PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Santos, em que é apelante RENATO CORREA DA SILVA, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), LEME GARCIA E OSNI PEREIRA. São Paulo, 23 de fevereiro de Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação Criminal nº Comarca: Santos Apelante: RENATO CORREA DA SILVA Apelado: Ministério Público VOTO Nº Apelação. Roubo simples tentado. Condenação. Pleito defensivo de absolvição por insuficiência probatória e, subsidiariamente, desclassificação para o delito de furto. Condenação bem fundamentada no farto e robusto acervo probatório. Grave ameaça que impede a desclassificação para o crime de furto. Reprimenda que não comporta reparo, porquanto já fixada no mínimo legal. Regime inicial aberto bem fundamentado pelo juízo 'a quo', com base no 'quantum' de pena. Em que pese a presença de grave ameaça, mantenho a substituição por restritivas de direitos, ante a ausência de recurso ministerial, pelo princípio do 'non reformatio in pejus'. Recurso improvido. Trata-se de recurso de apelação interposto pela douta defesa de RENATO CORREA DA SILVA, contra sentença de primeiro grau (fls. 160/164), prolatada em 15 de abril de 2015, pela MM. Juíza de Direito, Dra. Renata Vergara Emmerich de Souza, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Santos, que condenou o apelante às penas de 2 anos e 8 meses, de reclusão, em regime inicial aberto, e ao pagamento de 6 dias- Apelação nº

3 multa, no mínimo legal, substituída a pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos, consistentes em prestação de serviços à comunidade e outros 10 dias-multa, dando-o como incurso no art. 157, caput, c.c. art. 14, inciso II, ambos do Código Penal. Irresignada, a defesa interpôs o presente recurso de apelação (fls. 172/176), pleiteando, em síntese, a absolvição por insuficiência probatória e, subsidiariamente, a desclassificação para o delito de furto. Em suas contrarrazões (fls. 179/181), o Ministério Público bateu-se pela procedência da ação penal, reiterando manifestação anterior, consoante art. 2º, caput do Ato nº. 536/2008-PGJ-CGMP. A Procuradoria Geral de Justiça, em seu parecer (fls. 189/192), opinou pelo desprovimento ao recurso. É o relatório. Devidamente processado, o apelo não comporta provimento, merecendo subsistir, in totum, a r. decisão atacada. Consoante descreve a denúncia, no dia 17 de maio de 2009, por volta das 00h40min, na Rua Nicolau Miguel Obeid, nº 60, Jardim Vista Linda, cidade de Bertioga, Renato Correa da Silva, tentou subtrair, para si, uma bicicleta, de cor preta, aro 26, avaliada em R$ 200,00, consoante auto de avaliação de fl. 19, pertencente à vítima Yasmin Rodrigues de Oliveira, não se consumando o delito em virtude de circunstâncias alheias à vontade do agente. Apelação nº

4 Segundo consta, o denunciado ingressou na residência situada no endereço supracitado, momento em que foi surpreendido por Priscila. Ato contínuo, Renato proferiu a seguinte frase: Vá para sala sua vagabunda. Apoderou-se da bicicleta e deixou a casa na condução da mesma. Momentos após, o denunciado foi detido por populares, impedindo, assim, a consumação do delito. A materialidade restou comprovada pelo auto de prisão em flagrante (fls. 2/3), boletim de ocorrência (fls. 16/17), auto de exibição e apreensão (fl. 18), auto de avaliação (fl. 19) e auto de entrega (fl. 20). A autoria, por sua vez, foi amplamente demonstrada no decorrer da instrução processual. A vítima Yasmim narrou estar na casa da amiga, mais precisamente no banheiro, quando escutou uma voz dizendo vá para o quarto. Quando encontrou sua amiga, ela lhe disse que um rapaz havia entrado na casa e subtraído a bicicleta. Narrou ter pedido ajuda a um popular e, em diligência, avistou sua bicicleta abandonada a aproximadamente uma quadra da residência. Informou sobre o reconhecimento do acusado pela amiga logo após sua prisão. A vítima Priscila narrou estar em casa, lavando louça, enquanto Yasmim estava no banheiro. Disse que Renato entrou na casa e mandou ela para o quarto. Sentiu-se intimidada. O acusado pegou a bicicleta e fugiu. Informou sobre a corrente da bicicleta ter caído e, por isso, Renato a abandonou no chão, sendo preso logo em sequência. Reconheceu o réu. Apelação nº

5 O policial militar Claudêncio narrou estar em serviço quando foi acionado, via COPOM, sobre um indivíduo estar sendo linchado por populares. Deslocou-se até o endereço e se deparou com Renato. Disse que ele possuía algumas escoriações, entretanto, disse ser trabalhador. Informou sobre as vítimas chegarem ao local e relatarem o acontecido. Uma das vítimas reconheceu o acusado. Viu a bicicleta próxima a Renato, porém não soube dizer se foi deixada por ele ou por populares. O acusado, em solo policial, manteve-se em silêncio. Em juízo, foi declarado revel. De tal sorte, amplamente demonstradas autoria e materialidade do delito, irreprochável a manutenção da condenação do apelante, cuja reprimenda, não comporta reparo. A pena-base foi fixada no mínimo legal. Na última fase, corretamente a pena foi reduzida, em 1/3, ante o extenso iter criminis percorrido, perfazendo 2 anos e 8 meses, de reclusão, e 6 dias-multa, no piso legal. Ainda, corretamente foi fixado o regime inicial aberto, ante o quantum de pena, em sintonia com o artigo 33, do Código Penal. Por fim, não obstante a grave ameaça empregada, o juízo a quo substituiu a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Ressalta-se intangível a substituição da reprimenda corporal por pena alternativa, uma vez não atendido o requisito expresso, previsto no inciso I, do art. 44, do Código Penal, segundo o qual as penas restritivas somente podem ser Apelação nº

6 conferidas quando o crime não for cometido com violência ou grave ameaça. Todavia, ante a ausência de recurso ministerial, embora meu cálculo resulte em pena superior àquela imposta, em prestígio ao non reformatio in pejus mantenho a substituição estipulada pelo juízo a quo. Ante o exposto, pelo meu voto, nego provimento ao apelo defensivo interposto pela douta defesa, mantendo-se, in totum, a r. decisão atacada, por seus próprios e jurídicos fundamentos. GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator Apelação nº