SERTOLIOMA METASTÁTICO EM CÃO (Relato de Caso) METASTASTIC SERTOLIOMA IN DOG (Case report)

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1 SERTOLIOMA METASTÁTICO EM CÃO (Relato de Caso) METASTASTIC SERTOLIOMA IN DOG (Case report) Carla Emanuela Tertuliano CAIRES 1 ; Gleidice Eunice LAVALLE 2 ; Beatriz Terenzi SEIXAS 3 ; Rubens Antônio CARNEIRO 4 ; Roberto Baracat de ARAÚJO 5 1 Aluna de Pós- Graduação, Mestrado em Ciência Animal da Universidade Federal de Minas Gerais, carlacairesvet@gmail.com 2 Médica Veterinária, Dra., Hospital Veterinário da Universidade Federal de Minas Gerais 3 Aluna de Pós- Graduação, Mestrado em Ciência Animal da Universidade Federal de Minas Gerais 4 Professor Associado da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais 5 Professor Titular da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais Resumo: O sertolioma é um dos tumores testiculares mais frequentes no cão criptorquídico, tendo geralmente comportamento benigno. Menos de 15% dos casos de sertolioma desenvolvem metástases geralmente para linfonodos regionais e órgãos abdominais. Os animais acometidos podem apresentar alterações hematológicas e dermatológicas decorrentes de síndrome paraneoplásica. A terapia adjuvante é recomendada para o sertolioma metastático. A utilização da quimioterapia dose máxima tolerada e quimioterapia metronômica foi satisfatória para manutenção da qualidade de vida do paciente. Palavras-chave: cão, sertolioma, tumor testicular, criptorquidismo, carboplatina, quimioterapia metronômica Keywords: dog, sertoli cells tumor, testicular tumor, cryptorchidism, carboplatin, metronomic chemotherapy Revisão de literatura: Neoplasias testiculares correspondem a quase 90% dos tumores do sistema reprodutor masculino no cão, frequentemente diagnosticados em animais idosos, com ou sem histórico de criptorquidismo, com idade média de 10 anos (LAWRENCE e SABA, 2013). Segundo Agnew e MacLachlan (2017) a maioria dos tumores testiculares nos cães são caracterizados pela invasão local e raramente causam metástase, principalmente se o tamanho do tumor for menor que 2cm de diâmetro. A metástase acontece em menos de 15% dos cães (LAWRENCE e SABA, 2013). Histologicamente o tumor é classificado como maligno, apresentando um Anais do 38º CBA, p.1512

2 comportamento biológico pouco agressivo e baixo potencial metastático. Entretanto existem poucos relatos de lesões mais agressivas com infiltração de tecidos adjacentes e vasos, podendo ocorrer metástase para linfonodos regionais e a distância. O nódulo metastático poderá ser hormonalmente ativo (AGNEW e MACLACHLAN, 2017). Ao exame físico os animais apresentam testículos assimétricos ou criptorquidismos, sinais relacionados a síndromes paraneoplásicas do hiperestrogênismo, e ainda histórico de problemas reprodutivos (SAPIERZYNSKI et al., 2007; WHITE e BREARLEY, 2011; LAWRENCE e SABA, 2013). Aproximadamente 25% dos cães com sertolioma apresentam sinais de hiperestrogenismo, como feminilização, ginecomastia, galactorreia, atrofia do testículo contralateral, prepúcio penduloso, metaplasia escamosa da próstata e atração por outros machos. Ainda podem ser observados: alopecia bilateral simétrica, atrofia epidermica, hiperpigmentação, descamação, quadros dermatológicos semelhates as doenças endócrinas e até supressão da medula óssea. Esta supressão pode causar anemia não regenerativa, leucopenia e trombocitopenia, podendo a pancitopenia severa ser fatal e estando relacionada ao prognóstico reservado a desfavorável (LAWRENCE e SABA, 2013; AGNEW e MACLACHLAN, 2017). Segundo Morris e Dobson (2001) a remoção cirurgica através da castração geralmente é curativa, exceto para os casos metastáticos. Os sinais causados pela síndrome paraneoplásica podem desaparecer em até 6 semanas depois da remoção do tumor primário (WHITE e BREARLEY, 2011). Lawrence e Saba (2013) sugerem terapia adjuvante para o sertolioma metastático com cisplatina, clorambucil, bleomicina e outros. Dhaliwal et al. (1999) utilizou a cisplatina em 4 cães com metástase de tumor testicular e encontrou uma sobrevida que variou de 6 á 36 meses. Descrição do caso: Um cão, macho, de 8 anos de idade e da raça Shih Tzu, foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Minas Gerais (HV/UFMG), no setor de Oncologia Veterinária. O histórico era de remoção de testículo criptorquídico abdominal direito em janeiro do ano de 2013, medindo 7,0x5,0x4,5 cm, com diagnóstico histológico de sertolioma, e o testículo contralateral estava em posição Anais do 38º CBA, p.1513

