PRODUÇÃO ESTRATÉGICA DE ALIMENTOS PARA A PECUÁRIA FAMILIAR NO SEMIÁRIDO: ALTERNATIVAS PARA A FORMULAÇÃO DE RAÇÕES NA PRÓPRIA FAZENDA
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- Bruna Anna da Rocha Cerveira
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1 Governo do Estado do Rio Grande do Norte 01 ISSN X Ano 2009 PRODUÇÃO ESTRATÉGICA DE ALIMENTOS PARA A PECUÁRIA FAMILIAR NO SEMIÁRIDO: ALTERNATIVAS PARA A FORMULAÇÃO DE RAÇÕES NA PRÓPRIA FAZENDA GUILHERME FERREIRA DA COSTA LIMA JOSÉ GERALDO MEDEIROS DA SILVA FERNANDO VIANA NOBRE HILTON FELIPE MARINHO BARRETO
2 GOVERNADORA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE WILMA MARIA DE FARIA SECRETÁRIO DA AGRICULTURA, DA PECUÁRIA E DA PESCA FRANCISCO DAS CHAGAS AZEVEDO EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA DO RIO GRANDE NORTE DIRETORIA EXECUTIVA DA EMPARN DIRETOR PRESIDENTE HENRIQUE EUFRÁSIO DE SANTANA JUNIOR DIRETOR DE PESQUISA & DESENVOLVIMENTO MARCONE CÉSAR MENDONÇA DAS CHAGAS DIRETOR DE OPERAÇÕES ADM. E FINANCEIRAS AMADEU VENÂNCIO DANTAS FILHO INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL DO RN DIRETORIA EXECUTIVA DA EMATER-RN DIRETOR GERAL LUIZ CLÁUDIO SOUZA MACEDO DIRETOR TÉCNICO MÁRIO VARELA AMORIM DIRETOR DE ADM. RECURSOS HUMANOS E FINANCEIROS CÍCERO ALVES FERNANDES NETO
3 ISSN X Ano 2009 PRODUÇÃO ESTRATÉGICA DE ALIMENTOS PARA A PECUÁRIA FAMILIAR NO SEMIÁRIDO: ALTERNATIVAS PARA A FORMULAÇÃO DE RAÇÕES NA PRÓPRIA FAZENDA GUILHERME FERREIRA DA COSTA LIMA JOSÉ GERALDO MEDEIROS DA SILVA FERNANDO VIANA NOBRE HILTON FELIPE MARINHO BARRETO
4 PRODUÇÃO ESTRATÉGICA DE ALIMENTOS PARA A PECUÁRIA FAMILIAR NO SEMIÁRIDO: ALTERNATIVAS PARA A FORMULAÇÃO DE RAÇÕES NA PRÓPRIA FAZENDA EXEMPLARES DESTA PUBLICAÇÃO PODEM SER ADQUIRIDOS EMPARN - Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN UNIDADE DE DISPONIBILIZAÇÃO E APROPRIAÇÃO DE TECNOLOGIAS AV. JAGUARARI, LAGOA NOVA - CAIXA POSTAL: NATAL-RN Fone: (84) Fax: (84) emparn@rn.gov.br COMITÊ EDITORIAL Presidente: Maria de Fátima Pinto Barreto Secretária-Executiva: Vitória Régia Moreira Lopes Membros Aldo Arnaldo de Medeiros Amilton Gurgel Guerra Leandson Roberto Fernandes de Lucena Marciane da Silva Maia Marcone César Mendonça das Chagas Terezinha Lúcia dos Santos Fernandes Revisor de texto: Maria de Fátima Pinto Barreto Normalização bibliográfi ca: Biblioteca Central Zila Mamede UFRN Editoração eletrônica: Giovanni Cavalcanti Barros ( 1ª Edição 1ª impressão (2009): tiragem TODOS OS DIREITOS RESERVADOS A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei no 9.610). Divisão de Serviços Técnicos Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede Holanda, José Simplício de. Cultivo do coqueiro no Rio Grande do Norte / José Simplício de Holanda, Maria Cléa Santos Alves, Marcone César Mendonça das Chagas. Natal, RN: EMPARN, p. (Sistemas de produção; 1) ISSN: X 1. Cultura do coco. 2. Produção de coco. 3. Manejo do coco. 4. Sanidade. I. Alves, Maria Cléa Santos. II. Chagas, Marcone César Mendonça das. III. Titulo. IV. Série. CDD RN/UF/BCZM CDU
5 SUMÁRIO 1. APRESENTAÇÃO INTRODUÇÃO PECUÁRIA LEITEIRA NO RIO GRANDE DO NORTE O PROBLEMA DO ALTO CUSTO DOS CONCENTRADOS COMERCIAIS REQUERIMENTOS DE VOLUMOSOS E CONCENTRADOS OS ALIMENTOS CONCENTRADOS A MANDIOCA SORGO GRANÍFERO E DE DUPLA APTIDÃO PALMA FORRAGEIRA MANEJO DE CACTÁCEAS NATIVAS GIRASSOL CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXOS... 48
6 PRODUÇÃO... ESTRATÉGICA DE.. ALIMENTOS..... PARA... A PECUÁRIA..... FAMILIAR.... NO.. SEMIÁRIDO APRESENTAÇÃO A água é um bem natural essencial a sobrevivência dos seres vivos. Trata-se de um recurso renovável em seu ciclo natural, mas um bem fi nito, pois suas reservas são limitadas. O uso irracional e irresponsável da água pode comprometer a vida no planeta. Por isso, é imprescindível a conscientização da população sobre a importância do seu uso sustentável. A agricultura é o setor que mais consome água entre todas as atividades humanas e é imperativo sensibilizar os produtores rurais, os técnicos, multiplicadores, estudantes, extensionistas e pesquisadores em relação ao respeito à utilização correta das reservas de água. Precisamos garantir a preservação das reservas aqüíferas para que as gerações futuras não sofram com a escassez de água. Isso se faz, entre outras ações, levando conhecimento e educação para junto da população, para que desenvolvam uma nova consciência não só da importância da quantidade de água disponível, mas também da sua qualidade. São gestos simples que precisam se transformar em práticas usuais, como evitar o desperdício, não usar venenos nas plantações, armazenar água da chuva corretamente e proteger as nascentes e as matas ciliares. O Governo do Estado do Rio Grande do Norte através da Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN EMPARN e do Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do RN EMATER, afi liadas da Secretaria da Agricultura, da Pecuária e da Pesca SAPE, contando com o apoio de diversos outros parceiros, promovem em 2009 o VI Circuito de Tecnologias Adaptadas para a Agricultura Familiar. 7
7 VI. CIRCUITO..... DE. TECNOLOGIAS ADAPTADAS..... PARA... A. AGRICULTURA FAMILIAR.... O tema desse ano é: Conservar os Recursos Naturais do Semiárido Gerando Renda e Mais Alimentos. Este Circuito se propõe, além de ações diretamente relacionadas com a conservação da água, disponibilizar tecnologias para a conservação do solo, outro problema para a atividade agropecuária, principalmente para os pequenos agricultores familiares. Esse tema foi desenvolvido baseado na Declaração Universal dos Direitos da Água, documento de 1992 da ONU, que preconiza: A água não deve ser desperdiçada, nem poluída, nem envenenada. De maneira geral, sua utilidade deve ser feita com consciência e discernimento para que não se chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração da qualidade das reservas atualmente disponíveis. Muito obrigado pela sua presença. Henrique Eufrásio de Santana Júnior Diretor Presidente da EMPARN Luiz Cláudio de Souza Macedo Diretor Geral da EMATER 8
