O que é de Menino? O que é de Menina? Uma discussão a partir de gênero e sexualidade nas escolas públicas no município de Porto Velho
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- Diego Belém de Escobar
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1 Gênero e Sexualidade nas Práticas Escolares ST 07 Telma Fortes Universidade Federal de Rondônia - UNIR Palavras-chave: Gênero - Sexualidade- Currículo Escolar O que é de Menino? O que é de Menina? Uma discussão a partir de gênero e sexualidade nas escolas públicas no município de Porto Velho Os estudos sobre Gênero vêm assumindo um espaço de grande visibilidade na pauta das discussões científicas, dos movimentos sociais, políticos, religiosos e educacionais. Essas discussões se ampliaram nas últimas décadas principalmente com a inserção da mulher nos espaços sociais, como resultado do advento da modernidade, constituindo amplas redefinições do ser homem do ser mulher em uma sociedade, neste sentido as relações construídas entre homens e mulheres são contextualmente específicas e freqüentemente se modificam em resposta às mudanças sociais. Entendemos que a escola tem várias funções em uma sociedade dentre elas destacamos: a formação intelectual e a formação social dos alunos e alunas que por ela passam. Nessa perspectiva concordamos com Moreno (999.p 17) A escola tem por missão aproximar alunos e alunas do pensamento científico, para proporcionar-lhes conhecimentos e desenvolver sua inteligência, e costuma cumprir esta missão com rigidez própria de uma manifestação dogmática. Neste sentido, ao longo de sua história, a escola tem se preocupado muito mais em desenvolver a formação intelectual de seus alunos e alunas do que com a formação social dos mesmos, hoje é urgente que a escola esteja preocupada também com a formação social, uma vez que, numa perspectiva do pós-estruturalismo, que predomina a análise social e cultural, é impossível separar a descrição simbólica, lingüística da realidade (SILVA, 2003). Sob esse aspecto nos questionamos: É possível que a escola esteja preocupada em construir um espaço de equidade de gênero? Que as práticas que ocorrem no dia a dia sejam em prol da construção de gênero? As estratégias de atuação desenvolvidas na escola levam em conta a temática vinculando às discussões sobre sexualidade? Nosso trabalho se propõe a refletir teoricamente sobre a necessidade de se desenvolver, nas escolas práticas pedagógicas referentes ao entendimento e a conceituação das relações de gênero vinculadas à discussão da sexualidade. Nossa reflexão surgiu a partir de oficinas sobre a temática, desenvolvida pelo Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Mulher e Relações de Gênero GEPGÊNERO da Universidade 1
2 Federal de Rondônia Unir - com as escolas públicas no município de Porto Velho, onde percebemos que as discussões no âmbito destas questões ainda são muito ausentes no cotidiano educativo. Dessa forma, para se discutir estas questões no espaço escolar, é necessário ressaltar algumas reflexões teóricas que informam as discussões acerca de Gênero e Sexualidade. Primeiro, iniciaremos nosso entendimento em relação ao termo Gênero, compreendemos que essa terminologia é relativamente recente, foi utilizada pela primeira vez pelo biólogo estadunidense John Money em 1955, onde dava, apenas, conta do aspectos sociais do sexo. Nesse aspecto o termo ficava reservado ao papel estritamente biológico da identidade sexual, o termo Gênero refere-se aos aspectos socialmente construídos do processo de identificação sexual. (LOURO, 1997 apud SILVA, 2003). O termo Gênero ganha maior ênfase, a partir da década de 70, principalmente no que concerne à teorização da questão atribuída à diferença sexual, essas mudanças contaram com a contribuição de várias teóricas e feministas. Como afirma Soihet, (2002 apud PONTUSCHKA; OLIVEIRA, 2002, p 30. As posições de Joan Scott e a polêmica decorrente com as historiadoras Louise Tilly e Eleni Varikas oferecem um panorama inicial da pluralidade de concepções a cerca da questão do gênero (1994). Scott alinha-se entre as pioneiras que acentuaram a necessidade de se ultrapassar os usos descritivos do gênero, buscando a utilização de formulações teóricas, com o que concordam as demais pesquisadoras. Assim, as definições a cerca do conceito de gênero, servem exatamente para que possamos compreender como são usadas as representações, no dia a dia, as imagens de masculino e feminino, e isso depende de cada cultura e pode variar de uma sociedade para outra. Por outro lado, a partir do século XVIII, as discussões sobre Sexualidade, tem sido marcada por uma extrema relação de dominação, refletidas como forma de repressão, onde fora e ainda é usada nas relações de poder, conforme Foucault (1988, p.98.) Ela aparece mais como um ponto de passagem particularmente denso pelas relações de poder; entre homens e mulheres, entre jovens e velhos, entre pais e filhos, entre educadores e educandos, entre padres e leigos, entre administração e população. Nas relações de poder, a sexualidade não é o elemento mais rígidos, mas um dos dotados 2
