PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de São Paulo, em que é apelante DANILO PEREIRA BATISTA, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), LEME GARCIA E OSNI PEREIRA. São Paulo, 23 de fevereiro de Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação Criminal nº Comarca: São Paulo Apelante: DANILO PERAIRA BATISTA Apelado: Ministério Público VOTO Nº Apelação. Furto qualificado tentado. Sentença condenatória. Pleito defensivo de absolvição por insuficiência probatória e, subsidiariamente, por inimputabilidade ante a embriaguez. Em caso de condenação, requer o afastamento da qualificadora e redução da pena imposta. Condenação pautada no farto e seguro acervo probatório. Ausência de elementos justificadores do reconhecimento de sua inimputabilidade. Embriaguez voluntária. Qualificadora comprovada por laudo. Reprimenda bem aplicada. Pena-base fixada no mínimo legal. Reconhecida a confissão, na segunda fase, porém, não altera a pena, conforme súmula n.º 231, do STJ. Correta a redução, em 1/3, ante o extenso 'iter criminis' percorrido pelo autor. Por fim, mantenho o regime inicial aberto e substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos. Recurso improvido. Trata-se de recurso de apelação interposto pela douta defesa de DANILO PERAIRA BATISTA, contra sentença de primeiro grau (fls. 119/121v), prolatada em 9 de abril de 2015, pela MM. Juíza de Direito, Dra. Juliana Guelfi, da 4ª Vara Criminal da Comarca de São Paulo, que condenou o apelante às penas de 1 ano e 4 meses, de reclusão, em regime Apelação nº

3 inicial aberto, e ao pagamento de 6 dias-multa, no piso legal, declarando-o como incurso no art. 155, 4º, inciso I, c.c. art. 14, inciso II, ambos do código Penal, substituída a pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos, consistentes em prestação de serviços à comunidade e prestação pecuniária em favor da vítima. Irresignada, a defesa interpôs o presente recurso de apelação (fls. 127/131), pleiteando, em síntese, absolvição por insuficiência probatória e, subsidiariamente, por inimputabilidade, ante a embriaguez do acusado. Em caso de condenação, requer o afastamento da qualificadora e redução da pena imposta. Em suas contrarrazões (fls. 138/148), o Ministério Público bateu-se pela manutenção do decisium. A douta Procuradoria Geral de Justiça, em seu parecer (fls. 155/157), opinou pelo desprovimento ao recurso. É o relatório. Devidamente processado, o recurso não comporta provimento. Consoante descreve a denúncia, no dia 9 de maio de 2014, às 00h15min, na Avenida Conceição, altura do nº 4.750, Vila Medeiros, cidade de São Paulo, Danilo Pereira Batista, tentou subtrair para si, mediante rompimento de obstáculo, um rádio toca CD de frente removível, marca Pionner, avaliado em R$ 300,00, e um veículo Fiat Siena EX, cor cinza, placa CVC-4119/SP, bens pertencentes à Deolinda Mingorance Apelação nº

4 de Oliveira, bem como óculos de sol da marca Chilibeans, avaliado em R$ 280,00, pertencente à vítima Marcos Aurélio de Oliveira, somente não consumando o delito por circunstâncias alheias à sua vontade. Na data dos fatos, o ofendido Marcos, conduzindo o automóvel pertencente à sua mãe Deolinda, dirigiuse até a casa de seu amigo Fernando, situada na Avenida Conceição, tendo estacionado o automóvel em via pública. Segundo consta, nas circunstâncias de tempo e lugar acima descritas, o denunciado quebrou o vidro dianteiro do automóvel estacionado. Em seguida, ingressou no carro, ajustou o banco e separou a frente do rádio e os óculos de sol. Todavia, antes que pudesse acionar o motor e empreender fuga, foi surpreendido por Marcos e Fernando, os quais, ao avistarem o indiciado já no interior do carro, correram em sua direção, afugentando-o. Ocorre que o denunciado percebeu a movimentação, saiu do automóvel e empreendeu fuga, passando a ser perseguido por Marcos e Fernando. Em determinado momento, o ofendido viu passar uma viatura de polícia, que realizava patrulhamento pela região. Após acionados, os milicianos também passaram a perseguir Danilo, conseguindo detê-lo. A materialidade, assim, restou comprovada pelo auto de prisão em flagrante (fls. 2/10), boletim de ocorrência (fls. 11/14) e auto de exibição, apreensão, constatação e entrega (fl. 15). Apelação nº