8 PRODUÇÃO... ESTRATÉGICA DE.. ALIMENTOS..... PARA... A PECUÁRIA..... FAMILIAR.... NO.. SEMIÁRIDO INTRODUÇÃO No semiárido nordestino a pecuária historicamente tem representado um importante fator de segurança alimentar e econômica para os agricultores familiares da região. A criação de bovinos, caprinos, ovinos, suínos e aves, isolada ou conjuntamente, representou e representa nos sertões, uma signifi cativa forma de acumulação de riqueza ou poupança desses produtores. Em função de sua maior resistência à seca, quando comparada às explorações agrícolas, a pecuária tem se constituído num dos principais fatores para a garantia da geração de emprego e renda na região. No entanto, devido à grande variação na oferta de forragens nos períodos de chuva e de seca e a limitada área dos estabelecimentos rurais, o desempenho produtivo dos rebanhos é baixo, principalmente, em função da redução da disponibilidade de alimentos no período seco. A pecuária tem condições de representar o eixo principal dos sistemas de produção familiar no semiárido, desde que se estruture um suporte alimentar, que garanta reservas para o período seco e, dessa forma, permita aos criadores manejarem rebanhos maiores, mesmo em pequenas propriedades, gerando uma escala de produção que assegure renda e lucros. No entanto, quando se procura discutir a viabilidade econômica desses sistemas de produção pecuários, alguns problemas devem merecer atenção especial, entre eles: A pequena área das propriedades; A escassez de alimentos no longo período seco (7 a 8 meses); 9
9 VI. CIRCUITO..... DE. TECNOLOGIAS ADAPTADAS..... PARA... A. AGRICULTURA FAMILIAR.... A disputa por área com a produção de alimentos; O alto custo dos concentrados comerciais; A alta participação dos alimentos na composição do custo de produção do leite (> 50%); As defi ciências de gestão e assistência técnica dos sistemas; A necessidade de proteção das áreas com restrição ou inaptas para a agricultura; A garantia de estruturar sistemas de produção sustentáveis econômica, social e ambientalmente. Guanziroli et al. (2001) relatam que 88% dos estabelecimentos agropecuários do Nordeste são de agricultores familiares, possuindo uma área média de apenas 17 ha, cujos rebanhos representam a principal forma de poupança disponível aos produtores e constituem fator de segurança indispensável à sobrevivência da população local. De acordo com Guimarães Filho e Lopes (2001), nas áreas mais secas do semiárido são necessários pelo menos de 200 a 300 hectares, para manter em condições semiextensivas, um rebanho caprino de corte com 300 matrizes. Segundo esses autores, esse número representa o rebanho mínimo estimado de matrizes para viabilizar a reprodução e a acumulação dos meios de produção de uma família na região. Apontam ainda esses pesquisadores, que no semiárido nordestino apenas 16% (16 milhões de hectares) das áreas apresentam bom potencial agrícola, 44% (43 milhões de hectares) têm potencial agrícola limitado e 36% (35 milhões de hectares) são áreas com fortes restrições de uso ou mesmo inaptas para a atividade agropecuária. Áreas de caatinga degradadas 10
10 PRODUÇÃO... ESTRATÉGICA DE.. ALIMENTOS..... PARA... A PECUÁRIA..... FAMILIAR.... NO.. SEMIÁRIDO Os confl itos existentes entre a necessidade de incrementar a escala de produção, aumentando os rebanhos e os impedimentos ou limitações da disponibilidade de áreas para formação e manejo de pastagens, só podem ser enfrentados por intermédio da intensifi cação dos processos de produção. Para Guimarães Filho e Lopes (2001) é possível uma família viver condignamente em três hectares com cultivo irrigado. No entanto, eles lembram que apenas cerca de 2% da área total do semiárido dispõe de condições de solo e água para tal. É importante também considerar que os sistemas de produção da agricultura familiar no semiárido são bastante diversifi cados e, muitas vezes, a pecuária se constitui apenas em uma das atividades formadoras da renda familiar. Por isso, são importantes os estudos atuais sobre a integração lavoura vs. pecuária, e mesmo aqueles sistemas mais complexos que integram conjuntamente as explorações agrícolas, pecuárias e fl orestais (agrosilvipastoris). A integração e modernização de vários sistemas, envolvendo animais e plantas na agricultura familiar, são fundamentais para a segurança alimentar e econômica desses produtores, assim como são mais adaptados a um manejo ecológico e sustentável, numa região reconhecida por sua fragilidade e até por áreas de desertifi cação. Reconhecida a importância da pecuária como atividade capaz de gerar emprego e renda para a agricultura familiar no semiárido, conservando o meio ambiente, torna-se necessário conhecer os principais problemas que afetam a viabilidade econômica desses sistemas de produção. 11
11 VI. CIRCUITO..... DE. TECNOLOGIAS ADAPTADAS..... PARA... A. AGRICULTURA FAMILIAR PECUÁRIA LEITEIRA NO RIO GRANDE DO NORTE Os exemplos apresentados nesta apostila são, na sua maioria, voltados à pecuária leiteira, uma vez que essa é uma atividade predominante no Rio Grande do Norte. O Programa do Leite do Governo Estadual, em execução há quase 15 anos, que compra cerca de 150 mil l/dia e distribui a famílias carentes, tem proporcionado um preço de leite para os produtores do Estado da ordem de R$ 0,65 a 0,70/l, além de tornarse importante fator de geração de emprego e renda no meio rural. Vale salientar que esses preços variam muito em função da disponibilidade de pastagens (seca ou chuva), do mercado de queijos artesanais e de outras demandas. O Programa melhorou a qualidade genética dos rebanhos, os produtores adquiriram novos conhecimentos técnicos, as propriedades melhoraram sua estrutura e os reflexos estão expressos na produção estadual de 500 mil litros/dia. Deve ser ressaltado que a atividade gerou a estruturação de 27 usinas de leite, distribuídas nas diferentes regiões, que são responsáveis pelo processamento do produto e subprodutos da cadeia de laticínios. O Estado tem hoje um rebanho bovino da ordem de 900 mil cabeças. As tendências de especialização dos produtores decorrem também das mudanças que estão ocorrendo no sistema de produção e captação de leite, principalmente com a implementação da Normativa 51 e da obrigatoriedade da coleta a granel de produto refrigerado por parte dos maiores laticínios. Nesse contexto, as mudanças poderão promover o desaparecimento do pequeno produtor de leite, se não lhes forem disponibilizadas as informações e o acesso ao conhecimento tecnológico de forma prática, direta e com tecnologias adaptadas aos sistemas de criação da agricultura familiar da região. 12
