Em conferência, no Tribunal da Relação do Porto I. INTRODUÇÃO:
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- Maria de Begonha Coelho Aleixo
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1 PN ; Ap.: Tc. VN Gaia, 2ª V. ( TBVNG); Ap.e 1 : Imo Sigilo Construciones, SL, Rua Colón, 24, 4º B, Vigo, Espanha; Ap.o 2 : Condomínio Quinta do Mar [rep. Jaime Rodrigo Magalhães Azevado], Avª Beira Mar, 1671B, 2º Esq., VN Gaia. Em conferência, no Tribunal da Relação do Porto I. INTRODUÇÃO: (a) Não se conformou a A. com a improcedência do pedido: declarar a nulidade de todas as deliberações tomadas nas assembleias de condóminos dos dias /23/27/28 e , e convocada nova assembleia para discussão da ordem de trabalhos da última delas. (b) Da sentença recorrida: (1) Assiste legitimidade activa à A. que se afirma como condómina, comparte da assembleia-geral do condomínio onde foram tomadas as deliberações sob pedido anulatório, mas no que diz respeito ao R., presidente da mesa da assembleia-geral, não foram articulados factos que o permitam configurar como sujeito da relação material controvertida tal como desenhada na p.i., onde se ataca a substancialidade dos actos condominiais e os benefícios deles advindos para outro dos RR: nesta parte, absolvido da instância o 3º R; 1 Adv.: Dra. Sofia F. Costa, Rua Filipa de Lencastre, 22, 3º Esq., sl. 58, Porto. 2 Adv.: Dr. Artur Lopes Cardoso, [Lopes Cardoso & Ass.], Rua Júlio Diniz, 247, 4º, E9, Porto [lopes-cardoso@netcabo.pt]. 1
2 (2) As deliberações impugnadas foram tidas nos dias /23/27/28 e , e a acção foi interposta em : entre aquelas datas e esta decorreram mais de 60 dias. (3) Nos termos dos arts. 279, 296, 328 e 1433/4 CC, tendo em conta que o prazo é de direito substantivo, o direito da A. propor acção de anulação das deliberações, com base nas alegadas anulabilidades, já havia caducado: nesta parte, absolvidas da instância o 1º e 2º RR; (4) Sucede que a A. argúi, a título principal, a nulidade dessas deliberações, invalidade invocável a todo o tempo, art. 286 CC, contudo, os factos que articulou não são passíveis de, ainda que provados, configurarem qualquer nulidade desses actos condominiais. (5) Na verdade, apesar de a lei não concretizar o conceito de interesse do procurador, verifica-se este quando for titular de um direito subjectivo que seja exercido por meio da procuração entregue. (6) Ora, no caso da procuração conferida para o exercício do poder de voto em assembleias de condóminos, de livre revogabilidade, e ainda que nessas assembleias o procurador, ele próprio, possa vir a ser eleito administrador do condomínio, e com remuneração, não é preenchida aquela figura. (7) Portanto, não existe obrigatoriedade legal de essas procurações serem lavradas por instrumento público, art. 116 C.Not. (8) Ao invés, sendo procurações funcionais a actos de administração, para que a lei não exige forma especial, podiam ser, como foram, conferidas por mero documento escrito, art. 262 CC. II. MATÉRIA ASSENTE: (1) A Ap.e, para fundamentar o pedido, alegou: 10. Em todas as assembleias foram apresentadas procurações, passadas a favor do administrador do condomínio: Jaime Azevedo. 11. Dispõe o art. 116/2 C.Not. que as procurações conferidas também no interesse do procurador devam ser lavradas por instrumento público. 2
3 13. [Ora,] o administrador, para além de defender os interesses do condomínio, defende também interesses próprios, visto ser ele também um condómino. 14. Acresce que em todas as assembleias foi eleita a administração do condomínio, e como administrador aquele a quem haviam sido passadas as procurações. 15. [Administrador] com remuneração mensal: é patente o seu interesse na votação. 16./17. Não tendo as procurações obedecido à forma legalmente exigida, há nulidade dos actos praticados ao abrigo delas, que são de nenhum efeito. 18. A declaração de nulidade determina a restituição de tudo quanto tiver sid prestado, art. 289/1 CC. 19. Assim, deve Jaime Azevedo restituir ao condomínio o montante correspondente à soma das quantias que auferiu a título de remunerações pelas funções em que foi investido, sob acto nulo, acrescendo juros de mora vencidos e vincendos à taxa legal, até embolso. 