TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de, em que é apelante/apelado PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, é apelado/apelante EVANILDA PACÍFICO MUNIZ (JUSTIÇA GRATUITA). ACORDAM, em 4ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso da municipalidade e julgaram prejudicado o conhecimento do recurso da autora.v.u.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores RICARDO FEITOSA (Presidente) e OSVALDO MAGALHÃES., 20 de março de LUIS FERNANDO CAMARGO DE BARROS VIDAL RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação nº Apelante/Apelado: Prefeitura Municipal de Apelado/Apelante: Evanilda Pacífico Muniz Comarca: Voto nº Ementa: Direito administrativo. Sanção disciplinar de demissão imposta a Guarda Civil de São Paulo. Apresentação de atestado médico falso. Fato de gravidade objetiva. Consenso social de reprovabilidade da conduta. Danosidade nas relações entre servidores e administração pública. Inexistência de injustiça manifesta. Pena proporcional. Revisão judicial do ato administrativo não autorizada. Sentença de procedência reformada. Recurso da municipalidade provido. Recurso da autora prejudicado. A r. sentença de fls. 488/491, cujo relatório é adotado, julgou parcialmente procedente a presente ação para anular a pena de demissão aplicada a guarda municipal que ofertou atestado médico falso para justificar falta ao serviço, por entendê-la desproporcional. Ao mesmo tempo, negou a pretensão de pagamento dos vencimentos e vantagens funcionais omitidos, por entender que a gravidade dos fatos causaria enriquecimento sem causa. Apela a municipalidade a perseguir a improcedência integral da ação ao argumento de que foi aplicada a sanção prevista em lei e proporcional à gravidade do fato (fls. 500/509). O recurso não foi respondido. Apela a autora a perseguir a integral procedência da Apelação nº Voto nº

3 ação, ao argumento de que a percepção dos vencimentos e demais vantagens do cargo é consequência da anulação da sanção (fls. 512/519). O recurso foi respondido (fls. 527/537). É o relatório. O voto é pelo provimento do recurso da municipalidade, restando prejudicado o recurso da autora. É certo e incontroverso que a guarda municipal ofertou atestado médico falso para justificar falta, discutem as partes sobre a proporcionalidade da medida e sobre os efeitos da anulação da decisão administrativa pela r. sentença apelada. O uso de documento falso perante a administração é fato definido na lei penal como crime, e, portanto, de gravidade objetiva inerente à noção de mínimo ético que informa o direito penal e que expressa consenso social a respeito do comportamento abstratamente considerado. Demonstrou a municipalidade em suas razões recursais que o fato definido como crime é também reprovável no domínio das relações do direito do trabalho. Esta Corte, em caso idêntico ao presente, e de interesse da mesma municipalidade no exercício do poder-dever disciplinar sobre outro guarda municipal, já teve a oportunidade de reconhecer a conformidade da sanção aplicada com o ordenamento jurídico: SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL. Reintegração ao cargo Guarda Civil Metropolitano. Pretensão de anular ato de demissão. Sentença improcedente. Comprovação de que o autor utilizou atestado médico falso para justificar ausência no trabalho. Apelação nº Voto nº

4 Procedimento administrativo que observou os princípios legais. Recurso desprovido. (Apelação nº rel. Des. Samuel Júnior). Este entendimento não destoa da orientação dada em casos análogos nesta mesma Corte, como pode se ler nas Apelações nº rel. Des. Luiz Sergio Fernandes de Souza, nº relª. Desª. Maria Olivia Alves, nº relª. Desª. Maria Laura Tavares e nº rel. Des. Urbano Ruiz. Assim sendo, e não obstante o respeito ao entendimento adotado pelo douto magistrado na r. sentença apelada, tenho que não é possível subsistir a conclusão de que a penalidade é desproporcional. Note-se, a propósito da proporcionalidade, o ensinamento de Ricardo Marcondes Martins 1, para quem se houver consenso social pela decisão adotada pelo administrador só mesmo a injustiça manifesta poderá justificar a revisão judicial da decisão do administrador. O caso em apreço, renovado o respeito ao entendimento adotado na r. sentença apelada pelo douto magistrado, não é de manifesta injustiça, pois faltar injustificadamente ao serviço uma vez é uma coisa, já apresentar documento falso para tanto é bem outra. E pondere-se a danosidade do fato nas relações entre a administração e seus servidores, contaminadas pela suspeição. Assim, tenho que razão assiste à municipalidade recorrente, devendo a ação ser julgada inteiramente improcedente, 1 Efeitos dos Vícios do Ato Administrativo, Malheiros Editores, pág. 173 Apelação nº Voto nº

5 invertidos os ônus da sucumbência, com o que fica prejudicado o recurso da autora. O voto é pelo PROVIMENTO do recurso da municipalidade, restando PREJUDICADO o conhecimento do recurso da autora. LUÍS FERNANDO CAMARGO DE BARROS VIDAL Relator Apelação nº Voto nº