DOENÇA METABÓLICA ÓSSEA DA. Miza Mª Barreto A. Vidigal. Capítulo do livro Assistência ao Recém-Nascido, editado por Paulo R. Margotto, 2ª Edição
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1 DOENÇA METABÓLICA ÓSSEA DA PREMATURIDADE Miza Mª Barreto A. Vidigal Capítulo do livro Assistência ao Recém-Nascido, editado por Paulo R. Margotto, 2ª Edição DEFINIÇÃO Conjunto de condições que determinam alterações no processo de mineralização óssea levando a fragilidade do suporte estrutural deste e nos casos mais graves, pode ocasionar o aparecimento de fraturas espontâneas. A doença metabólica óssea da prematuridade é também conhecida como osteopenia da prematuridade e síndrome da deficiência de fósforo no RN prematuro. INCIDÊNCIA : 30% RN pré-termos menor de 1500g 60% RN pré-termos menor de 1000g FISIOPATOLOGIA Transferência de Ca (cálcio) e P (fósforo) através da placenta ocorre durante toda gestação. O período de maior desenvolvimento esquelético e a mineralização óssea ocorrem no 3º trimestre quando o feto incorpora altas quantidades de Ca ( mg/Kg/dia e P (60-75 mg/kg/dia)). O RN pré-termo com menos de 32 semanas de idade gestacional necessita complementação de Ca e P na dieta tendo em vista que o leite humano não supre as necessidades dos prematuros de muito baixo peso em fase de crescimento rápido. Sendo assim o RN deve receber quantidades equivalentes de Ca e P a fim de obter retenção e mineralização semelhantes as intrauterinas. Caracteristicamente estes RN têm hipofostatemia, hipofosfatúria, hipercalcemia, hipercalciúria, níveis normais ou baixos de parathormônio e níveis elevados de 1,25(OH) D-CALCITRIOL- que por sua vez aumenta a absorção intestinal de cálcio, além de aumentar a reabsorção óssea com maior liberação de cálcio e fósforo. No entanto, na presença de hipofosfatemia, uma quantidade limitada de cálcio pode ser depositada no osso, resultando hipercalcemia e hipercalciúria. A hipercalcemia inibe a produção de patathormônio A nível metabólico, uma diminuição do P no soro levaria a uma diminuição da mineralização de matrizes ósseas e cartilaginosas. São depositados,então, osteóides recém formados e não calcificados levando a alterações radiológicas características. ETIOLOGIA : multifatorial I-FATORES INTRA-UTERINOS: deficiência materna severa de Ca e Vit. D hipoparatireoidismo ou hiperparatireoidismo materno tratamento materno prolongado com Mg ou Fosfato II-FATORES PÓS-NATAIS A)NUTRICIONAIS prematuridade: 80% do acréscimo de Ca e P ocorre no terceiro
2 trimestre baixa ingesta de Ca e/ou P principalmente prematuro em aleitamento materno exclusivo pois apresenta baixos teores de Ca e P em relação às necessidades diárias ideais. Os RN menores que 1500g tem menores depósitos de Ca e P Nutrição Parenteral Total Prolongada (NPT)- aporte insuficiente de P e contaminação da NPT por alumínio (quelante de P) e possível formação de complexo Ca e P insolúveis Uso de furosemide e/ou anfotericina levando a perda renal de Ca RN enfermos : colestase ;dificuldade em estabelecer alimentação enteral total e/ou má absorção intestinal de Vit D * Doença Pulmonar Crônica restrição hídrica, NPT e diurético, esteróide e metilxantinas * Persistência do Canal Arterial: baixa oferta de Ca e P devido restrição hídrica * Nutrição Parenteral Prolongada com baixo conteúdo de íons. RN alimentados com fórmulas de soja onde se dá baixa absorção de Ca e P B) DEFEITOS ADQUIRIDOS Alteração tubular renal Alteração no metabolismo da Vit. D ou do parathormônio QUADRO CLÍNICO A hipomineralização óssea pode se desenvolver já nas primeiras semanas pósnatais e geralmente é sub-clínica. Manifestações clínicas evidentes 3-4 meses pós-natal. A maioria dos casos de osteopenia são diagnosticados durante a investigação de complicações da prematuridade não relacionadas com o esqueleto. O único exame precoce para o diagnóstico é a FOTOABSOCIOMETRIA RX simples só evidencia sinais quando ocorreu 40% de perdas de minerais FATORES DE RISCO RN prematuro