PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso Em Sentido Estrito nº , da Comarca de Araraquara, em que é recorrente RICARDO BRAZ DA SILVA ROZA, é recorrido MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso, nos termos do v. acórdão. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), LEME GARCIA E BORGES PEREIRA. São Paulo, 7 de julho de Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Recurso em Sentido Estrito nº Comarca: Araraquara Recorrente: RICARDO BRAZ DA SILVA ROZA Recorrido: Ministério Público VOTO Nº Recurso em Sentido Estrito. Homicídio qualificado tentado. Pronúncia. Pleito defensivo de preliminar de nulidade da sentença, pois teria excedido à análise dos fatos, inépcia da inicial por falta de justa causa e, no mérito, desclassificação para o crime de lesão corporal. Ausência de prova da qualificadora imputada. Pronúncia mantida. Recurso parcialmente provido. Trata-se de Recurso em Sentido Estrito interposto pela douta defesa de RICARDO BRAZ DA SILVA ROZA, contra decisão (fls. 292/299), prolatada em 15 de setembro de 2014, pelo MM. Juiz de Direito, Dr. José Roberto Bernardi Liberal, da Vara Criminal da Comarca de Araraquara, que pronunciou o recorrente como incurso no art. 121, 2º, inciso II, c.c. art. 14, inciso II, ambos do Código Penal. Recurso Em Sentido Estrito nº

3 Irresignada, a defesa interpôs o presente recurso (fls. 304/309), pleiteando, preliminarmente, nulidade da sentença, pois teria excedido à análise dos fatos, inépcia da inicial por falta de justa causa e, no mérito, desclassificação para o crime de lesão corporal. Em suas contrarrazões (fls. 315/319), o Ministério Público requer a manutenção da decisão de pronúncia. A douta Procuradoria Geral de Justiça, em seu parecer (fls.344/345), endossou as razões ministeriais, opinando pela manutenção da decisão do juízo a quo. É o relatório. Em que pesem os ponderáveis fundamentos expostos nas razões recursais, o pleito somente comporta parcial provimento, para afastar a qualificadora do motivo fútil, merecendo subsistir, no mais, a r. decisão atacada. Consoante descreve a denúncia, no dia 22 de novembro de 2009, por volta das 22h40min, na Rua José Airton Cury, defronte ao numeral 190, Jardim Selmi Dei IV, cidade de Araraquara, o recorrente, fazendo uso de uma espingarda, tentou matar seu cunhado Dorival Ribeiro, somente não se consumando o crime por circunstâncias alheias à sua vontade. Segundo consta, o recorrente e Dorival possuem desentendimentos de ordem familiar. Por esta razão, quando viu Dorival chegar defronte à sua residência, dirigindo um veículo, Ricardo efetuou cinco disparos contra ele. Quatro Recurso Em Sentido Estrito nº

4 atingiram o vidro e a porta do motorista e um atingiu o braço de Dorival, causando-lhe as lesões do exame de corpo de delito de fl. 71. A vítima conseguiu deixar rapidamente o local, impedindo que a agressão continuasse. O motivo do crime foi um desentendimento familiar decorrente da morte da mãe e da irmã de Dorival, em acidente de trânsito, quando em companhia de Ricardo, portanto, de natureza fútil. A materialidade restou comprovada pelo laudo de exame de corpo de delito (fl. 71). Os indícios de autoria, por sua vez, foram demonstrados durante toda a instrução probatória. Inicialmente, não há que se falar em excesso de linguagem. Após essa breve relato dos fatos, feito de forma genérica, o magistrado a quo adentrou a análise do caso concreto, limitando-se a, apenas, reproduzir as provas colhidas até o momento, passando a fundamentar a prova da materialidade e elencar as declarações de cada testemunha, concluindo, ao final, pelas condições legais suficientes a pronunciar o recorrente. No mais, deixou de indicar o patrono do acusado qual ou quais trechos teria se excedido o decisum. O acusado, em juízo, admite que efetuou um disparo no carro em que a vítima se encontrava. Afirma que Dorival é seu ex-cunhado e o acusa do acidente que ocorreu Recurso Em Sentido Estrito nº

5 com sua mãe e sua irmã. Sobre este fato, salienta que estava com o carro parado no acostamento e outro carro as atropelou. A vítima o ameaçava por conta disso. No dia dos fatos, Dorival teria dito que lhe daria um tiro na boca e, assim, para assustá-lo, efetuou um disparo de espingarda no carro onde estava o ofendido.. Afirma nao ter, na ocasião, intenção de matá-lo e o tiro foi na direção do carro, para assustá-lo. Como é sabido, nos termos do art. 415, do Código de Processo Penal, a absolvição sumária exige a cabal demonstração quanto à causa de exclusão do crime, de modo que a dúvida deve ser dirimida pelo juízo competente para a análise do mérito e, in casu, não há qualquer suporte fático para a absolvição, como bem fundamento pelo juízo a quo. Presentes, assim, os indícios suficientes de autoria, necessária se faz a manutenção da decisão de pronúncia, devendo o julgamento ser remetido ao juiz natural da causa, o Conselho de Sentença do Tribunal do Júri, para que analise o mérito. Por fim, pequeno reparo merece a decisão somente quanto à qualificadora do motivo fútil. O crime sempre tem uma motivação, de modo que desconhecer a razão que levou o agente a cometê-lo jamais deve ser considerado motivo fútil 1. In casu, o motivo seria a morte da esposa e da sogra do acusado, o que não pode ser considerado fútil ou insignificante. Ante o exposto, pelo meu voto, dou parcial provimento 1 NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal comentado. 14 ed. rev., atual. e ampl. RJ Forense Recurso Em Sentido Estrito nº

6 ao recurso defensivo, apenas para afastar a qualificadora do motivo fútil, mantendo-se, no mais, a r. decisão atacada. GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator Recurso Em Sentido Estrito nº