TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA São Paulo fls. 1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Habeas Corpus nº , da Comarca de São José dos Campos, em que é paciente ALTENCIR SANTOS DE FIGUEIREDO e Impetrante YANKO OLIVEIRA CARVALHO BRUNO. ACORDAM, em 1ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deferiram a ordem reclamada, para declarar indultada a pena restritiva de direitos, aplicada ao ora paciente, Altencir Santos de Figueiredo, objeto da Execução nº , da Vara do Júri e Execuções Criminais de São José dos Campos. Oficie-se ao digno juízo impetrado, para as providências necessárias. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MÁRIO DEVIENNE FERRAZ (Presidente) e PÉRICLES PIZA. São Paulo, 18 de fevereiro de FIGUEIREDO GONÇALVES RELATOR Assinatura Eletrônica

2 fls. 2 Voto nº Habeas Corpus nº Órgão Julgador: 1ª Câmara da Seção Criminal Comarca de SÃO JOSÉ DOS CAMPOS Vara das Execuções Criminais Execução nº Impetrante: YANKO OLIVEIRA CARVALHO BRUNO Paciente: ALTENCIR SANTOS DE FIGUEIREDO O defensor público YANKO OLIVEIRA CARVALHO BRUNO impetra o presente habeas-corpus, com pedido de liminar, em favor de ALTENCIR SANTOS DE FIGUEIREDO, apontando como autoridade coatora o MM. Juiz de Direito da Vara das Execuções Criminais da Comarca de São José dos Campos. Relata que o paciente peticionou ao juízo, a fim de que fosse reconhecido o indulto presidencial, nos termos do Decreto 7.648/11, pois, por ser primário, já havia cumprido mais de 1/6 da pena imposta. O Conselho Penitenciário se manifestou favoravelmente à concessão do benefício, contudo, a autoridade coatora não reconhece o indulto presidencial, sob o fundamento de que o art. 8º, I do Decreto Presidencial 7.648/2011 seria inconstitucional, diante do disposto no art. 5º, XLIII, da Constituição Federal, o qual veda a concessão de graça ao tráfico ilícito de entorpecentes, incluindo-se nesse conceito o indulto. Acrescenta o impetrante que, em matéria de execução penal, deve ser aplicado o princípio do favor rei, prevalecendo o entendimento mais favorável ao executado. Desse modo, não há se confundir o conceito de indulto (caráter coletivo) com o de graça (benefício individual). Por fim, aduz que o paciente poderia ser preso em virtude de uma pena já indultada, justificando-se o pedido de habeas corpus. Requer a concessão liminar da ordem, para que o paciente aguarde em liberdade o julgamento do mérito deste habeas corpus e, ao final, seja Habeas Corpus nº

3 fls. 3 deferido o pedido de indulto. informações o juízo impetrado (fls ). Indeferida a liminar (fl. 26), prestou A Procuradoria Geral de Justiça manifestouse pelo não conhecimento da impetração e, no mérito, pela desacolhida do pedido (fls ). É o relatório. O Decreto Presidencial nº 7.648/2011 permitiu a concessão de indulto, ao condenado à pena de multa, aplicada cumulativamente com pena privativa de liberdade, ainda que não quitada aquela e cumprida a pena privativa de liberdade imposta até 25 de dezembro de 2011 (artigo 1º, inciso VI). Para este benefício, a norma concessiva pôs, unicamente, a exigência de que não houvesse o beneficiário sofrido sanção disciplinar por falta grave, nos últimos doze meses de cumprimento da pena, retroativos a partir da publicação daquele decreto (art. 4º); não alcançando o benefício os condenados por crime de tortura, terrorismo ou tráfico ilícito de drogas, ou crime hediondo (art. 8º, incisos I e II). Todavia, as restrições acima mencionadas não se aplicam - consoante ressalva no parágrafo 1º, do artigo 8º - às hipóteses previstas nos incisos IX, X e XI e XII do caput do art. 1º., ou seja, ainda que se trate de condenação por crime de tortura, terrorismo ou tráfico de drogas, tratando-se de condenação por pena de multa, já cumprida a corporal até 25 de dezembro de 2011, possível, segundo dispõe o decreto, a concessão do indulto. Ou, Habeas Corpus nº

4 fls. 4 ainda, condenadas por pena privativas de liberdade, desde que substituídas por pena restritivas de direito, como na hipótese do ora paciente. Postas as condições do indulto, ao Poder Judiciário cabe verificar, nas situações concretas levadas a seu conhecimento, aquelas que preencham os requisitos determinados para a concessão. Não pode erigir outras, sob pena de invadir a atribuição privativa de diferente Poder da República, o que é vedado no sistema constitucional. Portanto, a interpretação do magistrado, no sentido de que, sendo o indulto espécie de graça e, por isso, incidente a vedação constitucional para a concessão da benesse, não merece acolhida. Isso porque nas hipóteses de restrição de direitos, impossível conferir interpretação extensiva à norma disposta no artigo 5º, inciso XLIII, da Carta Constitucional. Há precedente neste sentido, em julgado desta Câmara. 1 Assim, cumpridas as condições postas no mencionado decreto, o paciente preenchia os requisitos legais para a concessão do benefício (fl. 20). Ante o exposto, defere-se a ordem reclamada, para declarar indultada a pena restritiva de direitos, aplicada ao ora paciente, Altencir Santos de Figueiredo, objeto da Execução nº , da Vara do Júri e Execuções Criminais de São José dos Campos. Oficie-se ao digno juízo impetrado, para as providências necessárias. 1 Agravo em execução nº Habeas Corpus nº

5 fls. 5 Figueiredo Gonçalves relator Habeas Corpus nº