3 da maior instrumentalidade: utilizável no maior número de manobras, e podendo servir de ponto de apoio, de articulação às mais variadas estratégias. É nesse aspecto que a sexualidade é apresentada a partir da idade moderna como instrumento de manobra e repressão alicerçando as relações de poder, dessa forma o sexo é reduzindo, em muitas vezes, à sua função reprodutiva, à sua forma heterossexual e adulta e à sua legitimidade matrimonial. Com isso foram quatro grandes conjuntos de estratégias, onde desenvolveram dispositivos específicos de saber e poder a cerca do sexo: histerização do corpo da mulher; pedagogização do sexo da criança; socialização das condutas de procriação; psiquiatrização do prazer perverso. (FOUCAULT, 1988). A sociedade dominante utiliza-se de várias instituições para disseminar seu discurso ideológico. Desta forma, gênero e sexualidade são dimensões diferentes que integram a identidade pessoal de cada indivíduo, elas surgem são afetadas e se transformam conforme os valores sociais vigentes em uma dada época. São partes, assim, da cultura, construídas em determinado período histórico, e ajudam a organizar a vida individual e coletiva das pessoas. Nesse sentido, a escola por ter um caráter de instituição normativa aparece socialmente como mais um aparelho ideológico e repressivo do Estado (ALTHUSSER, 1985), na qual contribui de maneira sistemática para o desenvolvimento dos padrões de organização da conduta e das atividades dos indivíduos de uma sociedade. Nesse aspecto, se a escola em sua função social se constitui como um aparelho ideológico e repressivo do estado, de que forma ela colaborará na construção de um espaço de equidade de gênero? Ou pelo menos que, em suas atividades desenvolvidas na âmbito educacional está temática esteja vinculada às discussões sobre sexualidade? Uma vez que, há documentos oficiais como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), formulados pelo MEC para o 3º e 4º ciclos do ensino fundamental, que elucidam claramente este temática: O conceito de gênero diz respeito ao conjunto das representações sociais e culturais construídas a partir da diferença biológica dos sexos. Enquanto o sexo diz respeito ao atributo anatômico, no conceito de gênero toma-se o desenvolvimento das noções de masculino e feminino como construção social (...) Essa diferença historicamente tem privilegiado os homens, na medida em que a sociedade não tem oferecido as mesmas oportunidades de inserção social e exercício de cidadania a homens e mulheres. Mesmo com a grande transformação dos costumes e valores que vêm ocorrendo nas últimas décadas, ainda persistem muitas discriminações, por vezes encobertas, relacionadas ao gênero.(brasil, Parâmetros Currículo Nacionais, 1997, p ). 3
4 No entanto, a partir de nossas experiências nas escolas, percebemos que ainda é muito invisível essa questão para os/as educadores/as, principalmente quando afirmam conhecer gênero, a partir dos sexos (masculino e feminino), e que relações de gênero são traduzidas em relações de ambos os sexos, mas que, cada um desenvolve suas características e sexualidade individualmente. Consideram que, é importante a intervenção por parte do professor/a em momentos tenso diante de discussões que envolvem a temática, mas que deve ser feita com muito cuidado, pois não dominam o conteúdo e não sabem até onde podem ir, afinal de contas tem a família para fazer isso. Dessa forma, a escola por assumir perante a sociedade um, excessivo, papel de transmissora de conhecimento e modeladora de comportamentos, não contempla em suas atividades pedagógicas situações que proporcionem reflexões a cerca de gênero vinculadas à sexualidade dos indivíduos. Quando requerida a discutir tais questões em seu cotidiano educativo, dificilmente, conseguem