PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Execução Penal nº , da Comarca de Araçatuba, em que é agravante RONALDO FELICIANO DO NASCIMENTO, é agravado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Converteram o julgamento em diligência, nos termos do v. acórdão. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), LEME GARCIA E OSNI PEREIRA. São Paulo, 1 de março de Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Agravo em Execução nº , Comarca: Araçatuba Agravante: RONALDO FELICIANO DOS NASCIMENTO Advogada: Julio Valese VOTO Nº Agravo em Execução. Pedido de reforma de decisão que indeferiu a progressão ao regime semiaberto. Exame criminológico incompleto, cujas peças divergem da conclusão final. Ausência de avaliação psiquiátrica. Perícia oportuna, diante da contradição dos demais relatórios. Julgamento convertido em diligência. Trata-se de Agravo em Execução, interposto por RONALDO FELICIANO DOS NASCIMENTO, em face de decisão proferida em 10 de abril p. p. (fl. 27), pelo MM. Juiz de Direito, Dr. Henrique de Castilho Jacinto, da 1ª Vara das Execuções Criminais da Comarca de Araçatuba, que indeferiu sua progressão ao regime semiaberto. Irresignado, sustenta, em resumo, ser imperiosa a reforma da referida decisão, arguindo o preenchimento dos requisitos objetivo e subjetivo autorizadores da pleiteada progressão, bem como a eliminação legal da realização de exame criminológico. Agravo de Execução Penal nº

3 O Ministério Público, em sua contraminuta, bateu-se pelo acerto do decisum, salientando imperiosa a manutenção do regime fechado, ante a ausência de preenchimento do requisito subjetivo. A douta Procuradoria Geral de Justiça apresentou parecer endossando as contrarrazões ministeriais, opinando pelo não provimento do recurso, diante das conclusões apontadas no exame criminológico. A decisão se proclama pela conversão do presente julgamento em diligência. Consoante às peças carreadas (fls. 9/13), denota-se que o agravante foi condenado à pena total de 21 anos e 8 meses de reclusão, em regime fechado, por infração ao art. 157, 3º, do Código Penal, bem com ao art. 10 da Lei nº. 9437/1997, iniciando o cumprimento da reprimenda em Preliminarmente, observe-se ter o magistrado, no exercício de seu livre convencimento, entendido por bem requisitar a elaboração de exame criminológico, de forma a integrar os elementos de sua convicção, inexistindo qualquer embargo à determinação. Frise-se, a Lei n /2003, na nova redação conferida ao art. 112 da Lei de Execução Penal, elidiu tão somente a exigência, mas não a possibilidade de realização de exame criminológico em si. O exame criminológico, na maior parte dos casos, presta-se como valiosa ferramenta à avaliação do Agravo de Execução Penal nº

4 quadro evolutivo dos reeducandos. Através dos relatórios individuais, elaborados pelos profissionais das searas da psicologia, psiquiatria e assistência social, o magistrado tem melhor oportunidade de se aproximar da real condição do condenado, observando-o sob distintos prismas, para melhor alicerçar sua livre convicção. Neste sentido vimos entendendo: [...] cabe ao juiz da execução penal determinar a realização do exame criminológico, quando entender necessário, o que deve fazer no caso de autores de crimes violentos contra a pessoa. Qualquer tentativa de engessar a atividade jurisdicional deve ser coibida. Se os pareceres e os exames eram padronizados em alguns casos, não significa que não mereçam aperfeiçoamento. Sua extinção em nada contribuirá para a riqueza do processo de individualização da pena ao longo da execução 1. Entretanto, da análise acurada do inteiro teor do exame criminológico, é possível detectar, à evidência, ampla dissonância entre as avaliações nele contidas, remanescendo sérias dúvidas acerca da real condição subjetiva do reeducando. O parecer social dispõe (fl. 18) que o recorrente desenvolveu atividade laborterápica e estudou, no momento, nesta Unidade Prisional encontra-se trabalhando, 1 NUCCI, Guilherme de Souza, Manual de Processo e Execução Penal, Forense, 11ª ed. nota 12, p.953 Agravo de Execução Penal nº

5 valoriza o trabalho na prisão; encontra no momento a procura de alternativa de vida, tem ocupado o tempo na prisão fazendo curso bíblico, demonstra expectativa de umas mudança definitiva. Em semelhante sentido a Avaliação Psicológica descreve (fl. 16) que, atualmente, vem conseguindo interagir adequadamente tanto com os companheiros de prisão como com o corpo funcional, evidenciando boa adaptação a normas e regras; manifestou arrependimento relacionado ao sofrimento ocasionado pelas perdas pessoais decorrentes da privação de sua liberdade. Contudo, de maneira dispare, a conclusão ao exame criminológico (fl. 22.) restou desfavorável ao benefício ora pleiteado pelo sentenciado. Dessa feita, percebe-se não estar o parecer desfavorável em pleno acordo com a integralidade das avaliações realizadas pelos profissionais signatários do contraditório relatório. Nessa toada, ante a análise detida da integralidade do exame criminológico, percebe-se, que as avaliações individuais em nada desguarnecem o sentenciado, ao revés, assinalam elementos positivos em sua trajetória naquela unidade prisional. Não fosse isso, imperioso reconhecer desfalcada a Comissão Técnica de Classificação responsável pelo exame criminológico, contrariando o disposto no art. 7º da Lei de Execução Penal, diante da ausência de membro Agravo de Execução Penal nº

6 psiquiatra signatário de seu conteúdo. De certo, o magistrado não está vinculado às conclusões proveniente do exame criminológico. Contudo, in concreto, diante das peculiaridades do caso, indicase precipitada a interpretação em desfavor do sentenciado quiçá pautada em conclusão conflitante e dispare do teor das avaliações individuais, sem que antes se proceda à avaliação psiquiátrica. Por derradeiro, a falta deste profissional, assim como os demais apontamentos supra mencionados, impõe a complementação do exame criminológico realizado, como forma elucidar as incertezas quando à real condição subjetiva do reeducando, decorrentes da evidente contradição suscitada, visando a embasar mais acertada decisão por esta. E. Corte. Ante o exposto, pelo meu voto, converto o julgamento em diligência para que seja o agravado submetido à avaliação psiquiátrica, elaborando-se novo relatório conjunto, em complementação ao exame criminológico realizado. GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator Agravo de Execução Penal nº