com IG menor que 32 sem, especialmente menor que 28 sem, e peso menor que 1000g fazendo uso de ventilação pulmonar prolongada, DPC (uso crônico de diurético, esteróide),dificuldade na alimentação enteral com NPT Prolongada, demora na recuperação do peso de nascimento, imobilização por períodos prolongados (a atividade física- extensão e flexão gentis das extremidades superiores e inferioresnestes RN de risco por 5-10 minutos diariamente, esteve associado com melhor mineralização óssea: tem sido demonstrado aumento da leptina com o exercício e vários estudos evidenciam que a leptina é secretada pelos osteoclastos humanos e promove a mineralização óssea). SINAIS CLÁSSICOS Deformidades esqueléticas severas, cifoescoliose e arqueamento dos ossos longos das pernas raramente presentes. DIAGNÓSTICO Necessário acompanhamento laboratorial. Em todo RN nascido com menos de 32sem de IG dosar Ca, P sanguíneo e urinário e fosfatase alcalina com 2 semanas de vida, esteja em alimentação parenteral ou enteral e depois de 21/21 dias até 40 sem de idade pós-concepcional e em seguida repetir Ca, P e fosfatase alcalina mensalmente até
3 48 sem. A hipercalciúria e a hipofosfatúria são alterações mais precoces da doença metabólica óssea. Se exames alterados, completar a investigação para fazer o diagnóstico diferencial: 1- RX ossos longos 2 - Densiometria óssea 3 - Ca urinário de 24h 4 - Creatinina sérica e urinária de 24h 5 - Fósforo sérico e urinário de 24h * Com os exames 2,3,4 e 5 podemos calcular a RTP (reabsorção tubular de P e fazer o diagnóstico diferencial entre deficiência de fósforo ou Vit D RTP=1-[Purin/P sér] x100 [creat urin/creat sér] 6 - Dosagem da 1,25 (OH)Vit D 7 - Dosagem parathormônio(pth) Dosagens bioquímicas: Fosfatase Alcalina: considerar alterado valores 3x superiores ao normal (altos níveis refletem precocemente deficiência de substrato mineral ósseo) Ca normal ou aumentado (N=8-11mg/dl) P diminuído < 4mg% atualmente valor mais importante para diagnóstico (N= 6,6 9,4 mg%) Fosfatase alcalina aumentada>450 UI (N=45-150) Parathormônio normal Calcitriol aumentado Hipercalciúria (>6mg %) é um sinal precoce da osteopenia Hiperfosfatúria (<1mg%) ALTERAÇÕES RADIOLOGICAS Grau I - rarefação da metáfise e adelgaçamento da cortical Grau II - irregularidade matafisária com imagem em forma de taça e alargamento da epífise/diagnóstico diferencial com sífilis Grau III-fraturas (estas ocorrem de forma geral entre 6-12 semanas) DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Normal DEF.P DEF.Ca DEF.Vit.D HIPOFOSFOSFT.LI- GADA AO X Psérico 5-8,5mg/d Baixo Baixo Baixo Baixo Ca total 9-111mg% alto ou N Baixo ou N Baixo ou N N(normal) RTP 85-95% Alto Baixo Baixo Baixo F.Alcalina <300UI Alto Alto Alto Alto Ca Urina <4-6mg/Kg/d Alto Baixo Baixo Baixo PTH Variável N alto Alto N 25(OH) D Variável N N Baixo N 1,25(OH)D variável N alto N ou baixo Alto normal
4 TRATAMENTO O tratamento profilático nessa patologia é de grande valor,tendo em vista que se obtém resposta positiva pois nos RN onde é feita reposição adequadamente de Ca e fósforo, dificilmente desenvolverão osteopenia. Nos RN com peso ao nascer abaixo de 1500g sob nutrição parenteral total, fornecer 40mg/Kg de cálcio (4 ml/kg de gluconato de cálcio a 10%) e 50 mg/kg de fósforo (0,5ml/Kg de fosfato ácido de potássio). A suplementação do leite humano deve ser iniciado a partir de 15 dias de vida ou quando a ingesta oral atingir 100ml/Kg dia (1g/20 ml de leite),até que o RN esteja com sucção completa ao seio. Tempo de suplementação de cálcio e fósforo: 40 semanas de idade pós-concepcional e a seguir de acordo com o perfil bioquímico. Doença instalada: - Na deficiência de Vit D : UI Vit. D como tratamento total, sendo 66000UI (1 ampola) VO 2x sem.