) Bresser Pereira, ao caracterizar a administração pública gerencial, argumenta que ela constitui instrumento de proteção do patrimônio público contra os interesses de privatização do Estado. Por outro lado, considera que os funcionários públicos têm de ser merecedores de grau ilimitado de confiança. 17. (CESPE TCE AC / ACE 2008) A administração pública gerencial é freqüentemente identificada com as idéias neoliberais, pois as técnicas de gerenciamento foram quase sempre introduzidas ao mesmo tempo em que se implantavam programas de ajuste estrutural para enfrentar a crise fiscal do Estado. 6 Eu Vou Passar e você?
7 18. (CESPE STJ / ANAL ADM 2004) A administração pública gerencial pode ser compreendida a partir de diversas características fundamentais, como a delegação de autoridade, a valorização do pressuposto da confiança limitada em detrimento da desconfiança total do funcionário público, organizações com muitos níveis hierárquicos e administração voltada para o atendimento do cidadão. 19. (CESPE TERRACAP / TEC RH 2004) Transparência, verticalização da estrutura organizacional e trabalho em equipe constituem o modelo pós burocrático na administração pública. Gabarito: 1 E 2 E 3 C 4 E 5 E 6 E 7 C 8 E 9 C 10 C 11 C 12 C 13 E 14 E 15 C 16 E 17 C 18 E 19 E Bibliografia: Abrucio, F. L. O impacto do modelo gerencial na Administração Pública: Um breve estudo sobre a experiência internacional recente. Caderno ENAP n 10. Bresser Pereira, L.C. Do Estado Patrimonial ao Gerencial. in Pinheiro, W. e Sachs (orgs.), Brasil: Um Século de Transformações. Ed. Cia. das Letras, 2001 Chiavenato, I. Administração Geral e Pública. Ed. Elsevier, 2º Ed Robbins, S.P.; Coulter, M. Administração. Ed. Prentice Hall, 5º Ed Por hoje é só! Qualquer dúvida estarei disponível no e mail abaixo. Bons estudos e sucesso!! Rodrigo Rennó rodrigorenno@euvoupassar.com.br 7 Eu Vou Passar e você?
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