PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de São Paulo, em que é apelante RAFAEL MARTINEZ FERRETE (JUSTIÇA GRATUITA), é apelada STEFANIE RADO FERRAIOLI (JUSTIÇA GRATUITA). ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 5ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:deram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores ERICKSON GAVAZZA MARQUES (Presidente sem voto), FERNANDA GOMES CAMACHO E A.C.MATHIAS COLTRO. São Paulo, 6 de março de Fábio Podestá Relator Assinatura Eletrônica

2 APELAÇÃO nº APELANTE: RAFAEL MARTINEZ FERRETE APELADO: STEFANIE RADO FERRAIOLI COMARCA: SÃO PAULO VOTO Nº RESPONSABILIDADE CIVIL Sentença de procedência APELO DO RÉU Admissibilidade do pedido de reversão do julgado Mensagens privadas trocadas em rede social Discussão motivada por negócio frustrado Ausente ato ilícito Art. 186, do CC - Sentença reformada RECURSO PROVIDO. STEFANIE RADO FERRAIOLI ajuizou ação de indenização por danos morais em face de RAFAEL MARTINEZ FERRETE, a afirmar que, no dia , recebeu do réu uma mensagem, via rede social Facebook, em que ele a chamou de chupeta de baleia (fls. 02), pretendendo a sua condenação ao pagamento de indenização por danos morais no importe de R$ ,00 (fls. 08). A r. sentença a fls. 63/64, cujo relatório é adotado, julgou parcialmente procedente o pedido, condenando o réu ao pagamento de indenização no importe de R$ ,00, bem como, nos ônus sucumbenciais, com verba honorária fixada em 10% do valor da condenação. Irresignado, apela o requerido, a sustentar: a) deve ser reconhecida a carência de ação, pois não há prova da injúria, consoante Apelação nº Voto PP 2

3 queixa crime (fls. 68); b) ausência dos elementos ensejadores da responsabilidade civil (fls. 68); c) envio de mensagem ofensiva em conversa particular não causa repercussão negativa à imagem da ofendida (fls. 69). contra-arrazoado (fls. 75/78). O recurso é tempestivo, preparado (fls. 71/72) e foi É o relatório. termos do art. 935, do Código Civil: Não há falar-se em carência de ação, porquanto, nos A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal. No mérito, todavia, o recurso comporta acolhimento. Cuidando-se de responsabilidade civil extracontratual, incumbia à autora demonstrar o preenchimento dos requisitos do art. 186, do Código Civil, e, in casu, o ato ilícito não se encontra presente. Isso porque, o art. 5º, inciso IV, da Constituição Federal garante ser livre a manifestação do pensamento. Sendo assegurado ao réu o direito de ter um mau conceito a respeito da autora (ninguém é obrigado a aprovar todas as condutas de todas as pessoas) e de sua família (por motivo de negócio aparentemente inadimplido), é corolário da liberdade de expressão que ele Apelação nº Voto PP 3

4 pudesse mencionar isso. E, o fez diretamente a ela, de forma discreta, via mensagem privada, de modo que, por mais que se reconheça o significativo descontentamento da autora face ao ocorrido, não há falar-se, absolutamente, em responsabilização, por ausente ato ilícito. De se salientar que, apesar de ser já de início cobrada de forma mal educada, a autora prolonga a conversa (fls. 12), mesmo ciente da insatisfação e nervosismo do réu, não sendo crível que ter sido chamada de chupeta de baleia, na primeira linha do diálogo, tenha gerado abalo psíquico significativo. Ao que parece, são pessoas próximas, houve um desentendimento por desacordo negocial e uma discussão privada na rede social, sem maiores desdobramentos. Nessa linha, precedente desta Corte: Apel , 6ª Câm. Direito Privado, relª Desª Ana Maria Baldy, j Comporta, pois, reparo a r. sentença, para o fim de ser julgado improcedente o pedido inicial, saindo a autora condenada nas custas e despesas processuais, bem como em honorários advocatícios, fixados em 15% do valor dado à causa (já computada a majoração prevista no 11, do art. 85, do NCPC), ressalvada a gratuidade processual concedida a fls. 25. Apelação nº Voto PP 4

5 Anota-se, a propósito, que não é necessário que o julgador se pronuncie expressamente sobre todos os dispositivos legais invocados pelos apelantes para que tenham acesso aos Tribunais Superiores, pois o prequestionamento consiste na apreciação e na solução, pelo tribunal de origem, das questões jurídicas que envolvam a norma positiva tida por violada, inexistindo a exigência de sua expressa referência no acórdão impugnado 1. Ante ao exposto, DOU PROVIMENTO ao recurso. FABIO HENRIQUE PODESTÁ Relator 1 EDCL nº , 7ª Câm. Direito Privado, rel. Des. Coimbra Schimidt, j Apelação nº Voto PP 5