PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de Espírito Santo do Pinhal, em que é agravante BICBANCO BANCO INDUSTRIAL E COMERCIAL S/A sendo agravado TRANSPORTADORA PINHALENSE LTDA. ACORDAM, em 20ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores LUIS CARLOS DE BARROS (Presidente sem voto), CUNHA GARCIA E ÁLVARO TORRES JÚNIOR. São Paulo, 7 de maio de Maria Lúcia Pizzotti RELATOR Assinatura Eletrônica

2 PODER JUDICIÁRIO 2 AGRAVANTE: BICBANCO BANCO INDUSTRIAL E COMERCIAL S.A. AGRAVADO: TRANSPORTADORA PINHALENSE LTDA. INTERESSADO: VUOLO TERRAPLANAGEM LTDA. COMARCA: ESPÍRITO SANTO DO PINHAL JUIZ PROLATOR DA DECISÃO: Dr. MARCIO ESTEVAN FERNANDES (yf) EMENTA AGRAVO DE INSTRUMENTO NULIDADE JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE RECURSO ESPECIAL. - Certidão equivocada de trânsito em julgado que não pode prejudicar a parte, nulidade cognoscível de ofício pelo juízo, não operada a preclusão (art. 245, parágrafo único, do CPC); - Princípio da instrumentalidade das formas (arts. 244 e 250 do CPC), execução definitiva que pode ser convertida em execução provisória (aplicação subsidiária dos dispositivos atinentes ao cumprimento de sentença art. 475-O do CPC). AGRAVO PROVIDO EM PARTE, para determinar a remessa dos autos a este E. Tribunal, para o juízo de admissibilidade do REsp. Vistos. Insurge-se o agravante contra a decisão de fls. 22, que julgou preclusa a discussão da matéria da ausência de título executivo e a alegação de excesso de execução. Arguiu, em síntese, que a nulidade do título executivo judicial é matéria de ordem pública, cognoscível a qualquer tempo, e que o excesso de execução não foi aduzida anteriormente. Disse que não houve trânsito em julgado da sentença, considerando a interposição de Recurso Especial. Pugnou, assim, pela reforma da decisão, com a remessa dos autos a este E. Tribunal, para apreciação do referido recurso e, alternativamente, pelo reconhecimento do excesso arguido. Concedido o efeito suspensivo (fls. 255/257), a agravada trouxe contraminuta e o MM. Magistrado prestou informações (fls. 279/280). É o relatório. Trata-se de cumprimento de sentença de Acórdão desta C. Câmara, que

3 PODER JUDICIÁRIO 3 reduziu a indenização por danos morais para R$18.000,00 (dezoito mil reais), fls. 89 a 102, que foi objeto de Recurso Especial, não apreciado pelo Nobre Presidente da Seção de Direito Privado, considerando a devolução do prazo recursal à agravada. Com a devolução do prazo pleiteado, a agravada interpôs embargos de declaração, rejeitados por esta C. Turma julgadora, tendo a serventia certificado o trânsito em julgado do V. Acórdão (fls. 192). O MM. Magistrado foi alertado do equívoco em tal certidão, diante da pendência de Recurso Especial, mas, proferiu decisão interlocutória de que não caberia àquela Instância corrigir erro da Segunda Instância (fls. 207). Com efeito, o agravo de instrumento deve ser provido, diante da inequívoca falha da Serventia desta Colenda 20ª Câmara de Direito Privado, que certificou o trânsito em julgado de Acórdão do qual pende Recurso Especial. Verdadeiramente, o artigo 473 do Código de Processo Civil dispõe que é defeso à parte discutir, no curso do processo, as questões já decididas, a cujo respeito se operou a preclusão. Contudo, o recebimento dos autos no juízo a quo e o despacho para que o exequente promovesse a execução não podem ensejar a preclusão da matéria arguida, nos termos do artigo 245, parágrafo único, do Código de Processo Civil. Reconhecidamente, o artigo 245 determina que a nulidade dos atos processuais deve ser alegada na primeira oportunidade em que couber. Entretanto, o referido parágrafo preconiza que a preclusão não é alcançada pelas matérias que o juízo deve conhecer de ofício. O parágrafo único denota que o artigo mencionado se refere, em verdade, às anulabilidades processuais, já que nulidades não são sanáveis e não estão sujeitas a preclusão (cf. Nelson Nery, 2007, p. 492). Consequentemente, a omissão desta Instância no recebimento do Recurso Especial tempestivamente interposto pelo agravante impõe nulidade processual, cognoscível ex officio, incabível supor de forma diversa, sob risco de impor à parte prejuízos por falha do Poder Judiciário.

4 PODER JUDICIÁRIO 4 A parte requereu diversas vezes ao juízo a quo que suspendesse o cumprimento de sentença, que alegou que não caberia reconhecer erro da Segunda Instância. No entanto, tratando-se de nulidade, não só cabia conhecer da matéria, como era seu dever, a fim de obstar prejuízos ao agravante em decorrência de falha que não deu azo. Destarte, com fulcro no artigo 248 do Código de Processo Civil, os atos subsequentes devem ser considerados sem nenhum efeito, o que impõe o reconhecimento da natureza provisória da execução. Aplicável o artigo 497 do Código de Processo Civil, que prescreve: o recurso extraordinário e o recurso especial não impedem a execução da sentença (...), em consonância com o artigo 250 do CPC, que prevê o aproveitamento dos atos que alcançaram sua finalidade. Neste aspecto, tenho que a nulidade processual da remessa dos autos à origem importa obrigatoriamente ao retorno do processo a este Juízo, onde o Presidente desta Seção irá analisar o recurso interposto, porém, não obsta a execução provisória (art. 497 do CPC), cujos atos já realizados devem ser convalidados. Considerando os efeitos do recurso especial, seria temerário desconsiderar o depósito judicial e o levantamento dos valores em favor do exequente, entretanto, a natureza provisória enseja o depósito, pela agravada, do valor controverso. Os efeitos dos atos posteriores devem ser mantidos, com base no artigo 250 do Código de Processo, que adota o princípio da instrumentalidade das formas, repetido no artigo 244, também do CPC. Ademais, segundo o artigo 475-O, do Código de Processo Civil, a execução provisória utiliza, no que couber, as regras do cumprimento de sentença, obstados, no entanto, os atos de expropriação de bens e o levantamento de valores não devidamente caucionados (art. 475-O, inciso III). No caso destes autos, o agravante apresenta valor dissonante daquele calculado pela exequente, devendo ser depositado tal valor em juízo ou prestado caução suficiente e idônea, conforme supramencionado. Diante do exposto, dou parcial provimento ao recurso, para reconhecer a

5 PODER JUDICIÁRIO 5 pendência de recurso especial, devendo os autos ser remetidos a este E. Tribunal, para o juízo de admissibilidade do referido recurso, sem prejuízo à execução provisória do acórdão desta C. Turma Julgadora, ficando, desde já, determinado que a agravada deposite em juízo o valor controverso ou preste caução do valor integral. MARIA LÚCIA PIZZOTTI Relatora