20. Sendo que no ano de 2002 auferiu 7 200,00; no ano de 2003, 7 500,00; desconhecido o montante percebido no ano de [Por outro lado,] quanto ao direito de voto de cada um dos condóminos, este é atribuído de acordo com a permilagem da fracção que representam, no caso não aconteceu. 32. Foi atribuído 1 voto a cada condómino 33./34. [e] o número destes difere de votação para votação, o que apenas se pode explicar pela entrada e saída de condóminos durante a assembleia, que deve começar, continuar e terminar com o mesmo número de presentes. 35. Refira-se ainda que a assembleia de foi suspensa, tendo recomeçado os trabalhos a , contra o princípio da continuidade e perante a circunstância de na 2ª vez não estarem presentes os mesmos condóminos que da 1ª Por último, nos termos do art. 1/1, DL 268/94, 25.10, a actas são obrigatoriamente subscritas por todos os condóminos que nelas hajam participado. 3
4 41. Ora, da acta correspondente à sessão de da assembleia-geral iniciada em verifica-se que tal não acontece, subscrita apenas pelo administrador geral e pelo presidente da mesa. (2) A acção deu entrada na Secretaria do Tribunal em (3) As assembleias-gerais atacadas nas suas deliberações tiveram lugar nos dias /23/27/28 e (4) Alega a A. que não tendo estado presente, não lhe foram transmitidas até à data da propositura as cópias das actas. III. CLS./ALEGAÇÕES: (a) A deliberação que ocorreu no dia pode ser impugnada nos 60 dias subsequentes; logo, o direito de a A. propor a acção de impugnação das deliberações nela tomada caducaria, prima facie, no dia , mas em plenas férias judiciais. (b) Ora, o art. 279.e CC dispõe: o prazo que termine em Domingo ou em dia feriado transfere-se para o primeiro dia útil [e] aos Domingos e feriados são equiparadas as férias judiciais, se o acto sujeito a prazo tiver que ser praticado em Juízo. (c) Assim, como o prazo terminaria em férias, o termo do mesmo ficou transferido para o primeiro dia útil subsequente: (d) Entretanto, a acção deu entrada na Secretaria no dia : não se verificou portanto a caducidade. (e) E o Tribunal a quo, ao entender que o direito de impugnação das deliberações da assembleia de condóminos, , tinha caducado, fez uma errada aplicação da lei, infringindo, entre outros, o disposto nos arts. 279.e, 296 e 1433/4 CC: deverá ser revogada, para que os autos prossigam, com utilidade. IV. CONTRA-ALEGAÇÕES: (a) A sentença recorrida não se limitou a abordar a questão da caducidade do direito de impugnar as deliberações tomadas na assembleia de condóminos de : conheceu de mérito e também decidiu pela improcedência. 4
5 (b) Relegou, enfim, para questão despicienda o problema da caducidade: irrelevante e em falha de consequências práticas. (c) Por outro lado, a Ap.e não afrontou a sentença no capítulo em que a decisão julga inverificada qualquer nulidade de que enfermassem as deliberações: conformou-se neste aspecto. (d) Assim, o presente recurso acaba por ser inútil : a sentença terá sempre de ser mantida. (e) Mas, a propositura da acção de anulação das deliberações, estando sujeita a prazo de caducidade, convoca o disposto no art. 329 CC: não se suspende nem se interrompe, a não ser nos casos em que a lei o determine. (f) Tratando-se, aliás, de um prazo de direito substantivo, nem sequer segue a disciplina de contagem dos prazos do CPC. (g) Não merece censura a sentença de 1ª instância. V. RECURSO, julgado nos termos do art. 705 CPC: (a) A tese sustentada pela recorrente no que diz respeito à não verificação da caducidade do direito de propor acção anulatória, neste caso, de deliberações de deliberações tomadas pelos condóminos em assembleia, é pacífica e procedente. (b) Na verdade, não se trata de um prazo processual mas de uma ficção jurídica em que se tem como último dia de qualquer tipo de prazo, em Juízo, o primeiro pós-férias de Verão, equiparado todo este tempo de 2 meses ao encerramento semanal dos Tribunais. (c) Depois, não procede a argumentação dos Ap.os no sentido de fazer crer que a sentença se pronunciou de fundo, mesmo aceite a caducidade, destroçando os argumentos da nulidade. (d) Quanto a estes, segue, na verdade, uma linha forte, mas o que é certo é ter a A. carreado para a petição inicial certos motivos de anulabilidade, como por exemplo, a não assinatura da acta ou de parte da acta correspondente à assembleia de por parte de todos os condóminos, não ter sido esta correctamente transmitida aos condóminos ausentes, ter ocorrido um sistema de votação contrário à lei (este motivo até já mais da banda das 5
