ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores EUTÁLIO PORTO (Presidente), VERA ANGRISANI E ROBERTO MARTINS DE SOUZA.

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de São Paulo, em que é apelante MR AVALIAÇÕES E PERÍCIAS DE ENGENHARIA SOCIEDADE SIMPLES LTDA, é apelado FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 2ª Câmara Extraordinária de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram parcial provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores EUTÁLIO PORTO (Presidente), VERA ANGRISANI E ROBERTO MARTINS DE SOUZA. São Paulo, 26 de julho de EUTÁLIO PORTO RELATOR Assinatura Eletrônica

2 VOTO Nº APELAÇÃO Nº COMARCA: SÃO PAULO APELANTE: MR AVALIAÇÕES E PERÍCIAS DE ENGENHARIA SOCIEDADE SIMPLES LTDA APELADO: FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO EMENTA APELAÇÃO CÍVEL - Ação ordinária - Cobrança de honorários periciais contra Fazenda Pública. 1) Cobrança de honorários periciais decorrentes de atuações como perito judicial em processos em que as partes eram beneficiárias da justiça gratuita - Perito judicial que faz jus à remuneração pelo trabalho desenvolvido - Responsabilidade da Fazenda do Estado pelo pagamento - Dever de prover o acesso à justiça em favor dos economicamente necessitados - Possibilidade de execução contra o Estado por título executivo extrajudicial - Súmula 279 do STJ. 2) Certidão de trânsito de trânsito em julgado - Necessidade - Inteligência do art. 5º da Resolução nº 127 do CNJ - Comprovação do trânsito em julgado somente de 1 (uma) das 5 (cinco) decisões judiciais que fixaram os honorários periciais ora cobrados - Sucumbência mínima da Fazenda Pública - Sentença parcialmente reformada - Recurso parcialmente provido. RELATÓRIO Cuida-se de ação de cobrança ajuizada por WALMIR PEREIRA MODOTTI em face da FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO, objetivando a cobrança de honorários periciais, alegando que atuou como perito judicial em processos em que uma ou as duas partes eram beneficiárias da justiça gratuita, podendo, em razão disso o valor pode ser exigido do Estado, com fundamento no art. 3º, V, da Lei nº 1.060/50 e art. 5º, LXXIV da CF. Contestação às fls. 34/42 e réplica às fls. 48/57. A sentença de fls. 65/67, proferida pelo MM. Juiz Cláudio Antônio Marques da Silva, cujo relatório se adota, julgou Apelação nº

3 improcedente o pedido, sob o fundamento de que o profissional não está obrigado a mister de perito judicial e que, aceitando espontaneamente a incumbência de colaborar com a Justiça, tal colaboração não pode ser cobrada da ré por absoluta falta de amparo legal. Condenou o autor ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios fixados em 10% do valor da causa. Inconformado, o autor apelou às fls. 72/81, buscando a reforma da sentença. Sustentou que, sendo beneficiárias da justiça gratuita as partes dos processos em que foram fixados os honorários periciais, cabe ao Estado prestar a assistência integral, devendo arcar com o pagamento dos honorários periciais, nos termos do art. 3º, inciso V, da Lei nº 1.060/50 e do art. 5º, LXXIV da CF. Contrarrazões às fls. 93/101. Recurso tempestivo e preparado (fls. 82/88). Às fls. 111, a MR AVALIAÇÕES E PERÍCIAS DE ENGENHARIA SOCIEDADE SIMPLES LTDA. informou que celebrou contrato de cessão de crédito com o autor, requerendo, portanto, a substituição do nome do cedente, Walmir Pereira Modotti, por seu nome (cessionária), pedido que foi deferido após a anuência da ré (fls. 126 e 128). A 30ª Câmara de Direito Privado não conheceu do recurso e determinou a remessa dos autos a uma das Câmaras da Seção de Direito Público (fls. 141/144). Este é, em síntese, o relatório. Apelação nº

4 VOTO A sentença deve ser parcialmetne reformada. No que tange à matéria de fundo, verifica-se que o apelante atuou como perito judicial em ações cujas partes vencidas eram beneficiárias da assistência judiciária gratuita. Objetivando o recebimento dos respectivos honorários periciais, pretende o apelante seja a Fazenda do Estado condenada a pagá-los. Com efeito, a Fazenda do Estado é responsável pelo seu pagamento, posto que a assistência judiciária gratuita abrange todos os atos do processo, inclusive os honorários do perito, consoante o princípio da assistência integral, previsto pelo artigo 5º, LXXIV, da CF, que dispõe que: O Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos. Ademais, o art. 3º, da Lei n /60 prevê que: a assistência judiciária compreende as seguintes isenções: V - dos honorários de advogado e peritos. De sorte que, tendo o apelado apresentado o laudo pericial, faz jus à respectiva remuneração por ter atuado como auxiliar do juízo, nos termos do art. 139 do CPC/73, correspondente ao art. 149 do CPC/15. Apelação nº

