ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores FRANCISCO LOUREIRO (Presidente) e ENIO ZULIANI. São Paulo, 26 de agosto de 2015.

Transcrição

1 PODER JUDICIÁRIO ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº , da Comarca de Piracicaba, em que é agravante INDUSTRIAS MECANICAS ALVARCO LTDA, é agravado O JUIZO. ACORDAM, em do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores FRANCISCO LOUREIRO (Presidente) e ENIO ZULIANI. São Paulo, 26 de agosto de Pereira Calças RELATOR Assinatura Eletrônica

2 PODER JUDICIÁRIO 2 Comarca : Piracicaba 5ª Vara Cível Agravante : Indústrias Mecânicas Alvarco Ltda. Agravado : O Juízo Interessado : Adnan Abdel Kader Salem Sociedade de Advogados VOTO Nº Agravo. Recuperação judicial. Impugnação da devedora ao valor fixado pelo juiz para a remuneração do administrador judicial e perito contador. Honorários do administrador fixados no limite máximo de 3% sobre o passivo declarado pela recuperanda, com pagamento mensal arbitrado a ser realizado até o final do biênio da supervisão judicial. A remuneração do contador, auxiliar do administrador judicial, deverá ser arbitrada pelo juiz, conforme o 1º, do art. 22. Inteligência do art. 24, 1º, da Lei nº /2005. Agravo provido em parte. Vistos.

3 PODER JUDICIÁRIO 3 1. Trata-se de agravo manejado por INDÚSTRIAS MECÂNICAS ALVARCO LTDA., em recuperação judicial, que impugna a decisão reproduzida à fl. 18 do agravo (fl. 661 dos autos principais), que, entre outras providências, fixou a remuneração mensal do administrador judicial em R$ ,00 e deferiu a contratação de assistente contábil mediante pagamento único de R$ ,00 e, em seguida, dois salários mínimos mensais. Alega ser delicada sua situação econômica e ter passivo declarado em R$ ,95, de modo que a fixação da remuneração do administrador no patamar máximo equivale a negar à recuperanda o direito de recuperação. Diz não ter sido estipulado um período e que, considerando a duração normal de uma recuperação judicial, 36 meses, o valor total equivale a 5% do valor do passivo, quantia elevada e que não se coaduna com a capacidade de pagamento da recuperanda. Invoca os artigos 61 e 64 da Lei nº /05. Sustenta a necessidade de atender aos parâmetros estabelecidos pelo art. 24 da Lei nº /05. Argumenta com o fato de o administrador judicial não administrar a empresa recuperanda, diversamente do que ocorre na falência. Requer a redução para 2% do valor do passivo. Também pretende a revisão do valor fixado para o auxiliar contábil do administrador judicial, considerado inadequado e incompatível com o mercado. Considera

4 PODER JUDICIÁRIO 4 desnecessária a contratação de assessoria contábil nesta etapa do processo. Fundamenta sua pretensão com precedentes. Pede a concessão de efeito suspensivo ao recurso e pugna pelo provimento. Concedida parcialmente a antecipação dos efeitos da tutela recursal à fl. 68 para, provisoriamente, reduzir o valor da remuneração do perito para R$ 8.000,00 mensais e afastar a determinação de remuneração mensal do contador. Relatados. 2. O agravo merece parcial provimento. Ressalte-se, primeiramente, que não tem qualquer fundamento legal o argumento de que o juiz, ao arbitrar a remuneração do administrador judicial em R$ ,00 mensais acabou por fixar o total da remuneração do auxiliar em mais de R$ ,00, já que o prazo de duração de uma recuperação judicial costuma ser de pelo menos 36 meses. É elementar que o processo de recuperação judicial, mesmo que albergue plano que proponha pagamento do passivo em 10 ou 15 anos, não fica sob supervisão judicial por todo o prazo pretendido para a solução das dívidas da recuperanda. O art. 61 da Lei

5 PODER JUDICIÁRIO 5 nº /2005 determina que, proferida a decisão concessiva da recuperação, o devedor permanecerá em recuperação judicial até que se cumpram todas as obrigações previstas no plano que se vencerem até 2 (dois) anos depois da concessão da recuperação judicial. Por isso, a afirmativa de que a remuneração se estenderia por pelo menos três anos é equivocada. Considerando-se que o passivo declarado pela agravante é de pouco mais de nove (9) milhões de reais, o máximo permitido para a remuneração do administrador é de R$ ,00 (quatrocentos e cinquenta mil reais). Na hipótese vertente, considerando-se o relativamente grande número de credores arrolados na lista de fls. 35/44, verifica-se que se trata de recuperação judicial que demandará razoável grau de complexidade de trabalho do administrador judicial. De se considerar também a capacidade de pagamento da devedora, no que se observa que o total de salários pagos a 66 empregados era, na data do pedido de recuperação judicial, R$ ,00 (fl. 54). Diante de tal quadro, sem levar em conta o pro labore dos administradores da recuperanda cujo valor não está demonstrado no instrumento, mostra-se justo o arbitramento mensal da remuneração do

6 PODER JUDICIÁRIO 6 administrador judicial, sob a ótica dos limites do art. 24 e parágrafos da LRF, na quantia mensal de R$ 8.000,00 (oito mil reais) mensais, que será devida a partir do julgamento deste recurso e durante o prazo bienal do art. 61, não podendo ultrapassar o total de R$ ,00 (duzentos e setenta mil reais), correspondente a 3% do passivo declarado pela agravante. No valor total acima estabelecido deverão ser incluídos eventuais pagamentos já realizados pela devedora durante a tramitação deste recurso. Na hipótese vertente, considerando-se as peculiaridades do caso, não se justifica a retenção de 40% para pagamento posterior aos artigos 154/155 da LRF. Relativamente ao assistente contábil, fica afastada a determinação de remuneração mensal, devendo ser arbitrada sua verba honorária pelo juiz, com base no art. 22, 1º, da LRF, à medida que forem realizados os trabalhos técnicos necessários ao desenvolvimento do processo recuperatório. 3. Isto posto, pelo meu voto, dou parcial provimento ao recurso. DESEMBARGADOR MANOEL DE QUEIROZ PEREIRA CALÇAS RELATOR