PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de São Paulo, em que é apelante PIVETTA MOTOS MATÃO LTDA, é apelado RAFAEL ANANIAS & CIA LTDA. ACORDAM, em 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmo. Desembargadores ENIO ZULIANI (Presidente sem voto), FRANCISCO LOUREIRO E HAMID BDINE. São Paulo, 18 de maio de Teixeira Leite RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Voto nº COBRANÇA. Sentença de improcedência. Valores referentes a ressarcimento de invasão de território por concessionária Honda. Hipótese prevista em Lei e na Convenção da empresa. Valores apurados no Conselho Arbitral devidos. Incontroversa invasão territorial, o que foi concluído pela perícia. Recurso provido para julgar a ação procedente. A r. sentença (fls.295/299), julgou improcedente ação de cobrança proposta por Pivetta Motos Matão Ltda. que pretendia o recebimento de valores da Rafael Ananias & Cia Ltda. que desrespeitou a Convenção da Marca Honda ao realizar vendas fora de sua área de atuação. A empresa Pivetta, em suas razões (fls. 308/315) esclarece que a concessão comercial de veículos automotores é regida pela Lei Renato Ferrari, que determina que o concessionário instale sua empresa de distribuição em determinado território, devendo existir distancia mínima entre outros concessionários, podendo, contudo, os consumidores adquirirem veículos ou serviços em qualquer estabelecimento de sua escolha. Afirma que a concorrente negociou veículos a clientes domiciliados em seu território, conforme conclusão da perícia, e, lhe deve ressarcimento decorrente desse proceder. Alega que existe Convenção da marca Honda com normas para preservar o equilíbrio econômico, caso um consumidor procure concessionária em território diverso, sendo que a regra é que a prestação de serviços referentes aos veículos adquiridos deverá ser realizada pela titular do território, sob pena de ressarcimento previsto no 4º do artigo 5º da citada Lei. b Apelação nº São Paulo - voto nº /5

3 Sem contrarrazões. Este é o relatório. Trata-se de ação de cobrança proposta pela empresa Pivetta, concessionária Honda que atua na cidade de Matão e vizinhanças contra outra concessionária, a empresa Rafael Ananias, que exerce suas atividades na região de Ribeirão Preto. No caso, sob o argumento da existência de Convenção da Honda e da Lei Renato Ferrari, que preveem ressarcimento de valores, caso um empresa preste serviços ou venda produtos em território diverso do seu, foi instaurado Conselho Arbitral dentro da própria empresa Honda que concluiu que a Rafael Ananias deve pagar à Pivetta a quantia de R$ ,00 a título de ressarcimento de valores, em atendimento à legislação vigente sobre a questão. Por outro lado, foi realizada perícia nesta ação (fls. 209/275) que concluiu que realmente houve venda de produtos pela Rafael Ananias, mas, a d. Magistrada, por entender que não houve desvio de clientela, julgou a ação improcedente. Contudo, respeitado esse entendimento, com razão a empresa apelante, pois, a exclusividade de representação está prevista no artigo 17, inciso II, da Lei n.º 6.729/79, o que foi incorporado à Convenção da Honda em relação à rede de distribuição; daí porque, induvidosa a invasão de área, ato que prevê ressarcimento, que é devido. A propósito, a decisão administrativa, muito embora sem essa força de constituir uma obrigação de ressarcimento, não foi negada pela apelada, orienta a uma ação positiva de infração a territorialidade que deveria ser respeitada. É dizer, houve reconhecimento dessa prática que, sem dúvida, reverteu em ganho indevido para a apelada em detrimento da apelante. Nesse sentido foi a interpretação do Colendo b Apelação nº São Paulo - voto nº /5

4 Superior Tribunal de Justiça: Civil e processual. Empresa concessionária de tratores. Invasão de área de outra da mesma marca. Iniciativa empresarial reconhecida pelas instâncias ordinárias. Prova. Reexame. Impossibilidade. Súmulas n.º 5 e 7 do STJ. Lei n /1979, art. 5º, 2º, 3º e 4º, na redação dada pela lei n /1990. Exegese. I. É possível ao consumidor espontaneamente escolher pela aquisição de veículo em qualquer concessionária, buscando melhor preço e condições, porém não é dado às empresas, que atuam em área definida, consoante estabelecido pela fábrica concedente, agirem ativamente na busca de clientela em região alheia, sob pena de terem de ressarcir a prejudicada pelos danos causados. (REsp n.º /SP. Recurso Especial 1995/ Relator Ministro Aldir Passarinho Júnior. Quarta Turma. J ). Privado: E, com o mesmo entendimento a 4ª Câmara de Direito Cobrança. Violação de extensão territorial. Convenção de representação de marca. Apelante reconheceu a alienação de bens para consumidor situado em local de exclusividade de revenda da apelada. Documentação existente dá respaldo para a entrega da prestação jurisdicional no mérito. Desnecessidade de outras provas. b Apelação nº São Paulo - voto nº /5

5 Devido processo legal observado. Cobrança apta à exigência. Apelo desprovido. (Apelação Cível nº , Relator Des. NATAN ZELINSCHI DE ARRUDA). Portanto, a r. sentença deve ser reformada para condenar a empresa Rafael Ananias & Cia Ltda. no pagamento dos valores descritos na inicial, devidamente atualizados, e das verbas de sucumbência, com honorários de 15% da condenação. Ante o exposto, voto pelo provimento do recurso. TEIXEIRA LEITE Relator b Apelação nº São Paulo - voto nº /5