6 nulidades do que das anulabilidades), mas que não foram considerados no balanço final. (e) Por conseguinte, há que decidir revogar a sentença na parte em que absolveu da instância por caducidade do direito de pedir a anulação das deliberações, tema em aberto e que, por sua vez, tem qualidade suficiente para suscitar, afinal de contas, um produtivo debate global da causa, nomeadamente no precioso plano conciliatório, tanto que a estratégia da nulidade se não distingue, enfim, da estratégia da anulabilidade, neste domínio da juridicidade do litígio. (f) E esta solução, por assim dizer, intercalar deste, abre, depois, a possibilidade de uma discussão de facto e de direito sobre um ponto que não parece despiciendo, a saber: quando a lei marca o prazo de 60 dias para ser intentada a acção de anulação de deliberações condominiais, contado da data da assembleia, para condóminos presentes ou ausentes, no perfil e conceito da ausência, aqui equiparada à presença, desenhará também o desconhecimento do condómino ausente, por não lhe ter sido comunicada a acta, segundo a lei? Parece possível uma resposta negativa e, deste modo, os argumentos da Ap.e no sentido de esgrimir não ter sido notificada recobram novo vigor, na capa de contribuírem para uma das soluções jurídicas possíveis, segundo o conspecto do art. 511/1 CPC. (g) Por conseguinte, visto este preceito legal e os arts. 279.e, 296 e 1433/4 CC, foi revogada a decisão de 1ª instância para que o material dos articulados seja encarado do ponto de vista do prosseguimento de um congruente debate da causa. (h) E, quanto a custas, foi decidido: no final, por quem sucumbir VI. RECLAMAÇÃO, do MP, nos termos do artº 666/2.3, 669/1b e 716CPC, artº 219CRP, artº 1 e 3f, lei 47/86, 15.10, alt. Lei 60/98, 27.08: 1. O princípio da causalidade estrutura o nosso sistema de responsabilidade pelo pagamento das custas-artº 446/1CPC; 2. Procedendo a apelação, ficaram os recorrentes vencedores, pelo que não decairam; 6
7 3. Logo, não podem ser condenados nas custas deste recurso; 4. Devem nelas serem condenados os ap.os/recorrentes subordinados, já que ficaram vencidos; 5. Com efeito, as custas apenas ficarão pelo vencido a final, nos casos de anulação oficiosa do julgamento, artº 712/4 CPC; 6. No caso concreto, o julgamento não foi anulado oficiosamente, sendo certo que a anulação consta do pedido do recurso 3 VII. RESPOSTAS: Não houve. VIII. SEQUÊNCIA: 1. Não procede a reclamação do MP, visto que a decisão de anular o julgamento de facto, em quaisquer circunstâncias e não só, evidentemente, quando são oficiosas, tornam interino o curso dos debates: não há motivo dado à conta de custas. 2. Na verdade, o artº 446CPC, impõe a prevalência hermenêutica geral do segmento a decisão que julgue a acção: não há aqui interinidade alguma, aspecto que se estende, em nosso entender, a quaisquer incidentes e aos recursos. 3. Nesta perspectiva, mesmo o recurso onde a parte faça vencimento no sentido da anulação do julgamento de facto não é recurso julgado no contexto da definitividade tributária: naturalmente que a causa vai prosseguir até um ou sucessivos momentos consolidados. 4. Entretanto, este entendimento ajusta-se ao fundamento mesmo do pagamento das custas tal como taxa de justiça, isto é, contrapartida do cidadão por beneficiar do serviço de justiça: este, para ser taxado com a justiça e a equanimidade constitucionais 4, tem de estar de alguma forma perfeito no seu significado de finalização litigiosa ou intercalar 5. Tudo visto, e a disposição de custas citada, não acolhem a reclamação do Ministério Público, mantendo o despacho, afinal, apenas no que sempre disse respeito a uma suspensão decisória sobre a matéria tributária. 3 Neste mesmo sentido, já foi decidido em PN1684/00 TRPorto, 5ª Secção. 4 Vide artºs 103/1CRP. 7
8 IX. CUSTAS: Enfim, no final, por quem vier a decair; mas não serão contadas no caso específico da presente reclamação, por sempre se tratar de passo necessário à fixação do julgado. 8
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