Modos Quasinormais e Pólos de Regge para os Buracos. Leandro Amador de Oliveira Orientador: Prof. Dr. Luís Carlos Bassalo Crispino
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1 Modos Quasinormais e Pólos de Regge para os Buracos Acústicos Canônicos Leandro Amador de Oliveira Orientador: Prof. Dr. Luís Carlos Bassalo Crispino Belém - PA 8 de outubro de 2010
2 Universidade Federal do Pará Instituto de Ciências Exatas e Naturais Programa de Pós-Graduação em Física Dissertação de Mestrado Modos Quasinormais e Pólos de Regge para os Buracos Acústicos Canônicos Leandro Amador de Oliveira Orientador: Prof. Dr. Luís Carlos Bassalo Crispino Prof. Dr. Luís Carlos Bassalo Crispino Prof. Dr. Dionisio Bazeia Filho Prof. Dr. Clovis Achy Soares Maia Prof. Dr. Danilo Teixeira Alves
3 Agradecimentos Ao meu pai Edson Alves de Oliveira e minha mãe Lia da Silva Amador por terem me apoiado em todos os momentos da minha vida. Aos meus colegas de graduação e mestrado pelo incentivo moral nos momentos difíceis. Aos professores que tive na graduação e no mestrado pelo bons cursos ministrados. Ao professor Dr. Luís Carlos Bassalo Crispino pelo seu incentivo desde o curso de Física Elementar I na graduação e pela excelente orientação durante o mestrado. Ao Dr. Samuel R. Dolan pela excelente e proveitosa colaboração durante o mestrado. Aos meus colegas do GTQCEC pelas discussões durante as reuniões semanais de grupo.
4 Resumo Usando o formalismo relativístico no estudo da propagação de perturbações lineares em fluidos ideais, obtêm-se fortes analogias com os resultados encontrados na Teoria da Relatividade Geral. Neste contexto, de acordo com Unruh [W. Unruh, Phys. Rev. Letters 46, 1351 (1981)], é possível simular um espaço-tempo dotado de uma metrica efetiva em um fluido ideal barotropico, irrotacional e perturbado por ondas acusticas. Esse espaço-tempo efetivo é chamado de espaço-tempo acústico e satisfaz as propriedades geométricas e cinemáticas de um espaço-tempo curvo. Neste trabalho estudamos os modos quasinormais (QNs) e os pólos de Regge (PRs) para um espaço-tempo acústico conhecido como buraco acústico canônico (BAC). No nosso estudo, usamos o método de expansão assintótica proposto por Dolan e Ottewill [S. R. Dolan e A. C. Ottewill, Class. Quantum Gravity 26, (2009)] para calcularmos, em termos arbitrários do número de overtone n, as frequências QNs e os momentos angulares para os PRs, bem como suas respectivas funções de onda. As frequências e as funções de onda dos modos QNs são expandidas em termos de potências inversas de L = l + 1, onde l é o momento angular, enquanto que os momentos angulares e funções de 2 onda dos PRs são expandidos em termos do inverso das frequências de oscilação do buraco acústico canônico. Comparamos os nossos resultados com os já existentes na literatura, que usam a aproximação de Wentzel-Kramers-Brillouin (WKB) como método de determinação dos modos QNs e dos PRs, e obtemos uma excelente concordância dentro do limite da aproximação eikonal (l 2 e l n). Palavras-chave: Espaços-Tempos Acústicos, Perturbações Lineares, Buracos A- cústicos Áreas de Conhecimento: ,
5 Abstract Using the relativistic framework in the study of the propagation of linear perturbations in ideal fluids, we obtain a strong anology with the results found in the Theory of General Relativity. In this context, according to Unruh [W. Unruh, Phys. Rev. Letters 46, 1351 (1981)], it is possible to mimic a spacetime with an effective metric in an ideal fluid, barotropic, irrotacional and perturbed by acoustic waves. These spacetimes are called acoustic spacetimes and satisfy the geometric and kinematic properties of a curved spacetimes. In this work, we study the quasinormal modes and the Regge poles for the so called canonical acoustic hole. In our study, we use an asymptotic expansion method proposed by Dolan e Ottewill [S. R. Dolan and A. C. Ottewill, Class. Quantum Gravity 26, (2009)] to compute, for arbitrary overtones n, the quasinormal frequencies and angular momentum of the Regge poles, as well as their correspondent wavefunctions. The quasinormal frequencies and quasinormal wavefunction are expanded in inverse powers of L = l+ 1, where l is the angular momentum, 2 while the angular momentum and wavefunction of the Regge poles are expanded in inverse powers of the frequency of oscillation of the canonical acoustic hole. We validate our results against existing ones obtained using Wentzel-Kramers-Brillouin (WKB) approximation, and we obtain excellent agreement in the limit of the eikonal approximation (l 2 e l n). Keywords: Acoustic Spacetimes, Linear Perturbations, Acoustic Holes Knowledge areas: ,
6 Sumário 1 Introdução 4 2 Introdução à Mecânica dos Fluidos Ideais e à Propagação do Som Teorema do Transporte de Reynolds Equação da Continuidade Conservação do Fluxo de Momento Equação de Bernoulli Conservação do Fluxo Energético em um Fluido Ideal A Propagação de uma Perturbação Linear em Fluidos Ideais A Métrica Acústica Geral e o Buraco Acústico Canônico A Métrica Acústica Geral A Métrica do Buraco Acústico Canônico Geodésicas Nulas no Buraco Acústico Canônico Órbitas Nulas no Espaço-Tempo do Buraco Acústico Canônico Frequência Orbital e o Expoente de Lyapunov para as Órbitas Nulas Os Modos Quasinormais do Buraco Acústico Canônico Perturbações Lineares no Buraco Acústico Canônico O Método de Expansão Assintótica dos Modos Quasinormais do Buraco A- cústico Canônico Os Modos Quasinormais As Frequências Quasinormais Fundamentais (n = 0) As Funções de Onda Quasinormais Fundamentais (n = 0)
7 4.2.4 Os Modos Quasinormais para Valores Arbitrários dos Números de Overtone n Frequência Orbital e o Expoente de Lyapunov Os Pólos Regge para o Buraco Acústico Canônico Método da Expansão Assintótica aplicado aos Pólos de Regge Resultados Numéricos para os PRs Conclusão 60 3
