TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de, em que é agravante FACEBOOK SERVIÇOS ONLINE DO BRASIL LTDA, é agravado JOSÉ AUGUSTO DE AZEVEDO ANTUNES FILHO. ACORDAM, em 3ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores DONEGÁ MORANDINI (Presidente), BERETTA DA SILVEIRA E EGIDIO GIACOIA., 15 de maio de 2018 DONEGÁ MORANDINI RELATOR Assinatura Eletrônica

2 3ª Câmara de Direito Privado Agravo de Instrumento nº Comarca: Agravante: Facebook Serviços On line Brasil Ltda. Agravado: José Augusto de Azevedo Antunes Filho Voto nº AGRAVO DE INSTRUMENTO. INTERNET. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER I. Condenação definitiva da ré à obrigação de disponibilizar o cadastro existente do usuário vinculado ao perfil comunidade da rede social, especialmente o número do IP, com os respectivos registros de criação, modificação, acessos, conteúdos e publicações. II. Elementos circunstanciais indicados, pelo i. Juízo, que revelam a satisfação insuficiente do provimento condenatório. Carência de apresentação dos dados atinentes aos registros de acesso, conteúdos e publicações do usuário apontado, ou, tampouco, de justificativa específica sobre sua inexistência de tais informações. III. Evidenciado o descumprimento da medida. Multa cominatória imposta que remanesce exigível. Providência devidamente lastrada no disposto no artigo 537 do Código de Processo Civil. Recalcitrância no cumprimento adequado da ordem jurisdicional, no mais, que autoriza a sobrelevação das astreintes cominadas e a imposição da multa processual. IV. Impedimento de a parte manifestar-se nos autos. Determinação que carece de fundamento legal. Imposição desproporcional, ainda, às garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa (artigo 5º, LV, Constituição Federal), não podendo servir como medida para garantia de efetivação da tutela específica. DECISÃO REFORMADA EM PARTE. AGRAVO PARCIALMENTE PROVIDO. Agravo de Instrumento nº VOTO Nº /5

3 1. Trata-se de agravo de instrumento interposto contra as r. decisões reproduzidas às fls. 47 e 48/49, da lavra do MM. Juiz de Direito Guilherme Ferreira da Cruz, que, nos autos de ação de obrigação de fazer, em sede de cumprimento de sentença, fixou inicialmente o prazo suplementar de 2 dias para o integral cumprimento do preceito cominatório, sob pena de astreintes diárias de R$ ,00, e, entendo insuficiente a conduta processual do agravante para tal finalidade, impôs-lhe multa de 20% sobre o valor da causa e a proibição de falar nos autos até o efetivo cumprimento de suas obrigações, sem prejuízo de elevar a multa cominatória fixada para R$ ,00 (cinquenta mil reais). Pretende a agravante, consoante as razões de fls. 01/25, o provimento recursal para: a. afastar a imposição da multa diária e sua majoração no montante de R$ ,00 (cinquenta mil reais), sem limitação, ante a exigência de demais dados além dos já apresentados nos autos, o que constitui obrigação de fazer inexequível a este Agravante que já forneceu nos autos os dados existentes referentes ao usuário em discussão; b. desobrigar o Facebook Brasil a fornecer outros dados além dos já apresentados nos autos; e, c. reconhecer que, diante do cumprimento integral da obrigação, não há que se falar em pena de multa por descumprimento, tornando sem efeito a execução, nos termos do 1º, incisos I e II do Art. 537 do Código de Processo Civil (fls. 24/25). O agravo foi processado com atribuição de efeito suspensivo (fl. 624), sem resposta do agravado (fl. 629). O agravante manifestou oposição ao julgamento virtual (fl. 627). É O RELATÓRIO. 2. O agravo comporta parcial guarida, respeitado o entendimento do Douto Magistrado. Agravo de Instrumento nº VOTO Nº /5

4 Por primeiro, inobstante as razões reiteradamente declinadas pela agravante, segundo as quais pretende justificar, sem êxito, o adequado cumprimento da tutela cominatória editada na origem, tal tese não vinga. Consoante consta dos autos, por meio de Acórdão desta Relatoria (fls. 122/125), a recorrente foi definitivamente condenada à obrigação de disponibilizar o cadastro existente do usuário vinculado ao perfil comunidade Iron Dopers especialmente o número do IP, com os respectivos registros de criação, modificação, acessos, conteúdos e publicações (fl. 125). Instaurada a fase de cumprimento e especialmente intimada para tal, por mais de uma vez, a agravante se limitou a informar alguns dados do usuário (como endereço de IP, registros de criação e de cadastro) (fls. 141, 162/164). Todavia, deixou de colacionar a discriminação de acessos, conteúdos e publicações do usuário, conforme determinado por esta E. Corte e indicado pelo agravado (fls. 146/147 e 173/175), ou tampouco justificar especificamente tal conduta, a fim de permitir eventual pleito de conversão em perdas e danos (artigo 816, CPC). Limitou-se, senão, a afirmar genericamente que quaisquer outros dados além dos já ofertados constitui obrigação inexequível, já que os dados fornecidos são suficientes e únicos a que o Facebook Brasil está obrigado a ofertar nos termos do quanto previsto no art. 15 do Marco Civil da Internet (fl. 11). Com efeito, não há lastro para que se reconheça o adequado cumprimento da tutela jurisdicional editada, e, diante da recalcitrância na satisfação do provimento, revela-se plausível a majoração da penalidade processual imposta e a imposição da multa processual, de acordo com o bem Agravo de Instrumento nº VOTO Nº /5

5 fundamentado pelo i. Magistrado, sobretudo dada a envergadura econômica da condenada: além de outros dados eventualmente constantes do seu sistema, não existe espaço para tergiversar sobre os elementos específicos (letra 'b'), cujo cumprimento não se identifica às fls. 56/58, tanto que o recalcitrante insiste na tentativa de transferir ao credor ônus que é só seu (item 6 fls. 52) (fl. 177). Sem prejuízo, poderá a agravante apontar especificamente os dados cujo fornecimento considera inexequível, pleiteado ao i. Juízo de origem que delibere sobre eventual conversão em perdas e danos, dado que qualquer apreciação direta deste Colegiado caracterizaria clara e indevida supressão de instância. De qualquer sorte, por fim e ao cabo, inadmissível a providência adotada na origem que impôs impedimento à manifestação do agravante nos autos até que comunicasse a satisfação da tutela. Aparte não inexistir lastro legal à determinação, a medida viola as garantias da ampla defesa e do contraditório, na forma do artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal, não podendo subsistir como medida proporcional para a efetivação da tutela específica. 3. Diante de todo o exposto, de rigor que se proveja o agravo estritamente para afastar a proibição de manifestação da agravante nos autos. DÁ-SE PARCIAL PROVIMENTO AO AGRAVO. Donegá Morandini Relator Agravo de Instrumento nº VOTO Nº /5