PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Guarulhos, em que é apelante MACIEL DA SILVA MOURA, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Por maioria de votos Deram provimento em parte ao recurso. Vencido o desembargador Newton Neves.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), LEME GARCIA E NEWTON NEVES. São Paulo, 25 de agosto de Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação criminal nº Comarca: Guarulhos Apelante: Maciel da Silva Moura Apelado: Ministério Público VOTO Nº Apelação. Furto tentado e uso de documento. Falta de provas quanto ao furto. Não ocorrência. Versão defensiva isolada nos autos. Versão acusatória confirmada por duas testemunhas. Condenação mantida por tal crime. Uso de documento falso. Atipicidade. Acusado que não apresentou o documento aos policiais. Documento encontrado no interior de sua carteira. Ausência de emprego do documento. Absolvição que se impõe. Penas corretamente dosadas em relação ao furto. Básica posta no patamar mínimo. Elevação em 1/6 pela reincidência e redução em metade pela tentativa. Apelo parcialmente provido. Pela sentença de fls. 405/409, proferida em 22/05/2014 pelo MM. Juiz de Direito, Dr. Glaucio Roberto Brittes de Araújo, da 4ª Vara Criminal de Guarulhos, MACIEL DA SILVA MOURA foi condenado às penas de 3 anos e 6 meses de reclusão, em regime inicial fechado, e pagamento de 16 diasmulta, dando-o como incurso no art. 155, 4 o, IV, c.c. art. 14, II, e art. 304 c.c. art. 297, todos do Código Penal. Irresignada, a defensoria do réu maneja recurso de apelação, alegando atipicidade quanto ao crime de furto ou insuficiência probatória (fls. 438/442). Apelação nº

3 O Ministério Público se bateu pelo acerto do decisum (fls. 445/449) e a d. Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo improvimento do reclamo defensivo (fls. 455/457). É o relatório. Segundo consta, em 16/08/13, o apelante, juntamente com o indivíduo não identificado, adentrou um imóvel onde se localiza uma estação-base pertencente à empresa Vivo S.A., passando a subtrair diversas ferramentas e equipamentos de telefonia. Entretanto, o alarme silencioso foi acionado, tendo a polícia militar se dirigido ao local. Ao avistarem os policiais, os furtadores empreenderam fuga por sobre os telhados das residências vizinhas, sendo apenas o Maciel detido em flagrante, tendo seu comparsa logrado êxito na fuga. No momento da abordagem, Maciel identificou-se como Júlio César da Silva, apresentando carteira de identidade falsa. Nas duas oportunidades nas quais foi ouvido o réu apresentou versão pouco crível. Disse ter sido contratado por pessoa conhecida por Marquinhos para fazer uma entrega na sede da empresa Vivo. Utilizou-se do veículo fornecido pelo próprio contratante, o qual já se encontrava carregado com mercadorias. Assim, dirigiu-se sozinho à empresa e, lá chegando, foi recebido por um segurança que, ao observar os produtos existentes no interior do veículo, disse-lhe ser produto de crime e acionou a polícia. Confirmou possuiu uma carteira de identidade falsificada, porém disse não tê-la Apelação nº

4 apresentado aos milicianos. Sua versão, porém, restou absolutamente isolada nos autos. O policial Douglas afirmou ter sido acionado para atender à ocorrência e, chegando ao local, observou dois indivíduos carregando o veículo Fiat/Fiorino com produtos subtraídos da empresa-vítima. Tais indivíduos, ao notarem a presença policial, empreenderam fuga, inclusive pulando pelos telhados vizinhos. Apenas o apelante foi detido, tendo este se apresentado como Júlio. No interior do veículo haviam equipamentos de transmissão de rádio, retirados da estação. Esclareceu, todavia, que o apelante não apresentou o documento falso, sendo o mesmo encontrado no interior de sua carteira, posteriormente. No mesmo sentido, é o depoimento do miliciano Fernando. O depoente narrou ter recebido notícia de furto em andamento, motivo pelo qual se dirigiu ao local dos fatos, onde observou dois indivíduos carregando o veículo Fiorino com objetos subtraídos da estação de transmissão. Um dos furtadores logrou êxito em sua fuga, sendo apenas o réu detido em flagrante. Disse haver o acusado se identificado por Júlio César, sendo um documento com este mesmo nome encontrado em sua carteira. Do conjunto probatório coligido, entendo inexistir nos autos qualquer dúvida quanto à prática do delito de furto, sendo a versão defensiva de todo desconexa com as demais provas testemunhais. Apelação nº

5 Por outro lado, tenho por não caracterizado o crime de uso de documento falso. Isto porque o art. 304 do Código Penal exige tenha o agente efetivamente empregado o documento falso, não bastando a sua posse. In casu, o apelante negou ter entregado o documento aos milicianos, tendo apenas se identificado oralmente por Júlio César. Tal versão foi integralmente corroborada por ambos os policiais, sendo certo que o documento falso foi encontrado posteriormente no interior da carteira do réu. Desta feito, verifico não ter o acusado feito uso do documento, sendo de rigor sua absolvição em relação a este delito. Fica, portanto, mantida a condenação apenas pelo delito de furto qualificado. Passo à análise das reprimendas. Favoráveis as circunstâncias judiciais, a básica foi posta no patamar mínimo, em 2 anos de reclusão. Na segunda fase, presente a agravante da reincidência, a reprimenda foi elevada em 1/6, alcançando 2 anos e 4 meses de reclusão. Por fim, reconhecida a forma tentada, considerando o iter criminis percorrido, a pena foi corretamente reduzida em metade, tornando-se definitiva em 1 ano e 2 meses de reclusão. Quanto ao regime, embora afastada a Apelação nº

6 condenação pelo art. 304, deve-se anotar que, além da reincidência, o apelante encontrava-se foragido do sistema prisional, motivo pelo qual mantenho o inicial fechado e tenho por incabível a substituição por restritivas de direitos. Ante o exposto, pelo meu voto, dou parcial provimento ao apelo defensivo para absolver o apelante em relação ao art. 304 do Código Penal, com fundamento no art. 387, III, do Código de Processo Penal, mantendo-se, no mais, a r. sentença atacada. GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator Apelação nº