8 Capítulo 1 Introdução Um dos resultados mais importantes obtidos na Física da segunda metade do século XX é o de que buracos negros devem evaporar. Em 1974, Stephen William Hawking demonstrou, usando elementos de Mecânica Quântica e da Teoria da Relatividade Geral, que buracos negros emitem uma radiação térmica proveniente do seu horizonte de eventos e cuja temperatura é hc 3 /8πkGM. Esta radiação térmica ficou sendo conhecida como radiação Hawking [1, 2, 3]. A confirmação experimental de que a radiação Hawking existe ainda não foi obtida. Isto se deve ao fato de que os possíveis buracos negros existentes em nossa galáxia devem emitir esta radiação a temperaturas muito baixas e impossíveis de serem medidas por quaisquer aparatos experimentais existentes atualmente. Uma das alternativas para a busca da confirmação experimental da emissão de radiação por objetos como os buracos negros surgiu no estudo de modelos análogos à gravitação em fluidos ideais. Em 1981, William George Unruh mostrou, no contexto da Mecânica dos Fluidos, que é possível obter um espaço-tempo curvo efetivo experimentado por ondas sonoras que se propagam em um fluido ideal, barotrópico e irrotacional [4]. Neste contexto, é possível simular um espaçotempo efetivo em um fluido ideal barotrópico e irrotacional no qual se conheça o regime de escoamento, a densidade e como as ondas sonoras se propagam nele. As ondas sonoras se propagam em um fluido ideal analogamente como um campo escalar de Klein-Gordon em um espaço-tempo curvo da Relatividade Geral [5]. Recentemente, os estudos sobre os buracos acústicos se diversificaram bastante e não ficaram restritos à analise do efeito da radiação Hawking [6], podemos citar como exemplos os trabalhos sobre a superradiância 4
9 de ondas sonoras em fluidos [7, 8], a criação de fônons em análogos de espaços-tempos de Robertson-Walker em condensados de Bose-Einstein [9] e os modos quasinormais (QNs) e os pólos de Regge (PRs) em buracos acústicos [10, 11, 12, 13, 14]. O entendimento dos modos QNs e dos PRs de buracos negros e buracos acústicos é de grande importância na descrição desses objetos físicos, já que os modos QNs e os PRs carregam consigo as informações que caracterizam totalmente os buracos negros e os buracos acústicos, como se fossem as impressões digitais desses objetos. Os modos QNs são oscilações naturais do espaçotempo que se propagam como uma perturbação linear. Como os modos QNs representam as oscilações de um sistema (espaço-tempo) aberto, ou seja, um sistema que perde energia na forma de radiação emitida para o infinito, é impossível representar as oscilações QNs em termos de uma superposição de modos estacionários, já que as oscilações do espaço-tempo são amortecidas. Por essa razão é que os modos QNs são definidos apenas para certo intervalo finito de tempo [15]. Os modos QNs têm sido intensivamente investigados ao longo dos anos para sistemas como buracos negros e estrelas relativísticas. Recentemente, alguns estudos dos modos QNs, também, foram realizados para os buracos acústicos. No caso dos PRs, por eles satisfazerem a mesma equação diferencial e obedecerem a uma condição de contorno semelhante a dos modos QNs, eles se parecem bastante, matematicamente, com os modos QNs. Porém, diferentemente dos modos QNs, a frequência de oscilação para os PRs é real, enquanto que o momento angular é complexo. Os PRs são um conceito chave no estudo do espalhamento, principalmente aplicado aos buracos negros e, recentemente, aplicado aos buracos acústicos [16]. Assim, para se ter um entendimento mais amplo sobre a física de buracos negros e de buracos acústicos torna-se importante o estudo aprofundado dos modos QNs e dos PRs desses objetos físicos. Neste trabalho estudamos os modos quasinormais (QNs) e os pólos de Regge (PRs) para um espaço-tempo acústico conhecido como buraco acústico canônico (BAC). O espaçotempo do BAC é construído considerando-se que o regime de escoamento do fluido seja puramente radial, esfericamente simétrico, barotrópico, convergente e que contenha regiões onde o fluxo radial seja supersônico, gerando assim um horizonte de eventos acústico [5]. No nosso estudo, usamos um método de expansão assintótica [14] para calcularmos, para um número de overtone n arbitrário, as frequências QNs e os momentos angulares para os PRs, 5
10 bem como suas respectivas funções de onda [17]. As frequências e as funções de onda QNs são expandidas em termos de potências inversas de L = l + 1, onde l é o momento angular, 2 enquanto que os momentos angulares e funções de onda dos PRs são expandidos em termos do inverso das frequências de oscilação do buraco acústico canônico. Comparamos os nossos resultados com os já existentes na literatura, que usam a aproximação de Wentzel-Kramers- Brillouin (WKB) como método de determinação dos modos QNs e dos PRs dentro do limite da aproximação eikonal (l 2 e l n) [10]. Em todo o trabalho fazemos uso do formalismo matemático da Álgebra e da Análise Tensorial. Usamos a notação indicial devida a Albert Einstein, na qual é suprimido o uso do símbolo de somatório de índices repetidos, ficando implícita a soma entre as componentes cujos índices se repetem. Convencionamos o uso dos índices em letras gregas para caracterizar grandezas quadridimensionais e os índices em letras latinas para caracterizar as grandezas tridimensionais espaciais. Convencionamos a signatura das métricas como sendo ( + + +). Além disso, no intuito de facilitar a notação, usaremos as unidades nas quais a velocidade do som é c = 1. 6
11 Capítulo 2 Introdução à Mecânica dos Fluidos Ideais e à Propagação do Som A mecânica dos fluidos ideais estuda o movimento e o comportamento macroscópico de líquidos e gases desprezando quaisquer efeitos devido à viscosidade, às reações químicas e nucleares. Um fluido é tratado como um meio contínuo, o que significa dizer que um elemento de volume é sempre maior do que um volume contendo um grande número de moléculas deste fluido. Podemos descrever o comportamento do fluido, localmente, por meio da análise de como variam com o tempo e a posição, em determinado sistema de coordenadas, variáveis como a pressão, densidade e o campo de velocidades dos seus elementos de volume. Isto pode ser feito por intermédio de duas abordagens: a abordagem Lagrangiana e a abordagem Euleriana. Na abordagem Lagrangiana, o observador monitora o comportamento das variáveis dinâmicas (pressão, densidade e velocidade) de um único elemento de volume do fluido. Nessa abordagem, o elemento de volume do fluido é tratado como uma partícula com massa constante, sendo sempre composto pelas mesmas moléculas do fluido. Na abordagem Euleriana, o observador mantém-se fixo no referencial de fundo do fluido e monitora o comportamento das grandezas dinâmicas por meio de um volume de controle. O volume de controle é uma entidade geométrica, que pode ser fixa ou móvel, e independente do fluido, servindo apenas para caracterizar o comportamento do fluido que passa nessa região em determinado instante [18]. Assim, a massa e as moléculas que compõem o volume de controle podem não ser necessariamente as mesmas. Podemos obter uma equação 7