12 PRODUÇÃO... ESTRATÉGICA DE.. ALIMENTOS..... PARA... A PECUÁRIA..... FAMILIAR.... NO.. SEMIÁRIDO O PROBLEMA DO ALTO CUSTO DOS CONCENTRADOS COMERCIAIS Alguns levantamentos recentes efetuados pela EMATER-RN e SEBRAE-RN apontaram para custos médios de produção de leite no Rio Grande do Norte, de R$ 0,85/l para o leite bovino e R$ 1,35/l para o leite caprino. Quando se tem conhecimento que os preços médios do leite recebidos pelos produtores nos últimos meses no Estado, têm sido de, respectivamente, R$ 0,70/l e R$ 1,00/l, constatase que esses produtores estão tendo prejuízo na atividade. Em função da falta de planejamento na produção e armazenamento de reservas forrageiras estratégicas para serem utilizadas no período seco, grande parte dos agricultores familiares recorre à utilização dos concentrados comerciais para manutenção de seus rebanhos. Muitos desses concentrados (farelo de soja, farelo e torta de algodão, milho, farelo de trigo) ultrapassaram a barreira de R$ 1,00/kg e mesmo os mais baratos superaram 0,50/kg, além do que, os preços dos importantes suplementos minerais alcançaram valores superiores a R$ 2,00/kg. Dessa forma fi ca praticamente impossível formular uma ração equilibrada para vacas de leite com custo inferior a R$ 0,70/kg. Alguns estudiosos destacam que quando o preço de 1 kg de concentrado supera o preço de 1 kg de leite, a utilização desses alimentos se torna inviável economicamente. Dessa forma, restaria a esses criadores duas opções, ou trabalhar com rebanhos com menores níveis de produção, cujos requerimentos nutricionais possam ser atendidos quase que integralmente por volumosos (capins, leguminosas, fenos, silagens), ou tentar produzir a maioria desses concentrados na própria fazenda. Levando-se em conta que a alimentação representa mais de 50% do custo da produção de leite, toda a atenção do produtor deve ser voltada à máxima eficiência na produção de alimentos de qualidade na própria fazenda. 13
13 VI. CIRCUITO..... DE. TECNOLOGIAS ADAPTADAS..... PARA... A. AGRICULTURA FAMILIAR.... Martins et al. (2004) destacam que o item alimentação é o fator de produção mais oneroso dentre aqueles responsáveis pelo custo operacional da atividade leiteira. Segundo os autores, para minimizar esse custo, os produtores devem lançar mão de programas de produção de forragens e sistemas de alimentação mais efi cientes, que demandem menos mão de obra, investimentos e insumos, e ainda que promovam menor impacto ao meio ambiente. Alimentação mais de 50% do custo da produção de leite 5. REQUERIMENTOS DE VOLUMOSOS E CONCENTRADOS Quando se considera, a título de exemplo, as necessidades de alimentos para um rebanho de 25 vacas leiteiras no semiárido (sem incluir as crias), com um período de seca de seis meses e consumo médio por vaca de 12 kg de matéria seca (MS)/ dia, verifi ca-se a necessidade de produção ou compra de 54 toneladas de matéria seca. Essa quantidade de matéria seca deverá ser atendida por intermédio dos volumosos (capins, silagens, fenos) e concentrados. Normalmente, por ser a parte da ração mais barata, a quantidade usual de volumosos situase entre 50 e 70% da matéria seca total da dieta, enquanto o concentrado é usado na proporção de 30 a 50%. Se, como acontece atualmente, os concentrados alcançam preços muito elevados, deve-se procurar trabalhar com uma proporção de 60 a 70% de volumosos na composição da dieta, para tentar viabilizar economicamente a exploração leiteira. No exemplo citado, considerando-se a utilização de 30% de concentrados, 14
14 PRODUÇÃO... ESTRATÉGICA DE.. ALIMENTOS..... PARA... A PECUÁRIA..... FAMILIAR.... NO.. SEMIÁRIDO o produtor precisaria produzir ou comprar cerca de 16 toneladas de alimentos concentrados, a um custo de aproximadamente R$ ,00 (R$ 0,70/kg), para garantir uma alimentação equilibrada para suas vacas nos seis meses de seca. O plantio e manejo adequado de forrageiras como a palma, o capim-elefante, o sorgo, a mandioca, os capins buffel e urocloa, a cana, a leucena e outras leguminosas, associados a práticas de ensilagem, fenação e utilização de resíduos da agroindústria, representam uma sólida base para a implantação de sistemas de produção pecuários para agricultores familiares no semiárido. Para aqueles que são contrários ao cultivo de espécies forrageiras exóticas ou introduzidas no semiárido, torna-se importante lembrar que a alta produção obtida com o manejo dessas espécies é capaz de permitir uma menor utilização dos pastos nativos, que normalmente são super pastejados, com áreas inclusive em processo de desertifi cação. Enquanto são necessários em média 10 a 15 hectares de vegetação de caatinga para manter um bovino adulto por ano, em apenas um hectare bem manejado e irrigado de capim-elefante ou palma forrageira, o produtor pode garantir a produção de forragem para alimentar 20 vacas durante seis meses de seca. Deve fi car claro ao criador que quanto melhor a forragem oferecida aos animais na forma verde, fenada ou ensilada, menor a quantidade de concentrados necessária para se atingir um determinado nível de produção. O produtor também não pode esquecer que mesmo utilizando volumosos de boa qualidade, para vacas ou cabras de alta produção de leite, a utilização de concentrados é indispensável. 15
15 VI. CIRCUITO..... DE. TECNOLOGIAS ADAPTADAS..... PARA... A. AGRICULTURA FAMILIAR.... Pesquisas da Embrapa Gado de Leite indicam a possibilidade de vacas alcançarem produções de 12,5 kg de leite/dia apenas consumindo pastagens. No entanto, vale salientar que esses resultados só podem ser obtidos em pastagens de alta qualidade, bem adubadas e manejadas. Nos cálculos da Embrapa, essa pastagem permitiria a uma vaca de 500 kg, um consumo diário de 100 kg de pontas de capim (13,5 kg MS/2,7% do peso vivo (PV) na base MS), por ser uma rebrota nova e rica, com cerca de 14% PB e 65% de Nutrientes Digestíveis Totais (NDT), que garantiriam quantidades suficientes de energia e proteína, atendendo os requerimentos dessa produção. Para os pesquisadores, a produção de leite à pasto é limitada pelo conteúdo de NDT (Energia) da pastagem (65%), e para vacas com maiores produções, torna-se necessária a suplementação dessa energia com concentrados. Pastagens são os alimentos mais baratos Outra questão difícil para a qual os criadores necessitam de apoio da assistência técnica é a defi nição de quando utilizar a suplementação concentrada, para que categorias animais, em que quantidades, que formulações de rações utilizar e se esta suplementação gera lucros. 16
