PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Execução Penal nº , da Comarca de Bauru, em que é agravante MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, é agravado FABRICIO ROBERTO ROCHA GODOI. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), LEME GARCIA E OSNI PEREIRA. São Paulo, 1 de março de Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Agravo em Execução nº , Comarca: Bauru Agravante: Ministério Público Agravado: Fabrício Roberto Rocha Godoi VOTO Nº Agravo em execução. Pedido de reforma de decisão que deferiu o livramento condicional ao agravado, posto possuir longa pena a cumprir. Inviabilidade. Requisitos previstos no art. 83 do CP devidamente preenchidos. Pleito almejando a realização de exame criminológico. Livre convencimento do juízo sobre a presença dos requisitos autorizadores. Improvido. Trata-se de Agravo em Execução, interposto pelo Ministério Público em face de decisão proferida em 25 de junho de 2015 (fl. 49), pelo MM. Juiz de Direito, Dr. Ênio Móz Godoy, da 2ª Vara das Execuções Criminais da Comarca de Bauru, que deferiu o livramento condicional ao agravado, sem antes realizar exame criminológico. Irresignado, sustenta o agravante em suas razões, resumidamente, ser imperiosa a reforma da referida decisão, visando à sustação do livramento, sob o argumento de existir longa pena a ser solvida pelo agravado e, subsidiariamente, a necessidade de sua prévia submissão ao exame criminológico. O agravado, em sua contraminuta, bateu-se pelo Agravo de Execução Penal nº

3 acerto do decisum, salientando não só o reconhecido preenchimento dos requisitos autorizadores ao livramento, como a inexistência de exigência legal quanto à prévia realização de exame criminológico. A douta Procuradoria Geral de Justiça apresentou parecer endossando as razões ministeriais, opinando pelo provimento do recurso. Em que pesem os ponderáveis fundamentos expostos nas doutas razões recursais, merece subsistir a r. decisão agravada. Preliminarmente, ao contrário do exposto nas razões recursais, insta consignar que a extensão da reprimenda a qual o sujeito foi condenado, de per si, não é fator impedido à concessão do benefício. Em verdade, os requisitos autorizadores à concessão de livramento condicional encontram-se previstos no art. 83, incisos II e III do Código Penal, assim exigindo: I cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes III comprovado comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto; Dessa feita, consoante peças carreadas aos autos (fls. 6/8), condenado pela prática de roubos majorados e uma receptação, o agravado resgatou considerável parcela de sua reprimenda, custodiado, Agravo de Execução Penal nº

4 senão vejamos:? Total da Pena: 14 anos, 2 meses e 28 dias? Início do Cumprimento: ? Concessão do livramento: ? Previsão de Término: Diante do quadro, sendo primário e possuidor de bons antecedentes, o agravado permaneceu custodiado cerca de 5 anos, lapso representativo de pouco mais de 1/3 ( ) de sua reprimenda, restando, à evidência, inquestionável o preenchimento do requisito objetivo ao livramento, conforme assim reconhecido pelo juízo a quo. Além do requisito objetivo (cumprimento parcial da pena), imperioso reconhecer como pilar fundamental à concessão do livramento, o preenchimento do requisito objetivo (comprovado comportamento satisfatório). Dessa feita, diante do deferimento da progressão pelo magistrado a quo, infere-se a presença do preenchimento dos referidos requisitos, pois do contrário - na ausência de bom comportamento ou cumprimento parcial da pena -, o benefício restaria postergado. Neste sentido desenvolve-se a decisão agravada, consoante se destaca (fl. 49): Ainda, possui ótimo comportamento carcerário, fl. 06. Não possui faltas disciplinares, fl. 08. Usufruiu uma saída temporária, sem alteração. Possui ainda histórico de trabalho na unidade prisional, fl. 08. O livramento condicional, assim como os demais Agravo de Execução Penal nº

5 benefícios penais, tem como fundamento a confiança no restabelecimento do condenado. Destarte, havendo qualquer indício de desvio do processo regenerativo pelo sentenciado, o benefício é vedado e postergado, como forma de reprimir as adversidades. Com efeito, in casu, o agravado tem demonstrado evolução positiva no decorrer da execução de sua reprimenda, merecendo assim perceber os benefícios legalmente previstos. Frise-se inexistirem informações de descumprimento das condições impostas, ou ainda, de cometimento de quaisquer faltas pelo agravado, sinalizando de maneira sobrepujante, boa assimilação da terapêutica penal, reforçando o quão inócua lhe restaria, a esta altura, privarlhe fruir da benesse, visando quiçá desnecessária realização de exame criminológico. Em relação à aludida necessidade de prévia realização de exame criminológico, há de se consignar que a atual redação do art. 112 da Lei de Execução Penal, conferida pelas alterações provenientes da Lei nº /2003, não mais prevê tal exigência, deixando a cargo do magistrado solicitá-lo, nas hipóteses casuísticas, quando entender pertinente. Dessa feita, in casu, observe-se ter o juiz, no exercício de seu livre convencimento, entendido por bem dispensar a elaboração de exame criminológico, inexistindo qualquer embargo à determinação. Por derradeiro, à evidência dos cálculos aritméticos e demais anotações, conclui-se desnecessário custodiar o agravado, a pretexto da pretensa necessidade de realização de exame criminológico, porquanto inexistentes quaisquer indícios justificadores da demanda. Agravo de Execução Penal nº

6 De tal sorte, in casu, merece o agravado permanecer sob o livramento condicional, tendo em vista o comprovado cumprimento de todas as condições que lhe foram impostas, restando irreprochável o decisum a quo. Ante o exposto, pelo meu voto, nego provimento ao agravo ministerial, mantendo-se, in totum, a r. decisão agravada, por seus próprios e jurídicos fundamentos. GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator Agravo de Execução Penal nº