12 que traduz a relação entre essas duas abordagens. Para isso, aplicamos a derivada total em relação ao tempo em uma função F ( r,t), que depende da posição e do tempo e que representa as grandezas físicas características desse fluido, a saber df ( r,t) dt = F ( r,t) t + v F ( r,t). (2.1) Esta expressão é conhecida como derivada material. A derivada total nesta equação representa a descrição Lagrangiana e a derivada parcial representa a descrição Euleriana. 2.1 Teorema do Transporte de Reynolds O teorema do transporte de Reynolds é de fundamental importância na determinação das equações que expressam a dinâmica e as leis de conservação do fluido ideal. Para mostrarmos o teorema do transporte Reynolds, consideremos, primeiramente, a seguinte derivada total em relação ao tempo da integral no volume V de uma função tensorial F ( r,t): d F ( r,t) dv = dt V d F ( r,t) dv = dt V V V [ df dt dv + F d ] dt (dv ) [( F ( r,t) t ) + v F ( r,t) dv + F ddt ] (dv ), (2.2) onde V é definido como um volume descrito pela abordagem lagrangiana. Pela abordagem lagrangiana, a porção ocupada pelo elemento de volume dv do fluido é tratado como sendo uma partícula com propriedades intrínsecas associadas e, dependendo do regime de escoamento do fluido, seu volume pode variar com o tempo. É por essa razão que atuamos a derivada total em relação ao tempo no elemento dv dentro da integral. Determinamos a seguir como se obtém a expressão para d (dv ). dt Seja um elemento de volume dv do fluido, representado por um cubo, no qual seu centro desloca-se com velocidade v = v x (x,y,z) î + v y (x,y,z) ĵ + v z (x,y,z) ˆk. As faces do cubo cujos versores apontam na direção do movimento movem-se com as seguintes velocidades: ( v x x + dx,y,z) (, v 2 y x,y + dy,z) ( ) e v 2 z x,y,z + dz 2. As faces do cubo cujos versores apontam 8
13 ( na direção oposta ao movimento movem-se com as seguintes velocidades: v x x dx,y,z), 2 ( v y x,y dy,z) ( ) e v 2 z x,y,z dz 2. A variação total do elemento de volume do fluido pode ser decomposta como variações independentes em relação às coordenadas (x,y,z), a saber, onde d(dv ) = d(dv) x + d(dv) y + d(dv) z, d(dv) x = v x (x + dx)dtdydz v x (x)dtdydz, (2.3) d(dv) y = v y (y + dy)dtdxdz v y (y)dtdxdz, d(dv) z = v z (z + dz)dtdydx v z (z)dtdydx. (2.4) Como o cubo com volume dv é considerado bem pequeno (infinitezimal), podemos considerar que v x (x + dx) = v x (x) + vx x dx, v y(y + dy) = v y (y) + vy y dy e v z(z + dz) = v z (z) + vz z dz. Assim, encontramos: d dt dv = ( vx x + v y y + v ) z dv z d dv = ( v)dv. (2.5) dt Esta expressão é conhecida como fórmula da expansão de Euler [19]. Substituindo (2.5) em (2.2), encontramos d dt V F ( r,t) dv = V [ F ( r,t) t ] + ( vf ( r,t)) dv. (2.6) Este é conhecido como o teorema do transporte de Reynolds. A partir desse teorema podemos obter as equações da continuidade e a equação de Euler. É interessante notar que, assim como a expressão (2.1), o teorema do transporte de Reynolds tem o papel de realizar uma perfeita tradução entre as abordagens lagrangiana e a euleriana: o lado esquerdo representa a abordagem lagrangiana e o lado direito representa a abordagem euleriana. 9
14 2.2 Equação da Continuidade isto é Consideremos que a função F ( r, t) represente a densidade volumétrica de massa do fluido, Então a equação (2.6) assume a seguinte forma [ d ρ ( r,t) ρ ( r,t) dv = dt V V t F ( r,t) = ρ ( r,t). (2.7) ] + (ρ ( r,t) v) dv. (2.8) A massa total contida no volume V é dada por M = ρdv. (2.9) V Na ausência de fontes e sorvedouros de matéria, a massa total do fluido deve permanecer a mesma Assim, ρ t dm dt = 0. (2.10) + (ρ v) = 0. (2.11) Esta expressão é conhecida como equação da continuidade e é a lei de conservação de massa em um fluido sem a presença de fontes e nem de sorvedouros de matéria. 2.3 Conservação do Fluxo de Momento Agora consideremos que a função F ( r, t) represente as componentes cartesianas da densidade de momento de um elemento de volume do fluido, a saber F ( r,t) = ρv i. (2.12) Substituindo (2.12) na expressão (2.6), encontramos [ ] d ρvi ρv i dv = + j (ρv i v j ) dv dt V V t d ρv i dv = dt V V [ ρ v ( ) ] i ρ t + ρv i t + j (ρv j ) + ρv j j v i dv. (2.13) 10
15 Usando a equação da continuidade, a equação (2.13) fica [ d ρv i dv = ρ v ] i dt t + ρv j j v i dv. (2.14) V V As forças que atuam no elemento de volume do fluido podem ser divididas em duas categorias, a saber: as forças volumétricas e as forças superficiais. Neste trabalho consideramos que a única força superficial que atua no elemento de fluido é devida à pressão exercida por elementos de volume vizinhos e que a única força volumétrica que atua no elemento de volume é devida à presença de um campo gravitacional externo devido a um potencial. Assim, a força resultante em um elemento de volume do fluido é [20] d ρv i dv = ρ i φdv Pδ ij ds j, (2.15) dt V V onde φ é o potencial gravitacional externo e P é a pressão no interior do fluido. Igualando as expressões (2.14) e (2.15), encontramos a seguinte expressão [ ρ v ] i t + ρv j j v i dv = ρ i φdv Pδ ij ds j. (2.16) Usando o Teorema de Gauss em chegamos à seguinte expressão: que pode ser reescrita como V V S Pδ ij ds j = [ ρ v i t + ρv j j v i + ρ i φ + i P v t + ( v ) v + φ + P ρ V V S S i PdV, (2.17) ] dv = 0, (2.18) = 0, (2.19) sendo conhecida como equação de Euler. Esta equação é também chamada de 2 a Lei de Newton para os fluidos ideais, pois é a equação que expressa a dinâmica dos fluidos. 2.4 Equação de Bernoulli Primeiramente, antes de deduzirmos a equação de Bernoulli, vamos definir matematicamente a grandeza chamada de vorticidade: ω v. (2.20) 11