16 PRODUÇÃO... ESTRATÉGICA DE.. ALIMENTOS..... PARA... A PECUÁRIA..... FAMILIAR.... NO.. SEMIÁRIDO Segundo Deresz et al. (2006), as melhores respostas de suplementação com concentrados para vacas holando x zebu, em pastagens manejadas em pastejo rotativo e adubadas adequadamente, são de 0,5 a 0,65 kg de leite para cada 1 kg de concentrado fornecido. Ressaltam os autores que sempre que o preço de 1 kg de concentrado for maior do que o preço de 0,5 a 0,65 do kg do leite, fi ca inviável economicamente o uso dos concentrados, especialmente, durante a época das chuvas. Para o preço praticado no RN de R$ 0,70/kg de leite, seria necessário a aquisição de concentrados com valores inferiores a R$ 0,42 para viabilizar a utilização desses alimentos, quando na realidade os preços vigentes quase dobram esse valor. Quanto maior for a quantidade de forragens produzidas e armazenadas e melhor a qualidade desses alimentos, menor será a necessidade de utilização dos concentrados comerciais. Nos últimos anos, as diversas publicações (Maciel et al., 2004 ab; Lima, 2006; Lima e Aguiar, 2007 e Lima, 2008) do Circuito de Tecnologias Apropriadas para a Agricultura Familiar enfatizaram a importância de produzir e armazenar volumosos forrageiros de qualidade. A publicação atual procurará discutir o manejo de plantas forrageiras capazes de atender, pelo menos em parte, a demanda dos concentrados dos rebanhos. Nesse sentido foram selecionadas plantas produtoras de grãos (milho, sorgo e girassol) ou alimentos ricos em energia e com alta digestibilidade (palma forrageira, cactáceas nativas, algaroba e mandioca) e ainda alguns subprodutos da agroindústria. O objetivo da proposta é sensibilizar os pecuaristas familiares para a necessidade da produção, manejo e manipulação desses alimentos na própria fazenda, 17
17 VI. CIRCUITO..... DE. TECNOLOGIAS ADAPTADAS..... PARA... A. AGRICULTURA FAMILIAR.... produzindo rações com altas concentrações de energia e proteína, que diminuirão sensivelmente a necessidade de aquisição dos concentrados comerciais. 6. OS ALIMENTOS CONCENTRADOS Os alimentos CONCENTRADOS (farelos, grãos), como o próprio nome indica, são aqueles que concentram, em um pequeno volume, uma grande riqueza em energia ou proteína ou ambos. Em geral eles possuem 85 a 95% de matéria seca. A sua fração de energia compreende, principalmente, o amido, seguido de açúcares mais simples e das gorduras. Em geral, os concentrados possuem mais de 60% de NDT e baixos teores de fi bra. Informações da Embrapa/Gado de Leite apontam que, para cada quilo de leite produzido, uma vaca precisa comer, além do necessário para sua manutenção, 90 g de proteína e 333 g de energia digestível. Observe que esses números indicam que a vaca precisa 3,7 vezes mais energia que proteína e os produtores precisam saber que alimentos vão proporcionar essa energia para suas vacas. Os concentrados podem ser classifi cados como energéticos e protéicos. CONCENTRADOS ENERGÉTICOS São os concentrados com 16% ou menos de proteína bruta (PB), representados pelos grãos dos cereais e seus subprodutos (grão de milho, farelo de trigo, grão de sorgo, farelo de arroz). O teor de fibra é variável, sempre menor que 18% e o teor de gordura depende do grão utilizado. 18
18 PRODUÇÃO... ESTRATÉGICA DE.. ALIMENTOS..... PARA... A PECUÁRIA..... FAMILIAR.... NO.. SEMIÁRIDO CONCENTRADOS PROTÉICOS Compreendem os farelos e farinhas de cereais (20 a 30% de PB) e os farelos e tortas de oleaginosas (30 a 50% de PB). Os concentrados protéicos de origem vegetal são os mais utilizados para a alimentação de bovinos. Em geral, são utilizados os subprodutos das agroindústrias de extração do óleo comestível, como as tortas e farelos de soja, amendoim, girassol, algodão e outros. Os alimentos chamados VOLUMOSOS (fenos, silagens, capins, palmas, palhadas), como o próprio nome já diz, englobam aqueles alimentos que apresentam grandes volumes, com níveis de fi bra bruta (FB) superiores a 18%. Geralmente constituem a maior parte da ração e, muitas vezes, apresentam baixa digestibilidade da energia e proteína, mas desempenham um papel fundamental no funcionamento do rúmen dos bovinos, ovinos e caprinos (Apostila, 2006). 7. A MANDIOCA Mandioca raiz importante fonte de energia para a pecuária leiteira Conhecida pela rusticidade e pelo papel social que desempenha junto às populações de baixa renda, a cultura da mandioca tem grande adaptabilidade aos diferentes ecossistemas, possibilitando seu cultivo em praticamente todo o território nacional. O Brasil é o 19
19 VI. CIRCUITO..... DE. TECNOLOGIAS ADAPTADAS..... PARA... A. AGRICULTURA FAMILIAR.... segundo maior produtor mundial de mandioca. Seja na forma de raiz, raspa ou maniva, seja na forma in natura, fenada ou ensilada, a mandioca é uma planta forrageira de grande importância para a pecuária leiteira, não só por alcançar altos rendimentos, mas principalmente por ser um alimento com alta concentração de energia. Trabalhos de pesquisa desenvolvidos pela Embrapa Mandioca e Fruticultura destacam a riqueza dessa planta, tanto da raiz como fonte de energia para ruminantes, como da sua parte aérea. As manivas chegam a apresentar, na matéria seca, teores de PB de 16 a 18%, enquanto que as folhas chegam a atingir 25%. Muitas vezes, esses recursos são desperdiçados em vez de armazenados para utilização no período seco. Em termos de produção, dependendo das condições climáticas, da fertilidade do solo e da cultivar plantada, podem ser obtidas de 10 a 20 toneladas de raízes e de oito a 20 toneladas de parte aérea por hectare. Mandioca folhas até 25% de PB Raspas de mandioca são pedaços ou fragmentos secos de raízes de mandioca, enquanto são chamadas de cascas os fragmentos resultantes do descascamento das raízes para a produção de farinha. 20
