PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Registro: ACÓRDÃO

Transcrição

1 fls. 3 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação n.º , da Comarca de Novo Horizonte, em que é apelante JOSÉ RIOLANDO TEODORO FONSECA, é apelado EDSON RENATO DE PAULA (JUSTIÇA GRATUITA), ACORDAM, em 19ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores RICARDO NEGRÃO (Presidente sem voto), MARIO DE OLIVEIRA E RICARDO PESSOA DE MELLO BELLI. São Paulo, 21 de novembro de João Camillo de Almeida Prado Costa RELATOR Assinatura Eletrônica

2 fls. 4 VOTO N APELAÇÃO N COMARCA: NOVO HORIZONTE JUIZ DE 1ª INSTÂNCIA: ERIC DOUGLAS SOARES GOMES APELANTE: JOSÉ RIOLANDO TEODORO FONSECA APELADO: EDSON RENATO DE PAULA CHEQUE. Ação de cancelamento de protesto. Cártula com eficácia executiva prescrita. Admissibilidade do ato notarial. Prescrição que importa na extinção da força executiva do cheque, mas não afeta a exigibilidade da dívida. Possibilidade do protesto de título prescrito enquanto for viável a sua cobrança por outros meios, nos termos da Súmula n. 17, do Tribunal de Justiça de São Paulo. Pedido inicial julgado improcedente. Sentença mantida. Recurso improvido. Dispositivo: negaram provimento ao recurso. Trata-se de recurso de apelação interposto contra a r. sentença de fls. 85/86, de relatório adotado, que, em ação de cancelamento de protesto, julgou improcedente o pedido inicial. Sustenta o recorrente, em síntese, que o protesto do título se deu de forma intempestiva, porquanto efetuada mais de seis meses após seu prazo de apresentação, não respeitando a norma do artigo 48, da Lei do Cheque. O recurso é tempestivo, foi preparo e respondido. É o relatório. Versam os autos sobre ação de cancelamento de protesto, fundamentado o pedido inicial na alegação que o protesto do título efetuado pelo réu é intempestivo, porquanto efetuado seis meses após ultrapassado o prazo de sua apresentação. O pedido inicial foi julgado improcedente e o recurso de apelação interposto pelo autor não comporta provimento. Apelação nº Voto n

3 fls. 5 E isto porque, não nega o autor ter emitido o cheque impugnado nesta demanda, limitando-se a asseverar que tal cártula não poderia ter sido protestada em momento subsequente à expiração do prazo a que alude o artigo 48, da Lei n /85, observando que o cheque foi emitido em 16/12/2013, pósdatado para o dia 16/01/2014, mas apontado a protesto somente em 19/08/2014 (fls. 13), mais de seis meses após o transcurso do prazo de apresentação. Isto assentado, bom é ressaltar que, após muito refletir sobre a questão, alterei meu posicionamento acerca da legitimidade do protesto de título de crédito em momento subsequente à perda de sua eficácia executiva, considerada para tanto a circunstância de que, a teor do que dispõe o inciso III, do artigo 202, do Código Civil em vigor, constitui o protesto cambial uma das causas interruptivas da prescrição. Com efeito, o protesto a que alude o inciso II é o judicial e vem disciplinado nos arts. 867 e segs. do Código de Processo Civil. Aliás, segundo Humberto Theodoro Júnior, uma de suas finalidades é, justamente, prover a conservação de um direito, como no caso do protesto interruptivo da prescrição (Comentários ao Código de Processo Civil, Rio de Janeiro, Forense, 1978, v. V, p. 346). Igualmente, o protesto cambial, disciplinado pela Lei n , de , interrompe a prescrição, diferentemente do que se entendia com base no Código anterior, de modo que não mais subsiste a Súmula n. 153 do Supremo Tribunal Federal (simples protesto cambiário não interrompe a prescrição). (Código Civil Comentado, Coordenador Ministro Cesar Peluso, 4ª edição, editora Manole, página 157). Ademais, preconiza a Súmula n. 17, do Tribunal de Justiça de São Paulo, que a prescrição ou perda da eficácia executiva do título não impede sua remessa a protesto, enquanto disponível a cobrança por outros meios. Razoável é concluir, portanto, que inexiste óbice ao protesto de título de crédito que esteja desprovido de eficácia executiva, porquanto a finalidade do ato notarial será apenas a de comprovar o inadimplemento da obrigação cartular, configurando exercício regular de direito do portador da cambial. Neste sentido, há precedentes desta Corte: Apelação nº Voto n

4 fls. 6 PROCESSO CIVIL (...) - CAMBIAL Cheque prescrito Pretensão ao cancelamento do protesto Inadmissibilidade Possibilidade de apontamento de cheque prescrito Inteligência da Súmula nº 17 deste Egrégio Tribunal Precedentes - Protesto regular Sentença mantida. Recurso desprovido. (Apelação n ; Rel. Des. Álvaro Torres Júnior; j. 04/07/2016). AÇÃO DECLARATÓRIA DE CANCELAMENTO DE PROTESTO CHEQUE Cheques protestados pelo réu após o prazo previsto no art. 48, da Lei nº 7.357/85 Admissibilidade Obrigação não prescrita Possibilidade de cobrança dos cheques pelos meios legais Súmula 17 da Seção de Direito Privado do TJ-SP Protesto que tem amparo no art. 1º da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, justificado pela 'inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida' Precedente do STJ Sentença de improcedência da ação mantida Recurso improvido. (...). (Apelação n ; Rel. Des. Plinio Novaes de Andrade Júnior; j. 12/05/2016). Ação declaratória de inexigibilidade Protesto de cheque prescrito Ato ilícito Inexistência Mecanismos de cobrança, que não a execução, à disposição do credor Inteligência da Súmula n. 17 do Tribunal de Justiça de São Paulo - Não é ilícita a remessa de título prescrito ao protesto à vista da existência de outros mecanismos, que não a execução, aptos à satisfação do crédito ao portador, entendimento consolidado pela Súmula n. 17 do Tribunal de Justiça de São Paulo. (Apel. Nº , Rel. Des. Nelson Jorge Júnior, j. 08/03/2012). Bem por isso, não se vislumbra irregularidade alguma no protesto do cheque impugnado nesta demanda, porque, conquanto já tivesse a cártula perdido a sua eficácia executiva, havia ainda, à época do ato notarial, meios disponíveis para a cobrança da dívida nela representada. pedido inicial. Correta a r. sentença, portanto, ao julgar improcedente o Ante o exposto, nego provimento ao recurso. JOÃO CAMILLO DE ALMEIDA PRADO COSTA Desembargador Relator (assinatura eletrônica) Apelação nº Voto n

5 fls. 7 Apelação nº Voto n