5 A autoria, por sua vez, foi amplamente demonstrada no decorrer da instrução processual. A vítima Marcos informou ter deixado o veículo estacionado e entrou na residência de um amigo. Olhou pela janela e percebeu Danilo no interior do carro. Ao notar sua aproximação, o apelante saiu correndo e o ofendido foi em seu encalço. Durante a fuga, Marcos salientou ter avistado uma viatura e acionou os policiais, que detiveram o acusado. Disse que Danilo quebrou o vidro do passageiro, revirou todo o veículo, bem como já havia separado seus óculos e a frente do rádio para levar. Por fim, esclarece ter gasto R$ 150,00 com o conserto do vidro. A testemunha de acusação Fernando apenas ratificou o depoimento de Marcos. Disse também ter perseguido o acusado durante a fuga. Por fim, reconheceu-o em juízo. A policial militar Márcia disse estar em patrulhamento de rotina, quando avistou o exato momento em que Danilo saiu correndo de dentro do carro, sendo perseguido pela vítima e seu amigo. Salientou que o acusado ainda tinha cacos de vidro do carro em sua roupa e os bens do ofendido já estavam separados. No mesmo sentido foi o depoimento do policial militar André. O acusado, em juízo, confessou parcialmente a imputação. Alegou ter saído de um baile funk, onde tinha ingerido bebida alcóolica. Quando passou pelo carro, Apelação nº

6 percebeu este com o vidro quebrado e notou a caixinha dos óculos. Entrou no veículo para furtar, mas escutou os gritos da vítima. Saiu correndo, sendo detido por policiais parados no posto de gasolina. Negou ter quebrado o vidro do veículo, mas relatou que responde por outro furto tentado e estava em liberdade provisória, descumprindo as regras de sua liberdade vigiada. A condenação, portanto, está em perfeita harmonia com as provas produzidas, inclusive quanto à qualificadora, sendo o depoimento das vítimas em total consonância com o relatado pelos policiais que participaram do flagrante. Rejeito, também, a tese suscitada de embriaguez, pela ausência de elementos justificadores do reconhecimento de sua inimputabilidade. Não há nos autos provas seguras e firmes que atestem não ter o acusado, no momento da ação, capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinarse de acordo com esse entendimento, fragilizando o pedido. Ademais, a simples afirmação de estar embriagado não possui o condão de escorar tal pleito, necessitando, ao menos, de exame clínico, laboratorial ou prova testemunhal nesse sentido, além da comprovação do caráter acidental da ação, porquanto a embriaguez voluntaria não afasta a imputabilidade. A pena do apelante também não comporta qualquer reparo. A base foi fixada no mínimo legal de 2 Apelação nº

7 anos de reclusão e 10 dias-multa. Na segunda fase, como bem salientado pelo juízo a quo, embora reconhecida a confissão, conforme súmula n.º 231, do STJ, a pena não pode ir aquém do mínimo nessa fase da dosimetria. Por fim, o crime não se consumou, sendo correta a diminuição, em 1/3, ante o extenso iter criminis percorrido, resultando a pena de 1 ano e 4 meses, de reclusão, e 6 dias-multa, no piso legal. Por fim, mantenho em regime inicial aberto e a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos, como bem fundamentado pelo juízo a quo. Ante o exposto, pelo meu voto, nego provimento ao apelo interposto pela douta defesa, mantendose, in totum, a r. sentença atacada, por seus próprios e jurídicos fundamentos. GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator Apelação nº