ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores NEWTON NEVES (Presidente), ALMEIDA TOLEDO E PEDRO MENIN.

Transcrição

1 fls. 1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Itatiba, em que é apelante CARLOS EDUARDO CORDEIRO DE SOUZA sendo apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Acolheram a preliminar argüida para declarar nula a sentença, devendo outra ser prolatada, após a realização da prova pericial com a instauração do incidente de insanidade mental, V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores NEWTON NEVES (Presidente), ALMEIDA TOLEDO E PEDRO MENIN. São Paulo, 29 de novembro de Newton Neves RELATOR Assinatura Eletrônica

2 fls. 2 2 VOTO Nº: APEL.Nº: COMARCA: ITATIBA APTE...: CARLOS EDUARDO CORDEIRO DE SOUZA APDO...: MINISTÉRIO PÚBLICO *FURTO Preliminar de nulidade Dúvida quanto à higidez mental do apelante Necessidade de instauração do incidente de insanidade mental para apuração da imputabilidade do acusado Cerceamento de defesa Nulidade reconhecida Sentença anulada Recurso provido para esse fim (voto 14052).* A r. sentença de fls. 154/156, com relatório adotado, julgou parcialmente procedente a ação penal para condenar CARLOS EDUARDO CORDEIRO DE SOUZA ao cumprimento da pena corporal de 05 (cinco) meses de reclusão, e ao pagamento de 04 (quatro) dias multa, cada um deles fixados no piso mínimo, por incurso no artigo 155, parágrafo 4º, inciso I, c.c. o artigo 14, inciso II, ambos do Código Penal, fixado o regime semiaberto para cumprimento da pena que foi, ao final, concedida a suspensão condicional da pena pelo prazo de 02 (dois) anos. Apela a defesa alegando, em preliminar, a nulidade da sentença pelo cerceamento de defesa. No mérito, busca a absolvição, com fundamento na fragilidade probatória. Recurso processado, com parecer do Ministério Público, pelo acolhimento da preliminar

3 fls. 3 3 argüida, para que seja anulada a sentença de primeiro grau e determinada a instauração do incidente de insanidade mental, e, no mérito, pelo não provimento do recurso. A douta Procuradoria Geral de Justiça opinou pela elaboração do exame de insanidade mental do apelante, sem anulação da sentença condenatória, e, no mérito, pelo não provimento do recurso. É o relatório. Impõe-se o acolhimento da preliminar arguida pela defesa, anulando-se a r. sentença condenatória. Compulsando os autos, verifica-se a existência de diversas circunstâncias indicativas de que o apelante, no momento do crime, pudesse não possuir a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, o que demanda a instauração do incidente de insanidade mental. Anote-se que a defesa pugnou a instauração do incidente de sanidade mental com o que concordou o Ministério Público (fls. 139). Todavia, o requerimento não foi apreciado pelo d. magistrado sentenciante, que somente reconheceu na sentença a capacidade de

4 fls. 4 4 entendimento e autodeterminação do apelante sob o fundamento de que: Consta que o réu é interditado em virtude de problemas com drogas. Entretanto, conforme por ele próprio e sua mãe esclarecido em audiência, o réu trabalha e está noivo, demonstrando no interrogatório lucidez plena e raciocínio preservado, nada denotando o comportamento de sua higidez mental (fls. 155). Não é isso, porém, o que se verifica dos autos. Os laudos periciais (fls. 117/119 e fls. 160/162), bem como a sentença que declarou a incapacidade civil relativa do apelante (fls. 125/126) trazem fundadas dúvidas quanto à saúde mental do recorrente. Segundo a doutrina de Guilherme de Souza Nucci, para a instauração do incidente de insanidade mental é preciso que a dúvida a respeito da sanidade mental do acusado ou indiciado seja razoável, demonstrativa de efetivo comprometimento da capacidade de entender o ilícito ou determinar-se conforme esse entendimento. Crimes graves, réus reincidentes ou com antecedentes, ausência de motivo para o cometimento da infração, narrativas genéricas de testemunhas sobre a insanidade do réu, entre

5 fls. 5 5 outras situações correlatas, não são motivos suficientes para a instauração do incidente. 1 E, no caso em apreço, a circunstância do réu já ter sido declarado incapaz para a prática dos atos civis, aliado aos documentos juntados, traduzem uma fundada suspeita de comprometimento de sua saúde mental, a justificar a instauração do incidente pleiteado pela defesa. Desse modo, há manifesto cerceamento de defesa na decisão judicial de primeira instância, mostrando-se necessária a realização do exame pericial para apuração da higidez mental do sentenciado. Ante o exposto, acolhe-se a preliminar argüida para declarar nula a sentença de fls. 154/156, devendo outra ser prolatada, após a realização da prova pericial com a instauração do incidente de insanidade mental. Newton Neves Relator 1 Código de Processo Penal Comentado, 8ª Edição, Ed. Revista dos Tribunais, p. 331.