16 A vorticidade ω representa a velocidade angular de cada elemento de volume do fluido [21]. Usando a seguinte identidade da Análise Vetorial v ( v) = 1 2 v2 ( v ) v, (2.21) bem como a expressão (2.20) na equação de Euler (2.19), encontramos ( ) v v 2 t φ + P v ω = 0, (2.22) ρ que é conhecida como equação de Bernoulli. A equação de Bernoulli tem papel análogo à equação de Euler. A diferença básica entre essas duas equações é que a equação de Bernoulli envolve a grandeza vorticidade. 2.5 Conservação do Fluxo Energético em um Fluido Ideal A densidade de energia total de um elemento de volume de um fluido ideal é dada pela seguinte expressão: E = 1 2 ρ v 2 + ρu + ρφ, (2.23) onde u é a densidade de energia interna por unidade de massa e por unidade de partículas, v é velocidade de escoamento do fluido e φ é o potencial gravitacional exterior. No lado direito da equação acima o primeiro termo corresponde à densidade de energia cinética, o segundo termo corresponde à densidade de energia interna e o último refere-se à densidade de energia gravitacional. Em Termodinâmica, sabe-se que em um sistema no qual o número de partículas se mantém constante, a energia interna por unidade de partículas U é um parâmetro extensivo, sendo apenas função da sua entropia por unidade de partículas S e do seu volume por unidade de partículas V, isto é U = U (S,V ). (2.24) A Primeira Lei da Termodinâmica, na representação da energia interna, pode ser escrita como du = TdS PdV, (2.25) 12
17 onde T é a temperatura e V é o volume do sistema. Definimos, agora, as seguintes variáveis termodinâmicas: u U m, s S m, ρ m V, (2.26) onde u e s são, respectivamente, energia interna e entropia (por unidade de partícula e unidade de massa) e m e ρ, são, respectivamente, a massa e a densidade do elemento de volume. Substituindo as definições (2.26) na 1 a Lei da Termodinâmica, dada por (2.25), encontramos a seguinte expressão: du = Tds + P ρ2dρ. (2.27) Agora, reescrevemos a 1 a Lei da Termodinâmica dada em (2.27) na forma da entalpia. Para isso, definimos a entalpia h (por unidade de partículas e unidade de massa) como sendo a transformada de Legendre da energia interna, a saber: h = u + P ρ. (2.28) Substituindo (2.28) na expressão (2.27), obtemos a 1 a Lei da Termodinâmica na representação da entalpia: dh = Tds + 1 dp. (2.29) ρ Aplicando a derivada parcial em relação ao tempo na densidade de energia total dada por (2.23), encontramos t E = 1 2 v 2 ρ v + ρ v t t + ρ u t + u ρ t + φ ρ t. (2.30) Substituindo a equação da continuidade, a equação de Euler, a definição de entalpia dada em (2.28) e a 1 a Lei da Termodinâmica na forma da entalpia na expressão (2.30), encontramos t ( 1 2 ρ v 2 + ρu + ρφ ) + [ ( ) ] 1 v 2 ρ v 2 + ρu + ρφ + P v = ρt ds dt. (2.31) 13
18 Esta expressão nos mostra que, se a entropia for constante para um observador que segue o elemento de volume, o fluxo enérgico do fluido se conserva. Considerando a entropia constante para um observador que segue o elemento de volume, podemos reescrever a expressão (2.31) na seguinte forma E t + ( ve) + ( vp) = 0, (2.32) que nos diz que em um fluido ideal a energia total se conserva e que o agente responsável pelas transferências internas de energia é a pressão no interior do fluido [22]. 2.6 A Propagação de uma Perturbação Linear em Fluidos Ideais Nas seções anteriores obtivemos a equação da continuidade e a equação de Bernoulli. Estas equações descrevem o comportamento de um fluido ideal. Temos assim um sistema constituído de quatro equações diferenciais e cinco variáveis (ρ,p, v) a serem determinadas, desta forma, impossibilitando a resolução do problema. Essa dificuldade é contornada pela análise do comportamento termodinâmico do fluido ideal e, também, impondo-se algumas restrições a suas variáveis dinâmicas. No intuito de preservar a conservação da energia no fluido como um todo, assumimos que sua entropia é constante em todo seu volume. Fluidos com essa característica são chamados de isentrópicos. Desta forma, se considerarmos que a entalpia h e a pressão no interior do fluido P não variem com o tempo (Termodinâmica de equilíbrio), a 1 a Lei da Termodinâmica na representação da entalpia, dada por (2.29), assume a seguinte forma: h = P ρ. (2.33) Para que o campo de velocidades seja um campo conservativo e que possa ser obtido exclusivamente por meio de um potencial escalar, é necessário que consideremos o escoamento do fluido ideal como irrotacional. Isto pode ser feito considerando-se que a vorticidade no fluido é nula, isto é: ω = 0. (2.34) 14
19 Segundo a Análise Vetorial, todo campo vetorial que possui rotacional nulo pode ser definido como o gradiente de um campo escalar. Como em um fluido irrotacional o v = 0 [cf. Eq. (2.20)], podemos definir o campo de velocidades por meio da seguinte expressão: v = Φ, (2.35) onde Φ é o potencial de velocidade de escoamento do fluido. Com essas considerações, podemos escrever um conjunto completo com três equações diferenciais e três variáveis a serem determinadas, a saber: ρ t + (ρ v) = 0, (2.36) Φ t + h Φ 2 + φ = 0, (2.37) ρ = ρ(p). (2.38) A dinâmica geral do escoamento de um fluido ideal barotrópico e irrotacional é determinada a partir da solução desse conjunto de três equações diferenciais. Neste trabalho estudaremos especificamente o escoamento de um fluido ideal perturbado pela propagação de uma onda sonora. A seguir, linearizemos esse conjunto de três equações a fim de escrever uma equação diferencial para a propagação de uma perturbação linear no fluido ideal. Neste caso, descrevemos matematicamente a propagação de uma perturbação linear nas variáveis dinâmicas do fluido da seguinte maneira: v = v 0 ǫ Φ 1, (2.39) P = P 0 + ǫp 1, (2.40) ρ = ρ 0 + ǫρ 1, (2.41) onde as variáveis { v 0,P 0,ρ 0 } descrevem o fluido no seu estado de equilíbrio e são soluções exatas das equações (2.36), (2.37), (2.38), respectivamente. As variáveis { Φ 1,P 1,ρ 1 } cor- 15
