EDUCAÇÃO FÍSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL EM GOIÂNIA: UM OLHAR ANTROPOLÓGICO SOBRE A PEDAGOGIA DO CORPO
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- Maria de Belem Bicalho Henriques
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1 EDUCAÇÃO FÍSICA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL EM GOIÂNIA: UM OLHAR ANTROPOLÓGICO SOBRE A PEDAGOGIA DO CORPO Lady Tatiane da Silva Miranda 1 Resumo 2 O objetivo deste projeto de pesquisa é investigar as relações entre as práticas pedagógicas desenvolvidas por professores/as de Educação Física e a construção da corporalidade entre crianças dos primeiros anos do ensino fundamental, levando-se em conta especialmente o diálogo com convenções culturais de gênero e de sexualidade. A metodologia é qualitativa, envolvendo a observação etnográfica em uma escola pública na cidade de Goiânia. Tal experiência permitirá o questionamento da Educação Física como construtora e transformadora das relações sociais, com foco nas hierarquias de gênero e sexualidade. Palavras-chave: educação física, corpo, gênero, sexualidade. Introdução A pesquisa pretende compreender como se dá a construção da corporalidade durante os primeiros anos de escolaridade, levando-se em conta especialmente o diálogo com convenções culturais de gênero e de sexualidade, procurando entender como as práticas pedagógicas da Educação Física estão inseridas nesse processo. No contexto escolar, as identidades são constantemente construídas, por meio da reiteração de normas, de convenções gestuais, comportamentais e linguísticas. Nesse universo é evocado um modelo de corpo historicamente e socialmente criado. Segundo Guimarães, 1 2 Graduanda do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás. Trabalho desenvolvido sob orientação do professor Camilo Albuquerque de Braz (Faculdade de Ciências Sociais/UFG). 1
2 As aulas de Educação Física estão quase inteiramente voltadas às práticas esportivas, dando importância somente às técnicas. Sendo a criança um ser sociocultural, vemos que essas aulas voltadas exclusivamente às técnicas esportivas fragmentam a formação integral da criança, deixando de lado fatores como respeito mútuo, cooperação e afetividade, que são a base para a criança viver em sociedade. (GUIMARÃES, 2001, p. 17) De acordo com Guacira Lopes Louro, há muitas formas de fazer-se mulher ou homem através de práticas e relações que instituem gestos, modos de ser e de estar no mundo, formas de falar e de agir, condutas e posturas apropriadas (e usualmente, diversas). Os gêneros se produzem, portanto, nas e pelas relações de poder. (LOURO, 1997, p. 41). Por outro lado, segundo Ronaldo Pamplona da Costa, é impossível, do ponto de vista social, que alguém cresça sem pertencer ao gênero masculino ou feminino (COSTA, 1994, p.17). Nesse sentido, é importante questionar os significados contextuais da feminilidade e da masculinidade. Se a sexualidade está inserida no contexto escolar como tema transversal seguindo os parâmetros curriculares nacionais é preciso levar em consideração, como afirma Helena Altmann, que ela está inserida entre as disciplinas do corpo e participa da regulação das populações. A sexualidade é um negócio de Estado, tema de interesse público (ALTMANN, 1999, p.576). A dinâmica escolar, a Educação Física e os marcadores sociais de diferença A discussão sobre a Educação Física como disciplina escolar requer primeiramente conhecê-la a partir do projeto de ensino pedagógico das instituições de ensino no Brasil 3. Ela se pretende enquanto atividade que desperta, desenvolve e aprimora as forças físicas, morais, civis e sociais do educando, sendo também expressão da própria lei. Contudo, para se compreender a dinâmica escolar é preciso 3 A Educação Física tornou-se obrigatória nos currículos de 1º e 2º grau após o artigo 7º, da lei 5.692, de 11 de agosto de
3 discuti-la também em seu aspecto de transmissão de conteúdos simbólicos, de suas práticas, linguagens, etc. A instituição escolar precisa ser reconhecida como instrumento das relações discursivas dos saberes sobre marcadores sociais de diferença, como o gênero, a sexualidade, a classe social, a raça, princípios religiosos e demais categorias políticas. Nesse sentido, é possível pensar que o discurso sobre gênero e sexualidade nas instituições escolares fundamenta-se nos saberes de ordem médico-jurídicos, muitas vezes limitando-se a temas biologizantes, como as doenças sexualmente transmissíveis, modificações biológicas e psicológicas no período da adolescência, além de discussões sobre relações afetivo-sexuais, como as diferenças entre namorar e ficar, entre sexo e amor (LOURO, 2003). São de extrema importância tais questionamentos, mas a forma de abordagem desses temas são por vezes superficiais. Deixa-se de aprofundar questões como a