20 PRODUÇÃO... ESTRATÉGICA DE.. ALIMENTOS..... PARA... A PECUÁRIA..... FAMILIAR.... NO.. SEMIÁRIDO Segundo o NRC (1996), a mandioca é um alimento que contém 3,04 Mcal/kg de energia metabolizável (EM), sendo portanto, muito próxima a EM do milho, com 3,25 Mcal/ kg. Seu potencial para a produção animal é alto, desde que sua produção econômica, em larga escala, seja viabilizada (Martins et al., 2000). Em relação aos problemas de intoxicação dos animais causados pela utilização da mandioca, deve-se tomar algumas precauções. Quando se tratar de mandioca mansa, pode-se fornecê-la fresca aos animais sem nenhum problema. Quando se tratar de mandioca brava deve-se quebrar ou picar as raízes e a parte aérea e espalhar bem ao ar livre por 24 horas. Isto basta para eliminar grande parte do princípio tóxico da planta (ácido cianídrico), tornando-a inofensiva para os animais. A fenação e a ensilagem também são formas de inativar esse princípio tóxico. A raiz da mandioca e seus subprodutos podem ser utilizados com poucas restrições na alimentação animal e constituem excelente substituto para os grãos dos cereais. Diversos experimentos compararam a substituição do milho pela mandioca na alimentação de vacas em lactação. Quando a produção de leite foi pequena (8,35 kg/dia) ou média (12,0 kg/dia), não foram observadas diferenças entre o milho e a mandioca. No entanto, com produções maiores (média de 23,6 kg de leite/dia) a raspa de mandioca não foi capaz de substituir o milho e interferiu negativamente no desempenho produtivo e na eficiência alimentar (Ramalho et al., 2006). As diferenças nos processos de digestão e absorção e metabolismo entre o amido do milho e o da raspa de mandioca, talvez expliquem as diferenças encontradas. 21
21 VI. CIRCUITO..... DE. TECNOLOGIAS ADAPTADAS..... PARA... A. AGRICULTURA FAMILIAR.... Deve ser ressaltada a viabilidade de substituição parcial, uma vez que a raspa de mandioca é mais barata que o milho, sendo considerada uma alternativa regional. Para que seja vantajosa essa substituição do milho pela raspa, torna-se necessária a avaliação das diferenças no custo desses ingredientes. Entre algumas formas de utilização da mandioca incluem-se as raspas ou raízes desidratadas ao sol, parte aérea desidratada ao sol, na ensilagem, e mesmo na forma in natura. Vale aqui ressaltar a importância do secador solar (Lima et. al., 2004), como ferramenta de produção de alimentos para a pecuária familiar. Além da produção de fenos triturados de diversas plantas forrageiras nativas e introduzidas, o secador presta-se à preparação dos farelos de raiz e raspas de mandioca, farelos de palma, farelos de resíduos da agroindústria (caju, melão), entre outros. Secador solar para produção de fenos e concentrados Raízes de mandioca desidratadas ao sol Para desidratar as raízes ao sol é preciso seguir os seguintes passos: Colher e lavar as raízes eliminando as que tiverem coloração escura; Picar em pedaços de mais ou menos 5 cm de comprimento por 1,5 cm de largura; 22
22 PRODUÇÃO... ESTRATÉGICA DE.. ALIMENTOS..... PARA... A PECUÁRIA..... FAMILIAR.... NO.. SEMIÁRIDO Espalhar sobre terreiro cimentado em camadas de 8 a 10 kg/ m² e deixar ao sol; Passar o rodo revirando o material para promover uma secagem uniforme; Verifi car se o material está seco (14% de umidade). Um método prático é tomar um pedaço da raiz e riscar no piso como se fosse giz; se deixar risco é porque está seco; Ensacar e empilhar os sacos em armazéns secos, sobre estrados de madeira, podendo posteriormente transformar em farelo. Parte aérea da mandioca desidratada ao sol Para a secagem da parte aérea (manivas e folhas), o processo é o mesmo, devendo-se tomar alguns cuidados para evitar as perdas de folhas no manuseio, já que são as partes mais ricas. Deixar de fora a haste principal, cortando a uma altura de 40 cm do solo (material para plantio), e diminuir o tamanho da picagem para 2 a 3 cm. Ensilagem da parte aérea da mandioca A parte aérea da mandioca é um aditivo que melhora a qualidade da silagem, principalmente para gado de leite. A inclusão de 25% de parte aérea da mandioca na ensilagem do capim-elefante melhora a qualidade da silagem. Esse capim quando muito novo apresenta alta umidade, o que não é bom para ensilagem. Neste caso, tanto a adição da parte aérea verde, como de 5% de farelo seco de manivas e folhas, distribuídos no silo à medida que se for colocando camadas de 20 cm do material, melhora o valor nutritivo e a qualidade da silagem de capim-elefante (Carvalho, 1984). 23
23 VI. CIRCUITO..... DE. TECNOLOGIAS ADAPTADAS..... PARA... A. AGRICULTURA FAMILIAR.... Na Tabela 1 Carvalho (1984) descreve a composição química da parte aérea da mandioca fresca, desidratada ao sol e ensilada. Tabela 1. Percentuais de composição química da parte aérea da mandioca fresca, desidratada ao sol e ensilada (com base na MS) Componentes Matéria seca Proteína bruta FDN2 Gordura Cálcio Fósforo Fresca % 25,95 14,99 42,53 2,66 1,34 0,21 Fonte: Carvalho (1984) ²FDN Fibra em detergente neutro Parte aérea da mandioca Desidratada ao sol % 89,00 10,84 49,81 2,44 1,12 0,17 Ensilada % 31,99 11,50 48,85 2,96 1,21 0,14 Na Tabela 2, Nobre ( Informação pessoal) apresenta sugestões para preparo de misturas concentradas para caprinos, ovinos e bovinos, utilizando a mandioca e o farelo de caju como ingredientes. 24
24 PRODUÇÃO... ESTRATÉGICA DE.. ALIMENTOS..... PARA... A PECUÁRIA..... FAMILIAR.... NO.. SEMIÁRIDO Tabela.2. Formulação de misturas concentradas com participações de mandioca (casca, raspa, feno), farelo de caju e farelo de soja, com as respectivas composições médias Rações Mandioca Casca %¹ Alimentos Sugeridos Mandioca Raspa %² Mandioca Feno %³ Caju Farelo % 4 Soja Farelo % 5 MS (*) % Composição Média PB (*) % NDT (*) % MS Matéria seca; PB Proteína bruta; NDT Nutrientes digestíveis totais Fonte: Nobre (2009) Observações: (1) Casca de mandioca (bem seca) subproduto da fabricação de farinha para uso humano; (2) Raspa integral de mandioca produto resultante do dessecamento da raiz com casca; (3) Feno moído da maniva com folhas (toda a parte aérea); (4) Farelo industrial do caju subproduto da extração do suco, bem seco e moído. 25