educar sem reprimir e castigar seus alunos e alunas, deixando esta tarefa para a família, torna-se cada vez mais urgente a desconstrução de modelos tradicionais de educação e se reconstrua padrões educacionais pautado em uma perspectiva pós-crítica do currículo. Numa visão crítica do currículo, entende-se que o currículo tem um papel decisivo na reprodução da estrutura de classe da sociedade capitalista (...) O currículo é, em suma um território político, onde envolve relações de poder, onde contribui para a formação da consciência do dominante e do dominado. (SILVA, 2003, p. 148) Por outro lado, em um currículo pós-crítico, a escola torna-se um lugar de diversidade das formas, onde perpassa a necessidade pelo respeito, a tolerância e a convivência pacífica entre as diferenças. Porém, Um currículo inspirado nessa concepção não se limitaria, pois a ensinar a tolerância e o respeito, por mais desejável que isso possa parecer, mas insistiria, em vez disso, numa análise dos processos pelos quais as diferenças são produzidas através de relações de assimetria e desigualdade. (SILVA, 2003, p. 88). Assim, um currículo pós-crítico não se limita apenas em ensinar o respeito e a tolerância, ele deverá superar o currículo crítico no aspecto em que o poder torna-se descentralizado, espalhado por todas as redes sociais, e desconfia de qualquer postulação que 4
5 tenha como pressuposto uma situação finalmente livre de poder, este transforma-se, mas não desaparece. Nessa perspectiva, as teorias pós-críticas do currículo não se limitam à análise do poder ao campo das relações econômicas do capitalismo, o poder é ampliado para incluir os processos de dominação centrado na raça, na etnia, no gênero e na sexualidade. (SILVA, 2003 ; MORENO, 1999). Diante disso, significa refletir que a escola tem contribuído com a sociedade na construção de modelos de comportamento social que correspondem a suas representações dominantes de masculino e feminino. Dizer que existem representações do que seja masculino e feminino significa dizer que as pessoas definem, para cada uma dessas categorias, suas características, seus padrões de conduta, o espaço que lhes corresponde na sociedade. Em outras palavras os indivíduos orientados por padrões culturais, ao se relacionarem com os outros utilizam imagens do que é masculino e do que é feminino. Consideramos que, a partir de nossas atividades desenvolvidas nas escolas percebemos que, as escolas ainda estão longe de uma compreensão mais aproximada do que seja um currículo pós-crítico, e as possibilidades de práticas e ações anti-sexistas, onde leve em consideração a diversidade existente nela, ainda é algo que caminha a passos lentos. Para muitos educadores e educadoras a escola ainda é vista como um espaço homogêneo e que os espaços definidos para meninos e meninas, se caracterizam no uso do banheiro, para uma maior elucidação deste tema na escola, cabe ao educador ou educadora suscitar questões significativas e conflituosas para a definição destas questões para os alunos e alunas. Conforme PCN (1997, p 145) os momentos e as situações em que se faz necessária essa intervenção são os que implicam discriminação de um aluno em um grupo, com apelidos jocosos e às vezes questionamentos sobre sua sexualidade As intervenções por parte dos professor ou professora nesses momentos em que o grupo vivencia, possibilita a construção de uma sociedade equitativamente e igualmente cidadã, onde os papéis sociais atribuídos à homens e mulheres não sejam resultados de esteriótipos sexistas. Referências ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos do estado. Rio de Janeiro, Ed. Graal, BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Fundamental, CHILAND, Colette. O sexo conduz o mundo. Rio de Janeiro: Companhia de Freud,
6 FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: A vontade de saber. Rio de Janeiro: Ed. Graal, MORENO, Monserrat. Como se ensina a ser menina: o sexismo na escola. São Paulo: Moderna: Campinas, SP: Editora da Universidade Estadual de Campinas, PONTUSCHKA, Nídia N; OLIVEIRA, Ariovaldo U. Geografia em perspectiva: ensino e pesquisa. São Paulo: Contexto, SAFFIOT, Heleieth. O poder do Macho. São Paulo: Moderna, SEIXAS, Ana Maria Ramos. Sexualidade Feminina: História, cultura, família, personagem & psicodrama. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 2. Ed. Belo Horizonte: Autêntica,
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