20 respondem à perturbação no fluido devido à propagação da onda sonora e ǫ é o parâmetro perturbativo. Note que, com essas considerações particulares, só podemos descrever a dinâmica de escoamento de um fluido perturbado linearmente por ondas sonoras, isto é, ondas cuja principal característica é perturbar linearmente as grandezas do fluido em equilíbrio como a densidade, a pressão e a velocidade de escoamento. A descrição da dinâmica de escoamento de um fluido ideal cujas grandezas não variem de forma linear foge ao escopo desse trabalho. Substituindo (2.39), (2.40), (2.41) nas equações (2.36), (2.37), encontramos, respectivamente, a equação linearizada da continuidade e a equação linearizada de Bernoulli, a saber: ρ 1 t (ρ 0 Φ 1 ) + (ρ 1 v 0 ), (2.42) ( ) Φ1 P 1 = ρ 0 t + v 0 Φ 1. (2.43) Linearizando a equação de estado (2.38) obtemos: ( ) dρ ρ = ρ(p 0 ) + (P P 0 ). (2.44) dp P=P 0 Considerando que ρ(p 0 ) = ρ 0 e que P P 0 = ǫp 1, então temos que: ρ 1 = 1 c 2P 1, (2.45) onde c é uma constante, definida por c = cujo significado físico será determinado posteriormente. ( )1 dp 2, (2.46) dρ ρ=ρ 0 Ao substituir a expressão dada em (2.43) na equação (2.45) encontramos a seguinte relação: ρ 1 = 1 c 2ρ 0 ( ) Φ1 t + v 0 Φ 1. (2.47) Obtemos a equação da propagação do som substituindo (2.47) na equação da continuidade linearizada dada em (2.42): [ ( )] [ 1 Φ1 t c 2ρ 0 t + v 0 Φ 1 + ρ 0 Φ 1 1 ( ) ] Φ1 c 2ρ 0 t + v 0 Φ 1 v 0 = 0. (2.48) 16
21 Essa equação diferencial, com condições de contorno apropriadas para o tipo de problema estudado, nos fornece como solução o potencial de velocidades associado à propagação de uma perturbação linear em um fluido ideal barotrópico e irrotacional. Note que, se considerarmos ρ 0 = constante e v 0 = 0 na equação (2.48), ou seja, um fluido incompressível e em repouso, encontramos a seguinte equação diferencial: 1 c 2 2 Φ 1 t 2 2 Φ 1 = 0. (2.49) Esta é a bem conhecida equação da onda em fluidos em repouso [20]. A partir dessa equação, podemos concluir que a constante c dada na Eq. (2.46) nada mais é do que a velocidade com que a perturbação linear se propaga no fluido ideal, que no nosso caso é a velocidade de propagação do som. 17
22 Capítulo 3 A Métrica Acústica Geral e o Buraco Acústico Canônico 3.1 A Métrica Acústica Geral Com o auxílio do formalismo matemático usado na Teoria da Relatividade Geral podemos escrever de forma compacta a equação de propagação da onda dada em (2.48). Isto pode ser feito se pensarmos no campo escalar Φ 1 como sendo um campo clássico definido em um espaço euclidiano quadridimensional coberto pelas coordenadas (t, x, y, z). A equação (2.48) pode ser vista como o resultado da aplicação de um operador diferencial em um quadrivetor ( V = V t, V ), a saber: V t t + V = 0. (3.1) Comparando (3.1) com a equação da onda dada em (2.48), encontramos as seguintes componentes para o quadrivetor V: V = ρ 0 c 2 ( Φ 1 t v 0 Φ 1, c 2 Φ 1 Φ 1 t v 0 ( v 0 Φ 1 ) v 0 ). (3.2) No intuito de facilitar a notação, representemos a velocidade de escoamento e a densidade do fluido, respectivamente, por v e ρ, e o potencial de velocidade que descreve a propagação do som por Φ. Assim, a equação (3.1) pode ser reescrita, com o auxílio da notação indicial para objetos matemáticos definidos em um espaço quadridimensional, como sendo µ (f µν ν Φ) = 0, (3.3) 18
23 onde f µν é um tensor de ordem 2, que pode ser representado por uma matriz 4x4, a saber: 1 v x v y v z f µν = ρ v x c 2 v 2 x v x v y v x v z c 2 v y v y v x c 2 vy 2. (3.4) v y v z v z v z v x v z v y c 2 vz 2 Notamos que é possível colocar a equação (3.3) na forma da equação d Alembertiana do movimento de um campo escalar sem massa e minimamente acoplado a uma geometria Lorentziana em (3+1) dimensões. Para isso, definimos a seguinte densidade tensorial de peso 1 [23]: onde g é o determinante da inversa de g µν, cujo valor é g µν = 1 g f µν, (3.5) g = ρ4 c 2. (3.6) Sendo assim, g µν tem a seguinte forma 1 v x v y v z g µν = 1 v x c 2 vx 2 v x v y v x v z ρc v y v y v x c 2 vy 2 v y v z v z v z v x v z v y c 2 vz 2, (3.7) sua inversa g µν é e a equação (3.3) torna-se (c 2 v 2 ) v x v y v z g µν = ρ v x c v y v z (3.8) 1 g µ ( gg µν ν Φ ) = 0. (3.9) Esta equação de campo representa a dinâmica de um campo escalar de Klein-Gordon não massivo que se propaga em um espaço-tempo dotado de uma métrica g µν. Desta forma, podemos dizer que a propagação de uma perturbação linear em um fluido ideal barotrópico e irrotacional pode ser descrito fisicamente como sendo a propagação de uma perturbação 19
24 linear associada com um campo escalar de Klein-Gordon em uma geometria efetiva. É neste contexto que se dá a analogia entre os espaços-tempos acústicos e os espaços-tempos da Relatividade Geral. O elemento de linha associado ao tensor métrico (3.8) é dado pela seguinte relação: ds 2 = ρ [ ( c 2 v 2) dt 2 2 v d xdt + d x 2]. (3.10) c A perturbação linear (som) neste espaço-tempo efetivo, no limite de altas frequências, segue uma geodésica tipo-luz (ou tipo-som) assim como a luz em um espaço-tempo curvo da Relatividade Geral. Este é um ponto chave da analogia dos espaços-tempos acústicos: o único ente físico capaz de enxergar a geometria curva em um fluido ideal é uma perturbação linear, que no caso é o som. Isto porque, como foi mostrado originalmente da referência [4], não existe distinção alguma em representar a propagação de uma perturbação linear por meio de uma equação de onda para fluídos ideais não relativísticos, barotrópicos e irrotacionais, Eq. (2.48), ou por uma equação de Klein-Gordon sem massa em uma geometria curva, Eq. (3.9), que é uma equação de onda relativística. 3.2 A Métrica do Buraco Acústico Canônico O elemento de linha dado em (3.10) caracteriza a geometria do espaço-tempo que as ondas sonoras experimentam ao se propagarem em um fluido ideal barotrópico e irrotacional com densidade ρ e velocidade de escoamento v. Assim, um espaço-tempo acústico é completamente determinado pela densidade e pelo campo de velocidades do fluido. Como um exemplo de espaço-tempo acústico esfericamente simétrico e estático podemos citar o buraco acústico canônico (BAC), que é gerado assumindo-se que o fluxo do fluido seja puramente radial e esfericamente simétrico. Considerando estas características e substituindo-as na equação da continuidade, encontramos 1 ( ) r 2 ρv r 2 r = 0, (3.11) r onde v r é a componente radial da velocidade de escoamento e ρ é a densidade do fluido. Lembremos que por o fluido ser barotrópico, a densidade é apenas função da pressão e por este motivo a densidade do fluido não depende das coordenadas espaciais e nem do tempo. 20