25 VI. CIRCUITO..... DE. TECNOLOGIAS ADAPTADAS..... PARA... A. AGRICULTURA FAMILIAR.... Notas: (1) Juntar a cada 100 kg das misturas listadas, de 2 a 3 kg de uma boa mistura mineral, rica em cálcio e fósforo; (2) Em todas as rações é possível substituir o farelo de soja, que tem o preço elevado, por outros farelos protéicos como os de girassol, gergelim, amendoim, nas mesmas quantidades. A substituição por farelo de algodão (1 kg de farelo de soja por 1,5 kg de farelo de algodão), depende também do tipo do farelo de algodão e seu teor de proteína bruta. (3) As rações 05, 06 e 07 são as mais indicadas para matrizes leiteiras em lactação, crias jovens, reprodutores, por serem mais ricas em energia (NDT). 8. SORGO GRANÍFERO E DE DUPLA APTIDÃO Grão de sorgo: Importante substituto do milho Como em muitas regiões do semiárido nordestino, o milho é uma cultura de risco, o sorgo surge como um ótimo substituto para a produção de silagem e grãos. Valente (1992), considera o valor nutritivo da silagem de sorgo equivalente a 85 a 90% da de milho, havendo, no entanto, referências mais amplas (72 a 92%). Outra vantagem da cultura do sorgo em relação ao milho é a diminuição das perdas por roubos, no entanto são frequentes perdas por ataques de pássaros. 26
26 PRODUÇÃO... ESTRATÉGICA DE.. ALIMENTOS..... PARA... A PECUÁRIA..... FAMILIAR.... NO.. SEMIÁRIDO O sorgo pode substituir parcialmente o milho nas rações para aves e totalmente para ruminantes, com uma vantagem comparativa de menor custo de produção e valor de comercialização de 80% do preço do milho. O sorgo pode substituir o milho até o nível de 100% em rações de leitões de recria (10 a 30 kg), sem prejudicar a disponibilidade e o desempenho dos animais (Fialho et al., 2002). O sorgo é uma extraordinária fábrica de energia, de enorme utilidade em regiões muito quentes e muito secas, onde o homem não consegue boas produtividades de grãos ou de forragem cultivando outras espécies, como o milho. Requer uma precipitação média anual entre 375 e 625mm, mas responde bem a irrigação suplementar. O sorgo granífero é o que tem maior expressão econômica e está entre os cinco cereais mais cultivados do mundo (Ribas, 2008). Para Tardin e Rodrigues (2008), o potencial de rendimento de grãos de sorgo, pode situar-se entre 7 a 10 t/ha, em condições favoráveis de cultivo e manejo. No entanto, nas condições de cultivo das lavouras brasileiras a média alcançada está em torno de 2,4 t/ha. Duarte (2008) indica produtividades médias da ordem de 1,8 t/ha e informa que a produção dos grãos de sorgo tem como primeira opção o consumo interno na fazenda direcionado ao consumo animal, que chega alcançar 27% da produção. O sorgo apresenta três tipos com características distintas: o sorgo forrageiro, o misto (ou de dupla aptidão) e o granífero. Nesta apostila serão abordados principalmente as características e potenciais de produção de grãos das cultivares graníferas ou de dupla aptidão, como opção aos grãos de milho. 27
27 VI. CIRCUITO..... DE. TECNOLOGIAS ADAPTADAS..... PARA... A. AGRICULTURA FAMILIAR.... Sorgos do tipo granífero - são plantas de porte baixo (1,0 a 1,6m), com panículas bem desenvolvidas, grãos grandes, ciclo mais curto que os outros tipos e ponto de ensilagem entre 100 a 110 dias. Sorgo misto ou de dupla aptidão - São plantas de porte médio, com altura variando de 2 a 2,3 m. A produção de massa verde também é alta, com boa produção de grãos. Os sorgos de dupla aptidão são indicados para ensilagem, pois além de uma alta produção de forragem, enriquecem a silagem devido a uma maior participação de grãos que os sorgos forrageiros. A EMPARN, em parceria com a Embrapa Milho e Sorgo lançou recentemente, uma variedade de sorgo de dupla aptidão denominada BRS Ponta Negra, que apresenta, como pontos de destaque, rendimentos potenciais de matéria verde de 30 a 50 t e de MS de 9 a 15 t/ha/corte e rendimento de grãos em sequeiro de 1,5 a 2 t e com irrigação acima de 4 t. Vale lembrar que o sorgo poderá ser manejado para produção de grãos e, se plantado cedo, poderá ainda no fi nal das chuvas alcançar uma boa rebrota para a produção de silagem. Caso seja possível a utilização da irrigação, então o sorgo poderá promover várias rebrotas. Na Tabela 3 são apresentadas algumas formulações de concentrados utilizando grãos de sorgo e vagens de algarobeira, como alternativas ao grão de milho (Nobre, 2009 informação pessoal). 28
28 PRODUÇÃO... ESTRATÉGICA DE.. ALIMENTOS..... PARA... A PECUÁRIA..... FAMILIAR.... NO.. SEMIÁRIDO Tabela 3. Formulação de misturas concentradas com participação de grãos de sorgo, algaroba, farelo de trigo e farelo de algodão, com as respectivas composições médias Alimentos/ Rações Diversas Nutrientes % Sorgo grão 50,0 45,0 40, ,0 40,0-30,0 Algaroba ,0 40,0 40,0 40,0-45,0 40,0 Farelo de trigo 20,0 30,0 40,0 25,0 35,0 45,0-40,0 25,0 - Torta de algodão 30,0 25,0 20,0 30,0 25,0 29,0 30,0 20,0 30,0 30,0 PB (Proteína bruta) 20,8 19,7 18,5 20,5 19,5 18,3 19,4 18,5 20,5 19,4 NDT (Energia) 69,5 70,3 70,6 71,5 71,5 70,0 71,0 70,6 71,5 71,0 Fonte: Nobre (2009). Para Santos (2008), uma característica positiva dos grãos do sorgo é a possibilidade de serem armazenados por longo período de tempo, sem perdas significativas de qualidade. No site da Embrapa Milho e Sorgo ( embrapa.br) os produtores e técnicos poderão encontrar informações detalhadas, não só de como controlar as pragas nos grãos armazenados, como também informações e fotos de sintomas de deficiências e doenças do sorgo e diversas outras informações sobre outros segmentos do sistema de produção da cultura. 9. PALMA FORRAGEIRA As palmas são forrageiras de longa tradição na pecuária nordestina e representam um suporte alimentar fundamental para 29