existência de uma sociedade paternalista e masculinizada, além das conquistas sociais e políticas como, por exemplo, a visibilidade de novas subjetividades como os transexuais e transgêneros, as conquistas e reivindicações dos movimentos feministas e LGBT, as lutas pela legalização do aborto, além do lugar ocupado pelas teorias feministas no universo acadêmico contemporâneo. Assim sendo, para Guacira Lopes Louro (1997), mesmo que os principais agentes da escola sejam mulheres, elas se ocupam de um universo marcado pelos traços e concepções masculinas. Não só porque as disciplinas escolares se construíram a partir da ótica dos homens, mas também porque a transmissão dos conhecimentos, a linguagem e a forma de apresentação dos saberes são, em certo sentido, masculinos. Então questionamos: até que ponto as práticas corporais presentes nas aulas de Educação Física remetem a estereótipos de gênero e sexualidade? O espaço escolar está ou não aberto para discussões relacionadas ao gênero e à sexualidade, possibilitando inúmeras experiências corporais, para além das denominações hegemônicas de ser homem ou ser mulher, permitindo a reflexão sobre estereótipos pré-fabricados? 3
4 Corpo, gênero e sexualidade na escola É importante pensar como a Educação Física vem assumindo diversas formas ao longo do tempo, sendo estruturada como atividade necessária ao ser humano. Trata-se de uma prática anteriormente realizada com fins militares que passou a ser difundida nas chamadas sociedades modernas, crescentemente urbanizadas. Seguindo as ideias de Foucault, nesses contextos a relação com o corpo, ou sua construção, passa por um adestramento, uma disciplina, é dócil um corpo que pode ser submetido, que pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado. (FOUCAULT, 1983, p.127). Segundo Joan Scott, gênero é entendido como a construção social que uma dada cultura estabelece ou elege em relação a homens e mulheres. É um elemento constitutivo das relações sociais, ou seja, as convenções de masculino e feminino são criadas, não são essenciais ou naturais (SCOTT, 1995). De acordo com Michel Foucault, o conceito de sexualidade surgiu no final do século XVIII, com o objetivo de controlar e ordenar a população, dialogando com outros campos de conhecimento, estabelecendo regras e normas sustentadas por instituições jurídicas, religiosas, pedagógicas e médicas. A sexualidade faz parte de um processo que ganha forma culturalmente, tratando-se de algo fortemente inculcado por escolhas morais e sociais que, no ambiente escolar, mobiliza uma série de dualismos como certo/errado, normal/anormal, heterossexual/homossexual etc. O presente projeto, portanto, propõe realizar uma etnografia sobre as aulas de Educação Física de uma escola pública de Goiânia a partir dessas discussões, a fim de investigar as práticas pedagógicas, indagar sobre a construção da corporalidade entre crianças dos primeiros anos do ensino fundamental, além de questionar o papel da Educação Física como construtora e transformadora das relações sociais, com foco nas hierarquias de gênero e sexualidade. 4
5 Referências ALTMANN, Helena. Rompendo fronteiras de gênero: Marias (e) homens na educação física. In. Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, XI, 1999, Anais da Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Caderno 2, Vol. 21(1), Ijuí-RS: Serigraf, 1999, p ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: Informação e documentação: Referências: Elaboração. Rio de Janeiro, Disponível em:< Acesso em: 16 de março de 2010 COSTA, Ronaldo Pamplona da. Os onze sexos: as múltiplas faces da sexualidade humana. 3ª edição. São Paulo-SP: Gente, DAOLIO, Jocimar. Da Cultura do Corpo. SP: Papirus, FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. Cap. I, Os Corpos Dóceis. ed. Petrópolis: Vozes, A história da sexualidade I: a vontade de saber. 13ª ed. Trad. Maria Thereza da Costa Albuquerque e J.A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Graal, GUIMARÃES, A. A. et al. Educação física escolar: Atitudes e valores. Motriz, jan -jun 2001, Vol. 7, n.1, pp LIBÂNEO, José Carlos. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. 6ª edição. São Paulo- SP: Cortez, LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pósestruturalista. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997,179 pp. LOURO, Guacira Louro, NECKEL, J. F., GOELLNER, S. V. (Org.), Corpo, gênero e sexualidade: um debate contemporâneo na educação. Petrópolis, RJ: Vozes, SCOTT, Joan. Gênero: Uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade, v. 20, n.2. Porto Alegre, jul./dez. 1995, pp SOUZA, Eustáquia Salvadora; ALTMANN, Helena. Meninos e Meninas: Expectativas Corporais e Implicações na Educação Física Escolar. Disponível em:< Acesso em: 23 de abril de
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