25 Desta forma, o campo de velocidades do fluido nesse regime de escoamento é v = k ˆr, (3.12) r2 onde k é uma constante. Assim, em determinado ponto r = r h o regime de escoamento do fluido torna-se supersônico e podemos reescrever (3.12) como sendo v = c r2 h ˆr. (3.13) r2 Sendo assim, o elemento de linha dado em (3.10), escrito em coordenadas polares esféricas, assume a seguinte forma: ds 2 = ρ ( ) [ c 2 1 r4 h dt 2 + 2c r2 h + dr 2 + r ( 2 dθ 2 + sin 2 θdϕ 2) ]. (3.14) c r 4 r 2drdt Reescrevendo esta expressão em termos de uma nova coordenada temporal, dada por dt = dt r2 h ( /r2 )dr, (3.15) c 1 r4 h r 4 considerando c = 1, encontramos o seguinte elemento de linha: ( ) ds 2 = ρ 1 r4 h dt 2 dr + ( 2 ) + r ( 2 dθ 2 + sin 2 θdϕ 2). (3.16) r 4 1 r4 h r 4 Podemos simplificar um pouco mais o elemento de linha (3.16), desprezando a influência do fator conforme ρ. Podemos fazer isso sem perda de generalidade, pois o elemento de linha geral dos espaços-tempos acústicos, dado por (3.10), descreve apenas intervalos nulos (associados com a propagação do som) e sabemos que todo espaço-tempo é conformalmente invariante para intervalos nulos do elemento de linha [24]. Desta forma, encontramos o seguinte elemento de linha ( ) ds 2 = 1 r4 h dt 2 + r 4 ( dr 2 ) + r ( 2 dθ 2 + sin 2 θdϕ 2). (3.17) 1 r4 h r 4 Este espaço-tempo acústico é conhecido na literatura de modelos análogos como buraco acústico canônico [5]. Este espaço-tempo (assim como o espaço-tempo de Schwarzschild) é estático, esfericamente simétrico, possui uma singularidade essencial na origem (r = 0) e uma hiperfície nula 21
26 (horizonte de eventos) em r = r h, que se trata de uma fronteira de aprisionamento das ondas sonoras. Pode-se notar a partir da Eq.(3.13) que em r = r h o fluxo do fluido passa a ser supersônico e como todas suas linhas de campo convergem para a origem (r = 0) as ondas sonoras não conseguem escapar mediante nenhum processo clássico do interior do buraco acústico (r r h ). 3.3 Geodésicas Nulas no Buraco Acústico Canônico Dentro da aproximação da acústica geométrica, na qual é necessário que a amplitude e a direção de propagação da onda sonora variem pouco ao longo de tempos e distâncias da ordem do período e do comprimento da onda, respectivamente, podemos tratar a propagação das ondas sonoras como sendo a propagação de raios de som no espaço-tempo do BAC. Esta aproximação é válida apenas no limite de altas frequências de oscilação da onda sonora. Desta forma, tratamos os raios de som como sendo geodésicas tipo-luz (ou tipo-som) se propagando no espaço-tempo acústico [20]. Uma família de geodésicas nulas é obtida considerando-se que o elemento de linha em (3.16) seja igual a zero, isto é: ds 2 = 0. (3.18) Podemos simplificar bastante nossa abordagem considerando apenas as geodésicas nulas restritas ao plano equatorial θ = π 2. (3.19) Isto pode ser feito sem perda de generalidade, pois o elemento de linha do espaço-tempo do BAC é esfericamente simétrico. Definimos a lagrangiana para a propagação dos raios de som como sendo K = 1 2 g abx a x b = 0 K = 1 2 ( ) 1 r4 h ṫ ( ) 1 1 r4 h ṙ 2 + r 2 ϕ 2 = 0, (3.20) r 4 2 r 4 onde o ponto sobre às coordenadas corresponde à derivada em relação ao parâmetro afim. 22
27 Assim como o espaço-tempo de Schwazrchild, o espaço-tempo do BAC admite campos de Killing tipo tempo δ µ 0 e campos de Killing tipo espaço δ µ 3, cujas projeções sobre geodésicas são constantes de movimento [24], a saber, e E = g µν δ µ 0 x ν ( ) E = 1 r4 h ṫ (3.21) r 4 λ = g µν δ µ 3 x ν λ = r 2 ϕ, (3.22) onde E e λ são definidos, respectivamente, como energia total e momento angular associados com os raios de som. Substituindo (3.21) e (3.22) na equação (3.20), encontramos a seguinte equação diferencial: 1 2ṙ2 + λ2 2r 2 ( ) 1 r4 h = E2 r 4 2. (3.23) Esta equação descreve a propagação dos raios de som no espaço-tempo do BAC. O movimento dos raios de som pode ser interpretado como sendo o mesmo de uma partícula clássica com massa unitária, energia total por unidade de massa E2 2 e momento angular por unidade de massa λ, submetida ao seguinte potencial efetivo: ( ) V (r) = λ2 1 r4 h. (3.24) 2r 2 r 4 Encontremos agora os extremos do potencial efetivo (3.24) a fim de estudar as órbitas críticas das geodésicas nulas no espaço-tempo do BAC. Derivemos o potencial efetivo V (r) em relação a r e igualemos a zero: 23
28 dv dr = 0, λ2 r + r 4 3 3λ2 h r 7 = 0 r = rh. (3.25) Substituindo o valor r = 3 1 4r h na segunda derivada em relação a r do potencial efetivo (3.24) mostramos que lim d2 V < 0. (3.26) r r h dr2 Assim, determinamos o único ponto extremo do potencial efetivo V (r) como sendo o ponto de máximo r = 34r 1 h. No decorrer deste trabalho, vamos nos referir a esse ponto como raio crítico e o denotamos por r c. A seguir, com o intuito de estudar os tipos de órbitas seguidas pelos raios de som no BAC, definimos uma grandeza chamada de parâmetro de impacto, a saber: b = λ E. (3.27) Dependendo do valor do parâmetro de impacto, as geodésicas associadas com a propagação dos raios de som podem seguir os seguintes tipos de movimentos: (i) um movimento que culmina numa absorção completa do som pelo BAC, (ii) um movimento no qual as geodésicas sejam espalhadas pelo BAC e (iii) um movimento tal que as geodésicas terminem por formar uma esfera de som de raio r c mantida em um equilíbrio instável - esse tipo de movimento é decorrente do fato do potencial efetivo V (r) admitir um ponto de máximo em r c. Para o terceiro tipo de movimento, o valor do parâmetro de impacto é obtido considerando-se que a órbita dos raios de som seja circular com raio igual ao raio crítico r c, ou seja, substituindo-se na Eq. (3.23) que ṙ = 0 e que r = r c, encontramos b = r h. (3.28) 24