29 VI. CIRCUITO..... DE. TECNOLOGIAS ADAPTADAS..... PARA... A. AGRICULTURA FAMILIAR.... os rebanhos no semiárido. Um número restrito de espécies tem sido cultivado na região, sendo as mais conhecidas as cultivares gigante e redonda e uma cultivar miúda ou doce. Palma forrageira alta produtividade e valor nutritivo As palmas são alimentos com alta concentração de energia e boa digestibilidade, ricos em minerais, com excelente palatabilidade, ótimo potencial de produção por área e principalmente, disponíveis nos períodos mais críticos de oferta de alimentos. Considerando dados de produção de MS de milho, sorgo e palma forrageira em Pernambuco, Ferreira (2005) aponta que essa cactácea produz mais energia por unidade de área que essas duas gramíneas, com 6,43 t NDT/ha/ano e, respectivamente, 4,32 e 5,16 para o milho e sorgo. Segundo esse autor, a palma apresenta coefi cientes de digestibilidade in vitro na MS da ordem de 74,4; 75,0 e 77,4%, para as cultivares redonda, gigante e miúda e teores de NDT de 61,1 a 65,9%. A palma representa assim, mais uma planta forrageira adaptada ao semiárido nordestino com altas concentrações de energia e elevados rendimentos, que deve ser utilizada nas rações de vacas e cabras de leite, visando substituir concentrados como o milho. 30
30 PRODUÇÃO... ESTRATÉGICA DE.. ALIMENTOS..... PARA... A PECUÁRIA..... FAMILIAR.... NO.. SEMIÁRIDO A palma apresenta em média 64,7% de NDT, quantidade esta bastante superior à maioria dos alimentos volumosos utilizados na ração animal na região semiárida. Com essa riqueza em energia digestível e baixo nível (17%) de fi bra bruta (FB), a palma poderia ser classifi cada como concentrado na classifi cação tradicional (> 60,0% NDT e < 18%FB). Por outro lado, considerando-se a forma de uso in natura e o fato de ocupar grande volume, permitem também sua indicação como volumoso (Melo, 2006). Outro indicativo importante da palma como alimento para a produção de leite é a sua riqueza em carboidratos não fi brosos (CNF), com médias de 53 a 71%, que chegam a superar os níveis máximos (44%) para vacas de leite recomendados pelo NRC (2001). Os CNF são aqueles mais digestíveis e que atendem mais prontamente as demandas por energia. Torna-se importante comparar na Tabela 9 (anexo), quais alimentos apresentam teores tão elevados de NDT, CNF e DIVMS, comparados com a palma, e observar que apenas alimentos concentrados apresentam níveis tão altos de energia. Como restrição à sua utilização exclusiva como volumoso para ruminantes, a palma é pobre em fi bra, que é necessária para manutenção das condições normais do rúmen, e não atende às recomendações mínimas de fi bra em detergente neutro (FDN) para vacas de leite. Dessa forma, existe a necessidade de associação com fontes de fi bra (capins, fenos, silagem) a fi m de se prevenir desordens metabólicas. O teor médio de PB da palma forrageira (4,22%) pode ser considerado baixo, necessitando ser complementado com outras fontes desse nutriente (Ferreira, 2005). 31
31 VI. CIRCUITO..... DE. TECNOLOGIAS ADAPTADAS..... PARA... A. AGRICULTURA FAMILIAR.... A baixa percentagem de MS da palma entre 10 e 11% (cerca de 90% de água), é outro tópico bastante discutido e apontado por alguns como ponto negativo dessa forrageira. No entanto, experimentos desenvolvidos no semiárido mostraram que vacas em dietas com grande participação da palma gigante, praticamente tiveram suas exigências de água atendidas, sem interferência no consumo de matéria seca. Numa região onde a água é um elemento escasso e muitas vezes de péssima qualidade, tal característica deve ser enquadrada entre os aspectos positivos da forrageira. Alguns autores apontam que a palma miúda apresenta um teor de MS 50% mais elevado que a palma gigante. Essa diferença pode fazer grande efeito, pois num balaio de palma de 30 kg, ter-se-ia então 2,93 kg de MS para a palma gigante e 4,45 kg de MS para a palma miúda. Em função da baixa concentração de PB das palmas, observase uma necessidade de oferta conjunta com concentrados protéicos com teores de PB superiores a 30%. Outra importante informação do manejo da palma na alimentação de gado de leite é que melhores desempenhos são alcançados quando ela é ofertada na forma de ração completa, ou seja, misturada com outras fontes de fibras (capins, silagem, feno, bagaço de cana) e com o concentrado. A palma sempre deve ser ofertada juntamente com um fonte de fibra Melo (2004) apresenta na Tabela 4, excelentes desempenhos de vacas com produções superiores a 30 kg 32
32 PRODUÇÃO... ESTRATÉGICA DE.. ALIMENTOS..... PARA... A PECUÁRIA..... FAMILIAR.... NO.. SEMIÁRIDO de leite/dia, com a palma representando 29% da MS da ração, associada a níveis variáveis de silagem de sorgo, caroço de algodão e farelo de soja. Tabela 4. Desempenho de vacas da raça Holandesa alimentadas com caroço de algodão como fonte de fi bra e proteína, em substituição a silagem de sorgo e farelo de soja em dietas à base de palma forrageira Itens Níveis de caroço de algodão 0,00 6,25 12,50 18,75 25,00 Palma (%) 29,00 29,00 29,00 29,00 29,00 Silagem (%) 27,30 23,70 19,50 15,90 12,10 Caroço de algodão (%) 0,00 6,25 12,50 18,75 25,00 Farelo de soja 23,90 20,90 18,70 16,00 13,00 Desempenho Consumo de MS (% PV) 3,30 3,28 3,37 3,66 3,59 Produção de leite (kg/dia) 29,50 30,24 31,25 32,67 32,27 Produção de leite corrigida gordura (kg/dia) 26,70 28,12 30,22 30,74 31,68 Adaptado de Melo (2006) Apesar de muito produtiva, os custos de produção da palma também são elevados. Na Tabela 5, Santos et al. (2006) estimam esses custos em quatro espaçamentos. Tabela 5. Estimativa de custo (R$) de implantação de um hectare de palma, em quatro espaçamentos Discriminação Espaçamentos de plantio 2,0 x 1,0m 1,0 x 0,5m 1,0 x 0,25m 3 x1 x0,5m Preparo do solo 90,00 90,00 90,00 90,00 Plantio 150,00 300,00 450,00 165,00 33
33 VI. CIRCUITO..... DE. TECNOLOGIAS ADAPTADAS..... PARA... A. AGRICULTURA FAMILIAR.... Raquetes e transporte 120,00 405,00 825,00 210,00 Adubação orgânica 450,00 450,00 450,00 450,00 Adubação com fósforo 180,00 180,00 180,00 180,00 Capinas 540,00 585,00 720,00 540,00 Total 1.530, , , ,00 Salário mínimo de R$ 300,00 Fonte: Santos et al. (2006) Melo (2003) procurou avaliar a substituição do farelo de soja por palma + uréia. Embora as produções de leite tenham diminuído, a inclusão da palma + uréia baixou os custos da dieta. Essas rações, combinando participações de silagem de sorgo (30% da MS), palma forrageira (31 a 41% da MS), grão de milho (14%), farelo de soja (10 a 22% da MS) e uréia, não provocaram diarréias e nem problemas de ruminação. Resultados obtidos pelo IPA, em Caruaru-PE e Arcoverde-PE, apontam produções no espaçamento de 1,0m x 0,5m de 170t a 200t/MV/ha, dois anos após o plantio, com teores médios de PB de 3 a 6% e de digestibilidade da MS de 65 a 75%. O cultivo adensado da palma, com espaçamento de 1,0m x 0,25m (40 mil plantas por hectare), vem sendo bastante utilizado, principalmente, nos estados de Pernambuco e Alagoas. A tecnologia embora venha obtendo resultados expressivos em produção com 250t a 300t/MV/ha, dois anos após o plantio, requer níveis de adubação mais altos, além maiores requerimentos em termos de limpas. 34
