sexo, sexualidade, gênero, orientação sexual e corpo
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- Luiz Henrique Belo Álvaro
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1 Antes de ler o texto que se segue, pense sobre as noções de sexo, sexualidade, gênero, orientação sexual e corpo. Em seguida, escreva nesta página o que você entende por essas noções. Traga o que você escreveu para a discussão do tema Gênero, sexualidade e orientação sexual. Este material foi produzido pelas responsáveis 1 pelo tema Gênero, sexualidade e orientação sexual no intuito de reunir recortes que tratam dos conceitos que consideramos importantes para o 1 Camila Menezes, Margarita Ramos, Sandra Azerêdo. 1
2 entendimento desse tema. Teorizar sobre gênero, sexualidade e orientação sexual implica encrenca, pela enorme complexidade desses conceitos. Para teorizar sobre essa complexidade, é preciso sair de casa e este sair de casa tem dois sentidos: o de deixar a segurança do lugar familiar, sempre o mesmo, onde nos sentimos em casa; e o sentido de sairmos de nós próprios, nos abrindo para o desconhecido, o diferente. No caminho de sair de casa e se abrir para o diferente precisamos estar atentos ao mecanismo cotidiano de produção de sentido que é a linguagem. Eni Orlandi 2 introduz a análise de discurso como sendo um meio de 2 Análise de dircurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 4ª edição,
3 Michel Foucault 3 mostra como o discurso não é apenas uma linguagem oral, hermética, estagnada e neutra. Para ele, o discurso é algo que nos carrega em nossa própria constituição, que nos precede e vai além de nós, produzindo incessantemente efeitos de verdade sobre nós. O discurso está ligado ao desejo e ao poder, o que pode ser observado na forma como inicia sua aula inaugural no Collège de France em 2 de dezembro de A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo: Edições Loyola, 10ª edição,
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5 Se há algo de tão perigoso no discurso, certamente isso denuncia a sua não-inocência, a sua nãoneutralidade. Judith Butler 4 nos ajuda a entender a encrenca em que as feministas se meteram ao trabalhar com o conceito de gênero na trajetória do movimento. O movimento feminista, que luta contra a desigualdade, pensando na igualdade, se viu enredado nas malhas de um discurso excludente que o precedia e que precisou ser reinventado. Em outras palavras, o movimento feminista precisou sair de casa para enxergar a alteridade, para verificar a igualdade. 4 Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução de Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Edições Loyola,
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8 Nota 6 do texto ao lado Uso o termo matriz heterossexual ao longo de todo o texto para designar a grade de inteligibilidade cultural por meio da qual os corpos, gêneros e desejos são naturalizados. Busquei minha referência na noção de Monique Wittig de contrato heterossexual e, em menor medida, naquela de Adrinne Rich de heterossexualidade compulsória para caracterizar o modelo discursivo/epistemológico hegemônico da inteligibilidade do gênero, o qual presume que, para os corpos serem coerentes e fazerem sentido masculino expressa macho, feminino expressa fêmea, é necessário haver um sexo estável, expresso por um gênero estável, que é definido oposicional e hierarquicamente por meio da prática compulsória da heterossexualidade. 8
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10 Continuando seu pensamento, Butler 5 mostra que este mecanismo pelo qual a desigualdade é produzida é, ao mesmo tempo ocultado, como se a desigualdade fosse natural. Assim, o discurso produz corpos que pesam, importam ou seja faz com esses corpos se tornem matéria e, simultaneamente, corpos que não importam, são abjetos. O abjeto, o inumano, torna-se, assim, necessário para delimitar as fronteiras do que é inteligível como humano, tornando-se o seu exterior constitutivo. 5 Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do sexo. In Guacira Lopes Louro, org., O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva. Belo Horizonte, Autêntica, pp
11 E o que é humano, como também aponta Tomaz Tadeu da Silva 6, não pode ser nunca totalmente alcançado, pois baseia-se num ideal de homem branco, heterossexual, da elite econômica, que é assumido, adotado, materializado. Desta forma, opera-se uma homogeneização tanto no ideal heteronormativo quanto nas diferenças, que torna iguais todas as mulheres neste momento as lésbicas são esquecidas -, todos/as os/as negros/as, as/os pobres, os/as velhos/as... Consideramos que essa forma de entender a constituição do humano nessa perspectiva de gênero através da abjeção seja uma ferramenta importante para entender a invisibilidade da homofobia no cotidiano da escola. Entender a nossa participação na invisibilidade da homofobia já é um passo importante. É preciso que façamos algo também no sentido de ouvir as dissonâncias inauditas, como 6 A produção social da identidade e da diferença. In: Silva et al orgs. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, Vozes, pp
12 escreve Jacques Rancière 7. Esse autor recupera a vivência de Joseph Jacotot, um pedagogo dos inícios do século XIX para problematizar formas tradicionais de lidar com a desigualdade, argumentando que é preciso partir não da desigualdade para se atingir a igualdade como fim, pois isso a posterga ao infinito. Ao contrário, ele propõe o exercício de verificar a igualdade como ponto de partida. 7 O mestre ignorante: cinco lições sobre a emancipação intelectual. Tradução de Lílian do Valle. Belo Horizonte, Autêntica,
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16 O relato de Rancière é uma experiência no campo da pedagogia que precisa ser expandida para todos os campos da nossa vida e observada como uma prática que verifica a igualdade, produzindo sujeitos viáveis. 16
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