29 No decorrer deste trabalho, vamos nos referir a esse valor por b c, sendo o mesmo chamado de parâmetro de impacto crítico. O potencial efetivo V (r) (ver Eq. (3.24)) é plotado na Fig Potencial Efetivo do BAC V(r)r h 2 /λ r/r h Figura 3.1: Potencial efetivo do BAC como função de r. Nesta Figura vemos que existe apenas um ponto de máximo da função e cujo valor é igual a r = r c. Já para valores iguais a r o potencial tende a se anular. Em seguida, construiremos o diagrama de espaço-tempo em 2D para (t, r) das geodésicas radiais nulas. Isto é obtido ao considerarmos na Eq. (3.23) que o momento angular λ seja nulo. Assim, ṙ = E. (3.29) Dividindo a Eq. (3.21) pela Eq. (3.29), temos cuja solução é [ t = ± r 1 ( ) r 2 r h arctan r h dt dr = ± r4, (3.30) r 4 rh ] 4 r h ln r r h r + r h + constante. (3.31) Os sinais positivo e negativo na expressão (3.31) referem-se, respectivamente, às geodésicas radiais nulas emergentes ao BAC e às geodésicas radiais nulas entrantes ao BAC. A partir 25
30 das congruências destas geodésicas plotamos, na Fig. 3.2, o diagrama de espaço-tempo do BAC. 2.5 Geodésicas Radiais Nulas do BAC t/r h r/r h Figura 3.2: Diagrama de espaço-tempo do BAC em 2D para (t,r). Na Fig. 3.2 as linhas contínuas correspondem às geodésicas radiais nulas emergentes ao BAC e as linhas tracejadas correspondem às geodésicas radiais nulas entrantes ao BAC. 3.4 Órbitas Nulas no Espaço-Tempo do Buraco Acústico Canônico Podemos obter a equação orbital para os raios de som no BAC a partir da Eq. (3.23). Dividindo essa equação por ϕ 2, encontramos 1 ṙ 2 2 ϕ + 2 λ2 2r 2 ϕ 2 ( ) 1 r4 h = E2 r 4 2 ϕ 2. (3.32) Substituindo a relação ṙ = dr e a relação dada em (3.22), encontramos a seguinte expressão: ϕ dϕ ( ) 2 ( ) dr + r 2 1 r4 h = E2 dϕ r 4 λ 2 r4. (3.33) Agora, substituindo a coordenada radial por uma coordenada u = 1, apropriada para a r descrição de órbitas e usando a definição de parâmetro de impacto b = λ/e, encontramos a 26
31 seguinte equação: ( ) 2 du = 1 dϕ b 2 u2 + 1 u 6, (3.34) u 4 h onde u h = 1/r h. Esta expressão é conhecida como equação orbital para as geodésicas nulas. Determinemos agora as raízes da Eq. (3.34). Substituindo du dϕ = 0 e b = b c (esta situação corresponde às órbitas cujo movimento é circular de raio r c ) na Eq. (3.34), obtemos a seguinte equação: cujas as seis raizes são: 2u 6 h 3 3 u4 hu 2 + u 6 = 0, (3.35) u 1 = ±3 1 4 uh, u 2 = ±3 1 4 uh, u 3 = ±i uh. (3.36) Assim, podemos escrever a Eq. (3.34) como sendo ( ) 2 du = 1 ) 2 ) 2 ( ) ( ) (u 3 1 dϕ u 4 4 uh (u uh u i uh u + i uh. (3.37) h Esta equação vai ser de extrema importância para a definição das funções de onda dos modos QNs e dos PRs. A partir da equação (3.37), plotamos na Fig. 3.3 os três diferentes tipos de geodésicas nulas no espaço-tempo do BAC 27
32 Geodésicas Nulas no BAC 2 y 0 2 b < b c b = b c b > b c r = r h x Figura 3.3: Geodésicas nulas no plano equatorial do BAC. Na Fig. 3.3, plotamos três órbitas que são solução da Eq.(3.37). A linha contínua representa uma geodésica com valor de parâmetro de impacto menor que b c e que corresponde às geodésicas absorvidas pelo BAC. A linha tracejada representa uma geodésica com valor de parâmetro de impacto b c. O conjunto dessas geodésicas formam uma esfera de som com raio r c (obviamente em três dimensões espaciais). A linha pontilhada refere-se a uma geodésica com valor de parâmetro de impacto maior que b c. Essas geodésicas acabam por ser espalhadas pelo BAC. 28
33 3.5 Frequência Orbital e o Expoente de Lyapunov para as Órbitas Nulas A partir das Eqs. (3.21) e (3.22), calculamos a frequência orbital Ω associada ao movimento circular (cujo raio é r = r c ) executado pelas geodésicas nulas, a saber [25]: ( ) φ Ω = b c (1 r4 h /r4 c) = 1/b ṫ r 2 c. (3.38) c r=r c O expoente de Lyapunov Λ é definido da seguinte maneira: Λ ( ) b2 c d 2 1/2 f = 2/b 2 dr 2 r 2 c. (3.39) r=r c O expoente de Lyapunov está geralmente associado com a dinâmica caótica do movimento de geodésicas e quantifica a instabilidade devida a não linearidade das equações que descrevem o movimento orbital [26]. A determinação dessas grandezas associadas com o movimento crítico das geodésicas nulas é importante, pois as mesmas estão intimamente relacionadas com o espectro dos modos QNs e dos PRs. 29
34 Capítulo 4 Os Modos Quasinormais do Buraco Acústico Canônico Neste capítulo, encontraremos o espectro para os modos quasinormais (QNs) e suas respectivas funções de onda a partir do método de expansão assintótica [17] 4.1 Perturbações Lineares no Buraco Acústico Canônico Vimos no capítulo anterior que o espaço-tempo do BAC é descrito pelo seguinte elemento de linha ds 2 = fdt 2 + f 1 dr 2 + r ( 2 dθ 2 + sin 2 θdϕ 2), (4.1) onde f(r) = 1 r 4 h/r 4, (4.2) sendo que r h é o raio do horizonte de eventos, onde a velocidade radial do fluido torna-se igual à velocidade de propagação do som c. Lembremos que consideramos o valor da velocidade do som como sendo unitário (c = 1). A propagação de uma perturbação linear nos espaço-tempos acústicos é governada pela 30
35 equação de Klein-Gordon ν ν Φ = 1 g µ ( gg µν ν Φ ) = 0, (4.3) onde Φ representa o acréscimo na velocidade devido às perturbações lineares no fluido, a saber, v = v 0 ǫ Φ. O determinante g para o espaço-tempo do BAC é g = r 4 sin 2 θ. (4.4) Podemos reescrever a equação que descreve a propagação das perturbações lineares no espaço-tempo do BAC substituindo a métrica associada com o elemento de linha dado em (4.1) na equação de Klein-Gordon (4.3): r 2 sin θf 1 2 Φ t + sinθ ( r 2 f Φ ) + ( sin θ Φ ) Φ = 0. (4.5) 2 r r θ θ sin θ ϕ2 Definimos, a seguir, a separação de variáveis para a função Φ como sendo Φ = lm Φ lm, (4.6) onde Φ lm = r 1 ψ l (t,r) Y lm (θ,ϕ), (4.7) e Y lm (θ,ϕ) são os harmônicos esféricos. Escrevemos ψ l (t,r) em termos da seguinte decomposição via transformada de Laplace: ψ l (t,r) = 1 2π κ+i κ i e iωt u ωl (r)dω, (4.8) onde u ωl são os modos associados com as perturbações lineares no espaço-tempo do BAC. No intuito de facilitar a notação definimos, também, a seguinte função ψ ωl (t,r) = u ωl (r) e iωt. (4.9) Substituindo a separação de variáveis (4.7) e a transformada de Laplace (4.8) na equação diferencial parcial (4.5), obtemos a seguinte equação diferencial ordinária para a parte radial [ f d ( f d ) ( ( )] + ω 2 4rh 4 L 2 f dr dr r + 4) 1 u 6 r 2 ωl (r) = 0, (4.10) 31