3 anatômica normal e hipoplásico. O paciente apresentava alopecia bilateral simétrica, alopecia total em cauda, prurido e vermelhidão, prepúcio penduloso e comportamento de monta, e diagnóstico de hipotireoidismo. Após dois anos o cão passou por nova laparotomia, onde foram removidas duas massas da cavidade abdominal, de 3,7x4,1 cm e 2,5x1,8cm, aderidas ao ureter, diagnosticadas como sertolioma. No mês seguinte, o animal apresentou quadro de anemia e trombocitopenia intensas, necessitando internação e transfusão sanguínea, sendo tratado sintomaticamente. Punção de medula realizada mostrou possível hipoplasia medular. Após 90 dias de estabilização do quadro hematológico, o US revelou aumento prostático e presença de massa periprostática, suspeitando-se de recidiva, sendo encaminhado ao setor de oncologia. A massa foi removida e descrita histologicamente como linfonodo apresentando metástase de sertolioma. O animal iniciou a seguir protocolo de quimioterapia. Foram propostas quatro sessões intervaladas de 21 dias com carboplatina na dose de 300mg/m² endovenoso. O cão apresentou alterações hematológicas graves após a segunda sessão, resultando em atraso na terceira sessão e suspensão da última sessão. Exame citológico de medula revelou hipoplasia moderada. Trinta dias após o fim do protocolo e com hemograma normal, foi iniciada a quimioterapia metronômica. Optou-se pelo uso da ciclofosfamida na dose de 15mg/m² em associação a prednisona (1mg/kg), utilizados por seis meses. Exames hematológicos e ultrassonográficos periódicos, foram realizados inicialmente a cada 30 dias e depois a cada 60 dias. Um ano após o início do tratamento quimioterápico, em retorno de rotina, foi percebida massa abdominal à palpação. Em ultrassom, evidenciou-se massa lateral à bexiga, medindo 3,5x3,6cm. O cão voltou a receber quimioterapia metronômica com ciclofosfamida, mas alguns meses depois, constatou-se crescimento da massa, que media 4,4x5,6cm. Foi iniciado novo protocolo de quimioterapia convencional, a utilizando-se a lomustina, na dose de 75mg/m² por via oral. Após duas sessões com intervalo de 21 dias, foi realizado novo ultrassom, que revelou aumento da estrutura, medindo então 6,5x6,1cm, e aumento de linfonodo ilíaco medial associado. Atualmente o paciente apresenta-se clinicamente bem, com boa qualidade de vida, porém, a massa abdominal permanece não respondendo mais aos tratamentos propostos. Anais do 38º CBA, p.1514