34 PRODUÇÃO... ESTRATÉGICA DE.. ALIMENTOS..... PARA... A PECUÁRIA..... FAMILIAR.... NO.. SEMIÁRIDO Segundo esses resultados, a produção obtida em um hectare de palma em cultivo adensado, associada a fenos de qualidade, permite alimentar 30 vacas por um período de seca de 180 dias, com um consumo diário de 50 kg/vaca/dia. Farelo de Palma O farelo de palma pode ser produzido por intermédio da secagem das raquetes picadas em terreiros cimentados (secador solar), por cerca de três dias (dependendo do sol), com posterior moagem para obtenção do farelo. É evidente que a forma mais fácil e menos trabalhosa de ofertar a palma é na forma verde e suculenta, principalmente no período seco. No entanto, alguns produtores da Paraíba e do Rio Grande do Norte estão aproveitando a palma que não precisou ser cortada no período seco, para produzir o farelo para utilização durante o período das chuvas. Embora possa parecer inviável a extração de 90% da água existente nas raquetes, a qualidade da matéria seca da palma, seus altos rendimentos e os altos custos dos concentrados comerciais, têm justifi cado essas ações dos produtores. Segundo alguns produtores, o farelo da palma enriquecido com uréia (2%) e fornecido a ovinos, juntamente com feno de buffel e pastos nativos, tem proporcionado ganhos diários superiores a 200 g, em pleno período seco. Os resultados da utilização do farelo de palma são ainda controversos. Veras et al. (2002) substituíram até 75% dos grãos de milho por farelo de palma em ensaios com ovinos e concluíram que o farelo mostrou grande potencial para uso como fonte alternativa de energia para ruminantes, mas destacam a necessidade de mais estudos. 35
35 VI. CIRCUITO..... DE. TECNOLOGIAS ADAPTADAS..... PARA... A. AGRICULTURA FAMILIAR.... Palma irrigada e adensada A EMPARN e parceiros acabam de aprovar junto ao Banco do Nordeste/FUNDECI/ETENE, recursos para o desenvolvimento de projeto de pesquisa, com o cultivo irrigado e adensado da palma forrageira, nos municípios de Lajes, Pedro Avelino, Angicos e Cruzeta. Foto 10 Palma irrigada no Sertão Central Nessa região têm sido conduzidos há mais de três anos, plantios de palma realizados em altas densidades de 50 mil plantas/ha (2,0 x 0,10 m), com irrigação por gotejamento de pequena intensidade (5 litros por metro a cada 15 dias) e fertilização orgânica e química. De início pode parecer inapropriada a irrigação de uma cultura xerófila de reconhecida adaptação ao semiárido e inviáveis os altos custos de implantação da tecnologia, da ordem de 11 mil reais por hectare. Mesmo considerando que diversas variáveis precisam ser pesquisadas e confirmadas, principalmente em relação à sustentabilidade da tecnologia e viabilidade econômica, assim como na otimização da irrigação, fertilização, regime de cortes, entre outros, os resultados preliminares obtidos podem ser considerados revolucionários em termos de oportunidades para a pecuária regional. 36
36 PRODUÇÃO... ESTRATÉGICA DE.. ALIMENTOS..... PARA... A PECUÁRIA..... FAMILIAR.... NO.. SEMIÁRIDO Vale ressaltar ainda, que diferentemente do semiárido de Pernambuco e Alagoas, a palma tem fraquíssimo desempenho (murcha severa) nas áreas mais secas e baixas do Rio Grande do Norte, como o Seridó e o Sertão Central. Mesmo os 160 cultivares introduzidos pela EMPARN oriundos de zonas desérticas do México, não obtiveram boa adaptação nessas regiões. Outra abordagem da pesquisa deverá englobar a avaliação dos custos de produção e qualidade nutricional de concentrados energéticos produzidos a partir da desidratação da palma. A energia da palma é comparável à energia do milho e mesmo possuindo 90% de água, com um rendimento de 300 a 400 t/ha, seriam viabilizadas 30 t a 40 t de matéria seca/ha. O projeto visa avaliar sistemas de cultivo irrigado e adensado de palma forrageira no Rio Grande do Norte, com ênfase na sustentabilidade técnica, econômica e ambiental. Entre os objetivos específi cos do Projeto a ser conduzido incluem-se: Validar sistemas de cultivo adensado de palma forrageira e métodos de irrigação compatíveis com a realidade socioeconômica e ambiental da região semiárida do RN; Caracterizar o potencial produtivo, o valor forrageiro e a composição químico-bromatológica dos genótipos da palma forrageira em avaliação; Avaliar níveis de adensamento de plantio e fertilização em sistemas irrigados de palma forrageira no RN; Avaliar frequência e intensidade de cortes em sistemas irrigados de palma forrageira no RN; Avaliar a viabilidade econômica de um sistema de produção de palma forrageira adensada e irrigada, envolvendo captação da água de chuva, armazenamento em cisternas e utilização em sistemas para pequena irrigação. 37
37 VI. CIRCUITO..... DE. TECNOLOGIAS ADAPTADAS..... PARA... A. AGRICULTURA FAMILIAR MANEJO DE CACTÁCEAS NATIVAS No Rio Grande do Norte, particularmente a mesorregião Central Potiguar, que é considerada uma das regiões mais secas do Estado, em épocas de secas prolongadas, a utilização das cactáceas nativas como volumosos estratégicos no arraçoamento dos ruminantes é uma realidade. Mesmo com essa realidade, essas plantas que em quase sua totalidade são originárias da caatinga, necessitam de técnicas que proporcionem maiores incrementos na produção animal, e minimizem os efeitos desfavoráveis das secas, com manejos sustentáveis das espécies. Na caatinga, a colheita das cactáceas xiquexique e mandacaru é feita manualmente retirando-se as brotações laterais, utilizando facão e gancho próprio e tendo-se o cuidado de preservar o caule principal. O material colhido é transportado até o local de fornecimento aos animais (galpão ou aprisco), onde os espinhos são retirados ou queimados por intermédio do lança chamas a gás butano ou forno com queima a lenha Queima dos espinhos das cactáceas 38
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