36 onde L l (4.11) Definimos a coordenada de tartaruga de Regge-Wheeler r, como sendo Desta forma que dr dr = f 1. r = r + r h 4 ln r r h r + r h r ( ) h r 2 arctan r h + r h π 4. (4.12) Reescrevemos a Eq. (4.10) em termos da coordenada de tartaruga de Regge-Wheeler definida em (4.12). Assim, obtemos uma equação de onda tipo Schrödinger associada a um potencial de espalhamento V esp (r), a saber: [ ] d 2 dr + 2 ω2 V esp (r) u ωl (r) = 0, (4.13) onde V esp (r) = f ( 4r 4 h r 6 + ( ) L 2 4) 1 r 2. (4.14) A equação diferencial (4.13) é conhecida como equação de Regge-Wheeler e o potencial de espalhamento (4.14) é conhecido como potencial de Regge-Wheeler. A seguir plotamos nas Fig. 4.1 e Fig. 4.2 o potencial V esp em termos de r e de r para diferentes valores de l, respectivamente. 32
37 10 8 Potencial de Espalhamento do BAC como função de r l = 1 l = 2 l = 3 l = 4 6 V(r)r h r/r h Figura 4.1: Potencial de espalhamento do BAC como função de r Potencial de Espalhamento do BAC como função de r * l = 1 l = 2 l = 3 l = 4 V(r * )r h r * /r h Figura 4.2: Potencial espalhamento do BAC como função de r. 33
38 4.2 O Método de Expansão Assintótica dos Modos Quasinormais do Buraco Acústico Canônico Os Modos Quasinormais Comecemos o estudo dos modos QNs ressaltando a diferença deste tipo de modo com os modos normais de oscilação. A diferença básica entre os modos normais e os modos QNs está nas condições de contorno obedecidas por cada um deles (os dois modos são soluções da mesma equação diferencial, a Eq. (4.13)). No caso dos modos normais, as condições de contorno são aplicadas de tal maneira que a solução da equação de onda é representada como uma superposição de modos estacionários oscilando com um espectro de frequências reais. Assim, a amplitude dos modos normais não sofre qualquer tipo de amortecimento. Por essa razão é que os modos normais são definidos para um intervalo infinito de tempos [15]. Definimos os modos QNs como sendo os modos de oscilações naturais do espaço-tempo que se propagam como uma perturbação linear. Os modos QNs representam as oscilações de um sistema aberto (espaço-tempo), ou seja, um sistema que perde energia na forma de radiação emitida para o infinito. Desta forma, é impossível representar as oscilações QNs em termos de uma superposição de modos estacionários. Assim, diferentemente dos modos normais, as oscilações associadas com os modos QNs são amortecidas e por essa razão são definidas apenas para certo intervalo finito de tempo. Veremos, mais adiante, que a duração das oscilações QNs é fortemente influenciada pelo número de overtone n. Na referência [30] encontra-se a cronologia dos principais acontecimentos históricos que levaram ao desenvolvimento do estudo dos modos quasinormais. A partir da equação de onda (4.13), podemos analisar o comportamento assintótico (nos limites em que r e em que r ) da função de onda radial u ωl, e assim, estabelecer as condições de contorno associados com os modos QNs. Próximo ao horizonte de eventos do BAC (r ), como estamos tratando com um problema clássico, os modos devem ser puramente entrantes, isto é: u ωl exp( iωr ). (4.15) No infinito espacial do BAC (r ), a função de onda u ωl, à priori, admite tanto 34
39 modos entrantes como modos emergentes, a saber: u ωl 1 T l (ω) exp( iωr ) + S l(ω) T l (ω) exp(+iωr ). (4.16) Para um conjunto infinito de valores complexos de ω e de l, tanto T l (ω) como S l (ω) são singulares (divergem) e possuem pólos simples, mas, ainda assim, a relação S l (ω)/t l (ω) é regular [27, 28]. O espectro complexo de frequências ω está associado com os modos QNs. Os pólos simples associados com os valores complexos de l são conhecidos como pólos de Regge (ver capítulo 4). Já o coeficiente S l (ω) é conhecido como matriz de espalhamento. O coeficiente T l (ω) está associado com o coeficiente de transmissão da onda. Neste capítulo, tratamos exclusivamente dos modos QNs. Assim, o espectro de frequências ω é complexo, enquanto que os momentos angulares l são reais. No capítulo seguinte, estudamos somente as oscilações associadas com os PRs, para os quais, o espectro de frequências ω é real e os momentos angulares l são complexos. Uma exigência fundamental que caracteriza os modos QNs é que no infinito (r ) os modos sejam puramente emergentes e no horizonte de eventos (r r h ) os modos sejam puramente entrantes. Esta escolha é feita para que não haja quaisquer influências externas ao espaço-tempo. Desta forma, representamos o comportamento assintótico dos modos QNs por meio das seguintes condições de contorno [14, 29]: e iωr, r, u ωln (r) A ln (ω)e iωr, r, onde A ln (ω) = S ln(ω) T ln (ω). Os coeficientes T l (ω), S l (ω) e a função de onda u ωl recebem o índice n, conhecido por número de overtone, como uma característica relacionada aos modos QNs. O significado do número de overtone n será esclarecido no decorrer desta dissertação. 35
40 4.2.2 As Frequências Quasinormais Fundamentais (n = 0) Encontramos os modos QNs do BAC usando a seguinte definição para a função de onda QN: [ r ] u ωln (r) = v ωln (r) exp iω α(r)dr, (4.17) onde α é definido a partir da fatoração da equação da órbita dada em (3.37), a saber: α(r) ( ) ( )1 1 r2 c 1 + r2 2 c. (4.18) r 2 2r 2 Essa definição é um ponto chave para a aplicação do método de expansão assintótica dos modos QNs [14]. Note-se que o integrando na exponencial da Eq. (4.17) torna-se 1+ϑ (r 2 ) para r, e torna-se 1+ϑ (r r h ) para r. Desta maneira, a função de onda QN (4.17) satisfaz as condições de contorno dadas em (4.2.1). Essa é uma exigência fundamental para que uma função de onda (no caso (4.17)) seja solução da Eq. (4.10) e represente a propagação dos modos QNs. Substituindo a definição (4.17) na Eq. (4.10), obtemos uma equação diferencial radial para as funcões v ωln (r), a saber, (fv ωln) + 2iωv ωln + onde denota diferenciação com respeito a r e iα (r) = ib2 c r 3 [ ω 2 b 2 c L 2 + 1/4 + iωα f ] v r 2 ωln = 0, (4.19) r ( ) ( ) 1 1 r2 c 1 + r2 2 c. (4.20) r 2 2r 2 Determinamos as frequências e as funções de onda QNs v ωln fundamentais (n = 0) do BAC usando a seguinte expansão em potências inversas de L = l : ω (0) = q=0 L 1 q ω (0) q, (4.21) v ωl0 (r) = q=0 exp [ ] L q S q (0), (4.22) onde o índice (0) sobrescrito refere-se ao overtone fundamental n = 0. Este método de expansão em série de potências inversas de L = l conjuntamente com a utilização da
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