5 Ademais, é cabível execução por título extrajudicial contra a Fazenda Pública, conforme Súmula nº 279 do Superior Tribunal de Justiça. Nesse sentido a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, conforme ementa que segue: PROCESSUAL CIVIL. JUSTIÇA GRATUITA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CONDENAÇÃO DO BENEFICIÁRIO. CABIMENTO. PRESCRIÇÃO. PRAZO QUINQUENAL. ART. 12 DA LEI 1.060/ Na origem, trata-se de ação na qual requer o autor, ora agravado, o pagamento dos honorários referentes a perícia realizada em ação na qual a parte sucumbente era beneficiária da assistência judiciária gratuita. 2. Em relação a ofensa ao art. 206, 1º, III, do CC/2002, sabe-se que o STJ tem externado o entendimento de que o prazo de prescrição para ação de cobrança dos honorários do perito é de 1 ano, conforme disposto no citado dispositivo, e o inicio do prazo se dá a partir do trânsito em julgado da decisão que fixa a verba honorária. Nesse sentido: REsp /MG, Rel. Ministro Mauro Campbell, Segunda Turma, DJe 22/8/ Contudo, quando a parte vencida for beneficiária da gratuidade de justiça e o Estado for condenado a arcar com os honorários periciais, o prazo prescricional para sua cobrança é o quinquenal, seja em razão do art. 12 da Lei 1.060/1950, seja pela Apelação nº

6 aplicação do art. 1º do Decreto / Agravo Regimental não provido. (AgRg no AgRg no AREsp /MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/03/2013, DJe 20/03/2013) A jurisprudência deste Eg. Tribunal de Justiça, em casos análogos, tem perfilhado este mesmo entendimento, conforme ementas que seguem: "EMBARGOS À EXECUÇÃO - Execução de título extrajudicial - Honorários periciais - Cabível a execução de título extrajudicial contra a Fazenda Pública - Súmula nº 279 do STJ - Dever do Estado de arcar com os honorários do perito quando a parte é beneficiária da Justiça Gratuita - Aplicação do art. 5º, LXXIV, CF e 26 do CPC - Profissional auxiliar do Juízo que faz jus à respectiva remuneração - Desnecessidade de participação da Fazenda Pública nos processos em que realizada a perícia - A certidão e o trânsito em julgado conferem ao título certeza, liquidez e exigibilidade - Precedentes do STJ e desta C. Corte - Preliminares que se confundem com o mérito - Recurso não provido (AP , Rel. Des. Reinaldo Miluzzi, Guararapes, 6ª Câmara de Direito Público, julgado em 09/03/2015). AÇÃO DE COBRANÇA HONORÁRIOS PERICIAIS - BENEFICIÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA. PRESCRIÇÃO - Segundo posicionamento do STJ, é de cinco anos o Apelação nº

7 prazo prescricional para cobrança de honorários periciais contra o Estado em caso de sucumbência do beneficiário da justiça gratuita, nos termos do art. 1º do Decreto nº /1932 Prescrição inocorrente na hipótese. DEVER DO ESTADO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA INTEGRAL E GRATUITA - Cabe ao Estado prestar assistência judiciária integral e gratuita aos hipossuficientes, mesmo que não seja parte da demanda - Não havendo profissionais que se disponham a trabalhar gratuitamente, nem possuindo o Judiciário quadro suficiente de peritos para a resolução de todos os litígios, quando a parte for beneficiária da justiça gratuita, tal ônus recairá sobre o Estado. Sentença de procedência da ação mantida. Recurso não provido (Apelação n , Rel. Des. Leonel Costa, 8ª Câmara de Direito Público, Data do julgamento: 16/09/2015). Embargos à execução - Execução de título extrajudicial em face da Fazenda Pública Estadual - Possibilidade - Honorários periciais - Profissional auxiliar do Juízo que faz jus à respectiva remuneração - Responsabilidade da Fazenda Pública pelo pagamento na hipótese de deferimento dos benefícios da Justiça Gratuita - Garantia de assistência jurídica gratuita que abrange todos os atos do processo - Valor fixado com moderação e condizente com o trabalho realizado - Determinação de prosseguimento da execução, nos termos do artigo 730 do CPC - Apelação nº

8 Recurso desprovido, com observação (AP , Rel. Des. Luciana Bresciani, São Paulo, 1ª Câmara Extraordinária de Direito Público, julgado em 19/08/2014). Senão por isso, quanto à prescrição, tratando-se de ação de cobrança de honorários periciais em que o vencido é beneficiário da Justiça Gratuita, deve ser aplicado o Decreto nº /32, que definiu o prazo prescricional de 5 anos para as ações propostas contra a Fazenda Pública. No caso em tela, verifica-se que houve prestação de serviço por parte do autor como perito judicial, fazendo jus, portanto, aos honorários periciais, e que os sucumbentes eram beneficiários da Justiça Gratuita. No entanto, não foram juntadas aos autos as respectivas certidões de trânsito em julgado de todas as 5 (cinco) decisões judiciais que fixaram os honorários ora cobrados, apenas da referente à certidão de objeto de objeto e pé de fls. 22/23, que indica 19/03/2008 como data do trânsito em julgado. Com efeito, a Resolução nº 127 do Conselho Nacional de Justiça dispõe expressamente em seu art. 5º que: Art. 5º São requisitos essenciais para a percepção dos honorários periciais, de tradutor ou intérprete, nas hipóteses em que a parte responsável pelo pagamento, porque sucumbente no objeto da perícia, é beneficiária da justiça gratuita, a fixação deles por decisão judicial e o trânsito em julgado da Apelação nº

9 decisão. (g.n.) Assim, a sentença deve ser parcialmente reformada para reconhecer a responsabilidade do Estado pelo pagamento dos honorários periciais nos casos em que o sucumbente é beneficiário da Justiça Gratuita, apenas em relação aos honorários fixados na ação cujo trânsito em julgado foi devidamente comprovado (fls. 22/23). Em virtude da sucumbência mínima da Fazenda Pública, deve ser mantida a condenação do autor ao pagamento da verba sucumbencial, conforme fixado na sentença. recurso. Face ao exposto, dá-se parcial provimento ao EUTÁLIO PORTO Relator (assinado digitalmente) Apelação nº