(aderogyl D3-frasco-ampola com UI - Na deficiência de Fósforo: mg/Kg/dia de P e mg/Kg/dia de Ca Após 15 dias de tratamento repetir a dosagem de Ca, P e fosfatase alcalina : se normal,considerar o RN tratado e manter as necessidades basais;se ainda apresentar alteração laboratorial,considerar nova triagem diagnóstica e tratamento. Quantidade de Ca e P nas fórmulas lácteas, medicações e Leite Humano com adicionador ( FM 85): Fosfato Ácido de Potássio: 1ml = 96mg de P Gluconato de Ca 10%: 1ml = 9,6mg de Ca elementar Fosfato Tricálcico 12,9% Xarope 1ml = 50mg Ca e 25mgP FM 85 51mg Ca / 5g do pó e 34mgP / 5g do pó Enfamil e Similac: 85mg Ca e 45mg P para cada 100ml solução Pré Nan : 70mg Ca e 46mg P para cada 100ml de sol. Enfalac : 95mg Ca e 53mg P para cada 100ml sol. LEITE MATERNO Contém 24mg de Ca e 14 mg de P por 100ml de leite, tanto no RN pré-termo como no a termo; ml/Kg/dia provê 51-28mg/Kg/dia de Fósforo;sabendo-se que a taxa de aquisição intra-uterina de Ca é 120mg/Kg/dia e de P, 60-75mg/Kg/dia,entendemos a importância da suplementação do leite materno para os RN com peso abaixo de 1500g. Como calculamos a administração de fosfato tricálcico a 12,9 %: RN de 1300g, com Ca urinário > 4mg/Kg/dia e P urinário < 1mg/Kg/dia e em uso de leite humano (20 ml X 8) - P = 100mg/Kg (90% de absorção intestinal): 1,3 x 100= 130mg - P do leite humano: 1 ml= 0,14mg 20 x8 =160 x 0.14 = 22,4mg Descontar a ingesta da quantidade que queremos suplementar:130-22,4 = 107, 6mg Fosfato tricálcico a 12,5% a ser administrado de 6/6horas se o RN estiver em uso de leite humano sem fortificante será: 1 m = 25mg de P. Então: 107,6 divididos por 25 = 4,3 que corresponde a 1,1 ml de 6/6 horas com a dieta. Iniciar com 0,1 para cada 10 ml de leite humano e depois, aumentar até alcançar a quantidade calculada. Observe que neste exemplo, o RN está recebendo
5 196mg/Kg de Ca (4,3 ml de fosfato tricálcico x 50 = 215mg + 40mg de Ca pelo leite humano = 255 dividido por 1,3 = 196mg de Ca). Bibliografia 1. Zanardo V, Danci C, Trevisanuto D. et al. Methylxanthines increase renal calcium excretion in preterm infants. Biol Neonate 68: 169, Kamitsuka M D, Willians M A, Nyberg D. A. et al. Renal calcification: bronchopulmonary dysplasia. J Perinatol 15: 359, Rubin L P.Disorders of calcium and phosphorus metabolism. IN: Taesch H. W., Ballard R. A.. Avery s Diseases of the newborn. W. B. Saunders Company, Philadelphia, Seventh edition, pg 1189, Lima G M L, Ribeiro S D M. Osteopenia da prematuridade. IN: Marba S T M, Filho Mezzacappa F. Manual de neonatologia. UNICAMP. Revinter, Rio de Janeiro, pg 223, Schanler R J. Conveniência do leite humano para o neonato de baixo peso. Clin Perinatol 1: 209, Campbell D E, Fieischman A. R.Rickets of prematurity: controversies in causation and prevention. Clin Perinatol 15: 879, Faria M R, Matsuda N S, Marino W T, Costa H P F. Doença óssea da prematuridade. Rev Paul Pediatria 15: 205, Lucas A, Brooke O G, Baker B A. et al. High alkaline phosphatase activity and growth in preterm neonates. Arch Dis Child 64: 902, Abdallah V O S, Gonçalves A L, Jorge S.M, Mattos C L C. Estudo do cálcio, fósforo, magnésio e fosfatase alcalina em RN de muito baixo peso ao nascer, durante os primeiros dois meses de vida. J pediatria 67: 257, Moyer- Mileur L, Luetkemeier M et al. Effect of physical activity on bone mineralization in premature infants. J Pediatrics 127: 620, Sonntag J. Effect of dexamethasone and spironolactone therapy in premature infants with a birth weight under 1500 g. Klin Pediatrics 210: 354, Ramos J L.Osteopenia da prematuridade.in Margotto P R. Boletim Informativo Pediátrico-BIP(Brasília),Nº 61, pg 71, Schanler RJ, Hurst NM, Lau C. The use of human milk and breastfeeding in premature infants.clin Perinatol 26:379, Comitê de follow-up de Recém-nascidos de Alto Risco da Sociedade Brasileira de Pediatria Biênio 88/90. Osteopenia da prematuridade, pg 83, Leone C. Doença metabólica óssea..in Margotto P R. Boletim Informativo Pediátrico-BIP(Brasília),Nº 64, pg 169, Eliakim A, Dolfin T, et al. The effects of exercise on body weight and circulating leptin in premature infants. J Perinatol 22:550, 2002
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