PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de São Paulo, em que é apelante MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, é apelado EVERTON DUARTE. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. v.u.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), LEME GARCIA E OSNI PEREIRA. São Paulo, 23 de fevereiro de Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação nº Comarca: São Paulo Apelante: Ministério Público Apelado: Everton Duarte Advogado: Fabiana Camargo Miranda VOTO Nº Tráfico de entorpecente. Absolvição. Insurgência ministerial. Denúncia que imputa a posse de 306,7 gramas de maconha (96 porções), 42,3 gramas de cocaína (53 porções), 3,7 gramas de crack (15 pedras), além da importância, em dinheiro, de R$ 240,00, para fins de tráfico. Autoria não comprovada. Conflito entre os depoimentos dos policiais e das testemunhas de defesa. Circunstâncias da prisão que enfraquecem a tese acusatória. Insegurança quanto à real dinâmica dos fatos. Princípio da presunção de inocência. Negado provimento. O MM. Juiz a quo, Dr. Luiz Raphael Nardy Lencioni Valdez, da 29ª Vara Única da Comarca Central da Capital, em sentença datada de 29/ (fl. 99), julgou improcedente a ação penal, para absolver Everton Duarte da imputação constante do artigo 33, caput, da Lei /06, com fulcro no artigo 386, inciso VII, do Código de Processo Penal. Insurge-se o órgão acusatório, em face da r. sentença, requerendo seja o réu condenado nos termos propostos pela inicial acusatória. Contrarrazoado o recurso, a defesa bateu- Apelação nº

3 se pelo acerto do decisum; a Procuradoria Geral de Justiça opinou, em seu parecer, pelo provimento da apelação. É o relatório. Segundo consta da exordial acusatória, na data de 1º de junho de 2014, às 20h30, na Rua Doutor Augusto Gonzaga, nº 159, o denunciado trazia consigo, para fins de tráfico, a quantidade de 306,7 gramas de maconha (96 porções), 42,3 gramas de cocaína (53 porções), 3,7 gramas de crack (15 pedras), além da importância, em dinheiro, de R$ 240,00. O policial militar Daniel Akira, inquirido em sede judicial, relatou estar em patrulhamento de rotina, quando avistou o réu em uma viela, sozinho e com uma sacola em mãos, decidindo abordá-lo. O depoente desceu da viatura e iniciou a incursão a pé, dando voz ao réu para ficasse imóvel, pois seria revistado. Ocorre que o acusado dispensou a sacola plástica ao solo e começou a caminhar rapidamente no sentido contrário ao da equipe. Após breve perseguição, a importância de R$ 240,00 foi localizada na posse do acusado e as drogas, no interior da sacola, por ele dispensada. Indagado, a testemunha respondeu que essa viela é um local de passagem para a comunidade, com pouca iluminação. No mesmo sentido as declarações do policial militar Rafael da Silva. A testemunha Paulo Henrique Miranda, perante o juízo, declarou ser cunhado do réu, conhecendo-o há 5 anos, tendo presenciado a sua prisão. Disse ser frentista e que Apelação nº

4 costuma estacionar o seu veículo na viela, local onde o réu foi abordado. Na data dos fatos, estava retornando do trabalho e, quando foi ingressar em seu automóvel, avistou o acusado na companhia de seu irmão Wesley, sendo ambos abordados por policiais. Causou-lhe estranheza o momento em que Wesley foi liberado pelos policiais, sendo o réu conduzido para um canto e uma sacola plástica lhe mostrada. Em seguida, os policiais conduziram o acusado para a viatura, levando-o à delegacia. Wesley Duarte, em sede judicial, narrou ter ido ao bar da comunidade, juntamente com o acusado, seu irmão, para comprar leite para sua sobrinha, quando ambos foram abordados por policiais militares. A testemunha foi liberada e o réu conduzido à delegacia. Asseverou que o local é próximo de onde residem, além de negar o envolvimento de seu irmão com o tráfico. Interrogado, o réu negou os fatos. Declarou ter terminado o serviço que realizava de pedreiro e, na companhia de seu irmão Wesley, dirigiram-se ao bar próximo às suas residências para comprar leite para sua filha, quando foram abordados. Os policiais os separaram e, em seguida, liberaram o seu irmão. Os agentes de segurança apresentaram-lhe uma sacola alegando ser de sua propriedade. O dinheiro apreendido em seu poder era fruto de seu trabalho, referente ao pagamento daquela semana. Não sabe o motivo pelo qual foi abordado, declarando que seja, talvez, em decorrência de sua cor. Por fim, declarou trabalhar como servente de pedreiro e nunca ter sido processado. Atualmente está trabalhando como faxineiro Apelação nº

5 em uma cooperativa de ônibus, com carteira registrada. Irreprochável a decisão proferida pelo magistrado sentenciante, impondo-se, à evidência, a manutenção do decreto absolutório, pois frágeis são as provas de que o réu estava na posse das substâncias ilícitas descritas na denúncia. Há significante conflito entre os depoimentos prestados pelos policiais militares e as declarações proferidas pelas testemunhas de defesa, impossibilitando, assim, ter segurança quanto ao que, de fato, teria ocorrido na data dos fatos. Ademais, a importância de R$ 250,00 foi devidamente comprovada pela defesa, que juntou aos autos declaração escrita, assinada por Juraci Batista Ciriaco, que atestou a origem lícita do dinheiro, bem como cópia de CTPS do acusado, provando sua atividade profissional. Disso, extrai-se a incerteza quanto à autoria do crime em apreço. In casu, exigia-se uma maior investigação da polícia, bem como requisição de provas por parte do órgão acusador. Nesse ponto, mister a ingerência do princípio constitucional da prevalência do interesse do réu - in dubio pro reo, motivo pelo qual não ser possível a condenação nos termos da denúncia. Ante o exposto, pelo meu voto, nego provimento ao recurso interposto, mantendo-se, in totum, a r. Apelação nº

6 sentença a quo. GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator Apelação nº