4 Discussão: O paciente apresentou manifestação clínica semelhante ao descrito por Agnew e Maclachlan (2017). Foram observados sinais dermatológicos semelhantes aos visualizados em doenças endócrinas e alterações hematológicas, como anemia e trombocitopenia. O cão era criptorquida, fator predisponente para o desenvolvimento do sertolioma, de acordo com Ciaputa, et al.(2012) e Lawrence e Saba (2013). O testículo neoplasico apresentava tamanho aproximado de 7,0 cm de diâmetro, o que aumenta a chance de metástase segundo Agnew e Maclachlan (2017) que consideram que tumores abaixo de 2,0 cm de diâmetro raramente irão causar metástase. A massa abdominal se encontrava aderida ao ureter direito, levando a nefrectomia. Posteriormente foi removido o linfonodo ilíaco metastático, apresentando comportamento biológico agressivo e infiltrando tecidos adjacentes e vasos, comportamento esse semelhante ao descrito por Lawrence e Saba (2013). Mesmo após a orquiectomia o paciente apresentava sinais dermatológicos e alterações hematológicas compatíveis com hiperestrogenismo, mostrando que o nódulo metastático poderá ser hormonalmente ativo e gerar a síndrome paraneoplásica (AGNEW e MACLACHLAN, 2017). Como relatado por Lawrence e Saba (2013) é necessário a utilização de terapia adjuvante em casos metastáticos sendo sugerido o uso da cisplatina. No presente caso optou-se pelo uso da carboplatina por ser um medicamento da mesma classe sugerida pelos autores mas sem a complicação de nefrotoxicidade uma vez que o paciente já havia sido nefrectomizado. Para complementação do protocolo inicial e tentativa de manutenção do controle da progressão da doença, foi instituído o uso da quimioterapia metronômica seguindo protocolos do Setor de Oncologia do HV/UFMG. O paciente havia apresentado efeitos colaterais intensos no protocolo de dose máxima tolerada, necessitando nova conduta visando a qualidade de vida do mesmo, sem prejuízo do controle da doença. Foi observado até o presente momento uma melhora significativa do quadro clínico do paciente, além da manutenção da qualidade de vida. Não se observaram alterações hematológicas ou dermatológicas, apesar da doença apresentar progressão, devido ao aumento no tamanho da massa abdominal. Anais do 38º CBA, p.1515

5 O paciente apresenta até a presente data sobrevida de 48 meses, período superior aos 31 meses relatados por Dhaliwal et al. (1999). Conclusão: Embora a literatura relate que sertolioma pode gerar metástase, este foi o único caso diagnosticado até a presente data na rotina do HV-UFMG. Deve-se estar atento ao estadiamento correto da doença e principalmente aos sinais clínicos gerados pela síndrome paraneoplásica relacionada ao tumor, que são de grande importância no diagnóstico e tratamento do paciente com sertolioma metastático. Pode-se concluir também que a utilização da carboplatina e da quimioterapia metronômica com ciclofosfamida como terapias adjuvantes são bem toleradas, sem prejuízo à qualidade de vida do animal e resultando em controle satisfatório da doença e excelente tempo de sobrevida. Referências: AGNEW, D. W.; MACLACHLAN, N. J. Tumors of the genital systems. In: MEUTEN, D. J. Tumors in Domestic Animals 5 th. California: Wiley, 2017 p CIAPUTA, R.; NOWAK, M.; KIELBOWICZ, M.; ATONCZYK, A.; BLASIAK, K.; MADEJ, J. A. Seminam, sertolioma, and leydigoma in dogs: clinical and morphological correlations. Bull Vet Inst. Pulawy. Poland: Versita. V. 56, p , DHALIWAL, R. S.; KITCHELL, B. E.; KNIGHT, B. L.; SCHMIDT, B. R. Treatment of Aggressive Testicular Tumors in Four Dogs. J Am Anim Hosp Assoc., v.35, n.4, p ,1999. LAWRENCE J. A.; SABA, C. F. Tumors of the Male Reprodutictive System. In: WITHROW e MACEWEN S. Small animal Clinical Oncologly 5th, Philadelphia: Saunders, p MORRIS, J.; DOBSON, J. Genital tract. In: MORRIS, J.; DOBSON, J. Small Animal Oncology. Oxford: Blackwell Science, p SAPIERZYŃSKI, R.; MALICKA, E.; BIELECKI, W.; KRAWIEC, M.; OSIŃSKA, B.; SENDECKA, H.; FILIPIAK, M. S. Tumors of the urogenital system in dogs and cats. Retrospective review of 138 cases. Polish Journal of Veterinary Sciences. Poland: Medline. V. 10, n. 2. p , WHITE, R. N.; BREARLEY, M. Tumours of the urogenital system. In: MORRIS, J.; LASCELLES, B. D. X. Bsava Manual of Canine and Feline Onclogy 3th, Quedgeley: BSAVA, Anais do 38º CBA, p.1516