PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Santa Rita do Passa Quatro, em que é apelante ANDRE LUIS TACON DOS SANTOS, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso, nos termos do v. acórdão. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), BORGES PEREIRA E NEWTON NEVES. São Paulo, 3 de fevereiro de Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação nº Comarca: Santa Rita do Passa Quatro Apelante: ANDRE LUIS TACON DOS SANTOS Advogado: Thiago Jordão VOTO Nº.7567 Apelação. Falsificação de documento. Pedido de absolvição por insuficiência de provas quanto à autoria. Viabilidade. Assunção integral de culpa pela corré, devidamente ratificada por laudo pericial que a reconheceu como autora da falsificação. Provas insuficientes quanto à participação. Mera presunção de que o apelante tenha agido em concurso com sua companheira. 'In dubio pro reo'. Provido. Trata-se de recurso de apelação interposto por ANDRE LUIS TACON DOS SANTOS contra sentença de primeiro grau (fls. 114/118), prolatada em 3 de fevereiro de 2011, pela MM. Juíza de Direito, Dra. Nélia Aparecida Toledo Azevedo, da Vara Criminal da Comarca de Santa Rita do Passa Quatro, que o condenou às penas de 1 ano de reclusão e pagamento de 10 dias-multa, no piso legal, suspensa condicionalmente por 2 anos, declarando-o incurso no Apelação nº

3 art. 298 combinado com o art. 29, ambos do Código Penal. Irresignado, interpôs recurso de apelação objetivando, em resumo, a absolvição por ausência de provas quanto à sua participação no delito. Em suas contrarrazões, o Ministério Público bateu-se pelo acerto do decisum, reiterando manifestação anterior, consoante art. 2º, caput do Ato nº. 536/2008-PGJ-CGMP. A douta Procuradoria Geral de Justiça, em seu parecer, endossou as contrarrazões ministeriais, opinando pelo improvimento ao apelo. É o relatório. Devidamente processado, o apelo defensivo comporta provimento, merecendo pequeno reparo a r. decisão atacada. Consoante descreve a denúncia, no dia 10 de novembro de 2005, o apelante, juntamente com sua companheira Andreli Roberta de Lima, teria inserido falsa assinatura em contrato particular de locação, fazendo constar como fiador João de Lima Sobrinho, pai desta. Embora a materialidade tenha restado demonstrada no decorrer da instrução processual, o mesmo não se pode dizer em relação ao envolvimento do apelante, porquanto persistem dúvidas quanto à real participação deste, na falsificação da assinatura do genitor da corré. O locador Francisco de Assis Ramos relatou (fl. 92) ter alugado seu imóvel aos réus e, em virtude do Apelação nº

4 inadimplemento dos alugueres, procurou pelo fiador, pai de Andreli, o qual se mostrou surpreso com a notícia e negou ter assinado qualquer contrato de locação. A vítima João de Lima Sobrinho afirmou (fl. 93) não ser sua a assinatura exarada no instrumento de locação e, após conversar com sua filha, a mesma teria confessado a autoria da falsificação da assinatura. Andreli, em seu interrogatório (fls. 94/95), confessou ter falsificado a assinatura de seu pai e isentou o apelante de participação na pratica delitiva. O apelante, embora devidamente intimado, esquivou-se de comparecer à audiência de instrução, sendo consignada sua ausência (fl. 91). O laudo pericial (fls. 42/44) certificou a falsificação da assinatura, concluindo: foram observadas convergências gráficas que permitem atribuir o preenchimento da assinatura do fiador do documento examinado com o material gráfico fornecido por Andreli Roberta de Lima. Por derradeiro, consoante a argumentação aduzida nas razões defensivas, permanece operante a possibilidade de isenção de participação do apelante na prática do delito, sem qualquer prova em contrário capaz de comprovar seu efetivo envolvimento. Não bastasse a conclusão do laudo pericial, imputando exclusivamente a corré, a falsificação da assinatura exarada no contrato, a mesma igualmente repeliu eventual participação do apelante nos fatos apurados. Apelação nº

5 No mesmo passo, as provas orais em nada desfavorecem o apelante, sendo certo que, dos testemunhos colhidos, Andeli sempre foi apontada como responsável pela falsificação, assim como reconheceu em conversa mantida com seu próprio pai. Diante do quadro, intangível convalidar a mera presunção de que o apelante estivesse agindo em concurso com Andreli, a despeito da confissão ofertada por esta em sentido contrário, devidamente ratificada pelo laudo pericial, em vista da total carência de outros elementos elucidativos, o que configuraria, em última análise, patente afronta ao princípio constitucional da prevalência do interesse do réu - in dubio pro reo. Portanto, o conjunto probatório produzido se mostra inseguro para a configuração da aludida participação no crime de falsificação, não restando alternativa mais acertada a não ser a absolvição do apelante, frente às incertezas que permeiam o caso. De tal sorte, impõe-se a absolvição, como medida de rigor, porquanto não comprovada a suposta autoria em face do apelante. Ante o exposto, pelo meu voto, dou provimento ao apelo defensivo, para absolver ANDRE LUIS TACON DOS SANTOS, do delito de falsificação, com fulcro no art. 386, VII, do Código de Processo Penal. Apelação nº

6 GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator Apelação nº